Para Inspirar
A doutrina filosófica, também conhecida como “ciência espiritual”, é a prova de que a ciência e a fé podem caminhar juntas
19 de Novembro de 2020
A antroposofia foi criada no início do século XX pelo filósofo, educador, artista e esoterista austríaco Rudolf Steiner - também fundador da pedagogia Waldorf, da agricultura biodinâmica, da medicina antroposófica e da euritmia. Há até mesmo um Instituto dedicado à disseminar suas mensagens e ensinamentos.
Segundo a Sociedade Antroposófica do Brasil , ela pode “pode ser caracterizada como um método de conhecimento da natureza do ser humano e do universo, que amplia o conhecimento obtido pelo método científico convencional, bem como a sua aplicação em praticamente todas as áreas da vida humana.”
Justamente por ser tão ampla é que ela pode ser aplicada em diversas frentes, como educação, agricultura, arquitetura e até na medicina. A palavra vem do grego e significa “conhecimento humano”, e é feita de conceitos que dizem respeito à capacidade do ser humano moderno de pensar e compreender o mundo.
Essa busca pela verdade permeia entre a fé e a ciência, mas define basicamente que a realidade é essencialmente espiritual: ajuda-se o indivíduo a superar o mundo material para então entender o mundo espiritual. Esse entendimento é de suma importância pois, segundo a Antroposofia, há um tipo de percepção independente, não atrelado ao seu corpo, que foge do nosso entendimento físico.
Para Steiner, o simples fato de termos consciência do nosso pensar - pois sabemos quando estamos pensando - já demonstra que temos acesso à um outro tipo de consciência, incapaz de ser “rastreada” de maneira física. Em um exame, por exemplo, você consegue atestar movimentações cerebrais durante o processo do pensamento, mas não consegue capturá-lo em si.
Em seus escritos, o filósofo definiu a corrente de pensamento como "um caminho de conhecimento para guiar o espiritual do ser humano ao espiritual do universo." Portanto, quem está disposto a mergulhar nessa linha, deve saber que seu objetivo principal é “tornar-se ‘mais humano’, ao aumentar sua consciência e deliberar sobre seus pensamentos e ações; ou seja, tornar-se um ser ‘espiritualmente livre’.”
É fato que o estudioso deixou um grande legado para as diferentes áreas citadas no começo dessa matéria, uma vez que os conceitos dessa filosofia podem ser aplicados de diferentes maneiras. Sua obra toda publicada conta com mais de 350 livros, alguns escritos, e outros frutos de suas mais de 6.000 palestras.
Ele chegou até mesmo a ser presidente da Sociedade Teosófica da Alemanha, corrente que “busca o conhecimento da divindade para alcançar a elevação espiritual”. Mas rompeu com o grupo por considerar que os mesmos não tratavam o Cristianismo e a própria figura do Jesus Cristo com a importância que lhe competiam.
Uma das grandes expectativas da Antroposofia é que haja uma renovação das pesquisas científicas, ainda assumindo o antropocentrismo (homem no centro de tudo), mas admitindo também a interferência da natureza. Trazer essa espécie de sensibilidade para os estudos mais complexos pode ser muito vantajoso para a ampliação de teorias, sobretudo na produção de novos medicamentos.
E pode-se dizer que isso já está sendo feito. A medicina antroposófica, por exemplo, tem ganhado cada vez mais terreno e adeptos, e consequentemente estudos voltam-se para ela. Dentro das práticas dessa medicina, estão incluídos processos terapêuticos como massagens, exercícios, acompanhamento psicológico e alguns medicamentos mais naturais.
A existência dessa corrente aplicada às práticas medicinais geram controvérsias e polêmicas, pois não há nenhum estudo científico que comprove sua eficácia, somente testemunhos de pacientes e algumas análises clínicas. O indicado é que as técnicas antroposóficas sejam complementares à outros tratamentos. Você confere no vídeo a seguir, feito pela Associação Brasileira de Medicina Antroposófica, a explicação do médico Bernardo Kaliks sobre um pouco mais desse universo.
Por fim, os antroposóficos insistem que a corrente não é misticismo, ou seja, “baseado em sentimentos e em visões imagéticas sem que sejam acompanhados de um pensamento cognitivo”, mas sim, “fruto de observações permeadas por um pensamento consciente, e é transmitida sob forma de conceitos”.
Ele também não se denomina como religião, não emprega práticas do mediunismo e não possui caráter secreto. A Antroposofia dispensa o que chamam de moralismo, renega a Teosofia (explicada anteriormente) e não pretende ser uma sociedade fechada, mas sim, uma expansão de conhecimento para todos. E você, acredita que fé e ciência podem andar juntos?
Para Inspirar
Segundo grandes estudiosos da área, nós só nos reconhecemos através do que o outro nos diz. Leia mais!
26 de Janeiro de 2021
Muito se fala sobre a autoestima nos dias atuais - aqui mesmo no Plenae, abordamos o assunto diversas vezes. Porém, há um erro crasso que quase todos nós cometemos ao tratar do tema: atrelar essa estima por si mesmo ao seu físico, sua aparência.
Se autoestimar é reconhecer em si qualidades que, dentro de sua concepção de mundo, lhe são valiosas. É mais do que se achar atraente ou inteligente, mas também saber a importância dos seus papéis sociais em suas relações, sejam pessoais ou de trabalho, e também reconhecer os seus talentos mais sutis.
Mas construir uma autoimagem coerente de si mesmo não é tarefa simples para a grande maioria das pessoas. Isso porque você não é o único agente dessa construção. Muito provavelmente, nem mesmo participará desse processo. Está confuso? Vamos explicar.
“Imagine uma criança com 8 ou 9 meses de idade. É uma época que fica mais claro, em experimentos simples de psicologia, que a criança está começando a construir uma imagem de maneira nítida uma noção do eu e do outro, concomitantemente” explica Luiz Hanns, doutor em psicologia clínica, autor de diversos livros, para o canal de vídeos da escola Casa do Saber.
Há diversos estudos sobre isso. Luiz cita o estudo de Piaget, que propõe que você pegue um batom vermelho e trace uma linha diagonal na testa dessa criança. “Em algum momento, nessa faixa etária, a criança se reconhece no espelho e tenta tirar, ou estranha e passa a mão em cima desse risco. Isso é uma prova concreta de que ela já está no ponto de se reconhecer naquela imagem, saber que há alguém e que é ela”, diz.
Essa não é a única pesquisa acerca do tema. O psicanalista Lacan, em sua tese intitulada como “O Estádio do Espelho” (1966), defende que, dos seis aos dezoito meses de idade, é a fase em que o indivíduo irá começar a se reconhecer como uma unidade constituída, e não somente pedaços soltos.
Aquele pé, que ele traz à boca, não é “solto”, mas sim, parte de unidade. Aquela mãe, que está sempre disposta e por perto, não é a continuação de seu corpo, mas sim, um outro sujeito separado. Por fim, ao se olhar no espelho, ele irá tentar se tocar ou até dará gargalhadas, em uma sensação “oceânica” (como descrevia seu antecessor, Sigmund Freud) de reconhecimento.
“Para a criança conseguir fazer isso, ela teve que passar por um percurso onde teve que juntar coisas que estavam difusas, como perceber que aquilo que tocavam nela dizendo “que nariz bonitinho” era um nariz, o seu próprio. Ou sua própria motricidade como reconhecer seu próprio riso” explica Luiz.
Portanto, pode-se afirmar que a construção dessa noção de si só funciona através desse outro, que vai me espelhar. Prova disso é que até mesmo uma criança cega ou um indígena que nunca teve contato com um espelho, também passaria por esse processo de constituição de si por meio do que é nomeado pelo outro.
“Como consequência disso, esse eu nasce alienado de si mesmo. Funciona como uma espécie de câmara externa em que a criança ou o adulto colocam e faz com que ele se enxergue de fora para dentro, seja pela opinião do outro, pela visão do outro, pela foto que você vê” explica o doutor.
Essa aparência vista no espelho, por sua vez, por mais real que seja, começa a ser associada a qualidades obtidas por meio da opinião do outro, como entender que seu nariz é “feio”, pois assim o disseram, ou por estar longe de se parecer com o que dizem ser um nariz bonito.
“A mesma coisa com relação ao seu modo de ser. A criança vai sendo enunciada pela família, que diz se ela é teimosa, e tem o mesmo olhar do outro (...). A criança vai virando uma colcha de retalhos. Essa colcha de retalhos que me constitui, que é externa a mim, é o único modo que as pessoas têm de me descrever e de eu me construir, não há um eu de dentro pra fora que é inerente a mim, são sempre pedaços que os outros construíram para mim” explica.
A boa notícia é que, segundo o especialista, somente uma pessoa muito perturbada mentalmente conseguiria não levar em conta o que o outro diz e ignorar a opinião pública. Há ainda uma pequena parcela de seres humanos que nascem geneticamente diferentes, possuindo uma autoestima elevada natural de si. Mas, mesmo elas, irão usar o parecer alheio até mesmo para se adequar em determinadas regras sociais.
É praticamente impossível estar desatrelado desse processo tão existencial. “Nós somos porosos a opinião dos nossos parceiros, dos nossos filhos, isso é estrutural do ser humano e necessário. É um elo que nos liga e nos mantém saudáveis. A questão é não se perder na opinião do outro, mas levar a opinião do outro em conta é fundamental para que a sociedade funcione”, diz Luiz.
Como contamos nesta matéria , falar sobre si é de suma importância até mesmo como parte de um processo terapêutico. É importante saber que só existimos a partir do que o outro nos contou, somos resultado de diversas projeções, inclusive de nós mesmos.
Essas projeções são as responsáveis por movimentos como a
Dismorfia Corporal
, quando a pessoa só consegue se enxergar de forma negativa, também conhecida como “síndrome da feiura imaginada”. As redes sociais, quando usadas de formas tóxicas, amplia ainda mais esse tipo de transtorno,
como bem pontuou Camilla Viana em seu Plenae Entrevista.
Comece a se amar hoje, com urgência! Sabendo que sua opinião sobre si mesmo é baseada em opiniões terceiras, e que isso não o invalida enquanto indivíduo, mas que é preciso construir a sua própria autoimagem. Qual é a sua opinião sobre si? Você se trata com gentileza? Não se esqueça: você é a sua maior companhia.