Para Inspirar

'Não existe apenas um único tipo de dieta saudável', diz Michael Pollan

Em novo livro, o escritor americano diz que viajar pode ser algo capaz de alimentar o corpo e a alma

15 de Julho de 2019


O escritor, ativista e guru da gastronomia Michael Pollan continua a explorar a relação entre a identidade humana e a comida em seu novo livro, How to Change Your Mind (Como Mudar Sua Mente, em tradução livre), no qual argumenta que experiências psicodélicas, tal qual o ato de viajar pelo mundo, podem ser algo capaz de alimentar o corpo e a alma.

Famoso por mantras como "Coma comida. Não muito. Principalmente plantas", o autor de O Dilema do Onívoro e Em Defesa da Comida (ambos da editora Intrínseca) explica como as pessoas podem seguir esse princípio quando viajam e discute como uma viagem é capaz de mudar nossa perspectiva do mundo.

BBC Travel - Por que viajar é bom para quebrar preconceitos e mudar mentes?
Pollan -
A neurociência mostra que nossos cérebros são máquinas de fazer previsões, que não registramos o mundo por meio de nossos sentidos em si, mas formulamos previsões baseadas na menor quantidade de informação possível. Viajar é como uma experiência psicodélica, porque vai contra essas previsões e nos obriga a obter mais informações - sensoriais ou não.

Começamos do zero em um lugar desconhecido, como uma criança quando deve absorver uma grande quantidade de informações, porque os atalhos da nossa percepção cotidiana - "já fui ali, já fiz isso" - não estão disponíveis. Isso nos abre para a experiência, cria a possibilidade de admirarmos algo ou nos maravilharmos com alguma coisa.

BBC Travel - Em suas viagens, quais foram alguns dos rituais ou crenças mais memoráveis com você se deparou?
Pollan -
Para mim, os rituais e crenças mais memoráveis ocorreram em torno da comida - todas as "práticas estranhas" e os alimentos que as pessoas apreciam e que eu não teria pensado em preparar ou ingerir. Então, tenho como regra experimentar a culinária local onde quer que eu esteja - seja comer formigas no Brasil ou no México ou um tofu fedorento na China. Às vezes, me deparo com algo com que tinha um preconceito e que acaba se revelando delicioso. Às vezes, não é, e fico maravilhado com as idiossincrasias do comportamento humano ao selecionar alimentos.

BBC Travel - Você é conhecido pelo mantra "Coma comida. Não muito. Principalmente plantas". Como as pessoas podem seguir esse princípio quando viajam?
Pollan - A palavra mais controversa que já escrevi é "principalmente", nessa frase. Isso irrita os vegetarianos, porque pensam que eu não estou apoiando seu ponto de vista, e também quem come carne, porque soa como um insulto aos seus hambúrgueres. Ficamos incomodados com advérbios como esse. Ficamos incomodados com a moderação.

Nós realmente queremos uma conclusão sólida: não coma carne ou coma todo tipo de carne, e acho isso errado. Em geral, tento comer os alimentos locais quando viajo, pela experiência e novidade, e muitas vezes a parte da moderação desaparece. Mas a pergunta a ser feita nesta ocasião é: O que é comida neste lugar? Qual é a dieta tradicional? E então experimente isso.

As chances são grandes de que seja uma dieta saudável, porque as dietas tradicionais são saudáveis por definição - elas mantiveram as pessoas vivas por muito tempo. Quanto às plantas, existem uma variedade limitada de animais de carne, enquanto há uma infinidade de plantas, então, é muito provável que você tenha novas experiências alimentares se explorar as frutas e verduras de um lugar em vez de suas carnes.

BBC Travel - A comida é indiscutivelmente parte da cultura de um lugar como a língua ou a religião. O que comer ao redor do mundo ensinou sobre pessoas e lugares diferentes?
Pollan -
Isso tem sido uma forma poderosa de me lembrar que humanos são uma das poucas criaturas verdadeiramente onívoras que a evolução produziu. Esta qualidade é precisamente o que nos permitiu prosperar em seis dos sete continentes, criando belas culinárias a partir do que a natureza tem para oferecer em qualquer lugar do planeta. Isso definiu nossa espécie e moldou nosso destino.

Contexto é tudo. Nós tendemos a olhar para a comida como boa ou ruim. Mas você não pode separar o nutriente da comida, porque a comida tem uma estrutura. E você não pode separar a comida da dieta e a dieta da cultura e do estilo de vida. Todas essas coisas estão conectadas. Então, afirmar que uma comida é boa ou ruim é algo difícil de fazer.

Mas há exceções: refrigerante é uma delas, porque é basicamente açúcar puro processado. Não há uma única dieta saudável. Essa é a principal lição de estudar a dieta de forma transcultural. Você vê que as pessoas são saudáveis com uma enorme variedade de alimentos. Nós somos onívoros.

Os seres humanos criaram, por tentativa e erro, um número quase infinito de dietas saudáveis, construídas a partir de qualquer coisa que a natureza ofereça onde quer que vivam. Baseadas no que está disponível, no que funciona e é considerado bom por estas pessoas - não em marketing, moda ou ciência de alimentos. A única exceção é a dieta ocidental moderna, que deixa as pessoas doentes.

BBC Travel - Quais são alguns dos costumes culinários mais memoráveis, tradições ou hábitos que você experimentou e o que você acha que cada um deles diz sobre as pessoas que os praticam?
Pollan - Fiquei impressionado com a universalidade do nojo, enquanto emoção humana, e pela multiplicidade de alimentos que o evocam. Por exemplo, os chineses ficam tão enojados com queijo quanto nós por coisas podres. Na verdade, o queijo é uma espécie de leite podre, mas é claro que não o vemos assim.

Mas os chineses deixam o tofu apodrecer até ficar tão fedido que não pode servi-lo dentro de casa - e isso é uma iguaria! O mesmo ocorre com os coreanos com o kimchi. As culturas costumam celebrar esses alimentos "nojentos" mais do que quase qualquer outro, porque eles as definem. Somos comedores de kimchi ou comedores de tofu fedorentos. O que enoja os outros nos enche de orgulho. Quão estranho é isso?!

BBC Travel - De que outra forma a viagem mudou você?
Pollan -
Assim como ao usar uma droga psicodélica, a viagem relativiza a consciência e as experiências comuns e faz com que você aprecie que haja tantas maneiras de viver.

BBC Travel - Qual é um bom motivo para amar o mundo agora?
Pollan - É o único que temos.

Fonte: Alexander Bisley, para BBC
Síntese: Equipe Plenae.
Leia o artigo completo aqui.

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O corpo fala: o que são as doenças psicossomáticas?

Suas emoções não se restringem somente à sua mente. Quando em desequilíbrio, elas podem lhe causar problemas físicos

25 de Novembro de 2022


As emoções fazem parte de um mecanismo complexo do nosso corpo. Isso porque elas se dão no cérebro, movimentam uma gama de diferentes neurotransmissores, mas transcendem e podem afetar todo o seu corpo de forma física. Recentemente, te contamos aqui sobre a relação entre o que você sente e como isso afeta sua pele, a chamada psicodermatologia. É o caso do vitiligo, que te contamos por aqui também. 

Mas nossa mente vai além da pele. O assunto é tão complexo que foi tema de pesquisa de Regina Ramos, participante da décima temporada do Podcast Plenae. Ela, que sempre se dedicou aos estudos de psicologia, foi acometida por um câncer de estômago e passou de paciente a psicóloga. Impossível, porém, cravar que seu tumor tenha sido gerado por suas emoções, apesar de algumas pesquisas já indicarem uma possível relação, sobretudo o de mama

Por que isso acontece?

Primeiro, é preciso entender que corpo e mente não andam separados. Se você adoece fisicamente, isso afeta o seu humor, por exemplo. O contrário também é verdadeiro: se seus sentimentos não andam bem, isso em algum momento irá afetar o seu físico. 

O caso é que, como o nome já diz, as doenças psicossomáticas são resultado da soma de sintomas psicológicos que se tornam doença - no caso, físicas. Um dos principais órgãos afetados, além da pele que mencionamos, é o intestino, o nosso “segundo cérebro”, como te contamos neste Tema da Vez.


Por isso, não é raro você senti-lo afetado quando está com as emoções à flor da pele. Daí que vem a sensação de “dor de barriga” quando se está nervoso ou até mesmo as “borboletas no estômago” quando se está apaixonado, sentimento que provoca uma série de reações semelhantes à da ansiedade e ao do vício em drogas, lembra

Alexandre Walter Campos, neurocirurgião pelo Hospital Heliópolis (SP) e da Central Nacional Unimed, explica ao UOL que quase nada acontece no organismo sem que haja a participação do cérebro. "A interação cérebro-intestino, por exemplo, se dá desde o nível do sistema nervoso periférico, nos órgãos abdominais, até o sistema nervoso central em relação com o sistema límbico, 'circuito das emoções', e sistema neuroendócrino, que regula a atividade hormonal".

A ansiedade, o estresse e a depressão podem causar alterações de sono, apetite e perda de energia. "O componente psíquico está sempre presente em todos os casos", garante Wimer Bottura, psiquiatra e presidente da ABMP (Associação Brasileira de Medicina Psicossomática), em entrevista ao portal mencionado.

Segundo ele, os hormônios como adrenalina e cortisol, liberados por medo, tristeza ou estresse geram um desequilíbrio bioquímico e, consequentemente, uma alteração funcional. Ainda que ela não apresente um dano físico imediato, é a sua persistência que irá causar uma alteração estrutural, ou seja, a doença irá se concretizar dependendo da forma como esse paciente lidou com o problema. 

"O cérebro não trabalha com fatos, mas com informações sobre fatos e numa tentativa de se defender de uma ameaça não identificada pode reagir com manifestações relacionadas ao emocional. A maioria das pessoas que procuram atendimento de urgência não tem doenças, mas alterações funcionais que vão evoluir para algo se não tratadas", complementa Bottura ao portal de saúde.

Doenças como gastrite, diabetes, hipertensão, fibromialgia, artrite, asma, alergias, dores nas costas e outras partes do corpo como cabeça e pescoço, crise de falta de ar, taquicardia e diarréia são só alguns sintomas que podem porventura surgir e terem fundos emocionais.

Há ainda as doenças que se tornam crônicas, como úlceras, Síndrome do Intestino Irritável ou Doença de Crohn, enxaqueca e até algumas alergias alimentares. A falta de líbido e a impotência sexual, apesar de não ser crônica, pode perdurar por um tempo. 

Por fim, há casos em que os sofrimentos somados a pensamentos obsessivos culminam em sintomas extremos de cegueira e até paralisia, causando uma impressão de que se vai infartar, convulsionar ou ter um AVC. Essa paralisia causada pelo emocional é estudada há anos e, no começo do século XX, foi denominada pelo pai da psicanálise, Sigmund Freud, como Paralisia Histérica.

Diagnóstico e cura

Por terem fundo emocional, o diagnóstico dependerá bastante da anamnese, que é a entrevista do médico com o paciente, momento onde são levantadas questões mais subjetivas e pessoais. Exames até poderão ser solicitados para tentar identificar ao menos o local exato do sintoma, mas a sua causa exata será na base da conversa, exclusão de outras possibilidades e da conclusão do especialista.

Por isso, esse paciente está suscetível a sofrer por algum tempo em busca dessa resposta por considerar ser apenas físico, e ela pode acabar se viciando em realizar vários exames idênticos e/ou se consultar com diferentes médicos, sem ter sucesso. Isso pode ser prejudicial, sobretudo se envolver procedimentos invasivos e desnecessários, que podem oferecer riscos e até mesmo adiar o verdadeiro diagnóstico.

Por se tratar de doenças com fundo emocional, um encaminhamento ao psicólogo e até mesmo ao psiquiatra será indicado, mas será preciso cuidar do que se tornou físico com as devidas medicações, tratando simultaneamente a causa psíquica que gerou tudo isso. 

Converse com seu médico caso esteja sofrendo de algum mal há tempos e não tenha conseguido curá-lo ou entender o que o ocasionou. Você pode estar sofrendo de uma doença psicossomática. Mas fique tranquilo: elas têm cura!  

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