Para Inspirar

Desmistificando conceitos: o que é o câncer de mama?

Na onda do Outubro Rosa, campanha de conscientização sobre o câncer de mama, fomos entender mais sobre a doença que preocupa muitas mulheres

1 de Outubro de 2022


O décimo mês do ano chegou. E com ele, rosa para todo lado. A campanha Outubro Rosa, talvez uma das mais sólidas e famosas da área da saúde, tinge o mundo inteiro com esses tons, sejam nos monumentos históricos que se enchem de luzes rosas, seja até em portais como o nosso, que mudam suas fotos de perfil para essa cor.

Isso tem um objetivo comum: marcar na memória das pessoas, as mulheres principalmente, a importância de estar com os exames ginecológicos em dia, sobretudo os que dizem respeito às mamas, é claro. Estima-se que a campanha tenha começado de forma tímida nos anos 90, lá pelos Estados Unidos. No Brasil, sua primeira aparição se deu em 2002, mas ela só ganhou forma e força em 2008.

Mais do que os exames, movimentos adjacentes ao Outubro Rosa - como o Se Toca, Garota - buscam ainda conscientizar a importância do auto toque, ou seja, conhecer o próprio corpo e apalpá-lo sempre em busca de possíveis mudanças. Mas afinal, do que se trata o câncer de mama? Quais são suas especificidades? Como rastreá-lo e como tratá-lo, principalmente? Separamos os pontos mais importantes que você deve saber sobre a doença a seguir!

O que é o câncer de mama e quais são seus números?

Segundo os dados mais atualizados do INCA (Instituto Nacional do Câncer), o câncer de mama é o segundo mais comum em mulheres em todas as regiões do Brasil, ficando atrás somente do câncer de pele. Para o ano de 2022 foram estimados 66.280 casos novos, o que representa uma taxa ajustada de incidência de 43,74 casos por 100 mil mulheres. Homens também desenvolvem câncer de mama, mas estima-se que a incidência nesse grupo represente apenas 1% de todos os casos da doença.

“É importante dizer que ele é multifatorial. Então diferente de um câncer como o do colo do útero, muito relacionado ao HPV, por exemplo, o de mama tem vários fatores que podem levar a isso: histórico familiar, hábitos de vida como tipo de comida, obesidade e estresse. A pessoa que vive naquela maneira ocidental bem característica tem mais chances do que a que se cuida mais”, diz André Matta, mastologista do Grupo Oncoclínicas diretor do Núcleo de Mastologia do Hospital Pérola Byington, em São Paulo.

Por que o câncer aparece? 

Não se sabe exatamente, mas o que se sabe é que diariamente nossas células se replicam e todo dia produzimos câncer, que são essas células alteradas. Mas, graças ao nosso sistema imune, sempre muito atento, essa célula alterada logo é atacada. 

“Quando temos uma falha desse mecanismo de defesa do nosso organismo, a célula cancerígena começa a se proliferar e, diferente de uma célula normal que tem um período normal de se replicar, a célula do câncer se replica para sempre. Quando vamos fazer uma biópsia na mama, olhamos no microscópio e vemos que tem células na mama que são diferentes do normal e apresentam alterações. Quando se fala em câncer, é a mesma coisa que nódulo maligno, não existe “câncer benigno”, existe nódulo benigno e maligno”, explica o especialista.

Quais são seus sintomas?

Eles basicamente não existem, a maior parte das pessoas que fazem exame de diagnóstico vão encontrar o tumor antes de ter algum sintoma. Isso, é claro, para mulheres que fazem exames anuais. “As pacientes do SUS infelizmente muitas vezes acabam diagnosticando como um nódulo palpável que ela sentiu e foi atrás”, conta André. 

Mas há sim alguns sintomas pequenos que merecem atenção. “O que nos deixa em estado de atenção são nódulos endurecidos palpáveis na mama que não somem depois da menstruação. Se a pessoa apalpa esse nódulo, ele é duro, e depois de menstruar ele continua lá, é importante ela buscar ajuda porque pode ser um sinal de um câncer de mama”, diz.

Existem outras alterações como a coloração da pele, que às vezes fica vermelha, ou saída de secreção sanguinolenta pelo mamilo, que são sinais indiretos que tem algo de errado e que é preciso ir atrás. Mas, como a maior parte dos cânceres são assintomáticos, é preciso fazer os exames de rastreio.

Ainda, é importante diferenciar o câncer subclínico, que é aquele que se rastreia justamente antes de se sentir qualquer coisa, do câncer que tem sintoma. Além disso, é importante separar o que é o câncer primário e o que são possíveis metástases, ou seja, células cancerígenas que se desprenderam e foram parar em outros órgãos.

“Por que é importante dizer de onde veio? Porque o tratamento é baseado no câncer inicial. Se foi pro fígado, vamos tratar como um câncer de mama que foi pro fígado, com medicações específicas da mama”, diz. 

Qual é a população de risco?

“Ele é muito mais frequente em mulheres depois da menopausa pois, quanto mais idade tem a pessoa, maior é o risco individual dela desenvolver câncer. As pacientes antes dos 50 dificilmente tem, mas uma pessoa de 80 anos tem um risco bastante grande”, diz André. 

Se a pessoa tem histórico familiar importante, o cuidado deve ser redobrado. E, nesse caso, o médico considera mãe, irmã, filha ou pai os laços com maior risco de influenciar geneticamente. Se essas pessoas apresentaram o câncer ainda antes da menopausa, é um fator agravante. 

“Em 90% dos casos não há histórico genético importante. Mas em 10% tem, e as mais frequentes são a mutação de dois genes que se chamam BRCA 1 e 2. O risco normal de uma pessoa é mais ou menos de 12%, uma mulher em cada oito se ela viver até os 80 anos. Mas quando existe essa mutação, aumenta para um risco de 60% se ela viver até os 80”, explica o mastologista.

Além da mama, essa mutação também traz um risco maior de ter câncer no ovário, que pode demandar uma ooforectomia, que é a retirada dos ovários. O risco normal é menos de 1%, mas quando se tem essa mutação, cresce para 30 a 40%. “E o problema do câncer de ovário é que não temos como fazer um screening, porque a pessoa faz um ultrassom transvaginal e dali 2, 3 meses desenvolvem o câncer. Mas provavelmente ela terá algum sintoma antes, já que o câncer de ovário causa aumento de volume abdominal, dificuldade na alimentação, perda de peso, etc”. 

Outros fatores externos que aumentam o risco são a obesidade, a falta de exercício físico e o uso de hormônios, como a pílula anticoncepcional ou reposição hormonal. Nesse último caso, é importante ponderar: se a pessoa possui um estilo de vida saudável, talvez o uso de hormônios não a afete tanto. Ele se torna um agravante principalmente em casos onde a pessoa já apresenta maus hábitos. 

Qual é o principal exame para se rastrear?

Hoje, o único exame que diminuiu a mortalidade do câncer de mama é a mamografia. Acima dos 40 anos, ela já começa a diminuir os riscos da pessoa morrer se tiver a doença, e diminui também o risco da cirurgia ser mais mutilante. Incluir a ressonância magnética nesses exames periódicos é também muito importante, pois ele pode apresentar alterações antes do câncer aparecer. 

“Hoje existe uma discussão, porque o Ministério da Saúde recomenda mamografia a cada 2 anos para mulheres acima de 50 anos até os 69, enquanto a sociedade de mastologia, de ginecologia e a de radiologia em conjunto fizeram um documento dizendo que é muito melhor fazer mamografia anual a partir dos 40 anos até os 70 anos. Depois dos 70, só faz se tiver expectativa de vida de 8 ou mais anos”, conta André. 

E por que há essa diferenciação? Apenas por custo, responde. “Se você colocar como uma política geral do SUS, o Estado vai gastar bastante dinheiro para fazer. Quem tem convênio faz todo ano a partir dos 40 anos, mas as mulheres que não têm acabam caindo nessa situação de fazer a cada dois anos a partir dos 50. 

Agora, para quem tem um antecedente importante dos que já mencionamos, é indicado que se começasse a fazer a mamografia dez anos antes da idade que a pessoa da família teve o câncer. Por exemplo, se sua mãe teve com 45 anos, o ideal é que a filha faça suas primeiras mamografias já aos 35.

Quais são as primeiras condutas?

Quando temos o diagnóstico a partir da mamografia, precisa investigar o tamanho e a agressividade desse câncer para para se tomar a primeira conduta, que é a cirurgia, ou se vai começar com um tratamento para diminuir esse tumor e as chances de ir para outros órgãos, que é a quimioterapia ou a hormonioterapia. Quando é feita a biópsia que atesta as células malignas, é feita a chamada análise imunohistoquímica, que vai determinar a agressividade desse câncer. 

“Dependendo do tamanho do tumor e do comprometimento que ele tem da mama é que a gente vai cravar o estágio da doença. Varia do estágio zero, que é uma doença só dentro do duto da mama, depois há de um a três, que são cada vez maiores e o estágio quatro, que é quando ele está pra fora da mama, já em outros órgãos. É isso que vai nos dizer como o tratamento começa, além da biópsia que fornece algumas informações importantes”, explica André. 

Antigamente, quando se tinha um câncer desse tipo, independente do seu tamanho, a conduta clássica era a retirada integral das mamas. Hoje, já se consegue tirar só a área comprometida e isso permite que a mama fique esteticamente do jeito que é e com margem de segurança. 

“Não dá para fazer pra todo mundo, mas no caso de tumores pequenos é possível fazer uma quadrantectomia, que é a retirada parcial da mama, associada a radioterapia, e a chance de cura dela é a mesma que retirar a mama inteira, sendo que sua qualidade de vida é muito maior”, conta.

Mesmo a quimioterapia é um tratamento bastante usado por ser efetivo, mas é também um pouco “burro”, como cravou o médico. “Porque ele atua sobre todas as células do organismo que se multiplicam rapidamente, inclusive as do câncer, mas também medula óssea, o que causa anemia, células dos pelos e dos cabelos, vai deixar a pessoa com náusea. Ele é meio agressivo e não é direcionado”, diz.

Quais são seus riscos?

Eles são divididos em dois aspectos: relacionados ao tratamento, como possíveis problemas cardíacos gerados pela quimioterapia e radioterapia, a volta da doença na pessoa que já se curou e até o risco de óbito mesmo que a doença pode causar. “Quanto mais tempo a pessoa vive, mais ela está exposta a doença voltar. Isso dependendo do estágio que está a doença. Se ela é diagnosticada com tumores ainda pequenos, a chance da doença voltar é muito menor do que se já estiver num estágio mais avançado. Por isso que os exames de rastreio são tão importantes”, conclui o especialista. 

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Desmistificando conceitos: o que é o vitiligo?

A doença dermatológica é autoimune, ou seja, produzida pelo seu próprio corpo. Mas algumas causas podem estar associadas

19 de Agosto de 2022


No primeiro episódio da nona temporada do Podcast Plenae - Histórias para Refletir, conhecemos a história do dançarino Carlinho de Jesus, portador de uma síndrome rara chamada vogt-koyanagi-harada. Sua porta de entrada é ocular, ou seja, a visão é a primeira afetada pela síndrome, porém com chances de melhoria ao longo da vida.

Porém, essa mesma síndrome pode desencadear outro problema no indivíduo, esse infelizmente sem cura: o vitiligo. Mas do que se trata afinal? Para começar, é importante explicar que trata-se de uma condição autoimune, ou seja, quando há um mau funcionamento do sistema imunológico, levando o corpo a atacar os seus próprios tecidos, segundo essa definição

Para a ciência, as doenças autoimunes são complexas de serem explicadas, quase que um mistério. Ainda não se sabe o que as desencadeiam, por exemplo, mas diversos fatores são apontados, e seus sintomas variam de acordo com a doença e a parte do corpo afetada.

No caso do vitiligo, tema deste artigo, é uma doença caracterizada pela perda da coloração da pele, proveniente de “uma diminuição ou ausência de melanócitos (as células responsáveis pela formação da melanina, pigmento que dá cor à pele) nos locais afetado”, como explica a O desenvolvimento do vitiligo.

O desenvolvimento do vitiligo

Essa hipopigmentação ou seja, a diminuição da cor conhecidas como manchinhas - ou “nuvens”, como apelidou Carlinho de Jesus as suas próprias - pode ter tamanhos variáveis e costuma surgir primeiramente nas extremidades, como mãos, nariz ou boca, mas depois pode se espalhar por todo o corpo.

Ele pode se manifestar de duas formas diferentes: segmentar ou unilateral, que é quando manifesta-se apenas em uma parte do corpo, incluindo perda da coloração em pelos e cabelos; ou não segmental ou bilateral, que é o tipo mais comum e manifesta-se nos dois lados do corpo, por exemplo, duas mãos, dois pés, dois joelhos. 

Não há como definir o tempo de duração porque não há cura para o vitiligo, apenas tratamentos que podem ajudar. Há épocas em que a perda de cor entra em um ciclo mais frequente, mas há períodos de estagnação. Estes ciclos ocorrem durante toda a vida, e a duração dos ciclos e as áreas despigmentadas tendem a se tornar maiores com o tempo.

Causas e diagnóstico

Para cravar se é vitiligo mesmo, o diagnóstico é primeiramente e essencialmente clínico, ou seja, análise atenta do olhar do médico. Mas pode ser solicitada uma biópsia cutânea de algum dos locais afetados e, por fim, um exame com a lâmpada com luz fluorescente chamada Wood, que ajuda muito no caso de peles muito brancas.

Um exame de sangue também serve como um estudo imunológico que poderá revelar a presença de outras doenças autoimunes como o lúpus eritematoso sistêmico ou a doença de Addison. 

Apesar disso, ele não oferece nenhum risco de fato à saúde física, e nem tampouco é contagioso, como acreditava-se muito antigamente. Seus sintomas, aliás, são praticamente inexistentes, somente em alguns poucos casos os pacientes relatam sentir sensibilidade ou dor na região afetada. 

Ele é, de fato, inofensivo, mas pode afetar a autoestima de quem o possui e, por isso, é indicado um acompanhamento psicológico junto, para que a pessoa possa se aceitar como fez Carlinhos de Jesus. 

Suas causas, como mencionamos no começo deste artigo, podem ser difíceis de cravar como qualquer outra doença autoimune. Mas o fator histórico familiar é um dos mais importantes e representa 30%, portanto, nesse caso, a genética conta e muito. 

Estresse ou outros tipos de desgastes emocionais podem ser um gatilho tanto inicial, para o surgimento da primeira manchinha, quanto de todas as outras que vierem na sequência. Exposição a toxinas em excesso ou lesões graves como traumatismos cranianos ainda são apontados por este artigo como possíveis causas, mas costumam ser mais raros.

Prevenção e tratamentos

Dessa forma, não há uma resposta exata de como se prevenir. Mas, sabendo que alguém da sua família possui vitiligo, é preciso redobrar a atenção e estar sempre acompanhando com um profissional especializado. Assim, a pessoa conseguirá diagnosticar de forma precoce e buscar ajuda para evitar novas manchinhas.

O tratamento varia e deve ser discutido com seu dermatologista de forma individual. Há medicamentos que induzem a repigmentação das regiões afetadas e também é possível utilizar tecnologias como o laser, técnicas cirúrgicas ou de transplante de melanócitos. Para essa última opção, é necessário que nenhuma mancha tenha crescido no último ano.

A terapia com banhos de luz ou aplicação de laser também ajuda a barrar a morte dos melanócitos e até chega a reativá-los. Mas é importante lembrar que o resultado irá depender do organismo de cada um. 


Perfis para se inspirar


O perfil no Instagram @minhasegundapele trabalha em desmistificar o vitiligo diariamente, criado pela designer Bruna Sanches, que já foi modelo em campanhas para marcas como a Natura e a Pantys. Assim como a também modelo @gabyviti, que traz um pouco sobre o assunto em suas redes. A conta @vitiligopeople traz imagens de pessoas com as manchinhas para normalizar e até mostrar como pode ser bonito as “nuvens” de cada um.


Assim como Carlinhos de Jesus, há ainda outros famosos que exibem sua condição com orgulho, sem se esconder. A modelo canadense Winnie Harlow talvez seja a mais famosa de todas. John Han, o eterno “Mad Men”, também. Brasileiras como Sophia Alckmin, Luiza Brunet e a participante do Big Brother Brasil 22, Natália Deodato, também. O rapper Rappin’ Hood foi um dos precursores a tratar sobre o assunto sem demagogias.

Nesse vídeo para o canal do médico Drauzio Varella, o dermatologista Caio de Castro esclarece seis dúvidas relativas à doença. Não se esqueça, por fim, de estar com a mente em dia. Um acompanhamento psicológico pode - e deve! - te ajudar bastante.

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