Coloque em prática

As consequências inesperadas da bondade

Estudos revelam como atos de bondade podem parecer inofensivos, mas possuem muitos benefícios “escondidos” em si

22 de Agosto de 2023


Fazer o bem sem ver a quem: você já ouviu esse ditado popular? Pode parecer até um pouco antiquado, mas a verdade é que há benefícios reais em praticar a bondade. E isso vai desde a empatia, como te contamos aqui, até trabalhos voluntários, que também te contamos por aqui

A seguir, vamos conhecer o lado científico de ser uma pessoa boa e como você ajuda não só ao outro, mas também a si próprio! 

Gentileza gera gentileza

Para ser bom, não é preciso ser grande. Há muito valor nas pequenas gentilezas e, por vezes, em tempos de grandiosidades, nos esquecemos disso. Pesquisadores norte-americanos publicaram, recentemente, suas descobertas no Journal of Experimental Psychology sobre como esses pequenos atos são poderosos.

O estudo realizou oito pequenos experimentos que variavam tanto nos moldes quanto no número de participantes. Num deles, 84 participantes receberam um chocolate quente do quiosque de lanches na pista de patinação no gelo do Maggie Daley Park, em Chicago. Eles poderiam ficar com ele ou entregá-lo a um estranho. Desses, 75 escolheram doar a sua bebida. 

Depois, eles foram convidados a adivinhar, em uma escala de 0 a 10, o quão "grande" o ato de bondade seria para o destinatário e como esse mesmo destinatário classificaria seu próprio humor (variando de muito mais negativo que o normal a muito mais positivo que o normal) ao receber a bebida. 

A mesma entrevista foi feita com as pessoas que receberam a bebida. E a conclusão foi que as pessoas que praticaram a bondade tendiam a subestimar o quanto ela foi apreciada. Outros experimentos foram realizados, com propostas diferentes, mas com a mesma finalidade. Em todos, a resposta daqueles que foram agraciados com a bondade era sempre muito mais positiva do que a pessoa que praticou o ato acreditava que seria. 

"Acreditamos que essas expectativas mal calibradas são importantes para o comportamento. Não conhecer o próprio impacto positivo pode atrapalhar as pessoas que praticam esse tipo de gentilezas na vida cotidiana”, diz Amit Kumar, professor assistente de marketing e psicologia da Universidade do Texas em Austin e um dos pesquisadores envolvidos no estudo.

"As pessoas tendem a pensar que o que estão dando é pequeno, talvez seja relativamente inconsequente. Mas, os destinatários são menos propensos a pensar nesse sentido. Eles consideram o gesto significativamente mais importante porque também estão pensando no fato de que alguém fez algo de bom para eles”, pontua. 

Você é parte da mudança?

Outros estudos e até alguns livros já demonstraram que pequenos atos de bondade, sobretudo partindo de estranhos, mudam o dia de uma pessoa, aumentam seus níveis de felicidade, reduzem seus níveis de estresse e fortalecem sua confiança em si e no outro. 

Porém, apesar de muitos desejarem um mundo mais bondoso, poucos estão dispostos a serem parte dessa mudança. "As pessoas desejam bondade, mas muitas vezes se sentem incomodadas com a ideia de serem boas", diz Tara Cousineau, psicóloga e autora de "The Kindness Cure: How The Science of Compassion Can Heal Your Heart and Your World" (“A cura da bondade: como a ciência da compaixão pode curar seu coração e seu mundo”) em artigo.

Ainda segundo ela, o estresse pode impedir pessoas de serem boas com as outras, assim como a "pequena voz julgadora" na cabeça de algumas as faz questionar se seu gesto ou presente será mal interpretado ou se fará com que o destinatário se sinta pressionado a retribuir.

A questão é que o mesmo estudo que mencionamos anteriormente observou que a bondade não é só positiva para quem a recebe, mas também para quem a oferece. E mais: ela é de fato contagiosa. Em outro experimento, os participantes eram instigados a participar de um jogo econômico onde eles alocavam dinheiro entre eles e uma pessoa que nunca conheceriam. 

As pessoas que acabaram de receber um ato de bondade eram mais sujeitas a dar substancialmente mais dinheiro a uma pessoa anônima do que aquelas que não o fizeram. A pessoa que executou o ato inicial, como explica Kumar, não previa que sua generosidade transbordaria nessas interações posteriores. 

Essas descobertas, continua ele, sugerem que o que pode parecer pequeno quando estamos decidindo se devemos ou não fazer algo bom para outra pessoa pode ser muito importante para a pessoa para quem fazemos isso. “Visto que esses gestos calorosos podem melhorar nosso próprio humor e iluminar o dia de outra pessoa, por que não escolher a bondade quando podemos?”, questiona ele. 

Lembre-se desse artigo quando hesitar em fazer o bem, ainda que mínimo, e lembre-se também que não é preciso um ato grandioso: o milagre mora nas miudezas.

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Coloque em prática

Os desafios do preparo físico e mental de um esportista olímpico

O que é preciso ser feito para que o corpo e a mente de um atleta estejam prontos para levá-lo ao pódio

15 de Novembro de 2024


No último episódio da décima sétima temporada do Podcast Plenae, conhecemos a história de Caio Bonfim, o medalhista olímpico em marcha olímpica que ganhou os holofotes em Paris, mas que trabalha há anos em uma preparação árdua que poucos veem e que precede todo pódio. É isso mesmo: antes de colher os louros e dar entrevistas com a medalha no peito, há um preparo físico e mental intenso que leva anos para ser construído. 

Esse preparo envolve uma série de desafios interligados, exigindo não apenas uma preparação técnica e atlética de alto nível, mas também um equilíbrio psicológico e emocional para enfrentar as demandas extremas da competição de elite. Te contamos por aqui, aliás, sobre o trabalho de um psicólogo esportista e como o trabalho é feito dentro dos times. E ainda te falamos sobre o que os atletas olímpicos podem te ensinar sobre vida e longevidade. 

Hoje, vamos entender ainda mais sobre esses passos que são dados antes da linha de chegada - seja a modalidade que for! É importante aprendermos para valorizarmos ainda mais os nossos esportistas que brilham com a amarelinha no peito mesmo sem as condições que mereciam para seus treinamentos. Leia a seguir!

Exigências físicas: hora de preparar o corpo


É fato que, para ser um bom atleta, você precisa de condicionamento físico. Para cada modalidade, haverá uma exigência diferente: umas precisam de flexibilidade, outras de força, outras de rapidez… Mas, para todas, é preciso ter boa resistência física, e isso vai desde um sistema imunológico sólido, que não contraia qualquer gripe que se aproxime, por exemplo, até um aparelho cardiorespiratório que consiga comparecer ao que lhe é exigido. 

O primeiro passo de um treinamento com foco em alto rendimento é manter o volume, intensidade e constância no treino. A carga é extremamente alta e precisa ser planejada para otimizar o desempenho em uma variedade de disciplinas, com uma combinação de força, resistência, flexibilidade e agilidade, entre outros fatores. É indispensável a presença de um educador físico nesse momento, é praticamente impossível atingir qualquer nível de excelência sem esse profissional.

Além dele, é preciso de uma equipe multidisciplinar que o acompanhe, porque não basta treinar, por exemplo, é preciso focar também na recuperação, uma parte crucial para evitar lesões e melhorar o desempenho. Isso envolve descanso adequado, fisioterapia, massagens, alongamentos e outras técnicas para reduzir o risco de sobrecarga física e uma atenção especial na nutrição. Tudo isso, novamente, envolve a participação de diferentes especialidades, mas é preciso que elas trabalhem em conjunto.

Sobre a alimentação adequada, é fundamental sustentar a alta demanda energética que um esporte olímpico exige, portanto, há uma tendência aos macronutrientes como carboidratos e proteínas, mas cada atleta terá uma dieta personalizada com base nas suas necessidades específicas. A suplementação também pode entrar na jogada e ser utilizada de forma controlada para ajudar na recuperação muscular, resistência e desempenho.

Algumas ferramentas modernas podem auxiliar muito nesse momento. A análise tática das competições, onde cada detalhe importa, é uma parte fundamental do sucesso. Para isso, o trabalho com treinadores especializados que fazem análise de desempenho (como filmagens e dados técnicos), dispositivos de monitoramento de dados, novas metodologias de treinamento e a constante evolução das habilidades são essenciais para se manter competitivo.

Em esportes coletivos, o trabalho em equipe e a comunicação eficiente também desempenham um papel crucial. Além disso, as condições ambientais (como clima ou tipos de superfícies de jogo) podem variar entre competições, exigindo adaptação rápida e eficácia estratégica.

Exigências mentais: hora de preparar a mente


Segundo Maurício de Camargo Garcia, fisioterapeuta, mestre profissional pela UNIFESP e sócio fundador da SONAFE (Sociedade Nacional de Fisioterapia Esportiva) e do CETE (Centro de Traumatologia do Esporte da UNIFESP), essa conquista é uma construção de vários fatores, como ele nos contou neste artigo sobre a diferença entre corpos sedentários e atletas.


“Na construção de um atleta de alta performance, o aspecto físico é tão importante e presente quanto o aspecto mental, cerebral, emocional. Você consegue identificar se a pessoa tem uma condição muscular mais favorável ou mais característica de praticar uma atividade física. Mas somente um atleta de verdade sabe lidar, por exemplo, com a questão da dor, que faz parte dessa carreira”, explica o doutor. 


“Se ele se acostumou com ela e se recupera rápido de uma lesão, é aí que vai morar a grande diferença entre um atleta e um sedentário, ou até de um atleta de alta performance para um esportista recreacional. Até porque, para um atleta, estar parado por muito tempo pode implicar em perda de contratos e patrocínio. Sua recuperação é mais rápida porque ele depende disso, é o mental agindo sobre o físico”, diz.


Há sim uma carga muito alta de estresse e a pressão por resultados, tanto de patrocinadores quanto do público e dos próprios atletas. E isso pode ser esmagador se o indivíduo não estiver suficientemente preparado. A expectativa de alcançar o pódio nas Olimpíadas, por exemplo, como era o caso de Caio, pode gerar níveis elevados de estresse psicológico. A ansiedade de competir no maior evento esportivo do planeta é um dos maiores desafios mentais, pois envolve um risco grande de decepções e falhas.


Chegar muito perto e perder também pode ser derradeiro e gerar um estresse pós-traumático que pode afetar o atleta por anos, em suas próximas tentativas. E acredite: até mesmo a tão sonhada vitória pode trazer transtornos emocionais para o vencedor, que pode se cobrar ainda mais para se manter para sempre no lugar mais alto do pódium. É o caso de Simone Biles, a estrela da ginástica olímpica que falou abertamente desse assunto em seu documentário, sugerido por nós no Plenae Indica.


Mas para todos que buscam obter ou manter a excelência, é preciso manter antes de mais nada uma disciplina rígida. Isso inclui a rotina de treinos e alimentação que mencionamos anteriormente, mesmo que a vida pessoal ou social seja sacrificada. Essa capacidade de focar por longos períodos em metas específicas é essencial e é o que vai destacar os melhores. 


Algumas técnicas de concentração e foco, como a visualização (onde o atleta imagina-se superando desafios) ou meditação, são usadas para melhorar a performance e reduzir distrações durante a competição. Novamente, é preciso de especialistas multidisciplinares nessa preparação, e aqui o psicólogo esportivo se faz essencial para o trabalho da superação de frustrações, pois a capacidade de se reerguer e aprender com esses momentos é crucial. 


Abraçar ainda o fato de que a carreira de um esportista é feita de altos e baixos e, mais ainda, que é curta e tem prazo de validade, será importante na construção dessa resiliência mental que exige todos os dias desse sujeito que está, a todo tempo, tendo sua vida marcada por uma rotina extremamente exigente, o que frequentemente implica em distanciamento da família, amigos e até mesmo de relacionamentos pessoais. 


O apoio psicológico de qualidade, inclusive, irá incentivar esse atleta a buscar por um equilíbrio entre vida pessoal e carreira, pois a Síndrome de Burnout que já contamos por aqui está aí para eles também, não só para quem trabalha em escritório. Para eles, ainda há a camada da pressão pública, com uma enorme exposição nas mídias sociais e tradicionais, e é preciso se preparar para isso também. Uma rede de apoio sólida nesse momento pode salvar vidas.


Exigências logísticas: hora de preparar todo o resto da vida


Por fim, a preparação para as Olimpíadas envolve não apenas treino físico, mas também uma gestão eficaz de tempo, planejamento estratégico e definição de metas. A programação de ciclos de treinamento (períodos de pico de desempenho, períodos de descanso e adaptação) deve ser feita com precisão.


O período após a competição olímpica pode ser igualmente desafiador. A "ressaca pós-Olimpíada" é um fenômeno psicológico que pode causar uma perda de propósito ou identidade após o fim de uma competição tão significativa, e muitos enfrentam uma espécie de vazio emocional.


E se estamos falando do final da vida útil desse atleta, a transição para outra ocupação pode ser difícil. O planejamento de carreira pós-olímpica, com formação acadêmica, especializações ou outra área do esporte (como coaching ou comentarista), é um aspecto importante para garantir a continuidade do desenvolvimento profissional após o fim da carreira esportiva e não deixar de lado o cuidado com a subjetividade daquele indivíduo que, antes de ser atleta, é um ser humano. 

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