Para Inspirar

Evento Plenae: A Relevância da Espiritualidade na Experiência Humana

Como encarar a decadência física e mental? Dá para continuar aproveitando a vida?

29 de Junho de 2018


O envelhecimento é uma condição natural da vida, da qual, atualmente, poucos escapam. Como encarar a decadência física e mental? Dá para continuar aproveitando a vida? O historiador Leandro Karnal, de 55 anos, subiu ao palco do Teatro Santander, em maio, no lançamento da plataforma Plenae, em São Paulo, para dar um recado claro à plateia: “As pessoas precisam se reinventar, transcender o tempo e ressignificar suas trajetórias de vida.” Karnal cita o teólogo e filósofo Santo Agostinho. “Ele dizia que se não conseguirmos olhar o futuro como estratégico, estamos condenados a ficar em um presente contínuo.” O médico psicanalista Wilhelm Reich, em 1941, usou a expressão “peste emocional” referindo-se às ações negativas de pessoas que se valem de todos os recursos para modificar o ambiente, impondo o próprio modo de vida. Estar aberto às novas ideias, ter curiosidade e vontade de aprender são ferramentas que levam a renovação do “eu”, dos relacionamentos e dos laços amorosos. “Não há como sobreviver ao tédio do cotidiano sem transcender. Pode ser a rotina de um casamento, por exemplo. Nesse caso, você não está vivendo com a mesma mulher. Ela ficou no passado. Por isso, será necessário reinventar esse relacionamento”. Karnal conta que sua avó costumava dizer que “no tempo dela, as pessoas eram mais gentis”. “Eu tinha de lembrá-la que ela saiu da Alemanha da Segunda Guerra Mundial. Não existia gentileza no campo de concentração de Auschwitz. Mas, minha avó estava presa à idealização do passado para negar o presente.” “É árduo ver-se desmanchar-se diante do espelho, mas é inevitável. Se é inevitável, melhor aproveitar e continuar dando sua contribuição”, escreveu Norberto Bobbio (1909-2004), autor de O Tempo da Memória: De Senectude e outros escritos autobiográficos. Karnal diz que a velhice é acompanhada do triplo medo, o das falências física, mental e financeira. Jovens sabem mais. “Temos uma inversão inédita. Durante milhares de anos, os mais velhos ensinavam os mais jovens. Eles sabiam a que deuses deveríamos rezar, quais as sementes para plantar”, diz Karnal, lembrando que hoje a tecnologia se transformou em um dos conhecimentos mais importantes. Os jovens têm esse conhecimento. Os idosos, não. “Os mais velhos aprenderam uma série de coisas que não servem mais. Eu aprendi a mimiografar e a passar fax. No espaço de uma geração o mundo envelheceu muito.” Karnal lembra que as previdências sociais “mesmo em países honestos” passam por crise. “O ministro japonês chegou a dizer que os japonese não colaboram com o país. Não morrem.” Mercado. Karnal diz que a alma dos negócios de hoje em dia é pensar em um consumidor muito variado. Meu cliente pode ser um baby boomer, ao mesmo tempo em que há possibilidades que ele seja da geração x, y ou z. “Se eu tiver uma empresa exclusivamente voltada para a geração x, não atinjo os consumidores mais avançados. Ao mesmo tempo, se focar em um público conservador, não renovo minha carteira de clientes.” Hoje o mundo envelhece muito mais do que no passado. Em 1900, a média de expectativa de vida no Ocidente girava em torno de entre 35 e 40 anos. Em um século, ela deu um salto de 30 anos. “Não seja aquela pessoa que diz que ‘no seu tempo’ era de outro jeito. Aprenda que seu tempo é hoje, o mesmo tempo do (compositor e cantor pop) Justin Bieber”, diz Karnal. Só assim será possível participar e dar a sua contribuição à sociedade. “É preciso transcender a matéria e a idade. Para tanto, o caminho é o da fé autônoma, do estudo da arte e de um trabalho social, por exemplo. Isso dá a ideia de pertencer a um plano maior – de não estar preso à matéria, ao aqui e ao agora.” Segundo o historiador, nunca devemos parar de aprender e de se reinventar. Historiadores e a velhice. Paul Lafargue (1842-1911), socialista, autor de O Direito à preguiça, escreveu ao se suicidar com a esposa – com quem tinha um pacto de morte: "Estando são de corpo e espírito, deixo a vida antes que a velhice imperdoável me arrebate, um após outro, os prazeres e as alegrias da existência e que me despoje também das forças físicas e intelectuais; antes que paralise a minha energia, que quebre a minha vontade e que me converta numa carga para mim e para os demais. Há anos que prometi a mim mesmo não ultrapassar os setenta; por isso, escolho este momento para me despedir da vida, preparando para a execução da minha decisão uma injeção hipodérmica com ácido cianídrico. Morro com a alegria suprema de ter a certeza que, num futuro próximo, triunfará a causa pela qual lutei, durante 45 anos. Viva o comunismo! Viva o socialismo internacional!". Ele quis morrer antes do fim. Yuval Harari, autor de Sapiens – Uma Breve História da Humanidade, de 42 anos, diz que já nasceram crianças que viverão por 120 anos. Já existem condições médicas e técnicas de passar facilmente dos 100 anos. Harari pergunta: “Como administraremos casamentos com bodas de 90 anos que ainda não têm nem nome? O nosso limite é Bodas de Diamante (60 anos) e de Carvalho (80 anos)...” Marco Túlio Cícero (63 a.C.), advogado e filósofo, escreveu que a velhice é a fase principal da sabedoria (na época, entre 50 e 60 anos). O símbolo da filosofia, a ave de Minerva só alça voo no crepúsculo. Perdemos força física, mas ganhamos consciência. Sibila de Cumas (Mitologia Grega), conhecida pelas suas previsões em versos, pede ao deus Apolo a vida eterna, mas esquece de incluir no desejo a juventude eterna. Ela viveu para sempre e foi decaindo. Quando chegou aos 900 anos, na caverna de Cuma, ao sul de Roma, foi colocada em uma gaiola. Dizia aos que entravam “quero morrer”. Não há nada mais melancólico do que viver eternamente. Ulysses Guimarães (1916-1992) diante do argumento de que era muito velho para se candidatar à presidência do Brasil (em 1989-1990), costumava dizer que Nero tocou fogo em Roma aos 27 anos e que Konrad Adenauer (1876-1967), um dos arquitetos da economia de mercado, salvou a Alemanha aos 83 anos. Traduzindo: idade não prova nada.

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Desmistificando conceitos: o que é a Síndrome do Pânico?

O male que já atinge até 4% da população mundial, segundo a OMS, em sua maioria jovens, ainda pode estar cercada de tabus e preconceitos.

9 de Setembro de 2022


No quarto episódio da nona temporada do Podcast Plenae, conhecemos um lado da cantora Wanessa que nem todo mundo conhece: as profundezas de sua mente. Não por acaso, é esse o pilar que ela representa nesta edição. Em seu relato, a artista divide momentos pessoais da infância que criaram nela um profundo medo da morte. 

E esse medo evoluiu para a chamada Síndrome do Pânico, um quadro muito mais agravado e até mesmo clínico do que um simples “medo”. Mas do que se trata essa síndrome afinal? É importante começar pelos seus sintomas: ela é caracterizada por crises de ansiedade repentina e intensa com forte sensação de medo ou mal-estar, acompanhadas de sintomas físicos, como explica a biblioteca de saúde do Ministério da Saúde brasileiro.  

Ele pode ocorrer a qualquer momento do dia, possui uma duração média de 15 a 30 minutos e nem sempre possui um gatilho evidente, a ponto do paciente conseguir identificar o que desencadeou aquela crise. Um fato curioso e triste é que, muitas vezes, as crises que sucedem a primeira se dão justamente pelo medo de sentir aquilo de novo.

Ou seja, a experiência é tão desconfortável e até traumática, que as outras crises podem se dar pelo simples medo de experimentar toda essa montanha-russa de sentimentos novamente. É o medo de passar por isso que pode levá-lo a passar, por assim dizer. 

Mas isso não é uma regra, afinal, como foi dito, nem sempre o gatilho é evidente e ele pode ser múltiplo. O de Wanessa, por exemplo, era o medo de morrer acarretado de uma infância marcada por acidentes que, de certa forma, expuseram sua fragilidade humana desde muito jovem. 

E falando em jovens, eles são os mais atingidos: segundo a Organização Mundial da Saúde, a Síndrome do Pânico (ou Transtorno do Pânico, conhecido como TP) já atinge de 2 a 4% da população, uma parcela bastante alta, com pico entre os 20 e 24 anos de idade, sendo que normalmente acomete pessoas acima dos 14 anos.

O cérebro

Apesar de gerar sintomas físicos, quando os pacientes portadores da síndrome são submetidos a exames clínicos, geralmente nada é encontrado - e daí é que vem a frustração. Como assim eu não tenho nada se me senti à beira de um precipício? Pois é, porque todo esse desdobramento aconteceu somente em seu cérebro, mais especificamente na região central dele. 

Segundo o psiquiatra Cyro Masci, nosso cérebro foi sendo formado aos poucos, seguindo o processo de evolução de todos os seres vivos. "É como se fosse uma casa que foi ganhando "puxadinhos" para atender às necessidades que foram surgindo." A ansiedade, por exemplo, é um mecanismo de defesa natural muito utilizado por nossos antepassados para se prevenir de ataques, ou seja, era seu corpo avisando para que ele ficasse alerta.

Seguindo a explicação de Cyro, a primeira parte do cérebro surgiu para atender às necessidades básicas de sobrevivência e exigia poucas funções essenciais. "Por exemplo, colocar o corpo em movimento para ir em busca de alimento e também disparar um alarme de emergência diante de perigos no ambiente, como fugir de outros animais para não virar comida”.

Mas com o passar do tempo, a sociedade evoluiu e ganhou novos ares e até novas ameaças. Nosso cérebro, portanto, foi tendo que adaptar-se às mudanças e, em um processo evolutivo, desenvolveu uma nova região do cérebro, mais sofisticada por assim dizer: a amígdala cerebral. 

Trata-se de um grupo de neurônios localizados nas profundidades do lobo temporal (lateral), de tamanho pequeno e que fazem parte do sistema límbico, processando as emoções. A Síndrome do Pânico ocorre quando essa região está desregulada e emite falsos sinais de perigo. "Imagine um carro que possua alarme contra ladrões, que é a nossa amígdala cerebral. Esse dispositivo tem que existir para proteger o veículo”, diz o psiquiatra ao Terra,

Quando esse alarme estiver desregulado, ele irá reagir a estímulos errados ou então tocará 'do nada', sem motivo algum. "O sistema de alarme desregula, toca por motivos errados ou sem motivo algum e gera informação errada de que há um grande perigo acontecendo", complementa Cyro Masci.
É mais ou menos isso que acontece na Síndrome do Pânico: o seu cérebro entende que está sob ameaça e coloca todo o seu corpo para reagir diante dessa ameaça, ainda que ela não exista de fato ou esteja sendo superestimada. Mas como e por que essa espécie de alarma desregula?
Em geral, por excesso de estímulos, o que não seria uma grande novidade em uma sociedade tão acelerada. Mas ele pode ter sido acionado diversas vezes na infância, seja por excesso de situações traumáticas ou estressantes, como foi o caso de Wanessa, ou em outro período da vida. "A genética também contribui, mas até o momento a ciência não sabe exatamente qual gene está alterado", diz Cyro.

Na fase aguda, o indivíduo pode sentir até mesmo pontadas no peito e falta de ar, o que o leva a crer que está tendo um infarto, por exemplo. Há ainda outros sintomas, como sudorese excessiva, tontura acompanhado de náusea, formigamentos e tremores, sensação de pernas bambas, calafrios ou ondas de calor e, nos piores casos, até mesmo um desmaio pode acontecer. O tratamento é completamente individual, e precisa fazer sentido para a pessoa que sofre desse mal. Há diferentes abordagens psicoterapêuticas, com sessões de terapias específicas para isso, como a hipnose, ou uma abordagem psicanalítica para entender a origem do medo.  Há ainda as abordagens medicamentosas e, para isso, é preciso o acompanhamento de um médico psiquiatra. São muitas as opções de remédios no mercado e também não há uma resposta certeira de qual fará melhor para você, é preciso testar ao lado de um profissional.  Importante reforçar que, no caso da abordagem psiquiátrica, é sempre proveitoso ter um psicólogo acompanhando junto pois, enquanto o paciente não entender a origem dos seus medos e identificar os primeiros sinais de uma crise e seus gatilhos, ele não conseguirá lidar de forma mais profunda com a situação, somente irá gerenciar crises.  Ter uma rotina, sobretudo do seu sono, não só deve como pode te ajudar e muito a manter seu corpo mais controlado. Exercícios físicos, como sempre, ajudam principalmente na liberação de hormônios importantes para a sua sensação de bem-estar e também para fortalecer ainda mais sua rotina.  Para alguns pacientes, se afastar de substâncias como álcool e outras drogas será necessário, pois elas podem agir como gatilhos para novas crises. Vale ressaltar, ainda, que alguns medicamentos como anfetaminas (usados em dietas de emagrecimento) ou drogas (cocaína, maconha, crack, ecstasy, etc) podem aumentar a atividade e o medo, promovendo alterações químicas que podem levar ao transtorno do pânico, como ressaltou a psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva em seu site. Não tenha vergonha de procurar ajuda, pois sem tratamento, a Síndrome só tende a piorar. É preciso estar acompanhado de bons profissionais e reconhecer seus gatilhos. Saúde mental é tão importante quanto a saúde física, como sempre reforçamos por aqui, e é parte do processo que pode te levar a uma qualidade de vida e, porque não, a uma longevidade.

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