Para Inspirar
Conheça o significado do termo e como ele se desdobra no nosso dia a dia, mesmo sem que a gente perceba
14 de Outubro de 2020
Se você já ouviu o quinto episódio da segunda temporada do Podcast Plenae - Histórias Para Refletir , então já conheceu a história do empresário Rodrigo Hübner Mendes. Nele, Rodrigo conta como sua tetraplegia mudou toda a sua vida - e não só a respeito de sua mobilidade.
De fato, Rodrigo pôde ressignificar e reconhecer o seu corpo como seu principal veículo de locomoção e detentor de sua essência - essa que mora dentro de nós e é imutável, independente do que aconteça com o nosso físico. Mas, mais do que isso, ele passou a olhar mais o mundo ao seu redor, e se deu conta de tantas pessoas que vivenciaram o mesmo trauma do que ele, mas com menos condições financeiras.
Para além desse lindo relato, o episódio de Rodrigo traz o tema da deficiência física ao nosso portal, assim como o fez Henry Zylberstajn na nossa primeira temporada Sabemos que existem diversas deficiências, de diferentes naturezas. Mas o que todos eles vivenciam em comum? O capacitismo.
Capacitismo é toda a discriminação, violência ou atitude preconceituosa contra a pessoa com deficiência e se expressa desde formas mais sutis até as mais gritantes, segundo definição dada pela psicóloga e palestrante Solyana Coelho ao Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.
Apesar de o termo não constar na Constituição Federal Brasileira, há uma lei promulgada em 2015, no Estatuto da Pessoa com Deficiência, que prevê a igualdade de oportunidades e tratamento como um direito à pessoa com deficiência, que não deve ser vítima de nenhuma espécie de discriminação.
Para a lei, “Considera-se discriminação em razão da deficiência toda forma de distinção, restrição ou exclusão, por ação ou omissão, que tenha o propósito ou o efeito de prejudicar, impedir ou anular o reconhecimento ou o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais de pessoa com deficiência, incluindo a recusa de adaptações razoáveis e de fornecimento de tecnologias assistivas.”
O conceito, segundo a escritora Leandra Migotto para o portal AzMina , “está associado com a produção de poder e se relaciona com a temática do corpo por uma ideia de padrão corporal perfeita; também sugere um afastamento da capacidade e da aptidão dos seres humanos, em virtude da sua condição de deficiência.”
O Capacitismo é um dos muitos preconceitos que temos arraigados na sociedade e acabamos perpetuando mesmo sem perceber. Quem nunca ofereceu uma ajuda não solicitada à um deficiente, partindo-se do princípio que ele não conseguiria realizar aquela tarefa simples?
Ou usou termos do tipo “não temos braço para fazer isso”, como quem diz não ter condição para realizar determinada tarefa? Há até as manifestações de surpresa diante da mera existência de um deficiente físico, como observamos no cartum de Ricardo Ferraz.
Apesar de ingênuas e livre de más intenções, essas são atitudes capacitistas. A própria palavra deficiente, no dicionário da Língua Portuguesa, não possui cunho positivo, indica sempre uma falta, uma incapacidade. Percebe-se que o problema está na raiz e está em todos nós.
E está até mesmo ao nosso redor. Nossas cidades são capacitistas. Mas como, se elas não falam e, logo, não podem ser preconceituosas? Explicamos: elas foram feitas por pessoas que nunca se atentaram aos problemas que um deficiente pode enfrentar para se deslocar.
Ainda que a lei obrigue as “diferentes instâncias e instituições sociais, como o trabalho, o Estado, a escola, a famílias entre outros” a garantirem as condições necessárias para que uma pessoa com deficiência tenha direito a acessibilidade e ao desenvolvimento independente, nem sempre isso acontece.
Conhecido como o maior canal sobre deficiência do YouTube Brasil, o canal “Vai uma mãozinha aí?” é feito pela youtuber Mariana Torquato, que conta como é o seu cotidiano “sobrevivendo sem uma das mãos”, como define a própria.
Mais do que dicas de penteados e dicas mais leves, Mariana também aborda discussões importantes e intensas a respeito do assunto tratado nesta matéria. Capacitismo, aliás, foi tema de um dos seus primeiros vídeos do canal, que você confere clicando aqui .
Um de seus vídeos, “Coisas que os deficientes não aguentam mais ouvir” fez tanto sucesso que ela criou a parte dois, com mais dicas do que não fazer quando estiver na presença ou não de um deficiente. Elencamos aqui alguns de seus ensinamentos ditos no vídeo:
Essas são só algumas situações elencadas por Mariana, com base em uma entrevista feita pela mesma com dezenas de deficientes. Ela também gravou u m vídeo dedicado especialmente à ditados populares capacitistas , como dizer “João sem braço”, “em terra de cego, quem tem olho é Rei” ou ofender alguém dizendo que essa pessoa “está surda” ou “é um retardado”.
Agora que você já sabe como o capacitismo é presente no nosso cotidiano, mesmo sem que a gente perceba, que tal nos policiarmos para fazer do mundo um lugar cada dia melhor e mais inclusivo?
Para Inspirar
Feito e direcionado para dar voz a um público específico, essa vertente do jornalismo nasceu de uma necessidade e conquista cada vez mais espaço
30 de Agosto de 2024
No último episódio do Podcast Plenae, conhecemos a brilhante história do comunicador Rene Silva, que desde os 11 anos já começou a dar seus primeiros passos como jornalista, em uma iniciativa escolar ainda bem pequena, mas que já mostrava o seu potencial.
A questão é que essa sementinha foi plantada e não parou de florescer. À frente do Voz das Comunidades, um dos principais veículos do segmento, Rene se tornou um representante importante dessa área conhecida como “jornalismo de comunidade”. Você já ouviu falar nele? Se a resposta for não, continue sua leitura para entender. E se você já conhece, continue também na leitura para conhecer outras iniciativas!
Para começar a explicar do que se trata o jornalismo de comunidade, é possível revisitar novamente o episódio de Rene. Em uma de suas falas mais potentes, ele nos lembra da ocupação feita em 28 de novembro de 2010, por 3.500 homens da Polícia Civil, da Polícia Militar, da Marinha e da Polícia Federal no Complexo do Alemão. As cenas, que marcaram o noticiário nacional e rodaram o mundo todo, focaram na operação e nunca na população no entorno - que se sentia, com toda razão, ameaçada e fragilizada.
“As pessoas no Brasil inteiro queriam saber como estava a vida dentro da comunidade, e eu comecei a postar as notícias no Twitter, na conta do Voz. Eu escrevia coisas do tipo: ‘Nesse momento, as escolas e as creches da comunidade pararam de funcionar; o ônibus parou de circular; o comércio fechou’. A cobertura da mídia estava muito focada nas apreensões de drogas, nas mortes, essas informações que as autoridades passam. Mas eu estava reportando o impacto daquela operação no cotidiano de milhares de pessoas que moravam ali e não conseguiam sair para trabalhar ou voltar para casa. A situação estava cada vez mais tensa dentro da comunidade. E eu tinha acesso a informações exclusivas, que a grande mídia não tinha”, diz.
De uma hora para outra, como contamos em seu Plenae Apresenta, Rene ganhou milhares de seguidores por ter virado narrador em tempo real daquela megaoperação. Ele tinha apenas 16 anos e se tornou uma “espécie de correspondente de guerra”, como ele mesmo define. Depois disso, as barreiras da comunidade foram rompidas e a grande mídia se tornou parceira do jornal Voz das Comunidades, agora já no plural. As redações dos jornais, das rádios e das TVs começaram a abrir espaço para assuntos que aconteciam dentro das favelas, não focando só nos problemas, mas para as notícias boas também.
Isso nada mais é do que o jornalismo de comunidade, que tem por essência trazer temas relacionados à, claro, uma comunidade. E ele surge justamente dessa necessidade de jogar luz aos problemas de uma parcela da população que historicamente é deixada às margens, ou seja, não recebe sequer atenção midiática aos seus problemas que são muito específicos.
“Acredito que essa capacidade de a pessoa que produz conteúdo refletir sobre si e seu entorno é um dos grandes trunfos do jornalismo de comunidade. Sua visão de mundo contribui para uma percepção singular, que se reflete nas reportagens. Fora desse segmento, dificilmente uma pessoa jornalista vai entender tão bem um dilema, um problema ou a importância de uma solução quanto quem vive aquilo diariamente”, comenta Ludimila Honorato, jornalista de saúde especializada em jornalismo científico pela Unicamp, com grande bagagem no jornalismo de comunidade.
Para ela, a grande relevância desse segmento está em “romper estereótipos, fortalecer identidades e fazer ecoar as vozes de quem está na comunidade”. Essa comunidade, vale dizer, pode se tratar de um espaço físico e geográfico, sim, mas também de um grupo social específico que não está concentrado em um só espaço. “A gente ouve com frequência o termo ‘dar voz’ a alguém; mas penso que não precisamos dar voz a ninguém, porque as pessoas já têm a própria voz, e o jornalismo de comunidade é um meio de potencializar o discurso delas”, pontua ela.
Sua experiência pessoal com o segmento ultrapassou as linhas de carreira e atingiu o pessoal: foram as trocas que ela teve com a equipe e com os jovens que faziam parte das formações do É Nóis, escola de jornalismo para jovens da periferia, que a fizeram se enxergar como parte da periferia também.
“Foi ali que passei a ter consciência de onde eu vinha e quem eu era. Nasci e cresci na zona leste de São Paulo, mas para mim sempre pareceu normal morar longe de tudo e de todos, passar quatro horas ou mais por dia dentro do transporte público para trabalhar e ter pouco lazer por perto. Pessoas que não conheciam meu bairro tinham medo de ir para lá, enquanto eu não entendia bem o porquê. Eu não questionava muito o meu entorno até então. Foi na É Nois, conversando com pares e produzindo conteúdo acerca do lugar em que vivíamos, que tive a minha visão de mundo transformada”, relembra.
Além da própria Voz das Comunidades, muito bem liderada por Rene, há ainda outras iniciativas que valem a pena conhecer e, assim, mergulhar em um mundo que pode até estar um pouco distante de você, mas que também te diz respeito. Afinal, somos todos um grupo só.
É Nóis: um laboratório fundado em 2009 com foco no público jovem, que trabalha para impulsionar diversidade, representatividade e inclusão no jornalismo brasileiro.
Agência Mural: Jornalismo local combatendo estereótipos e garantindo acesso à informação.
Rede Cajueira: uma iniciativa que busca descentralizar a mídia no Brasil e fortalecer o jornalismo independente feito no Nordeste. O projeto foi criado em 2020 por quatro jornalistas nordestinas.
Periferia em movimento: fundada em 2009 por jovens jornalistas das periferias da Zona Sul de São Paulo, tem como missão fazer um jornalismo sobre, para e a partir das periferias.
ANF - Agência de Notícias da Favela: fundada pelo jornalista André Fernandes em janeiro de 2001 como um projeto, foi logo reconhecida pela Reuters como a primeira agência de notícias de favelas do mundo. A ANF foi criada para atender a demanda da imprensa e da sociedade, que precisavam obter informações sobre que acontecia no contexto das favelas do Rio de Janeiro.
Acompanhe o trabalho feito por esses e outros veículos especializados no jornalismo de comunidade e, se puder, apoie financeiramente ou oferecendo algum apoio voluntário. Divulgar, por exemplo, já é um ótimo começo! É possível fazer muito mesmo fazendo um pouco todo dia.
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