Para Inspirar

Claude e Batista em "Parceria de longa data"

O quinto episódio da décima terceira temporada do Podcast Plenae é com Claude e Batista, representando o pilar Relações!

15 de Outubro de 2023



Leia a transcrição completa do episódio abaixo:


[trilha sonora]


Batista: Quando a gente começou, lá nos anos 80, era só nós dois na cozinha.

Claude: O Batista foi o meu primeiro funcionário no restaurante. Ele chegou lavando prato, virou chef e, principalmente, virou meu amigo. A nossa relação é, tipo assim, um casamento. A gente se conhece só pelo olhar.


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Geyze Diniz: Ambos tiveram seus primeiros contatos com a culinária através da vivência com suas avós, um em Roanne na França e outro em Gurinhém na Paraíba. E por coincidência do destino, se encontraram no Rio de Janeiro. Há mais de 40 anos Claude e Batista constroem uma relação de amizade e parceria. Eu sou Geyze Diniz e esse é o podcast Plenae. Ouça e reconecte-se.


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Claude: Eu cresci numa casa com doze pessoas em Roanne, uma cidade a 90 quilômetros de Lyon, o coração da gastronomia francesa. A gente morava praticamente dentro do restaurante da família, que ficava na parte de baixo da casa.

O Troisgros, que foi inaugurado pelos meus avós paternos, existe até hoje e é um lugar super famoso. Os meus pais, Pierre e Olympe, trabalhavam o dia inteiro no restaurante. Então, eu passava o dia com a minha avó materna, a italiana Anna Forte, que eu chamava carinhosamente de Mémé. Como boa “nonna” italiana, a comida dela era maravilhosa.

Eu me lembro de ficar em cima de uma cadeira, encostada na mesa da cozinha, enrolando basicamente todos os domingos aquelas tirinhas do nhoque. A casa da minha avó tinha perfume de molho de tomate em qualquer lugar.

Batista: A minha infância foi em Gurinhém, uma cidade de 14 mil habitantes no interior da Paraíba. Eu passava muito tempo com a minha avó, Corina, enquanto minha mãe trabalhava como professora.

A minha avó tinha um restaurante de beira de estrada que servia comida para caminhoneiros. Ela servia comida brasileira, tipo arroz, rabada e macaxeira na manteiga. Eu comecei a ajudar ela na cozinha com 8 anos.

Eu descascava cebola, pimentão e picava coentro. Em troca, ela me dava um dinheirinho pra mim comprar um sorvete, um geladinho. E também para ir no parque de diversão.

 

[trilha sonora]

 

Batista: Quando eu tinha 6 anos, eu assinei um “contrato”, obviamente de brincadeira, que dizia que eu ia trabalhar com um amigo da família quando eu crescesse. Esse amigo era o Paul Bocuse, um dos chefs mais famosos do mundo naquela época.

A brincadeira se tornou realidade aos 17 anos de idade. Eu comecei descascando batatas, como muitos iniciantes, e fiquei na cozinha do Paul Bocuse por dois anos. Depois, eu estagiei em vários lugares da Europa e voltei para o  restaurante da família em Roanne.

Um belo dia meu pai entrou na cozinha e disse que o Gaston Lenôtre, um amigo e chef muito famoso naquele momento, tava procurando alguém pra trabalhar no restaurante que ele ia abrir no Rio de Janeiro. O meu pai perguntou: “Alguém quer ir?” Eu respondi, olha, na hora: “Eu!”

 

Batista: Quando eu tinha uns 9 anos, meu avô começou a me chamar pra ajudar ele na roça. Ele me pegava em casa umas 4h30 da madrugada e eu trabalhava até meio-dia. Depois eu ia pra escola.


Na adolescência, eu passei a estudar à noite e eu ficava o dia inteiro com meu avô. Eu ajudava ele a cuidar de cavalo e de boi. Ajudava ele na plantação de algodão, milho e cana. Os meus tios tinham ido embora, então era só nós dois na roça.

 

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Claude: Eu cheguei no Rio em 1979, com 23 anos de idade.

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Eu não falava nada de português, mas o Brasil era como um sonho tropical, sinônimo para mim de sol, Pelé, futebol, mulher bonita, caipirinha e praia. A primeira coisa que eu me lembro ao sair do avião foi o cheiro. Era um aroma de calor úmido, maresia, uma coisa muito diferente para um francês do interior.


O restaurante do Gaston Lenôtre chamava Le Pré Catelan e fez um sucesso imenso. Quando o meu contrato de dois anos acabou, eu tinha planos de voltar para França. Só que a vida tinha outros planos pra mim. Decidi ficar no Brasil, pensando em novos desafios.

 

Peguei o telefone e liguei para meu pai, falei: "Pai, eu decidi ficar no Brasil. Ele respondeu: "Ah é, meu filho, então se vira". Ele não apoiou minha decisão então eu tive que me virar e decidi abrir o meu primeiro restaurante. Eu vendi os bens que tinha naquele momento, que eram poucos. Aluguei um espaço de 30 metros quadrados no Leblon, coloquei seis mesas e 18 banquinhos. O restaurante recebeu o nome da minha cidade: Roanne.

 

Batista:  Quando eu tinha 17 anos, eu viajei proo Rio de Janeiro com a minha vó, pra passar duas semanas. A gente ficou hospedado na casa do meu tio, na favela da Rocinha.

Ele trabalhava como porteiro num prédio no Leblon e soube que um restaurante novo tava precisando de alguém pra lavar pratos. Este restaurante era o Roanne, que era do Claude.

Fui contratado pelo Claude. Um ano depois, a gente se mudou pra um restaurante maior, lá no Jardim Botânico, que se chamava Claude Troisgros e depois passou a chamar Olympe.

 

Claude: Duas vezes por semana, o Batista ia comigo comprar peixe no mercado de Niterói. Depois do serviço, todo mundo ia pra casa bem de madrugada. Mas eu e o Batista ficava lá no restaurante, porque tinha de estar lá em Niterói pelas 5 da manhã. A gente compara o peixe, tomava um café, comia um sorvete, voltava e sempre na subida da ponte ponte Rio-Niterói a minha "fiorina" velha, que o Batista chamava de carro dos Flintstones, quebrava. Eu falava: "Batista, sai do carro! Empurra aí!". E o Batista empurrava suando, e eu tentando ligar aquele carro. A gente chegava no restaurante lá 8, 8 e meia da manhã. Deixava o peixe e naquele momento a gente tinha um tempinho para ir para casa e dormir um pouco, porque às 4 e meia da tarde a gente tava lá de novo no restaurante, pra começar o turno da noite. Nossa amizade começou assim, no trabalho duro.

 

Batista: Aos poucos, virei aprendiz do Claude. Comecei preparando as entradas. Depois, passei pros legumes, pros peixes e as carnes, pra confeitaria e pros molhos.

Conviver dentro da cozinha de um restaurante não é fácil. É muito prato pra servir e muita gente pra agradar. Não pode atrasar e nem errar.

Só que, quando o serviço acaba, todo mundo relaxa e se ajuda. Depois que a gente fechava o restaurante, lá pelas 2 da manhã, eu levava o Claude e o resto do pessoal pra dançar forró. Fui que ensinei ele a dar os primeiros passos. Hoje até que ele dança bem.

 

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Claude: O Batista virou meu intérprete. O restaurante tinha muita rotatividade e a maioria dos funcionários era de origem nordestina. Eles diziam que não entendiam absolutamente nada do que eu falava, porque naquela época eu tinha muito sotaque, não é?. Hoje eu quase não tenho, não é?

Eles perguntavam o que eu tinha falado e o Batista, malandro, às vezes inventava.

O Batista sempre me acompanhou nos eventos que faço por todo o Brasil. Um dos primeiros foi um casamento em Vitória, no Espírito Santo. Quando a gente chegou na cidade, de manhã, foi direto pra casa do cliente. A gente só foi pro hotel lá pelas 2 da madrugada, depois do evento. Quando abri a porta do quarto... surpresa! Só tinha uma cama de solteiro e nenhuma outra vaga no hotel. Tava um frio de cão e não tinha como um de nós dormir no chão, impossível. O jeito foi dividir a cama com Batista: um, obviamente, com os pés para um lado e o outro, claro, na posição contrária. Foi a nossa primeira noite juntos.

Batista: Eu me casei, tive três filhos e me separei. E fui morar num apartamento em Botafogo. Mas aquele bairro não é pra mim. Eu gosto mesmo é da Rocinha, aonde eu moro até hoje com a minha atual mulher e meu filho Bernardo de 5 anos.

A Rocinha parece uma cidade à parte do Rio de Janeiro. Tem tudo e todo mundo me conhece. Eu gosto de chegar do trabalho, bater um papo e tomar uma cervejinha com os meus amigos.

 

[trilha sonora]

 

Claude: Eu tinha total confiança no Batista e por isso deixei o Olympe nas mãos dele quando tive uma proposta de abri um restaurante em Nova York chamado CT, a minhas iniciais: CT.

Nos Estados Unidos, eu conheci o canal de TV Food Network, que só passava gastronomia. Quando eu voltei ao Brasil, fiquei pensando por que não tinha mais programas de culinária por aqui. O que existia na época era o programa da Ofélia, da Palmirinha, Ana Maria Braga e o Olivier Anquier tava começando.

Um dia, a Marluce Dias da Silva, que era superintendente executiva da Globo, foi comemorar o aniversário de casamento no Olympe. Eu, na maior cara de pau, eu perguntei pra ela por que não tinha gastronomia na televisão brasileira. Ela olhou para mim sem rodeios e disse: “Porque? Você quer tentar?” Eu respondi assim na hora: “Quero, sim!” e ganhei um quadro num programa que já existia na GNT. Foi um sucesso, tá? Não sei se pelo meu sotaque ou por outras razões.

Um tempo depois, eu ganhei um novo programa com Renato Machado, o Menu Confiança. Foi aí que o Brasil conheceu o Batista.

 

Batista: Eu que preparava os ingredientes pras receitas e arrumava as bancadas nos dias de gravação. Mas eu sempre esquecia de alguma coisa. O Claude tava gravando e, na hora de pegar a cebola, aí não tava lá. Aí ele gritava: “BATIIIIIIISTAAAAAA!!! Cadê a cebola?!” Aí a gravação parava ou a edição cortava depois.

Claude: Só que, numa temporada do Menu Confiança, o diretor decidiu deixar a cena. E o resultado foi que a audiência subiu. A cena em que o Batista entrava meio atrapalhado virou uma marca registrada do programa. Ele começou a aparecer mais e mais. Acabou que ele virou apresentador junto comigo. Mais tarde vieram os reality shows The Taste Brasil e Mestre do Sabor.

Batista: Por causa da televisão, eu viajei pra fora do Brasil pela primeira vez. A gente passou 10 dias em Nova York pra gravar e eu fiquei impressionado com a beleza da cidade. Na Times Square, tinha uns telões lindos, passando várias coisas. Uma hora, mostraram eu e o Claude. Era uma ação de publicidade. Quando eu vi, eu chorei muito. Veio toda a lembrança das minhas origens.

Outra temporada especial pra mim foi quando nós gravamos um especial de Natal com a minha família, na Paraíba. Eu levei o Claude pro forró e almoçamos na casa dos meus parentes. Foi uma festa.

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Claude: Já são 41 anos de convívio. Hoje, somos irmãos, temos muitas histórias para contar, porque a gente passou por muita coisa junto. É isso que constrói uma história, é isso que constrói a confiança e uma amizade, assim, sólida como a nossa. O Batista é, acima de tudo, o meu grande amigo, meu grande parceiro. Como ele diz, “nosso sangue bateu, hein chef?” desde o início. E isso não tem preço, mas tem um valor incalculável.

 

Batista: Quando eu cheguei no Rio, aos 17 anos, eu não imaginava que eu seria chef de cozinha, muito menos apresentador de TV. Hoje em dia, as pessoas me reconhecem na rua, pedem selfie e autógrafos.

O Claude mudou a minha vida em muitos sentidos. Eu ganhei uma profissão, um trabalho na TV e um sócio pro meu primeiro restaurante, que se chama Do Batista. Acima de tudo, eu ganhei um amigo.

 

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Geyze Diniz: Nossas histórias não acabam por aqui. Confira mais dos nossos conteúdos em plenae.com e em nosso perfil no Instagram @portalplenae.

 

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Como abraçar o estresse e tê-lo como seu aliado

O estresse é parte do nosso cotidiano. Mas como fazer dele seu aliado, segundo ensinamentos do psicólogo Ben Shahar?

24 de Julho de 2020


Estresse, palavra tão conhecida e amplamente utilizada pelo vocábulo moderno - e que gera arrepios diante de sua mais breve menção ou possibilidade de acontecer. Isso porque, para o dicionário “popular”, estresse é sinônimo de irritação, desestabilização ou exposição à um alto nível de perturbação emocional.


Mas para o neurologista Fabiano Moulin, em sua entrevista para o Portal Plenae, o estresse “nada mais é do que uma tentativa do nosso cérebro de se reorganizar.” Isso pode acontecer em diferentes intensidades, é claro, mas nem sempre precisa ser algo traumático.

É o que diferentes especialistas acreditam e pregam hoje em dia, sobretudo o psicólogo israelense Tal Ben-Shahar, também conhecido como “professor da felicidade” na Universidade de Harvard, e um dos convidados do evento Plenae em 2018 (você confere vídeo de sua participação aqui).

O autor de best-sellers como “Seja Mais Feliz” e “A ciência da felicidade” reúne, em seus escritos e palestras mundo afora, alguns ensinamentos sobre o bom equilíbrio entre doses de estresse cotidianas e inevitáveis e a busca da tão sonhada calmaria e felicidade.

Para ele, estamos estudando há muito tempo os fatores que nos geram estresse, mas não as condutas que temos diante desses episódios. E pode ser justamente aí que mora a “cura” para a epidemia do século, segundo palavras do próprio.


Em entrevista ao jornal El País, o psicólogo classifica a busca pela felicidade como algo ancestral, citado até mesmo em escritos de Aristóteles. Para ele, “as emoções negativas, como a raiva, o medo e a ansiedade, são necessárias para nós. Só os psicopatas estão a salvo disso e o grande problema é, na realidade, a falta de educação emocional que enfrentamos.

Conheça alguns de seus principais ensinamentos a seguir!



Em seu curso de Psicologia Positiva, em Harvard, esse era um dos primeiros tópicos abordados em sua aula. Para o psicólogo e também filósofo, “quando negamos as emoções dolorosas e negativas — que são naturais, elas se intensificam”.

Para ele, ter espaço na vida onde possamos ser autênticos e com boas doses realistas, é imprescindível. Isso porque a ausência desse local é justamente o que acaba comprometendo nossa felicidade e até nossa saúde, gerando altos níveis de estresse e culminando em possíveis comorbidades emocionais, como o burnout (esgotamento físico e mental).

Se permita ser humano e entenda que nosso cérebro precisa dessas nuances emocionais para criar métodos comparativos. É a velha história de só saber o que é bom quando se conhece o que é ruim. Não há arco-íris sem chuva, lembre-se.


Para o estudioso, uma das descobertas mais relevantes na ciência nas últimas duas décadas no que diz respeito aos estudos da mente é bem simples: o estresse não é o problema. Ele é, na verdade, parte do nosso sistema defensivo do organismo.

Há algo mais danoso do que ele, e é também uma queixa constante da sociedade: a falta de tempo. Não há um período de recuperação entre um momento de estresse ou outro, e eles acabam por se acumular, o que prejudica demais o equilíbrio físico e mental.

Para ele, “as pessoas mais bem sucedidas, mais saudáveis e mais felizes experimentam o estresse como todos nós, mas encaixam momentos para recuperação na rotina estressante.” É justamente nesses intervalos que moram a reenergização da nossa vida.


Cada escolha é uma renúncia, como já atesta o dito popular. E, para Tal Ben, isso é um fato. Tanto que elas podem refletir em todo o seu estado emocional, tanto antes de decidir, sentindo a ansiedade diante das opções, até o depois da decisão, lidando com o que vier dela.

Para ele, se nós, seres imediatistas em uma era globalizada e urgente, prestássemos mais atenção às nossas escolhas em diferentes universos, colheríamos bons resultados posteriormente. Além disso, enxergar esse momento da escolha como algo natural e saudável também evitaria o famigerado sofrimento por antecipação.

É importante também perceber quando você esteve mais feliz. O que você estava fazendo? Com quem estava? O contrário também vale: qual era sua atitude em momentos de estresse? Essa lição de casa sobre si mesmo pode te ajudar - e muito! - na hora de tomar decisões.


Quando lemos sobre relação, geralmente elas dizem respeito a relações amorosas e afetivas. Mas há muito poder no relacionamento familiar, de trabalho e na amizade.

A grande lição é: valorize essas trocas, seja com quem for. Elas exercem um grande poder sobre nossos dias e sobre quem somos e como lidamos com as situações ruins. Além disso, são para elas que corremos quando estamos desequilibrados emocionalmente, e é preciso que elas sejam sólidas para que sejam de grande valia nesses episódios.

Em tempos de pandemia, ficou ainda mais evidente que, apesar da grande ajuda que a  tecnologia exerce para nos manter perto, ela não substitui o contato humano. Prova disso é a já comprovada “fome de pele”, estudada por neurologistas e mencionadas aqui nessa matéria.


Assim como qualquer outra atividade na vida, abraçar o estresse e tê-lo como seu aliado para impulsionar sua vida e suas decisões demanda treino. Seguir todas as lições já citadas e mudar os seus pontos de vista não é tarefa fácil, mas extremamente necessária para quem busca esse equilíbrio.

Há níveis de recuperação do estresse, como meditação, caminhada, exercícios físicos, sair com amigos, ter boas noites de sono, estar mais offline, tirar dias de folga e viajar. É claro que a nossa rotina não consegue permitir todos de uma vez, mas que tal incluir o que se encaixa, devagar, em seu dia a dia?

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