Para Inspirar
De acordo com um novo estudo, as ligações entre os tipos de personalidade estão associadas a uma maior satisfação com a vida e persistem ao longo da vida.
4 de Janeiro de 2024
O que é capaz de trazer satisfação para a vida? Essa é uma pergunta sem resposta exata, afinal, trata-se de um questionamento individual. Mas há como medir, por exemplo, o bem-estar subjetivo de um povo, conceito que te explicamos melhor por aqui.
A métrica, amplamente estudada por pesquisadores da área de psicologia, pode explicar porque bem-estar e felicidade são compreendidos de forma diferente pelas pessoas. A verdade é que, desde os tempos mais remotos da história e da filosofia, a felicidade tem sido o tema central de diversos escritos, algo prioritário a se buscar na vida. Ter um propósito, como te contamos aqui, pode ser um bom caminho.
Mas agora, um estudo recente explora pela primeira vez se há mesmo certos tipos de personalidade que estão mais intimamente associados à satisfação na vida do que outros e se essas associações estão ligadas a fases específicas da vida ou se são verdadeiras em todas as idades.
O estudo, publicado no Journal of Personality and Social Psychology da American Psychological Association e replicado neste artigo da Medical News Today, é baseado no modelo de personalidade do que eles chamam “Cinco Grandes”, empregado por alguns psicólogos para descrever muitos comportamentos humanos. Mas vamos te contar melhor a seguir!
Em inglês “Big Five”, as “Cinco Grandes” são características agrupadas por cientistas, traços amplos de personalidade que caracterizam como uma pessoa pensa, sente e se comporta. Vale dizer que alguns psicólogos usam nomes ligeiramente diferentes para os traços que te contaremos a seguir.
Também é importante observar que nenhuma personalidade pode ser descrita exclusivamente por qualquer tipo, já que são descritos por suas expressões mais extremas, e a maioria das pessoas não possui só um deles, mas sim uma combinação. São elas:
Abertura: essa é uma característica presente em uma pessoa que está aberta a novas experiências. Quando ela é muito aberta, pode se tornar excêntrica. Do contrário, alguém inflexível e tem a mente fechada.
Conscienciosidade: apesar do “palavrão”, ela descreve um workaholic perfeccionista e motivado com alta consciência. Seu oposto seria uma pessoa irresponsável ou distraída.
Extroversão: essa já é mais conhecida e descreve uma pessoa social que também pode buscar excitação e atenção. Com falta de extroversão, a pessoa é retraída ou pode ser fria com os outros.
Amabilidade: descreve pessoas que desejam se dar bem, talvez altruístas em suas tentativas de fazê-lo e um tanto submissos e crédulos. Sua ausência pode acarretar manipulação, indiferença ou suspeita.
Neuroticismo: essa última descreve pessoas inseguras, excessivamente emocionais e talvez indefesas. Baixos níveis de neuroticismo estão associados ao destemor e à falta de vergonha.
Por fim, os pesquisadores ainda ressaltam que o equilíbrio e estabilidade emocional se dá quando uma pessoa não é nem altamente neurótica e nem pouco neurótica.
Falamos por aqui algumas vezes sobre gratidão. Há o lado extremamente positivo na prática, tão positivo que foi, com o tempo, sendo banalizado em discursos vazios para as redes sociais por pessoas que não verdadeiramente a praticam - o que afastou os demais de colocar esse sentimento em sua rotina.
O que já sabemos é que a gratidão é um belo exemplo de que seus atos podem sim trazer mais satisfação com a vida. Afinal, se você treinar o seu olhar para enxergar as coisas belas do cotidiano e ainda tirar um tempo para agradecer mesmo pelo simples, você estará mais propenso a ser feliz.
Mas, para além das atitudes, o que os pesquisadores buscam entender agora é se a sua personalidade, aquela que nasceu com você e é inerente à sua existência, pode também te deixar mais propenso a ser feliz. E a conclusão é de que sim, as características que citamos no tópico anterior favorecem para que o sujeito que as possui seja mais feliz.
É claro que mudamos com o tempo e isso é na verdade bastante positivo na busca pela nossa melhor versão. Nossas personalidades não são fixas, mas a hereditariedade provavelmente desempenha um papel grande nisso tudo, algo em torno de cerca de 50% - mas há muita controvérsia em torno dessas estimativas, segundo Dr. Adam Feltz, ao Medical News Today.
O que sabemos é que há em nós alguns traços que carregamos por toda a vida, desde o nascimento, e é nesses traços que os cientistas estão de olho. Este estudo foi o primeiro a cravar que sim, os “Cinco Grandes” mencionados no tópico anterior estão mais ligados à satisfação ao longo da vida a longo prazo.
Além disso, foi o primeiro estudo a examinar a interação entre duas coisas que mudam à medida que as pessoas passam pelas diferentes fases da vida: o ambiente em que funcionam e as suas personalidades. Por exemplo, uma pessoa extrovertida pode aproveitar a vida durante a juventude, à medida que conhece novas pessoas e expande seus horizontes sociais.
Porém, antes não se sabia como essas mesmas pessoas se sentiam mais tarde na vida, quando os seus relacionamentos já foram amplamente estabelecidos e os padrões de atividade definidos. Dr. Feltz acrescentou que os dados sugerem que a personalidade é relativamente estável na primeira infância, tende a sofrer mudanças significativas durante a adolescência e depois se estabiliza novamente na idade adulta.
Mesmo assim, “as pessoas, em média, tendem a se tornar mais agradáveis com a idade. Através do trabalho em habilidades organizacionais, sendo mais abertos, mais amigáveis e extrovertidos, podemos aumentar nossa felicidade em diferentes áreas de nossa vida ao longo do tempo”, disse. Essa foi a segunda conclusão do estudo: a relação entre traços de personalidade e satisfação fica um pouco mais forte com a idade.
Feltz advertiu que é difícil encontrar ligações causais entre estabilidade emocional e satisfação. Ainda assim, ele diz que há algumas evidências de que aqueles que têm baixa estabilidade emocional ganham menos dinheiro ao longo da vida, o que pode contribuir para um baixo bem-estar subjetivo, aquele te falamos lá no comecinho.
Ele ainda acrescentou que essa baixa estabilidade emocional também pode prever uma saúde mental mais baixa na idade adulta e uma reatividade excessiva mais desafiadora aos estressores. Isso, consequentemente, também pode afetar os níveis de satisfação.
Por outro lado, há caminhos possíveis para atingir essa estabilidade emocional: sermos confiantes e confiáveis, previsíveis, termos uma boa atitude quando surgem desafios, não perdermos tanto tempo quando estamos numa crise e não deixarmos a neurose tomar conta de nossas atitudes: tudo isso te trará benefícios pois fará com que as pessoas queiram estar ao seu redor.
É possível modificar alguns traços de sua personalidade para tornar os seus dias melhores. Que tal colocar esse desafio como meta e focar nos “Big Five”? Você verá as mudanças no seu dia a dia!
Para Inspirar
Conhecido como o “amor mais forte do mundo”, a ciência explica como não é preciso gerar para que esse sentimento seja aflorado
7 de Julho de 2023
Chegamos ao final da décima segunda temporada e ela não poderia fechar de forma mais emocionante: com o relato de maternidade de Fabiana Fabris. Ela, que adotou 5 filhos - sendo 4 irmãos -, narra em seu episódio um pouco de como foram as suas tentativas de gestar e como ela entendeu que, para ser mãe, havia algo muito maior e mais profundo do que conseguir engravidar.
Foi quando Fabris retomou um sonho antigo, que era o de adotar crianças com idade até mais avançada. O que ela não sabia é que essa jornada seria repleta de aprendizados, sendo que o principal deles foi a chave do sucesso: entender que o amor materno é, na realidade, uma construção. E é sobre isso que falaremos hoje!
Toda mãe é um pouco cientista, como já disse o ditado. Mas, em abril, às vésperas do Dia das Mães, fomos entender um pouco mais sobre essa relação entre ciência e maternidade. Chegamos a algumas curiosidades sobre o tema. São elas:
O simples toque de uma mãe, onde há um investimento de libido - essa energia que habita em todos nós - é capaz de acelerar processos de cura, diminuir dores, entre outros benefícios comprovados para a saúde.
A saliva materna também é capaz de curar e, até mesmo uma chupeta limpada pela boca de uma mãe já oferece esse benefício
A mãe é a porta de entrada para a linguagem, se tratando de bebês muito pequenos.
A figura materna é tão onipresente que há indícios de que os homens da caverna já possuíam sua própria forma de chamar pelas suas.
Mães que continuam trabalhando apresentam menos chance de ter depressão, mais energia e mais mobilidade.
Para as mães que gestam, o processo da gravidez envolve, dentre outras coisas, transmitir nutrientes e células pela placenta.
Além dessas curiosidades, sabemos também que há um processo hormonal complexo e muito benéfico que está intimamente ligado à maternidade. Estamos falando da liberação da ocitocina que, como te contamos aqui, é um dos hormônios ligados ao bem-estar.
Produzido pela glândula da hipófise, também localizada no cérebro, sua principal função é promover a saída de leite das glândulas mamárias, ou seja, muito importante para as mães que estão amamentando. Porém, no cérebro ela também tem apresenta funções que estão relacionadas ao cuidado, a sensação de amor fraternal, materno, paterno.
Estudos comprovam, aliás, que animais com mais ocitocina tendem a ter mais cuidado com filhotes e são mais sociáveis. Um “atalho” para liberar mais ocitocina é, por exemplo, segurar um bebê, ter um animal de estimação ou até mesmo ter uma planta - esse em menor grau. Tudo que estimule a sensação de cuidado trará junto a sensação de felicidade, aquela que sentimos quando estamos perto de um filhote.
Esses foram alguns dos muitos exemplos possíveis do que a ciência já estudou em relação ao amor materno, que é uma das manifestações mais antigas, potentes e analisadas do mundo. Mas, é importante lembrar que o amor materno é uma construção. Não é imediato e nem inerente a nenhum processo automático.
Todos os dias, mães se sentem confusas e pressionadas a sentirem esse mergulho intenso e prometido quando, na verdade, ainda não o sentem. E essa culpa materna, como te contamos aqui, vai se acumulando e se tornando nociva para as duas partes desse relacionamento: mãe e filhos.
Esse assunto é tão importante que dedicamos um Tema da Vez inteiro só para pensarmos na maternidade de forma mais ampla e livre de tabus ou preconceitos. A começar pelo famigerado instinto materno, refutado por diversos estudos que vão da psicanálise à antropologia, da sociobiologia à etologia.
Esse desejo pela maternidade, que muitas vezes é legítimo, outras vezes é influenciado em grande medida pela nossa cultura, estruturas políticas e econômicas. As mulheres têm filhos por várias razões, incluindo o desejo de satisfazer pais, maridos e amigos, pelo medo da solidão e até mesmo como investimento na velhice, o que está longe de ser um impulso de procriar.
Atrelar a maternidade a um suposto instinto biológico contribui para a construção da imagem da mãe que dá conta de tudo, pois seria “natural para ela”. Essa idealização gera uma enorme pressão, e é por isso que mulheres buscam quebrar o silêncio na busca de “desmascarar a maternidade”. É o caso de Katherine Wintsch em seu Ted Talk, onde ela revela que em um estudo com mais de 5 mil mães de mais de 17 países, todas, sem exceção, sofrem por não atingirem esse ideal.
Agora que desmistificamos essa ideia de que o instinto materno é real e que uma mãe nunca cansa e sempre ama o seu filho é lenda, podemos pensar também nas mães adotivas, que têm frequentemente o seu amor pelos filhos colocados em xeque por não terem gerado suas crias. Parece absurdo, afinal, adotar exige ainda mais intencionalidade do que engravidar, portanto, parte-se do princípio que essa mãe que adotou quis muito ser mãe.
Podemos começar por ela novamente: a ciência. Um estudo comprovou que o estímulo do cuidado de uma mãe adotiva libera a ocitocina que explicamos anteriormente tanto quanto a maternidade biológica. Essa ocitocina vai educando e explicando para o cérebro dessa mãe que ela agora é responsável por aquela vida, portanto, o senso de obrigação é o mesmo.
Essa modificação cerebral e esse hormônio se dão por meio de sorrisos, afetos positivos, elogios, palavras positivas e encorajamento ativo. Os testes demonstraram que, nos primeiros meses da adoção, a empatia dessa mãe está relacionada à uma imagem de crianças em geral.
Mas, com o decorrer do tempo, a produção de ocitocina é maior quando essa mesma mãe é exposta a imagens específicas do seu filho, o que demonstra como esse vínculo foi fortalecido ainda mais. O cérebro dessa mulher passa a se comportar de maneira bem próxima ao de uma mãe que gerou.
Para que a ciência seja colocada em prática, é preciso, claro, convivência. Por isso mesmo, a lei brasileira garante que pais que adotaram têm direito à licença parental, justamente porque entende-se que o trabalho é o mesmo ou até maior, pois exige essa conexão com o universo prévio dessa criança, que precisa se sentir segura e parte dessa família. Incluí-la em atividades, como demonstra essa pesquisa, é um caminho eficaz para isso, tipo jantares ou encontro com outros familiares.
Para Fernanda Fabris, personagem do nosso Podcast, o caminho encontrado foi entender primeiramente que essas crianças não precisam ser salvas e que você não está fazendo nenhum favor ao adotá-las, mas sim, que elas precisam ser amadas.
Em segundo lugar, entender que essa adaptação não tem que vir só da parte dessa criança, que ela precisa ser “fácil” para as coisas darem certo. Até mesmo porque, muitas vezes, essa criança foi machucada e naturalmente possui menos mecanismos para lidar com seus sentimentos do que um adulto. Quem faz dar certo, como diz Fernanda, é a mãe e o pai, não o filho.
Em seus estudos, Fernanda se aprofundou no comportamento de cada idade, nos estudos de neurologia e na psicologia. “Eu aprendi que a criança que sofreu acolhimento tem a região da amígdala cerebral mais estimulada. A amígdala é a estrutura ligada às emoções. Por outro lado, o córtex cerebral delas, que é o sistema que representa a razão, é menor. Toda vez que essas crianças se veem numa situação de perigo, elas reagem. E não adianta bater de frente. Não adianta gritar, que é justamente o que nós, pais, fazemos. A ciência mostra que, quando a gente vai construindo o vínculo afetivo, a pessoa passa por um processo de neuroplasticidade. Ela começa a pensar e agir de forma consciente”, conta ela.
Com a psicologia, ela entendeu que a rejeição era um mecanismo de defesa inconsciente das crianças, que pensam “Se eu gostar dela e ela me levar de volta para o abrigo, eu vou sofrer. Então, eu rejeito ela, assim ela não gosta de mim, eu também não gosto dela e eu não sofro”.
Foi preciso ainda que ela mergulhasse dentro de si, em um processo de autoconhecimento profundo, para entender que alguns de seus desconfortos diziam respeito a padrões dela mesmo, e de mais ninguém. De dores da sua própria infância, projetadas ali, na infância de seus filhos.
Por fim, Fernanda aprendeu ainda a respeitar e valorizar o passado prévio dessa criança, a importância da sua família biológica e ensiná-los a continuar escrevendo a sua história a partir dali. “A adoção não vem com uma borracha mágica. A gente tem que ter muito respeito por essa família, para que os nossos filhos se aceitem e se livrem da culpa que eles carregam. Quando a gente respeita os pais biológicos, a gente ensina as crianças que elas têm que se respeitar, que elas são dignas de amor e de afeto”, conta.
“Todos os dias eu vejo famílias que entram no processo adotivo com a intenção de fazer uma caridade. O problema é que, com essa mentalidade, esses adultos vão esperar um senso de gratidão em troca. E a criança e o adolescente não tem nem maturidade cerebral para ser grato. É um erro pensar que as crianças precisam ser salvas. Elas só precisam ter pais e mães. Elas precisam de amor”, conclui.
Histórias de amor familiares são escritas à várias mãos. Liberte-se da ideia de que elas se dão de maneira automática e comece a construir a sua própria, da maneira como ela funciona para você.
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