Para Inspirar
Representando o pilar relações, Geyze e Abilio Diniz dividem um pouco de sua trajetória de amor, no último episódio do Podcast Plenae
26 de Julho de 2020
Leia a transcrição completa do episódio abaixo:
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Abilio Diniz: Eu sempre tive grandes metas na vida. Sempre busquei me superar. Sempre fui uma pessoa competitiva em busca de conhecer e desafiar meus próprios limites. Isso valia para o meu trabalho, para os meus esportes que praticava e para minha vida. Eu tinha sido casado e tive quatro filhos: Ana, João, Adriana e Pedro. Posso dizer que tinha uma boa relação familiar, meus filhos sempre foram muito, muito importantes para mim. Sempre dei valor para relações pessoais, sempre soube que elas eram importantes, mas hoje eu percebo que faltava alguma coisa.
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Introdução: Bem-vindo ao Podcast Plenae, um lugar onde você encontra histórias reais para refletir. Ouça e reconecte-se.
No episódio de hoje, a história do empresário Abilio Diniz e de sua mulher, Geyze, é um exemplo de como a vida pode dar uma guinada para quem se abre para viver um amor. Eles representam o pilar Relações. No final do relato você ouvirá reflexões do monge Satyanatha, nosso convidado especial dessa temporada, para ajudar você a se conectar com o seu momento presente.
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Abilio Diniz: Não é simples explicar o que faltava, porque sinto que a razão de ser dessa falta não estava nas outras pessoas, mas em mim mesmo. Depois da separação em meu casamento, passei 14 anos focado no crescimento do Grupo Pão de Açúcar e de outros projetos profissionais. Nesse período, além dos meus filhos, eu tinha uma namorada, amigos e parceiros de trabalho. Havia muitas pessoas à minha volta, mas na realidade, eu estava fechado para relações profundas. Eu sentia algum incômodo com isso, eu sentia uma grande solidão.
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Geyze Diniz: Eu me formei em Economia e fui trabalhar no Grupo Pão de Açúcar. Essa foi uma conquista importante para a minha carreira, não só porque eu entrei em uma empresa sólida com boas oportunidades, mas porque eu fui muito feliz lá.
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Eu gostava do trabalho, gostava das pessoas. Era um clima realmente positivo. Eu entrei na empresa como trainee do então superintendente do grupo, homem abaixo do Abilio Diniz na hierarquia. Eu já tinha visto o Abilio algumas vezes, mas a gente não se conhecia. O Pão de Açúcar era uma empresa que dava espaço pra criar, se desenvolver, construir. Eu me dediquei muito e cheguei ao cargo de Diretora de Planejamento Estratégico. Tenho muitas boas lembranças daquela época.
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Abilio Diniz: Eu tinha 63 anos de idade e, naquele momento, tinha certeza que já tinha vivido minhas experiências como marido e como pai. Nem pensava em me casar novamente, muito menos ter filhos. Nem sequer namorar sério, até que um dia eu vi a Geyze.
Geyze Diniz: Quando eu nasci, o Abilio já tinha 36 anos de idade, eram muitas as diferenças que nos separavam. Um dia, numa tarde no Grupo Pão de Açúcar, uma porta se abriu para nós, para mim e para o Abilio. E foi a porta de um elevador. Eu estava lá dentro, a porta abriu e o Abilio entrou. Eu não o conhecia pessoalmente, poucas vezes o tinha visto. Normalmente, as pessoas entram num elevador, e ficam de costas para quem está ao fundo. O Abilio ficou de frente pra mim, ele abriu um sorriso, e eu sorri de volta.
Abilio Diniz: Eu senti algo diferente quando vi a Geyze naquele elevador. Desde a primeira vez, senti uma grande necessidade de conhecê-la mais e me aproximar dela.
Geyze Diniz: Tivemos a sorte e a felicidade de nos encontrarmos. Num encontro de almas, como dizem alguns entendidos e eu acredito muito nisso. Antes da gente se envolver, começamos a conversar. Conversamos muito sobre todos os assuntos importantes pra nós. Essas conversas foram essenciais para construirmos uma base de companheirismo e de confiança, que temos até hoje. Quanto mais o conhecia, mais eu tinha a certeza de que aquela relação era diferente, que era algo pra valer e que um sentimento forte tomava conta de mim. Minha vida profissional continuava a mil e precisei fechar os ouvidos pra todos comentários maldosos que vinham naquele momento. Afinal, eu estava namorando o dono da empresa. O tempo foi passando, nossa relação foi ficando cada vez mais séria e estruturada, mas em algum momento, passei a sentir que pra equilibrar a minha vida e me sentir plena e feliz, era importante construir uma família, casar e ter filhos. E isso tinha que acontecer com o Abilio.
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Abilio Diniz: Nosso namoro ia bem, muito bem. Nossas intensas conversas eram uma fonte de força para nós dois. Com a Geyze, eu senti pela primeira vez que eu poderia me entregar para uma pessoa na minha vida. Era diferente de tudo que eu tinha vivido e experimentado. Estávamos felizes namorando, passando tempo juntos, tudo era muito natural, porém, eu ainda tinha certeza que não queria casar e não queria ter filhos. Não era nenhum ponto de discussão para mim, era uma decisão sólida da minha parte e um ponto grave em discordância. Então eu tive medo, pensar no fim de um relacionamento tão profundo era doloroso. Então, decidimos buscar ajuda.
Geyze Diniz: Eu sentia que estava aberta para enfrentar o que viesse pela frente em nome desse amor. Fomos a terapia de casais e depois da primeira sessão eu tinha certeza que aquilo não daria em nada. O Abilio e o terapeuta estavam se comunicando bem e eu não conseguia me fazer entender. O Abilio já tinha vivido muito, tinha muita experiência e eu não sabia como fazer enxergar o meu lado, o que eu estava sentindo. Parecia naquele momento que não haveria uma solução, e seria muito triste nos trancarmos de novo em nossos mundos particulares, cada um dentro de si, depois de tantas conquistas juntos.
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Abilio Diniz: Em uma das sessões de nossa terapia, algo diferente aconteceu. Eu estava ouvindo a Geyze explicando o que sentia, o que pretendia com a nossa relação, o casamento, os filhos. De repente percebi como eu poderia lutar contra os planos dela, se era ela que estava correta. Eu sempre corri muito atrás do que eu queria, mas a vida me deu a chance de não estar mais sozinho e eu precisava me equilibrar com os projetos de quem estava comigo. Afinal, agora esse projeto não era só dela ou meu, era nosso. Ela estava falando de nós, eu concordei em formarmos uma família sem saber exatamente o que essa vida me reservava aos 63 anos de idade. Me abri para confiar em nós, me abri para me reinventar.
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Geyze Diniz: Primeiro fomos morar juntos. Depois de quase três anos, Abilio em uma de nossas viagens a trabalho a Paris me pediu em casamento num de seus restaurantes favoritos. Estávamos só nós dois, e embora pareça uma atitude usual, este foi um dos momentos mais marcantes da minha vida, pois aquele pedido não significaria apenas uma celebração ou uma festa, mas um marco, uma mudança de fato, de tudo que viria pela frente. A partir daquele momento passaríamos a ser uma família.
Abilio Diniz: Foi em setembro de 2004, nós nos casamos em dezembro. Nosso casamento foi um momento de renovação para mim e foi a concretização de algo muito planejado e desejado por mim e pela Geyze. Subimos ao altar com a música "Como É Grande o Meu Amor Por Você" e ali confirmamos essas palavras. Estávamos vivendo de fato um grande amor. Achava que meu momento como marido e pai tinha acabado, mas não, estava começando um novo jeito, um jeito diferente, um jeito especial.
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Geyze Diniz: Nosso casamento sempre foi repleto de momentos muito bons, mas como qualquer relação, tivemos também fases desafiadoras.
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Uma das coisas que nos ajudou a superar as dificuldades foi a fé que temos em Deus e o quanto isso é forte pra nós. A nossa capacidade de conversar e o respeito que temos um pelo outro e por nossas opiniões também foram outros fatores determinantes. Desde o começo do nosso relacionamento, desde o início eu reforcei com o Abilio que na empresa ele era "o cara" e eu uma funcionária. Tudo certo com isso. Lá ele poderia ser 99% e eu 1%, mas em casa, na nossa vida pessoal, éramos um casal, 50, 50. Onde decidiríamos juntos o que fosse relativo a nós e assim foi, e é, até hoje. Isso nos permitiu separar as pessoas jurídicas das pessoas físicas e podermos viver nosso amor com todos os espaços para opiniões. Um fato muito marcante na nossa trajetória foi um episódio ligado a negociação do Grupo Pão de Açúcar com o Casino. Os últimos anos dessa negociação foram marcados por muita angústia e dúvidas e só saímos bem dela porque tínhamos bases fortes consolidadas na nossa vida pessoal, nos nossos valores, e volto a dizer, na fé que temos em Deus.
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Um dia durante esse período, lembro de olhar para o Abilio e dizer uma frase que é atribuída a Einstein a qual eu gosto muito: "Não adianta fazer a mesma coisa esperando resultados diferentes". Precisamos mudar o jeito que estamos fazendo. E foi por ele sempre levar em consideração as minhas opiniões que conseguimos mudar a rota e sair daquele círculo vicioso e concluirmos com sucesso aquela negociação.
Abilio Diniz: Ao longo da minha vida passei por situações estressantes e desgastantes. O que mais me marcou nestes momentos foi a solidão. Quando olho para trás lembro de contar azulejos enquanto nadava na piscina para tentar me distrair e chegar em casa e não ter ninguém com quem conversar. O que mais me assombrava eram os fantasmas da madrugada. Com insônia crônica, passava as noites acordado pensando nos piores cenários. A presença da Geyze na minha vida é marcante. Nesse momento crítico da minha vida profissional, já ao lado dela, a solidão foi substituída por longas conversas na praia de mãos dadas, troca de conselhos sempre apoiados na experiência de negócio dela e muito companheirismo.
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Geyze Diniz: Aprendizado constante é uma coisa que ao longo da nossa trajetória eu sempre admirei muito no Abilio, a vontade dele em ser um eterno aprendiz, como ele costuma dizer. Eu ainda trabalho, tenho projetos em progresso, conquistei muito do que queira profissionalmente e quero ir mais longe. Mas eu não esperava que teria uma vida tão feliz equilibrando tudo: maternidade, casamento, trabalho e projetos pessoais. E que seria assim que eu viveria a minha melhor vida. Quando eu olho para trás são 20 anos de relacionamento. Não teve nenhum momento que eu penso que não valeu a pena Nós crescemos muito juntos e ainda aprendemos todos os dias.
Abilio Diniz: As boas relações te trazem uma qualidade de vida maior e você tem que estar aberto. Hoje me relaciono melhor com meus filhos mais velhos, com toda minha família, com as pessoas que passam pela minha vida. Estar presente é estar comigo, é estar aberto para o outro, para conhecer os outros.
Geyze Diniz: Eu acho que a nossa história mostra que é possível. Apesar de todas as diferenças e dos objetivos pessoais, é possível se abrir para relações profundas. Estar aberto pra conhecer e respeitar o outro pode transformar nossas vidas. Transformou a minha e a do Abilio.
Abilio Diniz: Eu te amo.
Geyze Diniz: Eu te amo.
Abilio Diniz: Porque eu te conheço.
Geyze Diniz: Porque eu te conheço.
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Satyanatha: Chegamos ao fim da história da Geyze e do Abilio. A história deles é marcada por uma série de ousadias por parte dos dois. Ambos romperam os próprios padrões. Quando eles se encontraram, o Abilio talvez estivesse um pouco cansado da pessoa que ele era com aquela rotina e relacionamentos superficiais. E às vezes, quando a gente está pronto pra se transformar o outro vira um catalisador da nossa mudança. O Abilio foi abrindo a porta para a Geyze entrar na medida que ele conseguia, porque a coragem é algo gradual. Eles foram nessa dança até a sessão de terapia de casal quando o Abilio viu nela algo que ele também tem dentro de si, a garra e a convicção de perseguir os próprios sonhos. Num mundo em que os humores e a atração física oscilam tanto, a admiração é uma das qualidades que fortalecem o relacionamento duradouro. A gente não se transforma por qualquer um, é preciso amor e admiração para eu aceitar me transformar. Cada nova chance de amar é uma curva diferente de um espiral, não será uma repetição se a gente tiver abertura para amar e se transformar.
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Finalização: Nossas histórias não acabam por aqui. Acompanhe semanalmente novos episódios e confira nosso conteúdo em plenae.com e no perfil @portalplenae no Instagram.
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Para Inspirar
Quem são os jovens evangélicos que buscam quebrar a imagem conservadora atrelada ao dogma e deixar velhos preconceitos no passado
31 de Janeiro de 2024
A Igreja Evangélica possui uma força ímpar em um
país como o Brasil: de um lado, reúne hordas de seguidores, ocupa cadeiras
políticas importantes e não para de crescer. Por outro, gera desconfiança, é
constantemente atrelada a preconceitos e conservadorismos e levanta dúvidas
quanto às suas correntes.
Neste artigo, vamos te explicar um pouco mais sobre o surgimento dessa religião e como os jovens evangélicos estão buscando quebrar velhos paradigmas e revolucionar a imagem dessa filosofia.
A história da Igreja Evangélica é longa, porque
caminha junto com a história da reforma protestante ainda no século 16, como conta esse artigo da BBC. Mesmo aqui no Brasil, as diferentes correntes
também começaram a chegar na mesma época, mas se consolidaram de verdade no
século 19 graças à abertura dos portos brasileiros às nações amigas e maior liberdade
religiosa.
Da reforma protestante mencionada,
surgiram os chamados protestantes, pois protestavam contra as imposições da
Igreja Católica na época. De lá para cá, essa grande vertente se dividiu em
três outras menores: os protestantes históricos, os pentecostais e os
neopentecostais.
Ainda segundo a BBC, no Brasil,
os protestantes históricos incluem as igrejas Luterana, Batista, Presbiteriana,
Metodista, Episcopal, entre outras. Os pentecostais tem entre seus integrantes
Assembleia de Deus, Deus é Amor, Evangelho Quadrangular e Congregação Cristã do
Brasil. Por fim, os neopentecostais incluem Renascer em Cristo, Igreja
Universal do Reino de Deus, Sara Nossa Terra, Igreja Internacional da Graça de
Deus e Igreja Mundial do Poder de Deus.
Atualmente, segundo dados do
Datafolha de 2016, a cada 100 evangélicos, 44 são ex-católicos. Desses 100, 34
são da Assembleia de Deus, 17 são de igrejas que não pertencem a nenhuma grande
denominação, 11 da Igreja Batista, oito da Universal, seis da Congregação
Cristã do Brasil, cinco da Quadrangular, três da Deus é Amor, dois da
Adventista e dois da Presbiteriana, entre outros.
Um estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada) feito em 2021 revelou que as 87,5 mil igrejas evangélicas com CNPJ
representavam sete em cada dez estabelecimentos religiosos formalizados no
país, enquanto católicas eram 11% do total.
Isso representa um aumento imenso em relação a 1998, primeiro ano contemplado na pesquisa. Os locais de culto evangélicos somavam então 26,6 mil, ou 54,5% do todo. O pentecostalismo e sua variante neopentecostal dominam o bolo religioso. São as pequenas igrejas, "aquelas de bairro", que puxam o crescimento - como conta o jornal Folha de São Paulo.
Como você pôde perceber, a religião evangélica
evoluiu muito em pouco tempo, principalmente se comparada à história do
catolicismo, que se mantém bastante uniforme há centenas de anos. O primeiro
deputado evangélico brasileiro, para se ter uma ideia, foi o pastor da Igreja Metodista
Guaracy Silveira.
Ele chegou à Assembleia
Constituinte em 1930, ou seja, há menos de cem anos, com o objetivo de defender
os interesses dos protestantes e sua participação na política. Mas suas
bandeiras eram bem modernas, por assim dizer, quando pensamos nos deputados evangélicos
atuais, declaradamente conservadores.
Guaracy Silveira era a favor do
divórcio e de aulas religiosas no ensino público, além de ter sido contra o uso
do nome de Deus na Constituição. De lá para cá, as pautas mudaram - e muito! -,
bem como a representação dos evangélicos na política: eles são 30% dos
eleitores e 20% da Câmara dos Deputados.
Se Guaracy apresentava ideias
hoje consideradas progressistas, nas últimas 9 décadas os evangélicos buscaram
se atrelar à pautas conservadoras. Mas, como toda história é cíclica na
história do mundo, ela parece estar girando novamente. Os jovens evangélicos
têm buscado criar um ambiente e um caminho livre de preconceitos e de exclusões
sem abandonar a palavra de seu Deus.
Um termo que ganhou força nos
últimos tempos é o de “webcrente”, que se inspirou em um outro termo mais
antigo: “webamizade”. Os dois trazem o prefixo web pois trata-se de relações
que se dão no ambiente virtual. A diferença é que o webcrente ainda tem um
outro objetivo, que é aproximar a comunidade jovem evangélica que busca se
encontrar nas redes sociais.
A hashtag nasceu em 2020, quando
o evento norteamericano "The Send" desembarcou em terras brasileiras pela
primeira vez. O movimento, como explica aGazeta do Povo, tem uma
premissa bastante literal: engajar e “enviar” cristãos “comprometidos a
transformar universidades, escolas e nações”.
O evento ficou entre os assuntos
mais comentados no Twitter durante os seus três dias de duração e ainda
levantou expressões específicas da teologia evangélica, além de comentários
sobre as atrações que estiveram presentes. Foi a partir daí que essa grande
comunidade evangélica, que buscava espaço para debater temas de seu interesse
no ambiente online, tomou impulso.
Apesar de ser difícil
estabelecer, exatamente, quando a expressão webcrente foi cunhada, a sua
criação é atribuída à mercadóloga Sara Fabiane, de 22 anos, frequentadora da
Igreja Batista da Lagoinha. “Eu sempre gostei de K-pop (pop coreano) e, graças
ao Twitter, encontrei outras meninas evangélicas que são fãs. Onde, além da
internet, eu encontraria crente que ouve K-pop? (...) [A hashtag] é só um jeito
de nos encontrarmos na rede. A gente não se encaixa no estereótipo do crente de
saia”, explicou ela à Gazeta do Povo.
Em uma pesquisa rápida no
Instagram, a hashtag apresenta mais de 50 mil resultados que vão de memes,
frases de efeito e até vídeos e um lifestyle cristão. Todos eles possuem a
juventude como centro. No TikTok não é diferente: são milhares de adeptos ao termo
e por lá, as trends (vídeos que são tendência e copiados pelos usuários) são
uma febre.
O Twitter, por fim, por ser
provavelmente o mais veloz de todos eles - afinal, não demanda grandes
produções ou edições de vídeo, - alavancou a presença evangélica a ponto de
impactar transformações no mercado - e no dia a dia das igrejas, explica o jornal.
“Quem está vendo de dentro tem a sensação de que é uma comunidade. Eu sempre insisto no Twitter que não é mais necessário ser um pastor ou alguém com títulos para compartilhar sua experiência, e isso abriu a porta para várias pessoas que estão ali e são cabeças pensantes. Às vezes, a comunidade webcrente faz mais barulho do que as personalidades cristãs que têm milhões de seguidores”, diz Bruna Santini, uma das influenciadoras mais populares desse universo.
Além de atraírem novos fiéis,
uma parte - e não toda, vale dizer - ainda busca trazer renovação para velhos
ensinamentos. Pastores como Henrique Vieira, deputado conhecido por debater pautas sociais e
apoiar governos de esquerda, é um dos nomes mais influentes nessa movimentação.
Gregory Rodrigues, pastor e homossexual, também é
um nome influente.
Outros nomes são o da atriz Bruna Marquezine e da cantora Priscila Alcântara - que chegou a se apresentar
no The Send e ter uma carreira toda focada na música gospel. Ambas rejeitam as
velhas diretrizes do movimento evangélico e já até foram alvos de duras
críticas de grandes figurões da religião.
Bruna contou a um podcast que deixou de ir à igreja, mas
continua com a sua fé. Priscila também buscou se desatrelar do universo gospel,
mas defende sempre que essa ruptura em nada abalou a sua conexão com o divino. Movida por essa falta de
identificação, a cantora Ludmilla criou suaprópria célula, nome dado
a um encontro promovido para expressar a fé e compartilhar leituras e a palavra
de Deus.
A comunidade webcrente não é
homogênea, mas seus principais representantes buscam se desvencilhar de
política ou de dualidades como esquerda e direita, ao passo que buscam discutir
temas atuais como racismo, homofobia e outros tipos de
representatividade.
Essa postura é conhecida como
“movimento calvinista reformado”, nascido nos Estados Unidos entre 2000 e 2010
e que busca combater os excessos das igrejas pentecostais e neopentecostais. Os
webcrentes são profundamente ortodoxos na essência. Este crente contemporâneo
não rejeita o debate moderado, então sempre haverá conflito se um pastor fizer
o antigo combo de reacionarismo e fé”, avalia Eric Balbinus, ex-integrante do
Movimento Brasil Livre (MBL), à Gazeta do Povo.
“O crente tende a ser mais
conservador, mas o progressismo está ganhando espaço. Eu sou um cara de direita
que sei que tenho que tomar muito cuidado com o que digo porque a galera pode
se ofender. A maioria defende pautas sociais a partir de forças do governo,
defende redistribuição de renda, entre outras medidas; mas aceita dialogar com
quem tem uma produção teológica respeitável” pontua Yago Martins, 28, pastor e
dono do canal Dois Dedos de Teologia ao mesmo jornal.
Em 2020, a Aliança Nacional
LGBTI+, movimento que reúne entidades políticas e religiosas, informou que
acionou Ana Paula Valadão na Justiça por homofobia,
comparando a fala da pastora, que defendia ser a Aids uma punição divina para a união
homoafetiva, aos discursos de Adolf Hitler, como contou o jornal El País.
Nesse mesmo ano, movimentos de
evangélicos progressistas, como "Cristãos Contra o Fascismo" e "Evangélicxs pela Diversidade",
articularam candidaturas coletivas em várias cidades buscando fazer oposição ao
fundamentalismo religioso. Em São Paulo, o pastor batista Marco Davi de
Oliveira coordena um grupo de estudos sobre raça e evangelho com o objetivo de
combater o racismo dentro da igreja, enquanto a pastora metodista Lídia Maria
de Lima organiza eventos religiosos para fazer um alerta sobre a violência
doméstica e praticar o que chama de "teologia feminista”, como conta a BBC.
Os exemplos são muitos e não
param de crescer. O fato é que esse despertar parece ter vindo para ficar e,
porque não, renovar os ares dessa filosofia que tem a fé como principal
combustível, mas que ainda possui velhos preconceitos em suas engrenagens. Há
espaço para todas as crenças, contanto que elas não sejam excludentes a nenhum
público. E os jovens, como sempre, irão comandar essa verdadeira revolução
crente!
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