Entrevista com
Nutricionista clínica funcional, especialista e
Nesse Dia do Nutricionista, entrevistamos uma especialista na área para falar sobre nutricionismo e outros movimentos que tratam a comida apenas como medicação
31 de Agosto de 2023
O vilão e o mocinho: essa é uma dualidade frequente no mundo da nutrição. Ora um alimento é um superalimento, ora ele é um super vilão. Nessa dinâmica maniqueísta, ficamos completamente perdidos no meio dessas discussões, sem saber o que é bom de verdade e o que não é.
Mas, isso é parte do problema: quando começamos a encarar a comida somente com um foco restrito aos seus nutrientes, sem considerar tudo que envolve o processo alimentar? Afinal, somos a única espécie que pensamos a respeito do que vamos nos alimentar, preparamos esse alimento e nos sentamos juntos para degustá-lo.
A cozinha é um processo que envolve afeto, como te contamos em outro Plenae Entrevista, e é preciso que enxergue o alimento como nosso aliado, e não como nosso inimigo. Nesse Dia do Nutricionista, conversamos com Thaís Poças, nutricionista clínica funcional, especialista em fitoterapia e plantas medicinais pela Universidade de São Paulo, com formação em neurosuplementação, sobre todos esses processos. Confira o papo completo a seguir!
O famoso dilema vilão versus mocinho na alimentação é a melhor representação do nutricionismo na minha visão. Quando não enxergamos o alimento como um conjunto complexo de nutrientes que se complementam, sabores, aspectos culturais e sociais, passamos a moralizá-los (vilões x mocinhos).
As maneiras sobre como nós associamos alguns alimentos e o próprio ato de se alimentar a um sentimento de culpa e vilania, nos faz perder de vista a verdadeira essência da nutrição. Sendo assim, o nutricionismo é uma abordagem simplista da nutrição, na qual os alimentos são reduzidos a números e listas de nutrientes, principalmente os macronutrientes: proteínas, carboidratos e gorduras.
Essa abordagem reducionista tem implicações profundas e muitas vezes prejudiciais, e nos leva a enfatizar demais os nutrientes isolados, ignorando a sinergia e as interações entre os componentes dos alimentos. Perdemos de vista a riqueza de benefícios para a saúde que os alimentos integrais podem oferecer quando são consumidos em sua forma natural e em contextos tradicionais.
O nutricionismo abre as portas para a influência da indústria alimentícia. Muitas vezes, as empresas de alimentos processados exploram essa abordagem ao utilizar informações nutricionais de forma seletiva para comercializar produtos que podem ser pobres em nutrientes essenciais, mas ainda assim são promovidos como saudáveis. Isso cria confusão no consumidor e mina os esforços para fazer escolhas alimentares conscientes.
A influência do nutricionismo também se estende à política alimentar e às diretrizes dietéticas. Muitas vezes, essas políticas são baseadas em estudos que se concentram apenas em nutrientes isolados, sem considerar o quadro geral da dieta e o contexto cultural em que as pessoas se alimentam. Isso pode levar a recomendações dietéticas simplistas e inadequadas.
Por fim, o nutricionismo pode levar à perda da diversidade alimentar. Ao enfatizar a importância dos nutrientes isolados, ele pode promover dietas monótonas, nas quais as pessoas se concentram apenas em alguns alimentos considerados "saudáveis" em detrimento de uma ampla variedade de alimentos. Isso pode prejudicar a saúde a longo prazo, uma vez que a diversidade alimentar desempenha um papel fundamental na obtenção de todos os nutrientes necessários para uma vida saudável.
É uma experiência rica e multifacetada que envolve não apenas a ingestão de nutrientes, mas também a celebração da cultura, a comunhão social e a conexão com o ambiente ao nosso redor.
Portanto, é essencial que repensemos nossa abordagem à ela. Precisamos ver os alimentos como parte de um todo maior, integrando aspectos nutricionais, culturais, sociais e ambientais. Somente assim poderemos desfazer o dilema simplista do vilão versus mocinho na alimentação e abraçar uma visão mais holística e saudável da nutrição.
Os aspectos culturais, políticos e socioeconômicos têm uma influência profunda em nossa relação com a comida e, consequentemente, em nossa saúde nutricional. Ignorar essa interconexão é negligenciar uma parte fundamental do que molda nossas escolhas alimentares e, por extensão, nossa saúde.
Nossa cultura não apenas nos dá um senso de pertencimento, mas também determina o que comemos e como comemos. Alimentos tradicionais são frequentemente muito mais do que apenas comida: eles são uma expressão de nossa história e identidade. As tradições culturais e religiosas dão forma aos nossos hábitos alimentares, desde as celebrações festivas até às restrições alimentares durante datas especiais.
A cultura também dita nossos modos à mesa, desde o compartilhamento de pratos até a velocidade com que comemos. Respeitar e entender esses aspectos culturais é essencial para promover escolhas alimentares saudáveis sem desconsiderar a riqueza da diversidade cultural.
As políticas governamentais desempenham um papel crucial em nossa alimentação. Regulamentações sobre rotulagem nutricional, segurança alimentar e publicidade de alimentos afetam diretamente nossa capacidade de tomar decisões informadas sobre o que comemos.
As diretrizes dietéticas, muitas vezes formuladas por órgãos governamentais, influenciam o aconselhamento nutricional que recebemos e podem impactar profundamente nossas escolhas alimentares. Além disso, políticas fiscais, como impostos sobre alimentos prejudiciais à saúde e subsídios para alimentos saudáveis, podem tornar os alimentos mais acessíveis ou inacessíveis para diferentes grupos da sociedade.
A renda e a localização geográfica também desempenham um papel enorme na disponibilidade de alimentos saudáveis. Em comunidades de baixa renda ou em áreas com poucos supermercados, a obtenção de alimentos frescos e nutritivos pode ser um desafio. A insegurança alimentar é uma realidade socioeconômica triste, que afeta a capacidade das pessoas de se alimentar de forma suficiente e nutritiva.
Além disso, a falta de recursos educacionais sobre nutrição e habilidades culinárias pode criar disparidades no conhecimento sobre alimentação saudável. O estresse financeiro também pode levar a escolhas menos saudáveis, pois alimentos ultraprocessados e fast food frequentemente são mais baratos e convenientes. Reconhecer e abordar esses aspectos é fundamental para promover a saúde nutricional.
Isso não se trata apenas de educar as pessoas sobre escolhas alimentares saudáveis, mas também de criar políticas públicas que garantam o acesso a alimentos saudáveis para todos, de respeitar e celebrar a diversidade cultural na alimentação e de abordar as desigualdades socioeconômicas que podem impedir o acesso a dietas nutritivas.
Uma má alimentação é uma ameaça real à nossa saúde e ao nosso bem-estar. É uma via direta para a falta de nutrientes essenciais que nosso corpo precisa para funcionar adequadamente e prosperar. Ela muitas vezes começa com escolhas alimentares de baixa qualidade.
Optamos por alimentos ricos em calorias vazias, mas pobres em nutrientes essenciais: fast food, alimentos ultraprocessados e bebidas açucaradas frequentemente lideram a lista. Esses alimentos podem satisfazer nossos desejos momentâneos, mas deixam nosso corpo faminto por nutrientes vitais.
Uma dieta inadequada também pode ser caracterizada pelo excesso de gordura saturada, açúcares adicionados e sódio. Esses compostos estão escondidos em muitos dos alimentos industrializados consumidos diariamente, aumentando o risco de doenças crônicas, como doenças cardíacas, diabetes e hipertensão.
A falta de variedade em nossa alimentação pode resultar em deficiências de nutrientes específicos. É importante lembrar que uma má alimentação não apenas afeta nosso corpo físico, mas também pode ter um impacto negativo em nossa saúde mental.
Uma dieta equilibrada normalmente envolve a ingestão de uma ampla gama de alimentos de diferentes grupos alimentares, garantindo que nosso corpo receba todos os nutrientes necessários. Consumir mais calorias do que o corpo necessita regularmente leva ao ganho de peso não saudável e obesidade.
Essa condição está associada a uma série de problemas de saúde, incluindo problemas cardiovasculares e distúrbios metabólicos. Uma alimentação deficiente frequentemente carece da ingestão adequada de frutas e vegetais. Esses alimentos são ricos em vitaminas, minerais, fibras e antioxidantes, que desempenham um papel fundamental na proteção do nosso corpo contra doenças e na promoção do bem-estar.
A hidratação inadequada é outra característica comum da má alimentação, portanto, é um ponto de atenção. A água é essencial para muitas funções do nosso corpo, e a falta dela pode levar a uma série de problemas de saúde, incluindo desidratação e disfunção renal.
A falta de conhecimento sobre nutrição muitas vezes dificulta a tomada de decisões alimentares saudáveis. Educação e conscientização são ferramentas cruciais para fazer escolhas alimentares informadas. Uma dieta equilibrada, rica em alimentos nutritivos, é fundamental para manter uma boa saúde e prevenir doenças.
É fundamental reconhecer que a nutrição vai muito além da análise de nutrientes. Enxergar o quadro completo da alimentação e valorizar os alimentos integrais e as dietas equilibradas é essencial para uma abordagem verdadeiramente saudável. Vamos trilhar esse caminho de entendimento e adotar uma perspectiva mais abrangente, baseada nos alimentos, em vez de nos prendermos apenas aos nutrientes isolados.
Essa visão é, geralmente, a mais benéfica para a nossa saúde em longo prazo. A visão simplista que o reducionismo nutricional nos oferece tem suas falhas. Ela foca apenas nos nutrientes individuais, como vitaminas, minerais, proteínas, carboidratos ou gorduras, negligenciando a complexidade dos alimentos em sua forma integral.
Alimentos não são apenas uma soma de nutrientes isolados. Eles contêm uma rede de compostos bioativos, fibras, antioxidantes e outros elementos que interagem de maneira complexa para afetar nossa saúde. O reducionismo nutricional tende a promover dietas monótonas, nos empurrando na direção de alimentos processados que são fortificados com nutrientes específicos, mas carecem de outros benefícios associados aos alimentos integrais, como fibras e fitoquímicos.
A abordagem reducionista muitas vezes nos leva a exagerar na suplementação, que nem sempre é tão eficaz quanto a obtenção desses nutrientes a partir de alimentos integrais. A indústria de alimentos muitas vezes explora esse método para promover produtos que são ricos em um único nutriente (como cereais enriquecidos com vitaminas), enquanto negligencia outros aspectos nutricionais importantes.
Ainda, ao se concentrar apenas em nutrientes, o reducionismo nutricional pode afastar as pessoas da verdadeira conexão com a comida. Isso resulta em uma abordagem mecânica em relação à alimentação, em vez de uma apreciação pela comida como parte da cultura e da experiência social.
Ele ainda pode contribuir para o desenvolvimento de distúrbios alimentares, criando comportamentos obsessivos prejudiciais, e não leva em consideração que cada um de nós possui necessidades nutricionais distintas, influenciadas por fatores como idade, sexo, nível de atividade e condições de saúde.
Há diferentes movimentos dietéticos, como a dieta paleolítica e a cetogênica, que propõem abordagens extremas em relação à alimentação. Enquanto alguns exageram no consumo de carboidratos e gorduras sem valor nutricional, outros focam excessivamente em proteínas, negligenciando uma dieta equilibrada.
A dieta paleolítica promove a eliminação de grãos e sementes, com a justificativa de sermos caçadores por natureza. No entanto, essa abordagem pode levar a extremos, deixando o consumo de vegetais e frutas de lado, e priorizando produtos ultra processados com o apelo da fonte proteica.
O que observamos na maioria dos casos é o excesso de proteína em uma única refeição, quando a distribuição equilibrada ao longo do dia é mais adequada. A dieta cetogênica, originalmente usada para tratamento de doenças neurológicas, é frequentemente adotada para perda de peso.
No entanto, muitas pessoas a utilizam sem orientação adequada, distorcendo a qualidade dessa estratégia alimentar, que preconiza o consumo de vegetais (fibras), gorduras de boa qualidade, proteína controlada (não à vontade) e praticamente zero consumo de carboidrato.
É essencial destacar que o excesso de proteína em uma única refeição é comum na população de alta renda, enquanto a baixa renda enfrenta carências desse macronutriente essencial, devido a questões socioeconômicas. A recomendação de alto consumo de proteína para atletas também pode levar a exageros não fundamentados.
Algumas dietas de emagrecimento enfatizam proteínas para saciedade, mas a obsessão com esse nutriente pode prejudicar a ingestão de fibras, vitaminas e minerais. As necessidades de proteína variam de pessoa para pessoa, dependendo de vários fatores. Por isso se faz tão importante a presença de um nutricionista.
Brinco com os meus pacientes e digo que somos feitos de nutrientes, não de aditivos químicos. É por isso que devemos priorizar o que a natureza nos oferece em nossas refeições. Além disso, é crucial estar consciente de que nosso corpo fala conosco, e ouvir seus sinais é de extrema importância para entender e respeitar nossos limites e necessidades individuais.
Existem alguns princípios fundamentais que ajudam a manter o equilíbrio nutricional:
Em resumo, nutrir nosso corpo com alimentos naturais, ouvir o que ele nos diz, manter um equilíbrio entre o físico e o emocional, e buscar conhecimento confiável são os pilares para uma alimentação saudável.
Temos um guia alimentar para a população brasileira, feito pelo Ministério da Saúde, que pode ser utilizado como uma ferramenta de educação nutricional acessível a todos. A elaboração de guias alimentares insere-se no conjunto de diversas ações intersetoriais que têm como objetivo melhorar os padrões de alimentação e nutrição da população e contribuir para a promoção da saúde.
Neste sentido, a OMS propõe que os governos forneçam informações à população para facilitar a adoção de escolhas alimentares mais saudáveis em uma linguagem que seja compreendida por todas as pessoas e que leve em conta a cultura local. Isso importa muito.
Entrevista com
Criadora de conteúdo
Conversamos com Maria Yasmin Marinho Lodi, criadora de conteúdo e dona da página @vaisozinhamesmo para falar sobre a magia de “ir sozinha mesmo”
21 de Junho de 2024
Para algumas pessoas, sair sozinho pode parecer algo impraticável, impensável ou até mesmo sem sentido. Para outras, a experiência só aconteceria se as circunstâncias obrigassem a ser dessa forma. No caso de Maria Yasmin, de 26 anos, foi exatamente o segundo cenário que a fez enfrentar um festival de músicas sozinha. Sua amiga, que seria sua companhia naquele dia, desistiu de última hora, quando Yasmin já estava no carro, a caminho do show favorito de sua banda.
Foi quando ela pensou: quer saber? Vou sozinha mesmo! E foi. E gravou. E viralizou. E sua vida começou a mudar. Não só pelo alcance dos seus números, que do dia para a noite atingiram muito sucesso, mas pela sua própria forma de olhar a vida. Por que deixar de ir só por não ter ninguém? Por que não aprender a curtir minha própria companhia?
O resto é história! Hoje sua conta no Instagram já reúne mais de 260 mil seguidores que acompanham suas aventuras e suas dicas de passeios em sua cidade, São Paulo. Conversamos com ela para te inspirar a “ir sozinha mesmo” e ver os benefícios da prática que pode começar de forma bastante simples! Leia mais a seguir.
Por que você começou essa jornada de sair sozinha?
Eu comecei a sair mais sozinha depois que a pandemia acabou, quando as coisas começaram a voltar ao normal. Eu sempre emendei um namoro no outro, e calhou que meu último relacionamento terminou quando a pandemia começou. Então foi um momento bom pra mim, pra eu me descobrir, entender o que eu gosto, fazer as coisas mais por mim.
Bem no comecinho dessa retomada, aconteceu a primeira edição de um festival chamado Turá, no parque do Ibirapuera. E eu tinha combinado com uma amiga minha da gente ir juntas, a gente tinha comprado esse ingresso há muito tempo, no meio da pandemia e eu estava super animada. No caminho, já no táxi chegando, ela me avisou que não poderia ir mais. Aí eu pensei “puts, eu quero muito ver a minha banda favorita, quero muito viver esse momento, então eu vou sozinha mesmo e é isso”.
Você já tinha tido essa experiência? Como foi?
Eu nunca tinha feito nada tão grande assim sozinha, sabe. Já tinha ido na padaria tomar um café sozinha, mas nunca em um festival. Aí eu fui e curti muito, foi muito gostosa a experiência, foi maravilhoso ver a minha banda favorita no meu ritmo, eu podia ficar lá na frente ou atrás, andar pra qualquer lugar, ficar em fila de ativação sem me preocupar com ninguém, comer o que eu queria.
Eu gravei algumas coisas lá e postei na minha conta do Tiktok um vídeo bem curtinho, acordei no dia seguinte e o vídeo tinha viralizado. Aí na mesma semana eu criei uma conta no Instagram, a @vaisozinhamesmo e aí comecei a cada vez mais explorar isso de sair sozinha, conheci lugares incríveis em SP e estou seguindo isso até hoje.
Quais são os prazeres e benefícios envolvidos nessa prática?
Acho que um grande prazer de sair sozinha é descobrir coisas que você nem imaginava, como hobbies que você tem e não sabia, lugares diferentes em São Paulo ou na cidade que você estiver, descobrir drinks diferentes que você gosta de tomar, pratos diferentes que você não sabia que você iria gostar.
Essas descobertas e o autoconhecimento são muito bons, esse empoderamento mesmo como eu gosto de falar, entender que você pode ser uma ótima companhia para si mesmo e não depende de mais ninguém. E também conhecer lugares novos, se soltar e sair um pouco da sua bolha, acho muito importante a gente se sentir confortável com nós mesmas.
Quando a gente se conhece o suficiente pra saber o que a gente gosta ou não, a gente consegue até selecionar melhor as nossas amizades, as pessoas que a gente quer ao nosso redor, as energias que quer absorver. Então acho que só tem benefícios, eu sou suspeita pra falar, mas eu gosto muito desse movimento, é realmente um momento você com você mesma pra você se conectar com esse eu.
Para quem não tem o costume, por onde começar? O que é mais fácil de fazer sozinho?
Eu sempre indico que, se você ainda está meio apreensivo, faça um date com você na sua casa. Assiste uma série que você sempre quis ver, pede uma comida de um delivery super gostoso, realmente coloca intenção naquele momento, não fique se distraindo com celular, é um date mesmo, independente se for no sofá da sua casa.
Vai ser maravilhoso tanto quanto, isso é solitude assim como sair em um bar sozinha também é. A próxima etapa é ir em um restaurante de um shopping, porque se você se sentir um pouco entediado ou deslocado, você pode pagar as contas e ir dar uma volta. Eu gosto muito dessa dica porque é uma atividade que você se mantém entretida.
Gosto também de começar pelos cafés, você pode juntar o home office e ir em um café que você já conhece, perto da sua casa, que você já esteja mais familiarizada, e depois explorando outros. Mas acho que mais fácil de fazer sozinho é muito relativo.
Por que?
Pra mim é muito fácil ir em bares sozinha porque eu adoro, é a atividade que eu mais gosto de fazer, principalmente os que acabaram de abrir. Eu gosto muito, fico animada, pesquiso novos lugares pra ir. Então é um pouco relativo porque vai do que a pessoa mais gosta e até pra isso é preciso se conhecer.
Talvez pra outra pessoa pode ser mais fácil ir em um cinema, por exemplo, porque vai estar escurinho, ninguém vai ficar te olhando ali ou você não vai ter a sensação de que alguém está te olhando. Porque também tem isso né, as pessoas não estão te olhando, elas estão vivendo a vida delas ali no mundinho delas, então pode ser um vai sozinha mesmo mais fácil pra começar.
Como é o retorno e o perfil de seus seguidores?
Na verdade, 80% do meu público é feminino e é aquilo: elas encontram minha página em momentos muito estratégicos. Muitas acabaram de terminar um relacionamento longo e estão querendo se encontrar, fazer coisas diferentes, se conhecer mais e viver esses momentos de solitude.
Também recebo várias mensagens de mulheres falando “nossa, por incentivo seu, eu fiz a minha primeira viagem sozinha e foi uma experiência maravilhosa, quero fazer isso todo ano, etc”. Me pedem muita dica de como começar, eu sempre dou essas dicas que te falei. E tem dado muito certo, o feedback tem sido maravilhoso, todo mundo gosta do conteúdo e é gostoso falar de uma coisa que faz bem pra todo mundo, principalmente pras mulheres.
E em relação a ser mulher: você sente algum estranhamento na abordagem em bares, por exemplo, quando te veem sozinha?
Sim, eu não sei o que acontece, quando uma mulher senta em um bar sozinha, parece que os homens olham pra isso e encaram como um convite, quando na verdade a gente só quer muitas vezes ficar sozinha curtindo nossa própria companhia, sem ter que ficar conversando com ninguém, isso já aconteceu comigo.
Eu sei que todo o mundo ensina nós, mulheres, a sermos sempre doce e não retrucar, mas se a pessoa não entende de cara quando você diz que veio pra curtir sozinha ou que tá esperando um amigo, por exemplo, é preciso ser mais incisiva e até mais grosseira, mesmo que pareça muito difícil.
O mais legal é que hoje em dia a maioria dos bares tem um treinamento específico, promovido pela lei “Não se cale”, que ensina toda a equipe a identificar qualquer situação de vulnerabilidade que possa estar ocorrendo. Já vi inclusive eles atuarem em situações, eles são obrigados a te ajudar, seja te levando no seu carro pra você ir embora, seja chamando a polícia. Isso dá um pouco mais de tranquilidade para quem sai sozinha.
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