Para Inspirar

As sete fases do descanso

Conheça a história desse que é o principal mecanismo para manutenção da nossa qualidade de vida e saúde física e mental

31 de Dezembro de 2020


Parte fundamental da jornada de trabalho e da vida humana como um todo, o descanso vem sendo cada vez mais negligenciado na sociedade moderna. Pensava-se que a tecnologia seria um fator determinante que nos facilitaria a vida, permitindo aos humanos mais tempo de uma merecida folga. O que se vê, na realidade, é justamente o contrário. Por que esse importante aspecto de nossas rotinas continua sendo deixado de lado?

Como vimos no último episódio da terceira temporada do Podcast Plenae - Histórias Para Refletir, a jornalista Izabella Camargo enfrentou de frente seu maior inimigo: o tempo. Um dos resultados cada vez mais comuns dessa inabilidade em se desconectar é a famosa Síndrome de Burnout, que como contamos por aqui também, se refere ao excesso de estresse em decorrência do acúmulo de trabalho, que leva a um quadro de depressão e ansiedade profundas - como foi com Izabella.

A história do descanso é conturbada. Se até Deus descansou no sétimo dia, era de se esperar que nós também precisássemos de um tempo para recarregar as baterias e encarar as mazelas do dia a dia. Os judeus antigos consideravam pecado trabalhar aos sábados, bem como os romanos guardavam o mesmo dia para o lazer.

Mas nem tudo são flores. Conforme a sociedade foi galgando os degraus do progresso, o direito ao descanso foi visto cada vez mais como supérfluo, muitas vezes por falta de escolha: sem o trabalho abusivo, o sustento não vinha e, portanto, a própria sobrevivência estava ameaçada. No início das sociedades industriais, não eram incomuns as jornadas de trabalho absurdamente longas em locais insalubres.

Foi através de muita luta que o descanso passou a ser visto como fundamental para a saúde. A reivindicação da jornada de trabalho de 8 horas foi importante para dividir o dia em três partes: trabalho, lazer e descanso. Porque não, os dois últimos nem sempre são a mesma coisa.

O que é o descanso

O descanso não se limita só ao sono , apesar deste ser, também, crucial no processo de “desligarmos”. Na verdade, o ato de descansar está ligado a sete aspectos, segundo a médica americana Saundra Dalton-Smith, pesquisadora do descanso: físico, mental, espiritual, emocional, sensorial, social e criativo. Por isso que podemos acordar cansados mesmo depois de uma noite de sono profundo e, em tese, revigorante.

Dormir está ligado ao ato físico e mental de descansar, mas os outros cinco fatores ainda precisam ser considerados. Para tanto, atividades como yoga e meditação ajudam e muito. Interagir com amigos ou até mesmo colegas de trabalho (desde que a interação não tenha nada a ver com os assuntos do emprego) também é fundamental para espairecer e relaxar.

Novamente, entra a tecnologia. Se achávamos que a essa altura já existiriam robôs que fazem todo o trabalho enquanto curtimos o bem-bom, o que vemos é o contrário: e-mails e aplicativos tornam cada vez mais nebulosos os limites entre pessoal e profissional, com chefes e empresas acionando trabalhadores constantemente fora de horários.

Muitas pessoas não largam os celulares nem na hora de dormir, mantendo-o próximo ao travesseiro ou à cama. Com isso, ficam sujeitas a avisos e notificações constantes. Não só de trabalho, bem como também de redes sociais e notícias. Por mais que dar uma olhadinha na linha do tempo pareça algo relaxante, isso também pode ser bem nocivo.

O home office, prática cada vez mais adotada em 2020, dificulta a ambientação do descanso. Quando a sua sala de estar ou quarto vira escritório durante o dia, fica difícil dissociar essa função na hora de desativar o cérebro para assistir um filme ou até mesmo dormir.

Mudança de hábitos

É preciso encontrar um método que funcione para que o corpo, a mente e até a alma relaxem. Em alguns países como a Espanha, existe a famosa prática da siesta , quando os trabalhadores tiram algumas horinhas para um merecido sono após o almoço.

Em outros locais, o descanso vem sendo reverenciado como uma solução para o aumento da produtividade, ideal cada vez mais buscado no mundo. Na Suécia, uma proposta visou reduzir a jornada de trabalho diária para seis horas e os resultados não surpreenderam: trabalhadores mais felizes e dispostos produzem mais e faltam menos.

Essa busca massacrante pela produtividade pode criar a armadilha do ócio criativo também. Colocar-se uma pressão enorme para que até os momentos de preguiça tenham algum “valor produtivo” pode gerar ansiedade e desconforto para o cérebro, mostrando-se como uma piora na qualidade de vida.

A criatividade, inclusive, pode ser muito estimulada pelo descanso, como numa viagem. Estudos comprovam que viajar deixa o cérebro mais relaxado e criativo , por exemplo. Fugir da rotina quando possível tem uma importância e benefícios ímpares. Com tudo isso, por mais que muitas vezes o peso da rotina não nos permita, é fundamental que se tire uns bons momentos de relaxamento - com mais frequência do que gostaríamos.

Como sabiam e reivindicavam os movimentos do século XIX, descansar faz bem para o ser humano, até num contexto capitalista da busca por uma produtividade mais elevada. Se até Deus, uma entidade onipotente, descansou após terminar seu trabalho, também deveríamos nós fazer o mesmo. Deveríamos, principalmente, saber quando o trabalho termina e começa o lazer, uma divisão cada vez mais nebulosa nos dias atuais.

Portanto, lembre sempre de dar-se o seu próprio tempo para evitar um desgaste profundo e problemático da saúde, tanto do corpo quanto da mente. Descansar é gostoso, natural e traz diversos benefícios para você. Cada vez mais, temos que reaprender a desligar.

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Desmistificando conceitos: o que é a Síndrome de Burnout

Crise que já acomete mais de 33 milhões de brasileiro, se dá sobretudo pela exaustão proveniente do trabalho – e pode gerar ansiedade e depressão

30 de Dezembro de 2020


Apatia. Falta de energia. Tontura. Dor de estômago. Enxaquecas. Rompantes de nervoso. Insônia. Falta de apetite. Sensação de incapacidade. Esquecimentos. Tristeza. Pálpebras que pulsam, pernas inquietas. Apesar de serem sintomas bastante diversos e que apontam para diversas comorbidades, há uma em específico que é capaz de reunir muitas delas de uma vez só: a Síndrome de Burnout.

Embora ela tenha ganhado cada vez mais notoriedade, o termo não é novo, e foi cunhado pelo psicanalista Herbert Freudenberger ainda em 1974. Segundo ele, que foi vítima dessa síndrome, o conceito pode ser definido como “um estado de esgotamento físico e mental com origem intimamente ligada à vida profissional”.

Como foi o caso da jornalista Izabella Camargo, personagem do último episódio da terceira temporada do Podcast Plenae - Histórias Para Refletir. Em seu relato, ela conta como a condição psíquica foi se instalando sem que ela percebesse, até que ela foi verdadeiramente acometida por uma pane, que resultou em um acompanhamento mais próximo e, enfim, o diagnóstico.

E assim é com a maioria das pessoas que sofrem da Síndrome de Burnout. Isso porque, antes de cravar o diagnóstico, diferentes outras áreas da vida do paciente são afetadas. Há ainda uma resistência não só dos demais indivíduos, mas também da ala médica, em reconhecer o distúrbio.

burnout

Além disso, há uma cultura fomentada pelo capitalismo de que nunca é o suficiente, e que você sempre pode fazer mais. É o mito da resiliência no mercado de trabalho, como explica essa matéria , aliada à meritocracia do quem quer, consegue. Isso pode acontecer até mesmo no ambiente familiar, como é o caso do Burnout materno , amplamente comentado por especialistas na pandemia, onde a mãe se vê na função maternal 24h por dia, 7 dias por semana, e se sente julgada caso reclame.

“Eu ia por água abaixo e não percebia”

Macário Moraes Júnior é o que a sociedade consideraria uma pessoa bem-sucedida. Anos a fio trabalhando sem parar renderam a ele uma possibilidade de se aposentar aos 40, se quisesse. Mas ele não quis. Em partes, porque o trabalho tinha se tornado tudo que ele tinha, uma vez que via sua vida pessoal ruir.

“Naquele momento, meu casamento estava indo por água abaixo, numa crise conjugal muito grande. As palavras que ouvi da nossa terapeuta foi ‘você girou muito na alta ao longo de muito tempo e esgotou o seu cérebro para sempre’. Isso me marcou muito”. Foi em 2014 que ele percebeu a longa jornada que o aguardava até o fim dos seus dias.

Jornada, pois não se trata somente de medicar-se - assim como todas os demais desequilíbrios de ordem emocional. É preciso sim, uma medicação, no caso de Macário, uma que conseguisse compensar a química de seu cérebro que havia sido prejudicada. Essa área cerebral que sofreu baixa era o que lhe causava a extrema impaciência, os estopins de agressividade, e culminou em uma apatia sem fim, que lhe dificultava a realização de tarefas simples, como levantar da cama.

“Eu sentia uma falta de sentido, parecia que nada mais fazia sentido: pra que eu tenho essas empresas, pra que eu estou casado, pra que eu tenho filhos, pensamentos recorrentemente negativos. Passei a ter muito sono: tinha muita dificuldade para dormir, mas também para acordar” conta. Mas além de buscar ajuda para o físico, é preciso olhar para sua vida de forma 360. E esse olhar, claro, não foi imediato.

“Em 2014, para todo mundo eu estava muito bem, porque fiz 40 anos e atingi minha independência financeira, mas veio também a ausência de sentido. Então, de 2014 até 2016, foi muito intenso nas terapias, tanto em casal quanto individual” diz.

Ele também participou de grupos que operam como o Alcoólicos Anônimos, pois não se sentia à vontade falando a respeito entre conhecidos - justamente pelo tabu tão presente quando o assunto é Burnout. As terapias também o levaram a registrar em um diário, todos os dias, suas emoções, para que com isso seja possível fazer um balanço final da semana, do mês, do ano, e perceber suas próprias evoluções.

Já em 2017, quando ele sentiu um avanço na terapia, calhou de participar também de um retiro espiritual cristão. “Foi ali que entendi que a minha fé e minha espiritualidade iriam me ajudar, ela tinha que estar integrada na minha vida”. Importante ressaltar que Macário já era adepto ao Yoga, e passou a meditar ainda mais.

Uma vez cuidando da mente e do espírito, Macário buscou conhecimento não só acerca do seu problema, que hoje já conhecia o nome, mas outras fontes intelectuais que podiam lhe engrandecer de alguma forma. “Fiz curso de liderança, fiz coaching, estudei marketing digital e até inteligência emocional. Posso dizer que tudo contribuiu de alguma forma”.

Foi só então que se sentiu pronto para encarar a parte física, dessa vez, não só por meio das medicações. Ainda refém do tempo, o empresário incluiu práticas que cabiam na sua rotina, no caso, pular corda dentro do escritório mesmo. Depois, passou a correr pelas manhãs. De 2018 - ano onde introduziu o exercício em sua vida - até hoje, sua evolução foi surpreendente. “Hoje eu sou maratonista, treino todos os dias, de segunda a segunda, é como se fosse uma medicação” conta.

O resultado

Por ser um problema crônico, a Síndrome de Burnout infelizmente não conta com um tratamento exato e uma cura imediata. Há especialistas que já trabalham até mesmo com a possibilidade de ela não ter uma cura definitiva, pois pode ser engatilhada novamente na vida da pessoa.

Izabella Camargo, inclusive, menciona isso em seu episódio. Para ela, o gatilho é o trabalho, e é possível ter recaídas, como já teve anteriormente. É um trabalho constante de autoconhecimento e autocontrole, mas com o tempo, a ideia é que se torne inerente à vida da pessoa.

No caso de Macário, funcionou. A técnica dos “4 capitais”, como o mesmo define, foi tão eficiente que hoje ele passa adiante esse conhecimento aos empreendedores que mentora na ONU e em outras frentes. Ela consiste em estar em equilíbrio e atenção ao físico, emocional, espiritual e intelectual - bastante semelhante aos pilar Plenae.

Mas, para ele, não basta somente malhar, rezar, estudar e fazer terapia. É preciso acoplar todos esses aprendizados no seu cotidiano, de forma que não haja mais o “você” do trabalho e o “você” de casa. Macário passou a levar todos os ganhos subjetivos que adquiria em suas práticas para seus dias, seus funcionários e suas finanças.

“Hoje minha principal prioridade é me sentir bem. A minha intensidade de trabalho ainda é muito grande, mas eu entendi que eu posso gerar uma energia dentro de mim, um combustível, que me dá mais controle de tudo isso. Como eu faço um planejamento semanal desses 4 capitais, eu não entro mais em nada que vai me drenar a energia se eu não enxergar que vai acabar em determinado momento”.

Seu propósito de vida passou a ser espalhar essa mensagem de que é possível se entregar com intensidade à sua carreira sem perder-se no personagem e abandonar a si mesmo. “O grande problema do Burnout é a pessoa entregar a vida para o ambiente externo e deixar de ser protagonista da própria vida. A maioria dos trabalhadores acham que é normal trabalhar longas horas para enriquecer sem olhar para si mesmo. Olhe para seu corpo como uma grande ferramenta de teste, esteja atento às suas emoções, use sua crença como mola propulsora e se coloque sempre no estado de aprendizagem”. E você, tem olhado para si?

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