Coloque em prática
A dependência química é uma doença e, portanto, possui tratamento. Mas reconhecer o problema é o primeiro passo a ser dado nessa situação.
15 de Dezembro de 2023
No quinto episódio da décima quarta temporada do Podcast Plenae, nos emocionamos com a história de Regis Adriano, um ex-usuário de drogas. Seu vício começou como o de todos: mascarado de usos pontuais. Para ele, o que era apenas uma provocação e rebeldia juvenil, se tornou um problema que mudou o curso de sua vida para sempre e o expôs a violências e situações degradantes, como morar na rua e perder o contato com a sua família.
O skatista e hoje também escritor não sabia que carregava em seu corpo uma predisposição genética ao vício, condição que o condenaria já na primeira tragada. Não há mesmo como saber se você também possui essa tendência - e é aí que mora o perigo.
Mas, há como identificar os primeiros sinais da dependência química ainda no começo e agir rapidamente. Isso vale para aqueles que identificam em si ou nos seus familiares e amigos. Afinal, essa é uma doença que acomete não só o indivíduo, mas faz sofrer todos ao seu redor. Vamos entender um pouco mais sobre esse assunto tão difícil e necessário?
“A dependência química é uma condição física caracterizada por tolerância ao uso de determinada substância química, desenvolvendo a necessidade do aumento da dose para obter o mesmo efeito inicial”, explica Cirilo Tissot, diretor da clínica especializada em compulsões Audeamus, médico associado Associação Brasileira de Estudos Sobre Álcool e Drogas e Mestre em psiquiatria pelo IPq-USP.
A dependência química é reconhecida como uma doença pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e consiste, principalmente, na necessidade compulsiva e incontrolável de usar uma substância psicoativa, mesmo que isso cause prejuízos físicos, psicológicos e sociais.
Quando há a suspensão do uso dessa substância, um outro fenômeno se instala: a síndrome de abstinência, que gera sintomas físicos com características específicas de acordo com a substância química utilizada pelo indivíduo. E ela que dificulta tanto a recuperação desse sujeito, pois trata-se de uma resposta violenta do corpo diante da ausência daquele composto químico e seus estímulos, que estava habituado a receber.
“A medicina baseada em evidências constatou que a responsabilidade maior no surgimento dos transtornos do uso é de origem genética, uma predisposição ao uso arriscado. É como se faltasse uma trava de segurança que avisa o usuário sobre o momento de parar. Porém, o fato de ser a genética muito importante, como um dos fatores causais do vício, não quer dizer que seja hereditário. Existe uma maior probabilidade do desenvolvimento de compulsão por drogas, a criança que tem ambos os pais acometidos pelo problema”, explica Cirilo.
“Os protocolos de diagnóstico geralmente envolvem uma equipe multidisciplinar entre psiquiatras e psicólogos que avaliarão critérios específicos, como a presença de sintomas de abstinência, aumento da tolerância à substância, perda de controle sobre o uso e persistência do uso mesmo com consequências negativas”, explica Rosângela Casseano, Psicóloga, Terapeuta Cognitivo Comportamental.
Esse é um problema real, com números alarmantes, vale dizer. Segundo artigo do portal Senado, o Relatório Mundial sobre Drogas 2022, do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), mostra que cerca de 284 milhões de pessoas — na faixa etária entre 15 e 64 anos — usaram drogas em 2020, 26% a mais do que dez anos antes.
No Brasil, o cenário não é muito melhor. De acordo com o Ministério da Saúde, o Sistema Único de Saúde (SUS), em 2021, registrou 400,3 mil atendimentos a pessoas com transtornos mentais e comportamentais devido ao uso de drogas e álcool. A maior parte dos pacientes é do sexo masculino com idade de 25 a 29 anos.
Mas então, como reconhecer se estou começando a ficar dependente ou se conheço alguém que esteja? Ao Plenae, Cirilo ainda traz alguns pontos de alerta importantes:
O médico do trabalho Gustavo de Almeida explicou no mesmo artigo do Senado que o diagnóstico e a gravidade do transtorno por dependência são avaliados dentro de quatro categorias.
Controle prejudicado quanto ao uso (uso contínuo apesar do desejo de parar);
Prejuízo social (descumprimento de obrigações relativas ao seu papel no trabalho, na escola ou em casa);
Exposição ao fator de risco (direção de automóvel sob uso de substância, por exemplo); e
Sintomas farmacológicos (abstinência, por exemplo).
“A parte mais importante, quando percebemos que um ente querido está precisando de ajuda é o obstáculo do orgulho e o medo do estigma. Reconhecer o próprio descontrole significa admitir uma fragilidade em um momento onde todos estão pedindo por força de vontade”, pontua Cirilo.
Para ele, um passo inicial e fundamental antes de iniciar uma conversa sobre o tema é a informação que o familiar deve buscar sobre o tema para não ser vetor de preconceito. “Entender a doença significa não culpar o indivíduo de algo que ele não tem controle, mas ajudar a pedir ajuda especializada e a reparar escolhas mal feitas”, explica.
Além disso, enfrentar o problema exigirá que o indivíduo se responsabilize por suas atitudes, tentando mudar o que é possível e aceitando o que não pode ser modificado naquele momento. Esse, inclusive, foi o caminho mais efetivo trilhado por Regis: após tantas internações sem sucesso, foi em um CAPS (Centro de Atendimento Psicossocial) e a ajuda de um psicólogo que ele conseguiu reconhecer o seu papel nesta jornada e resgatar inclusive o tão necessário amor próprio.
“Oferecer apoio para procurar ajuda é muito importante, nem que seja para marcar uma consulta pelo indivíduo, só para facilitar. Se houver mais do que uma pessoa preocupada, fazer uma intervenção conjunta propicia a procura por ajuda. De qualquer forma, preparar um contexto para que possa haver uma conversa íntima, como convidar para um jantar em um restaurante, valoriza o que vai ser dito”, diz.
Rosângela concorda. “É importante abordar o assunto de forma cuidadosa e compassiva. É recomendado escolher um momento adequado e um ambiente tranquilo para iniciar a conversa, demonstrando preocupação e oferecendo apoio. De suma importância evitar julgamentos e oferecer opções de ajuda, como o acompanhamento de um profissional de saúde especializado e muita paciência”.
A melhor ajuda, como fortalece Cirilo, é aquela que está disponível de imediato, de forma que não haja tempo para que a pessoa possa desistir e mudar de opinião ao aceitar pedir ajuda. Isso inclui, claro, a procura por um profissional especializado em transtorno do uso de substâncias ou ambulatórios especializados.
Mas, existe a tendência dos familiares procurarem clínicas ou comunidades terapêuticas com a falsa ideia de que a internação seja a melhor escolha - e esse não foi o caso de Régis, como te contamos anteriormente. “A internação é uma indicação médica, como qualquer prescrição medicamentosa, não sendo considerado padrão ouro de reabilitação. A voluntariedade ao tratamento é sempre a melhor escolha”, reforça o médico.
Por fim, um passo importante nesse acolhimento é justamente o reconhecimento. “A dependência química não é uma questão de fraqueza moral ou falta de vontade. É uma condição médica que requer compreensão, apoio e tratamento adequado. É importante que os dependentes químicos sejam vistos como indivíduos que precisam de ajuda e não como pessoas moralmente inferiores”, conclui Rosângela.
Esse estigma em torno da dependência química, afinal, em nada contribui e é mais uma violência submetida ao dependente, podendo dificultar o acesso ao tratamento e a recuperação. A empatia, o encorajamento, a escuta ativa e a busca por profissionais capacitados é o caminho que o Plenae acredita!
Coloque em prática
Depois de um feriado que, muitas vezes, pode ser recheado de excessos, confira algumas dicas que podem te ajudar a desintoxicar o corpo!
22 de Fevereiro de 2023
O feriado mais famoso do país começa a se despedir, mas deixa alguns resquícios: o efeito dos seus excessos. Comida, bebida, falta de exercícios e sono desregulado são só alguns dos maus hábitos que praticamos nesses dias de folia e que, verdade seja dita, são merecidos.
Mas fique tranquilo! Alguns caminhos de detox são possíveis e muito bem-vindos para você colocar em prática e recuperar o tempo perdido!
Hidrate-se
Comece pelo básico: água. Pode ser que você tenha negligenciado a quantidade nesses últimos dias, então atente-se a esse fator. Para não se esquecer, que tal acionar alguns alarmes no seu celular? Há uma série de aplicativos feitos só para isso!
Prato colorido
Os dias de comer besteira ficaram para trás. Depois da água, a alimentação é que vai ajudar a te reerguer. Opte por alimentos como as folhas verde escuras, que são ricas em minerais, fibras, antioxidantes e vitaminas. Isso vai te ajudar a limpar o organismo e trazer mais energia.
Se a vontade de doce vier, depois de dias comendo-os sem restrições, apele para a frutose, o açúcar das frutas. É claro que mesmo ela deve ser ingerida com parcimônia, mas para além do sabor doce, as frutas também hidratam e são fonte de muitos nutrientes importantes, além de trazer saciedade.
Busque energia em outras fontes
Correu atrás do bloco e agora se sente cansado? Isso é mais do que natural! Mas pegue leve na cafeína nesse retorno. A melhor opção pode ser um chá preto, que também possui cafeína, mas oferece ainda antioxidantes e outros benefícios. Além disso, o chá, por ser infusionado na água, oferece um nível maior de hidratação.
Xô gordura!
Não é hora de exigir muito do seu organismo, e isso inclui o seu trato gastrointestinal e sua digestão. Por isso, na hora de montar o seu prato, que tal escolher carnes brancas como aves e peixes? Carnes vermelhas são mais custosas para nosso processo digestivo e costumam conter mais gordura.
O método de cocção também conta! Pratos assados, cozidos ou grelhados são opções melhores e mais leves do que frituras e embutidos. Grãos também entram nessa jogada como um atalho para obter mais fibra e saciedade. E se for ingerir gordura, opte pelas gorduras boas, como é o caso do azeite, da azeitona e tantas outras.
Movimente-se, mas vá com calma
Exercícios físicos são fonte de muitos benefícios e já trouxemos esse fato de diversas maneiras por aqui. Portanto, exercitar-se nesse período também trará coisas boas para você. Mas vá com calma! Seu corpo já está cansado de tanto pular carnaval, portanto, agora não é hora de se jogar no treino pesado.
Até porque, se você viveu a festa como se não houvesse amanhã - e esse amanhã chegou -, provavelmente o seu sono foi negligenciado. Sendo assim, não precisa só dormir ou ficar parado, mas opte por uma esteira mais tranquila nesse retorno ou exercícios de fortalecimento, como musculação, mas com poucas séries. Um educador físico pode te ajudar e muito nessa etapa.
Receitas práticas
Assim como te orientamos a procurar um educador físico para te ajudar a montar um treino que faça sentido nessa retomada, um profissional de nutrição também pode ser bastante valioso para pensar nas suas escolhas alimentares nesses primeiros dias.
Alguns portais, porém, já separam receitas de suco detox para dar um boost na sua disposição e recuperação. É o caso deste artigo na Vogue, que além de suco, também indica uma receita de sopa detox - tudo líquido, pensando lá na nossa primeira dica, a hidratação.
Para o jornal Metrópoles, a nutricionista Isabella Chaer Caiado conta que a melhor dica é abusar dos alimentos ricos em potássio, cálcio, magnésio e vitamina B6. “Enquanto o sódio ajuda na retenção hídrica, o potássio funciona como diurético natural”, completa. Nesse mesmo artigo, ela também dá receitas de sucos e sopa.
Passada a curtição, é hora de recuperar seu fígado e intestino que, de acordo com a nutricionista Flávia Sgavioli para a revista Boa Forma, são os órgãos que mais sofrem com os excessos da época. “Alguns estudos mostram que após uma bebedeira, o corpo pode levar três dias ou mais para se recompor completamente”, conclui. Nunca é tarde para começar! Esteja atento.
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