Para Inspirar

Adriana e Giovanna Araújo em "Caminhando juntas"

Na décima primeira temporada do Podcast Plenae, emocione-se com a cumplicidade e parceria de Adriana e Giovanna Araujo.

3 de Abril de 2023



Leia a transcrição completa do episódio abaixo:

[trilha sonora]


Adriana Araújo: Quanto mais valente eu tentava me mostrar pra minha filha, mais forte ela se exigia ser. E quanto mais madura e tranquila eu a via, mais serenidade eu buscava oferecer. A gente se abasteceu dessa troca. Esse pacto conduziu a nossa vida por um caminho de amor e companheirismo que eu nunca havia experimentado. Mas o custo foi alto. Nós duas amadurecemos à força. Uma abriu mão de parte da juventude. A outra, da infância. E as inseguranças e fragilidades ocultas que estavam ali inevitavelmente apareceriam.


[trilha sonora]


Geyze Diniz: Ainda na gravidez, Adriana Araújo descobriu que sua filha, Giovanna, nasceria com uma síndrome rara. Foram 10 cirurgias para que Giovanna pudesse caminhar com as próprias pernas, e para Adriana foi um trabalho contínuo de entender suas emoções, força e vulnerabilidade. 


Eu sou Geyze Diniz e esse é o podcast Plenae. Ouça e reconecte-se.


[trilha sonora]


Adriana Araújo: No dia 7 de outubro de 1997, eu acordei com um novo papel no mundo, o de mãe. Ainda na maternidade, com a minha bebê dormindo no bercinho de acrílico ao meu lado, eu amanheci num choro incontrolável. 


Até hoje é difícil definir esse choro. Quando eu volto àquele momento pra encontrar as nuances de cada sentimento que havia ali, eu vejo um choro de decepção comigo mesma. De inconformidade e frustração por não ter conseguido dar à minha menina o formato que o mundo classifica como normal. Um choro de choque, de enxergar as diferenças anunciadas no borrão do ultrassom, agora tangíveis. Um choro de não fazer ideia se a minha menina poderia andar e correr. De não saber como seria a vida da criança frágil e de pernas tortas que dormia tranquila no berço da maternidade. Um choro de intuição de que seria difícil, muito difícil de que julgamentos e preconceitos inevitavelmente surgiriam. Um choro de quem envelheceu uma década em horas, de quem sabia que dali pra frente tudo seria diferente.


[trilha sonora]

A Giovanna nasceu com uma doença chamada hemimelia fibular, é uma deformidade ortopédica, congênita e rara, que afeta 7 bebês a cada 20 milhões. Em termos bem simples, a minha filha não tem o osso de sustentação da perna direita, a fíbula. Ela veio ao mundo com mais algumas complicações: o pé esquerdo torto e ausência de alguns dedos nos pés e na mão direita.


Eu volto no tempo e entendo as razões de cada choro na maternidade. Mas algumas daquelas lágrimas eu não choraria de novo. As lágrimas da culpa eu tentaria não chorar, ainda que elas ainda existam no meu coração, 25 anos depois.


[trilha sonora]


Giovanna Araújo: Não teve um momento específico em que eu percebi que era diferente das outras pessoas. Pra mim, era simplesmente um fato da vida, até porque na infância eu nem ligava muito pra minha imagem. Às vezes, os colegas perguntavam por que a minha perna e os meus dedos eram daquele jeito, daí eu explicava. Mas eu nunca deixei de ser aceita no grupo por causa disso. Sempre tive muitos amigos, sempre me encaixei nos lugares onde eu frequentei. Eu sei que outras pessoas podem sofrer bullying por ter uma diferença, mas essa não foi a minha experiência. 


A minha aparência atípica virou uma questão pra mim quando eu cheguei na adolescência. Eu me incomodei com as cicatrizes nas minhas pernas, por causa de tantas cirurgias. Me incomodei por ter dificuldade de usar salto. Mas, no geral, eu acho que eu ligo tanto pra aparência quanto qualquer pessoa da minha faixa etária. Na minha geração, as pessoas se comparam demais com as outras, por causa das redes sociais. 


Eu fui percebendo que, na verdade, as pessoas não estão preocupadas com os outros. Elas estão pensando em si, nas próprias vidas. Com o tempo, a minha insegurança passou. 


[trilha sonora]


Adriana Araújo: Em 2020, eu publiquei um livro sobre a minha história como mãe da Giovanna. Mas antes de ser um livro, foi uma conversa comigo mesma. Eu precisava olhar pelo retrovisor pra processar as emoções e visitar as memórias dessa jornada. A caminhada nem sempre foi fácil. E, durante muitos anos, eu não tive tempo pra parar e refletir sobre os percalços que nós enfrentamos. 


Aí, eu comecei a escrever a história na forma de e-mails que eu enviava pra mim mesma. E à medida que os textos foram ganhando corpo, surgiu um desejo de transformá-los num livro familiar. Eu pensava em fazer uma encadernação bonita e dar de presente pra Giovanna, pra minha família e, especialmente, pros médicos que foram essenciais na vida da minha filha. 


Um dia, eu tava no salão de beleza, fazendo a raiz do cabelo, quando eu comecei a pensar em um desses médicos, que a gente apelidou de doutor Marceneiro. Eu senti uma necessidade muito forte de expressar em palavras a minha gratidão por ele. Peguei o celular e comecei a escrever no bloco de notas. Enquanto eu digitava, eu chorava de emoção. Aí, a cabeleireira me perguntava: "Tá tudo bem?”. “Sim, tá tudo bem”, eu dizia pra ela. Eu só precisava colocar os meus sentimentos no papel.

Eu terminei aquele capítulo do doutor Marceneiro e tive certeza que gostaria de transformar aquelas memórias num livro. E não só pra família, mas pra quem quisesse ler. Quando eu compartilhei esse desejo com a Giovanna, ela, a princípio, não curtiu muito a ideia.


[trilha sonora]


Giovanna Araújo: Eu e minha mãe temos personalidades muito diferentes. Ela é comunicativa, extrovertida. Eu já sou bem reservada e só costumo me abrir com pessoas mais próximas. Por isso, eu achava meio estranha a ideia de contar a nossa história pra qualquer um. Mas a minha mãe queria muito publicar esse livro. E quando ela coloca uma ideia na cabeça, ninguém tira. Ela insistiu pra eu ler o manuscrito. Eu enrolei, enrolei. Quando eu finalmente peguei o calhamaço, terminei em 24 horas. Eu imaginava que ela fosse escrever um relato factual, ao pé da letra, sobre a nossa vida. Só que ela criou uma peça literária, poética. Ficou muito bonito.

Esse foi um dos fatores que me levaram a concordar com a publicação da obra. Mas o principal era a ideia de ajudar outras pessoas em situação parecida com a nossa. Existem muitas mães de crianças que nascem com alguma diferença e que poderiam se enxergar na nossa experiência. De fato, depois que o livro foi publicado, várias mulheres entraram em contato com a gente. Elas disseram que, de alguma forma, se sentiram representadas na nossa experiência. 


[trilha sonora]


Adriana Araújo: Logo no começo do livro, eu aviso: “Essa não é uma história de vítimas nem de heroínas. É apenas a história de duas meninas que caminham juntas”.


Eu não fui educada pelos meus pais para me vitimizar. Eu não gosto dessa posição, não acho que é isso que te faz seguir em frente. Essa compreensão ficou ainda mais forte depois que a Giovanna nasceu. Muitas pessoas olhavam pra ela e falavam: “Ah, coitadinha, tadinha”. É uma expressão cultural, que o povo fala sem nem perceber o quão danosa ela é. E aí, virou uma batalha pessoal ensinar a minha filha a não se vitimizar, nem deixar que as pessoas a tratem com essa visão.


Mas, na outra ponta, mães de crianças com alguma deficiência também costumam ser colocadas no papel de heroínas, uma posição que até pode fazer bem pro ego. O fato de eu trabalhar em televisão pode reforçar esse rótulo. Só que, na verdade, não existem heróis. Na tentativa de dar conta da minha missão, eu botei uma armadura, peguei uma espada na mão e fui em frente com toda a força que eu tinha. Mas isso não significa que eu fui forte o tempo todo. Eu fraquejei muitas vezes, tive momentos de fragilidade, de tristeza, de medo. De muito medo. 


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Giovanna Araújo: Em alguns momentos eu admito que pensei: “Por que eu? A minha vida teria sido um pouco mais fácil se eu não tivesse precisado das cirurgias”. Eu poderia me vitimizar e passar o resto da vida me lamentando por não ter nascido igual a maioria da população. Mas esse pensamento não me levaria a lugar nenhum. E tem o outro lado da moeda. Eu sou uma pessoa de muitos privilégios e oportunidades. Se colocar na balança, as coisas boas pesam muito mais do que as ruins. Definitivamente, eu não sou uma coitada.

E eu também não sou uma heroína por ter enfrentado tantos desafios. Às vezes a gente vê uma pessoa com uma trajetória difícil e pensa: “Eu nunca conseguiria passar por isso”. Mas como a gente pode saber, se não tá na pele do outro? Tem situações que ou você enfrenta ou você enfrenta. Cada um faz o melhor que pode quando tem um problema.


[trilha sonora]


Adriana Araújo:  Desmistificar o papel da heroína não foi só pros leitores do livro, foi pra nós duas também. Eu me tornei mãe aos 25 anos, enquanto tava construindo uma carreira na televisão. E a Giovanna intuitivamente, ela percebeu que o desafio era enorme e colaborava muito, muitas vezes com silêncio. Ela nunca manifestou revolta. Nunca perguntou por que era diferente. Nunca reclamou dos remédios, das cirurgias, dos cortes, das suturas, das agulhadas. Já eu esperava birra, irritabilidade, nervosismo. Recebi serenidade e silêncio.


Durante muito tempo, eu entendi esse silêncio como um presente. Porque ele facilitava a minha vida. Mas o silêncio também pode ser uma armadilha bem perigosa. Eu escolhi mostrar à minha filha o que, naquele momento, eu achava que seria o melhor de mim: a coragem, a confiança, o otimismo, a fé. E conforme ela foi crescendo, eu percebi que a Giovanna só viu a mãe forte. Como que uma pessoa vai lidar com as próprias fragilidades, se o modelo que ela tem é quase de perfeição?

O livro também teve essa função de mostrar pra minha filha que ela vai ter muitos momentos de dúvida, de fraqueza, de medo em várias fases da vida, na juventude, na vida adulta, na vida profissional, na vida amorosa.

Giovanna Araújo: Quando você é pequeno, tem uma visão idealizada dos pais. Conforme cresce, percebe que eles também têm momentos de dúvida e fragilidade, que são pessoas com as mesmas dificuldades de qualquer outra. Eu ainda vejo a minha mãe como uma mulher forte e determinada, mas agora de uma maneira um pouco mais equilibrada.

Uma das minhas maiores surpresas ao ler o livro foi descobrir o sentimento de culpa que ela carrega por eu ter nascido com uma diferença. Eu achei até engraçado, porque isso nunca tinha me passado pela cabeça. Eu acredito bastante em Deus,  acho que Ele cria a gente do jeito que a gente tem que ser criado. Não tem nada a ver ela pensar que é culpa dela, mas às vezes todo mundo tem umas ideias meio irracionais.

[trilha sonora]


Adriana Araújo:  O livro também serviu como um auto abraço. Foi uma maneira de dizer para mim mesma: “Ok, eu poderia ter feito algumas coisas de outra maneira, os bastidores poderiam ter sido apresentados a minha filha mais cedo. Mas eu entreguei o que eu dava conta”. Eu cheguei aos 50 anos com a Giovanna em uma das melhores faculdades de medicina do país e eu tenho um baita orgulho disso. Tá faltando só um ano para ela se formar e é uma felicidade pra mim vê-la encaminhada e bem. Eu ofereci aquilo que foi possível, que eu tinha condições de oferecer naquele momento.


As mães são muito mistificadas, como se a maternidade fosse um momento sagrado, santificado. Quando uma grávida descobre que o filho vai ter uma deficiência, uma diferença física ou neurológica, ela é vista como se ela tivesse falhado onde nunca poderia ter falhado. Expor a nossa história tem também a função de mostrar que a perfeição não existe. A trajetória de todas as mães e filhos, de todos os pais e filhos terá os seus desafios, independentemente de ter ou não uma condição de saúde nessa história. O livro é uma declaração de amor à Giovanna e à nossa jornada, incluindo as dificuldades que fizeram parte das nossas vidas. Ele tem o propósito de abraçar a nossa história como ela é, com cicatrizes, para seguirmos juntas na nossa caminhada.

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Geyze Diniz: Nossas histórias não acabam por aqui. Confira mais dos nossos conteúdos em plenae.com e em nosso perfil no Instagram @portalplenae.


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Evento debate o futuro da longevidade no Brasil

O futuro da longevidade foi tema de um encontro que reuniu especialistas brasileiros e estrangeiros em São Paulo, no XIII Fórum da Longevidade da Bradesco Seguros

22 de Novembro de 2018


O futuro da longevidade foi tema de um encontro que reuniu especialistas em São Paulo. No XIII Fórum da Longevidade da Bradesco Seguros, palestrantes do Brasil e do exterior debateram sobre saúde, finanças, tecnologia e trabalho, entre outros assuntos relacionados à vida longeva. Na abertura do evento, o médico Alexandre Kalache , presidente do Centro Internacional de Longevidade Brasil, falou que hoje a vida está mais para uma maratona do que para uma corrida de 100 metros. Segundo ele, é preciso preparar-se para uma longa jornada, tendo flexibilidade e resiliência para se reinventar no percurso. Antigamente, apontou Kalache, o curso da vida era: aprender na infância, trabalhar, ter filhos e aposentar-se para curtir a velhice. Se vamos trabalhar mais por mais tempo, porém, por que não tirar um sabático aos 45 anos para decidir o que fazer na segunda metade da existência, perguntou o médico. Na sequência, a administradora de empresas e mestre em gerontologia Denise Mazzaferro falou sobre trabalho na velhice. Por causa da longevidade, as pessoas passarão a trabalhar por mais tempo – muitos por necessidade financeira, mas muitos também por vontade própria. Mazzaferro acredita que transições de carreira serão cada vez mais corriqueiras. “Todo mundo tem direito de experimentar novas habilidades, não apenas o jovem”, afirmou. Ciência e tecnologia A promessa da vida eterna foi o tema da palestra de Lygia da Veiga Pereira , pesquisadora e professora da Universidade de São Paulo (USP). Pereira explicou que os humanos são 99,8% idênticos no genoma – apenas 0,2% nos diferencia nas características individuais. O grande desafio da ciência genética é determinar quais dessas variações estão associadas a fatores como predisposição para doenças e respostas a medicamentos. “O estudo do genoma pode ajudar a criar novas oportunidades em saúde, terapias e métodos preventivos”, disse. De acordo com ela, uma pesquisa revelou que uma proteína do plasma do cordão umbilical humano é capaz de revitalizar o cérebro de camundongos. O trabalho segue em curso para descobrir se o efeito também se aplica à mente dos homens. O inglês Stephen Johnston, fundador da Aging 2.0, plataforma de inovação para melhoria da qualidade de vida de idosos, abordou a importância da tecnologia para quem vive mais. “A tecnologia é um presente incrível porque pode nos trazer sabedoria, colaboração e nos dá a oportunidade para fazer coisas melhores", disse. Como exemplos de inovação ele citou a plataforma de moradia compartilhada Nesterly , que conecta pessoas de diferentes gerações, e uma espécie de exoesqueleto discreto que ajuda na mobilidade dos idosos. “Queremos construir uma sociedade intergeracional e mudar a percepção negativa que muitas pessoas têm do envelhecimento”, afirmou. Quem vai cuidar de você? No painel sobre o futuro da saúde, a assistente social Marilia Berzins, especialista em gerontologia, provocou o público: “se você chegar à velhice, quem vai cuidar de você?”. De acordo com ela, o sistema político está fundamentado no modelo do familismo, isto é, em que o cuidado cabe aos parentes. “Essa família do imaginário não existe mais. Os núcleos estão menores e não têm renda para arcar com os custos do idoso”, apontou. Esse formato, segundo Berzins, reforça a desigualdade de gênero, uma vez que 95% das cuidadoras são mulheres. A saída é os homens se apropriarem da função de cuidar do outro, começando pelo próprio filho, para um dia poder cuidar da mãe e da mulher. No mesmo debate, Alexandre Kalache afirmou que há três epidemias atuais: solidão, obesidade e saúde mental. Em dez anos, a última será a principal causa de incapacidade e absenteísmo nas empresas, de acordo com ele. A geriatra Maisa Kairalla completou o painel, falando sobre a necessidade de se treinar profissionais de saúde para lidar com o envelhecimento, uma vez que não há geriatras suficientes no país para atender a população idosa. Dinheiro na poupança Poupar hoje para ter dinheiro amanhã. Essa foi a mensagem da jornalista especializada em finanças pessoais Mara Luquet. “O ponto de partida é aprender a fazer escolhas e transformar isso em um hábito da vida toda”, disse. “Educação financeira não é somente guardar, mas aprender que não se pode ter tudo.” Para a jornalista, é um erro comum esperar sobrar dinheiro para só então começar a guardar para o futuro. "Se você pensa assim, provavelmente não vai começar nunca", afirmou ela. Assim como Denise Mazzaferro, Luquet acredita que as pessoas não querem parar de trabalhar na velhice, mas desejam segurança financeira para ter liberdade de escolher o que fazer. Fotógrafo: Fábio Moreira Salles

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