Para Inspirar

A Revolução da Longevidade e como responder a ela

Em 1945, a expectativa de vida média era de 42 anos. Hoje, pouco mais de meio século depois, ela já se encontra em 76. Precisamos aprender a usufruir dessa dádiva.

24 de Abril de 2018


O médico brasileiro que nos orgulha internacionalmente contribuindo com pesquisas sobre longevidade nos apresentou as revoluções que já estamos vivendo e nos convidou a pensar em como liderar, abraçar e pensar melhor nas revoluções que estão por vir.

A REVOLUÇÃO DA LONGEVIDADE E SEU IMPACTO SOBRE NÓS

Em 1945, a expectativa de vida média era de 42 anos. Hoje, pouco mais de meio século depois, ela já se encontra em 76. Precisamos aprender a usufruir dessa dádiva. A revolução da longevidade já chegou, teve e terá impactos para nós como indivíduos e para a sociedade como um todo.

A verdade é que precisamos nos preparar para viver mais do que planejamos – e para os impactos que isso terá em nossas famílias e nossas relações. Devemos focar em chegar à idade avançada acima do linear de dependência. Além dos óbvios benefícios pessoais de uma velhice com mais qualidade, com esse privilégio também podemos nos manter como recursos produtivos e úteis para nossas famílias, para a economia e a sociedade.

É possível evitar chegar a esta fase abaixo do linear da dependência, especialmente prevenindo e cuidando de nossas vidas desde já. Temos que ter de forma muito clara uma perspectiva que considere nosso curso de vida por inteiro.


A qualquer momento, podemos fazer uma intervenção e corrigir aquilo que ainda pode ser melhorado. Sempre é possível começar uma atividade física, cuidar do corpo, cuidar da mente, ter um propósito e ficar operante até o fim.

Kalache cita quatro grandes capitais que são necessários para o bem-envelhecer: saúde, conhecimento, relações e dinheiro. Quanto mais cedo começarmos a acumular esses capitais, melhor. Mas sempre é tempo para começar. Estes capitais nos permitem ter resiliência, ou seja, as reservas necessárias para que nós nos adaptemos e cresçamos com os impactos e desafios que encontrarmos ao longo da vida.

Aquele que acessa seus capitais para buscar soluções dá a volta por cima, encontra uma saída e provavelmente vai envelhecer melhor.

A QUARTA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E COMO ELA MUDA NOSSAS RELAÇÕES DE TRABALHO

A quarta revolução industrial se trata de um avanço proveniente da terceira revolução industrial. Estamos migrando para uma forma muito mais complexa de inovação, em que múltiplas tecnologias atuam simultaneamente, de forma rápida e hiperconectada. Nela, em vez de propriedades, o acesso é que é importante.

Mais que informação, precisamos do discernimento e imaginação para utilizá-la da maneira certa. Essa reconfiguração no fornecimento de serviços e raciocínios já está transformando radicalmente a natureza do trabalho. Ou usufruímos desta oportunidade ou vamos perdê-la.

Nesse raciocínio, não adianta treinar uma criança hoje esperando que esse conhecimento lhe sirva para o resto da vida. É preciso ensiná-la, antes de tudo, a pensar, a ser capaz de se adaptar, renovar-se e ser resiliente. A capacidade de aprender ao longo da vida é fundamental para que nos adaptemos.

REVOLUÇÃO DA EDUCAÇÃO: A REVOLUÇÃO QUE ESTÁ SOB NOSSA TOTAL RESPONSABILIDADE

A necessidade por flexibilidade, adaptabilidade, capacidade de se reinventar e de estar sempre pronto para mudanças nos traz até uma terceira revolução que ainda precisa acontecer: a da educação. Os 30 anos a mais de vida que ganhamos precisam nos fazer enxergar com novos olhos o jeito como estamos dividindo a vida até agora.

Não estamos envelhecendo como nossos pais e muito menos como nossos avós. E isso não é novo. Basta lembrar que o período entre a infância e a idade adulta, uma fase de vida em que muitos de nossos pais e avós já trabalhavam, não era tratado com metade da atenção que é tratado hoje pela mídia e pela sociedade.

A adolescência foi uma invenção dos baby-boomers. Está na hora de propormos a nova construção social: a gerontolescência. A transição entre a fase adulta e a velhice. O que isso tem a ver com a educação? A necessidade de revê-la por inteiro. Em uma sociedade com mudanças cada vez mais aceleradas, com cada vez menos jovens e maior número de idosos, como manter uma estrutura que concentra todo o período de estudo em uma só fase da vida, na maioria dos casos (especialmente para a faixa mais pobre da população) até antes dos 18 anos e não prevê novas possibilidades de estudo após essa idade?

Como seguir uma estrutura de ensino e trabalho inspiradas no século 19, quando as pessoas estudavam até os 14 anos, trabalhavam muito e morriam com 70 e poucos anos, se muito? Mesmo a seguridade social precisa ser revista, já que foi criada nessa época, em um modelo de sociedade completamente diferente do atual.

É preciso reinventar o curso de vida, do início ao fim. Precisamos pensar em uma vida mais colorida. Uma vida em que possamos curtir o melhor dela desde o início, fazer pausas nos estudos e trabalho, escolher fazer um sabático e poder voltar a trabalhar normalmente tempos depois.

Um curso de vida em que escolhemos quando e como estudar – e também quando e como nos aposentamos. Nessa mentalidade, escola não é só coisa de criança, faculdade não é coisa de adolescente, trabalho não é coisa de adulto e aposentadoria não é coisa de velho. Nessa mentalidade, todas as idades e gerações se encontram em diferentes momentos e trocam conhecimentos, sendo mentoras umas das outras.

É maravilhoso estarmos entre as primeiras gerações que vão ter que responder a essa revolução da longevidade. E podemos fazer isso promovendo a harmonia intergeracional, a noção do cuidado entre uma geração e outra e a geratividade, que é a atividade entre gerações. Neste novo curso de vida proposto, não precisamos apenas nos preocupar em fazer uma carreira, mas sim em deixar um legado.

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Para Inspirar

Como série expõe a falta de cultura de doação no Brasil

Ocupando a 54º posição em ranking sobre filantropia, a série “Meu, Seu, Nosso” evidencia o quanto nosso país precisa caminhar quando o assunto é doação.

18 de Setembro de 2024


Trabalho voluntário não é um tema novo no Plenae. Por aqui, já falamos sobre como ajudar o próximo pode ser benéfico para você, trouxemos os tipos e benefícios da prática, explicamos porque os voluntários vivem mais e de que forma o voluntariado aumenta a satisfação e a longevidade. Por fim, ainda homenageamos os voluntários da copa e te contamos como ser um, além de ter dedicado um Tema da Vez inteiro ao assunto. 

Pelo nosso podcast, nomes envolvidos com diferentes causas também falaram sobre o trabalho voluntário de alguma forma, indireta ou diretamente: Drauzio Varella, David Hertz, Eduardo Foz, Eduardo Lyra, Maha Mamo, Leo Farah, Daniela Lerario, Henri Zylberstajn, Geraldo Rufino, Celso Athayde, Flores para refugiados, Rodrigo Hubner Mendes, Simone Mozzilli, Luciane Zamoiski, Thiago MochileiroFernando Korkes e mais recentemente, Rene Silva.

Dessa vez, fomos conversar com os envolvidos na série “Meu, Seu, Nosso”, que acompanha sete diferentes histórias sobre voluntariado no Brasil, da base ao topo da pirâmide, e por meio delas expõe a ferida aberta que é a cultura de doação no nosso país, que ainda está muito atrás do que deveria - e do que necessita enquanto povo.

A cultura de doação


O Brasil está entre os 20 países mais solidários do mundo. É o que diz o relatório anual World Giving Index 2022, produzido pela organização Charities Aid Foundation (CAF), representada no país pelo Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (Idis), e como traz artigo no GIFE (Grupo de Institutos, Fundações e Empresas).

Isso deveria ser uma boa notícia, certo? Em partes. É ótimo que sejamos solidários, característica conhecida do brasileiro no imaginário popular mundo afora - e no nosso também. Mas a doação enquanto cultura estabelecida e organizada, de forma a criar uma conexão profunda com a causa, ainda tem muito o que caminhar. 

De acordo com a pesquisa Percepção e Prática da Doação no Brasil, conduzida pelo Datafolha em 2023, cerca de 31% dos brasileiros fizeram, pelo menos, uma doação em dinheiro ao longo de 2022, seja para instituições, coletivos, ações beneficentes de igrejas e campanhas de captação de recursos para projetos sociais.

Acontece que, na maioria das vezes, essa doação não é recorrente, ou seja, é feita de forma pontual e isolada, sem que a pessoa que doou de fato acompanhe o desdobrar daquele ato ou reflita profundamente sobre o tema. A mudança necessária era a de que a doação deixasse de ser uma ação assistencialista e passasse a ser uma ação cidadã comum, que busca impulsionar mudanças positivas na sociedade, como reforça o GIFE.

“O Brasil ocupa o 54º lugar no mundo em doação, estamos muito atrasados e isso se deve a diversos fatores. O primeiro é que as pessoas não têm muita confiança para onde o dinheiro delas iria. Claro que, quando a gente fala de filantropia, a gente tá falando também de doação de tempo, de conhecimento, mas de dinheiro também. E é sobre esse último que elas sentem receio: para qual organização essa verba vai, como confiar e acreditar que essa instituição vai ser idônea e aplicar que doei de uma forma correta?”, traz Marcos Prado, produtor e diretor de cinema e da série “Meu, Seu, Nosso”.

Ele ainda destaca outros obstáculos, como as entraves burocráticas, o alto custo do imposto estadual sobre doação, que varia de 4% a 8% e a dificuldade que as pessoas encontram para encontrarem as instituições certas para doarem seu tempo ou seu dinheiro, apesar de quererem. “Ainda há muito preconceito com ONGs e projetos em si e uma falta de incentivo fiscal. É um longo caminho a se percorrer, mas quanto mais se discutir, mais rápido a gente sai desse ranking vergonhoso”, pontua Prado.

“A filantropia, do meu ponto de vista, não somente precisa ser mais falada, mas colocada em prática. Eu acredito profundamente que quando a gente desenvolve o amor pelo outro, consegue enxergar o outro como indivíduo da criação maior e entende que somos todos a mesma coisa e que todos precisamos estar bem, a gente começa a cuidar”, diz Ana Paula Mucunã, assentada da reforma agrária, agricultura familiar, fundadora e gestora do Instituto Família Criativa do Campo e participante da série. 

A série


Idealizada por Ana Maria Diniz, filha mais velha de Abilio Diniz, a série “Meu, Seu, Nosso” traz, em dez episódios, a história de sete iniciativas diferentes que mudam o seu entorno de alguma forma, além de especialistas importantes que discutem em três episódios sobre a cultura de doação no Brasil.

Dirigida por Marcos Prado e João Jardim e disponível no streaming Aquarius, plataforma da Amazon Prime que reúne títulos com foco em qualidade de vida e bem-estar, a série é uma verdadeira “jornada sobre a cultura da doação no Brasil, seus atores, práticas, efeitos e consequências”, como explica sua sinopse. 

“Quando as pessoas vão para o Nordeste, elas vão sempre para o litoral, onde tem as nossas praias lindas, a cultura ali também da gastronomia, do artesanato, mas sempre só no litoral. Muito dificilmente as pessoas vão conhecer a caatinga, o semiárido, onde há uma grande potência que precisa ser desenvolvida, vista, mostrada, para que aquelas pessoas possam, a partir de todo seu potencial, conseguirem um meio de se desenvolver, se preparar, se capacitar e caminhar para um futuro melhor”, diz Ana Paula. 

Para ela, a obra do audiovisual vai conseguir encurtar esse caminho de alguma forma, já que se trata de uma “ferramenta de projeção”, segundo ela, para que a população conheça esse Nordeste pouco visto. “Foi muito emocionante a chegada da equipe de gravação, com todos aqueles equipamentos, drones, câmeras. Eu ainda nem sabia o tamanho desse trabalho que estava sendo feito, mas já tinha uma expectativa muito positiva. E depois quando eu vi a equipe se emocionando várias vezes nos momentos de gravação”, relembra. 

“Quando fomos na Serra do Tigre, no Quilombo de Gameleira, na escola abandonada, eu pude evidenciar com tanta clareza o quanto as pessoas não sabem o que de fato as nossas famílias que vivem na caatinga, no sertão, nesse semiárido, nos assentamentos. Teve até uma pessoa da equipe que disse para mim ‘realmente Aninha, a maioria das pessoas lá fora não têm noção que hoje, em pleno século XXI, com tanta tecnologia, ainda existem famílias que vivem nessa situação. Pra mim esse daqui era simplesmente o cenário do filme Auto da Compadecida’”, conta. 

O projeto de Ana Paula foi um dos escolhidos depois de um longo e desafiador processo, segundo Marcos Prado, que participou diretamente na seleção de tantos projetos que chegaram até ele. “Depois de selecionar 50 projetos sociais e mais de 30 especialistas, a gente fez a curadoria juntos: eu, Ana Diniz, a equipe dela e o João Jardim que é outro documentarista super importante e amigo meu que convidei para participar. (...) Foi muito difícil a curadoria pra gente chegar nos 7 personagens que iriam representar a nossa série. Cada um com a sua motivação, história… Procuramos trazer histórias de pessoas que estão na base da pirâmide e também no topo e no meio, cada um com a sua motivação”, relembra. 

O que Prado percebeu ao longo do processo é que em todos os selecionados há um mesmo fator em comum: eles acabam descobrindo que o propósito da vida deles está no outro e não neles próprios. “Eu sempre me perguntava se o ser humano era naturalmente altruísta ou não, empático ou não, se isso era uma coisa que aprendemos pelo meio e ensinada pelos pais ou se na natureza realmente havia esse tempo de altruísmo. E aí eu acabei descobrindo que sim, que existem diversos exemplos na natureza, em amebas, em pássaros, em plantas, bactérias… Isso me impressionou muito”, diz.

E se você quer se inspirar e se impressionar com essas histórias, basta procurar a série “Meu, seu, nosso”, disponível no streaming Aquarius, da Amazon Prime. É o primeiro passo para quem busca entender um pouco mais sobre a cultura de doação do Brasil e, quem sabe, somar nesse movimento que é urgente e que quer fazer a diferença na trajetória dos seus semelhantes. Acredite na força da sua doação, seja ela de dinheiro, de tempo ou de força de trabalho. Cada passo importa nessa caminhada.

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