Para Inspirar

Os sonhos durante a quarentena

Como andam os seus sonhos na quarentena? Se a resposta for conturbados, a ciência pode te ajudar a entender o porq

2 de Junho de 2020


O mundo e o país se encontram em meio a uma pandemia, que subitamente nos obrigaram a estarmos fechados em casa, adaptando nossas rotinas e compreendendo as nossas novas limitações. Sem falar na quantidade de notícias que estamos consumindo, acerca do tema e de suas atualizações nem sempre muito positivas. Esse alto fluxo de novas informações refletiu, para muitas pessoas, em suas atividades oníricas, ou seja, nos seus sonhos. Mais do que alta quantidade, há diferentes relatos de pessoas alegando estarem sonhando com mais frequência, mais intensidade e em enredos estranhos, para se dizer o mínimo. Para entender o porquê disso acontecer, é necessário voltar duas casas antes e compreender a real função do sonho. Há diferentes linhas de pensamentos que estudam esse mesmo fenômeno . Para a psicanálise , por exemplo, o sonho nada mais é do que uma resposta do seu inconsciente a tudo que sua psique foi exposta, seja na vida ou somente naquele dia. É por isso que às vezes revisitamos eventos traumáticos, alegres ou até que nos passaram despercebidos enquanto dormimos. Ele é também o responsável por tocar em nossos mais profundos medos e desejos recalcados. para a neurociência , a atividade onírica tem um papel fundamental para nossa sobrevivência. Isso porque ela nos expõe a situações que poderiam acontecer na vida real, nos preparando para tais eventos antes mesmo de seu acontecimento. Por fim, a medicina como um todo entende que, enquanto sonhamos, ativamos áreas cerebrais nem sempre estimuladas ao longo do dia. Isso tem um ponto bastante positivo: enquanto estamos concentrados em sonhar, as outras atividades do nosso cérebro podem se concentrar somente em sua atividade principal, que é a regeneração de nossas células. Agora que entendemos o sonho sob diferentes óticas, vamos entender as possíveis razões que estão tornando esse momento do nosso dia um tanto conturbado durante a quarentena. Elaboração da realidade Seguindo a linha de raciocínio psicanalítica, os sonhos podem estar mais intensos na quarentena porque, naturalmente, estamos sentindo mais medo e sendo expostos à desafios completamente novos. Isso tudo nos afeta em algum grau, e o sonho pode ser uma tentativa que o nosso inconsciente encontra de elaborar todas essas incertezas, dar forma e rostos à ela, tornando mais fácil a compreensão a nível consciente desse momento. Uma equipe de cientistas está inclusive compilando esse material onírico para compilar e estudá-lo posteriormente. Formada por um grupo de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o grupo já reúne mais de 500 relatos. Ainda é cedo para se ter uma conclusão, como conta o professor Gilson Ianinni, da UFMG, para reportagem da BBC . Mas alguns padrões já podem ser analisados, como medos e angústias surgindo de formas metaforizadas, sensação de alívio ao perceber que não estão sozinhos e, enfim, uma melhor elaboração da realidade ao seu redor e do seu próprio sonho ao colocá-lo em palavras. Realidade estressante A falta de estímulos externos e a alta exposição a sentimentos como ansiedade, medo, incerteza e fúria, pode nos colocar em uma situação cerebral muito estressante, alterando até mesmo nossos níveis hormonais, como alta no cortisol e baixa na serotonina. Isso pode gerar, dentre outras coisas, uma má qualidade no sono, insônia ou até excesso de sono, vai depender do organismo de cada um. E, ainda que o sujeito consiga dormir suas horas necessárias, alega acordar se sentindo cansado, pois teve que despender energias também durante o sono, que deveria ser relaxante mas não é. Isso porque, para dormirmos bem, precisamos estar relaxados como um todo. Quem nunca foi dormir com um turbilhão de pensamentos negativos na cabeça e enfrentou dificuldades? A quarentena é como uma sucessão de noites como essa, o que acaba por refletir em nossos sonhos, já que estamos expostos a isso. Mais ciclos REM Ciclos REM são ciclos do sono que podem durar até 120 minutos e acontecer mais de uma vez por noite. É quando temos nossos sonhos mais vívidos, e também quando nossos olhos se movimentam mais rápido, pois é uma fase em que sua atividade cerebral está em pleno funcionamento. Alguns especialistas acreditam que estamos tendo mais ciclos como esse durante nosso sono, em especial os que estão dormindo mais tempo, pois há mais oportunidade desse ciclo acontecer. Por termos mais ciclos REM, consequentemente, temos mais sonhos vívidos e intensos. Atrelado às duas hipóteses anteriores, como exposição ao estresse, é a receita perfeita para os pesadelos. É nesse momento do sono que também costumamos acordar ou termos mais probabilidade de despertar. Logo, a matemática é simples: tendo mais ciclos como esse, temos mais chances de acordar durante um deles, o que torna mais fácil nos lembrarmos o que estávamos sonhando. Por isso essa impressão coletiva de estarmos não só sonhando mais, mas também nos lembrando mais de nossos sonhos. E você, sente que também tem sonhado muito? Talvez você se identifique com uma das hipóteses para isso estar acontecendo. A dica Plenae é: atente-se ao que sua mente quer te dizer. Escute-a, e simbolize essa mensagem. Anote seus sonhos em um caderno e fale com seu psicólogo, que irá te ajudar nessa imersão. O autoconhecimento pode ser um caminho longo e, por vezes, tortuoso, mas é extremamente vital para o nosso bom funcionamento, principalmente em termos delicados como esse que estamos vivendo. Cuide-se!

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Desmistificando conceitos: o que é o capacitismo?

Conheça o significado do termo e como ele se desdobra no nosso dia a dia, mesmo sem que a gente perceba

14 de Outubro de 2020


Se você já ouviu o quinto episódio da segunda temporada do Podcast Plenae - Histórias Para Refletir , então já conheceu a história do empresário Rodrigo Hübner Mendes. Nele, Rodrigo conta como sua tetraplegia mudou toda a sua vida - e não só a respeito de sua mobilidade.

De fato, Rodrigo pôde ressignificar e reconhecer o seu corpo como seu principal veículo de locomoção e detentor de sua essência - essa que mora dentro de nós e é imutável, independente do que aconteça com o nosso físico. Mas, mais do que isso, ele passou a olhar mais o mundo ao seu redor, e se deu conta de tantas pessoas que vivenciaram o mesmo trauma do que ele, mas com menos condições financeiras.

Para além desse lindo relato, o episódio de Rodrigo traz o tema da deficiência física ao nosso portal, assim como o fez Henry Zylberstajn na nossa primeira temporada Sabemos que existem diversas deficiências, de diferentes naturezas. Mas o que todos eles vivenciam em comum? O capacitismo.


Entendendo o conceito

Capacitismo é toda a discriminação, violência ou atitude preconceituosa contra a pessoa com deficiência e se expressa desde formas mais sutis até as mais gritantes, segundo definição dada pela psicóloga e palestrante Solyana Coelho ao Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.

Apesar de o termo não constar na Constituição Federal Brasileira, há uma lei promulgada em 2015, no Estatuto da Pessoa com Deficiência, que prevê a igualdade de oportunidades e tratamento como um direito à pessoa com deficiência, que não deve ser vítima de nenhuma espécie de discriminação.

Para a lei, “Considera-se discriminação em razão da deficiência toda forma de distinção, restrição ou exclusão, por ação ou omissão, que tenha o propósito ou o efeito de prejudicar, impedir ou anular o reconhecimento ou o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais de pessoa com deficiência, incluindo a recusa de adaptações razoáveis e de fornecimento de tecnologias assistivas.”

O conceito, segundo a escritora Leandra Migotto para o portal AzMina , “está associado com a produção de poder e se relaciona com a temática do corpo por uma ideia de padrão corporal perfeita; também sugere um afastamento da capacidade e da aptidão dos seres humanos, em virtude da sua condição de deficiência.”


Na prática

O Capacitismo é um dos muitos preconceitos que temos arraigados na sociedade e acabamos perpetuando mesmo sem perceber. Quem nunca ofereceu uma ajuda não solicitada à um deficiente, partindo-se do princípio que ele não conseguiria realizar aquela tarefa simples?

Ou usou termos do tipo “não temos braço para fazer isso”, como quem diz não ter condição para realizar determinada tarefa? Há até as manifestações de surpresa diante da mera existência de um deficiente físico, como observamos no cartum de Ricardo Ferraz.                                 

Apesar de ingênuas e livre de más intenções, essas são atitudes capacitistas. A própria palavra deficiente, no dicionário da Língua Portuguesa, não possui cunho positivo, indica sempre uma falta, uma incapacidade. Percebe-se que o problema está na raiz e está em todos nós.

E está até mesmo ao nosso redor. Nossas cidades são capacitistas. Mas como, se elas não falam e, logo, não podem ser preconceituosas? Explicamos: elas foram feitas por pessoas que nunca se atentaram aos problemas que um deficiente pode enfrentar para se deslocar.

Ainda que a lei obrigue as “diferentes instâncias e instituições sociais, como o trabalho, o Estado, a escola, a famílias entre outros” a garantirem as condições necessárias para que uma pessoa com deficiência tenha direito a acessibilidade e ao desenvolvimento independente, nem sempre isso acontece.

O que não fazer

Conhecido como o maior canal sobre deficiência do YouTube Brasil, o canal “Vai uma mãozinha aí?” é feito pela youtuber Mariana Torquato, que conta como é o seu cotidiano “sobrevivendo sem uma das mãos”, como define a própria.

Mais do que dicas de penteados e dicas mais leves, Mariana também aborda discussões importantes e intensas a respeito do assunto tratado nesta matéria. Capacitismo, aliás, foi tema de um dos seus primeiros vídeos do canal, que você confere clicando aqui .

Um de seus vídeos, “Coisas que os deficientes não aguentam mais ouvir” fez tanto sucesso que ela criou a parte dois, com mais dicas do que não fazer quando estiver na presença ou não de um deficiente. Elencamos aqui alguns de seus ensinamentos ditos no vídeo:

  • Infantilizá-lo, como um garçom que pergunta ao acompanhante “o que ele vai pedir” e ignora sua própria capacidade de fazer o pedido
  • Tratá-lo como fonte constante de inspiração
  • Comparar suas experiências pessoais e assumir que, a partir delas, vocês dois experienciaram as mesmas dificuldades.
  • Dizer frases como “Deus sabe o que faz”, ou “reza para acontecer um milagre” ou “você deve ter sido ruim em uma vida passada”. Manifestações religiosas desse tipo são extremamente ofensivas.
  • Duvidar de sua vida afetiva, assumindo que todo acompanhante é familiar e, ao perceber que não é, parabenizar o parceiro por isso, como se o fato dele se relacionar com um deficiente fosse uma ação benevolente de sua parte.

Essas são só algumas situações elencadas por Mariana, com base em uma entrevista feita pela mesma com dezenas de deficientes. Ela também gravou u m vídeo dedicado especialmente à ditados populares capacitistas , como dizer “João sem braço”, “em terra de cego, quem tem olho é Rei” ou ofender alguém dizendo que essa pessoa “está surda” ou “é um retardado”.

Agora que você já sabe como o capacitismo é presente no nosso cotidiano, mesmo sem que a gente perceba, que tal nos policiarmos para fazer do mundo um lugar cada dia melhor e mais inclusivo?

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