Para Inspirar

Quais os efeitos da arte em nosso cérebro?

Um dos principais estímulos externos que vivenciamos, a arte não passa de maneira despercebida pelo nosso cérebro, muito pelo contrário: ela deixa rastros

17 de Setembro de 2021


No terceiro episódio da sexta temporada do Podcast Plenae, conhecemos a história do muralista Eduardo Kobra, que antes de ganhar o mundo, começou pichando os muros de seu bairro. Em seu relato, o artista aponta para a falta de acesso a arte que meninos como ele vivenciam. Logo ela, uma das atividades mais estimulantes ao nosso cérebro que conhecemos. 


A ligação entre arte e emoção é intrínseca. Quadros, fotografias, músicas… Qualquer expressão artística tem como objetivo principal despertar alguma emoção em quem as consome, seja ela positiva ou negativa. Cientificamente falando, o cérebro reage ao estímulo evocado pela arte através do sistema límbico, uma região específica do órgão que é responsável pelo controle das emoções e do comportamento social. 


Ao termos esse contato, começamos a experimentar o mundo de uma maneira mais emocional e sensitiva, "esculpindo e acariciando" o nosso cérebro, como definiu este artigo. Isso, de acordo com cientistas, não só impulsiona a criatividade, como faz com que haja descargas de dopamina e serotonina, hormônios responsáveis pelas sensações de felicidade, prazer e recompensa. 


Sabe aquela ideia de que nossas pupilas até dilatam quando vemos a pessoa amada? De acordo com o professor Semir Zeki da University College London, a arte pode ter o mesmo efeito. Quando a experimentamos sensorialmente, o fluxo sanguíneo cerebral aumenta, principalmente nas regiões ligadas ao prazer, como revela esta pesquisa. 


A estética e seus efeitos


Mas há alguma arte específica mais poderosa que outras? A resposta é não. Isso porque, definir se há algum estilo artístico melhor do que o outro é excluir o fator preferências individuais, que é algo muito maior e passa até mesmo por conceitos complexos e filosóficos como o gosto e sua formação, a própria mente e a consciência. O próprio Zeki batizou, no final dos anos 1990, um novo campo da ciência que pretende mergulhar nessas questões: a neuroestética.


Essa nova área usa a neurociência para tentar entender o que acontece no cérebro a nível neurológico quando este se depara com a arte, seja para criar, seja para contemplar, baseado nas diferentes percepções estéticas que há em cada um de nós. Acredita-se que o ser humano seja a única espécie capaz de atribuir diferentes níveis de beleza às coisas e, assim como a emoção, a beleza também é intrínseca à arte.


Ao se deparar com uma obra, o caminho cerebral é o seguinte: o córtex visual primário se encarrega das silhuetas e o secundário, das cores. O lobo temporal inferior reconhece os objetos e o lobo parietal adiciona profundidade e espacialidade. Isso tudo, claro, em frações de segundos! Tudo isso ocorre e a reação emocional vai depender se te agrada ou não, e aí sim você receberá seus hormônios. 


É por isso que obras como a do Kobra, mencionado lá no começo do texto, tão coloridas em meio às torres cinzentas das metrópoles, nos causam impactos diferentes: sua beleza e jogo de cores colocam a nossa cabeça para funcionar a pleno vapor sem nem nos darmos conta disso, mas no final do processo, ficará por conta do critério pessoal de cada um.


Especialistas já estão usando essas reações emocionais em um processo denominado arteterapia: uma tentativa de usar a arte e o que ela evoca no cérebro com uma finalidade terapêutica de autoconhecimento emocional, melhora de um mal-estar ou quadro depressivo e até mesmo como tratamento do Transtorno de Estresse Pós-Traumático.


A arteterapia usa não só o consumo da arte, mas também a produção. A atividade artística é estimulante e previne a velhice, por exemplo. Um estudo realizado na China concluiu que pessoas que realizavam criações artísticas visuais, como pinturas e recortes, possuíam atividade cerebral mais elevada, inclusive a memória, e até uma maior resistência a doenças degenerativas como o mal de Alzheimer, além dos benefícios psicológicos do autoconhecimento.


Toda arte é emocional e se conecta conosco via neurônios, memória e estruturas complicadas do cérebro. É ela que dá graça ao mundo e nos ajuda a entender a visão do outro, independente da distância espacial e temporal. É por meio dela, também, que definimos justamente as nossas preferências, gostos, o que pode ser positivo em uma jornada de autoconhecimento.


Todas as novas pesquisas científicas são relevantes para o entendimento do nosso funcionamento, mas é importante que não nos esqueçamos de apreciar a arte pelo que ela tem de melhor: sua capacidade de nos emocionar de formas que nem a ciência explica.

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Para Inspirar

Por que escutamos música e como usá-la a nosso favor?

Os seres humanos são animais que, dentre seus vários hábitos, ouvem música. A combinação de sons é uma unanimidade e tem benefícios para além do lazer.

21 de Agosto de 2023


Colocar um fone e viajar pelos sons: poucas coisas são tão satisfatórias quanto isso. Não por acaso, há inúmeros benefícios envolvidos nessa prática, como te contamos aqui, e também inúmeras opções de bandas, fones e plataformas de áudios. A indústria dos shows, aliás, é uma das que mais cresce nos últimos anos.

Mas, se olharmos ao redor para as outras espécies, percebemos que somos a única que ouvimos música com frequência, uma atividade diária e que envolve uma série de terminações cerebrais. Por que fazemos isso? Quais são os ganhos dessa prática que podemos usar ao nosso favor? É isso que investigaremos a seguir!

As primeiras notas

Ouvimos música sem nem nos darmos conta. Ela está por toda parte e nem sempre escolhemos o que vamos ouvir, uma simples propaganda já entra em nossos ouvidos sem que a gente perceba. Elas são divididas em gêneros musicais, em estilos e até usadas para determinados momentos específicos: a música para malhar é diferente da música para relaxar. 

Com base no achado de flautas de ossos feitas há 53 mil anos pelos neandertais, como explica este artigo da revista Superinteressante, pesquisadores estimam que a atividade musical deve ter pelo menos 200 mil anos – contra 100 mil anos de vida do Homo sapiens. Ou seja: a música é mais antiga do que o ser humano como nós conhecemos atualmente, e mesmo em tempos de sobrevivência suprema, ela já existia.

Apesar de já se conhecer os seus benefícios, não há ainda um porquê definido para o nascimento das canções. De cientistas a filósofos, todos já buscaram suas próprias hipóteses e ninguém conseguiu cravar uma resposta definitiva. Boa parte dos indícios apontam para uma perspectiva evolutiva e biológica. 

Até mesmo o pai da teoria evolutiva Charles Darwin, já passeava pelo assunto. Para ele, a música era determinante para a escolha de parceiros sexuais. Isso porque, segundo sua teoria, as fêmeas seriam atraídas pelos melhores cantores. Essa teoria explica o comportamento sexual de jovens e até rituais de acasalamento antigos.

Há ainda uma outra hipótese, de que a música tinha papel mediador, amenizando conflitos, fortalecendo comunidades, ampliando canais de comunicação e ajudando a organizar e reconhecer as emoções. E o mais interessante é que nós fomos, muito provavelmente, os primeiros instrumentos. 

Ainda segundo o artigo da Superinteressante, o cientista cognitivo William Benzon, autor do livro Beethoven’s Anvil (“A Bigorna de Beethoven”, sem tradução para o português) especula que tudo começou com a nossa voz imitando o som de outros animais. Isso era feito até mesmo visando a proteção, pois, ao emitir um som ameaçador como o rugido, você afastaria outros animais. 

O som dos nossos passos também pode ter influenciado nessa percepção musical. Segundo o expert musical Michael Spitzer, em vídeo para o portal Big Think, da mesma forma que o som dos animais nos situam no espaço e nos dão indício de seu posicionamento, como o canto dos pássaros ou o deslocamento de uma baleia, os nossos passos têm a mesma função - para nós e outros animais. 

E o que são as notas se não um passo para o outro? A lógica é a mesma: o som de um deslocamento. Nossos ancestrais conseguiram enxergar um padrão nas próprias passadas, o que lhes dava senso de tempo. A gente consegue se situar no mundo através do som dos nossos próprios passos.

Solta o som, DJ

Música e linguagem caminham juntas, e é isso que torna tão difícil cravar quem veio primeiro. Basta observar um bebê, que pode balbuciar sons ritmados antes mesmo de falar mamãe. Mas, não seria essa uma forma de linguagem? Sim, afinal, as duas exigem esforços cerebrais da mesma natureza.

Mas, a música consegue ir além das palavras, não só de forma poética, mas se tratando de mecanismos cerebrais. A ativação que se dá em diferentes estruturas desse nosso órgão tão complexo é potente e profunda, e nos ajuda desde a focar mais em um estudo, até a elaborar melhor um sentimento. 

Há um link muito específico entre o som e os movimentos que torna nossa relação com a melodia diferente de outros animais. Por isso que, para Spitzer, usar a música como uma mera distração é um desperdício. “A música pode unir pessoas e combater a solidão. E você nem precisa ativamente fazer música junto com alguém, apenas ouvi-la já pode plugá-lo em uma rede social de pessoas, porque cada nota musical é formada por convenções sociais”, reflete em vídeo. 

A música, continua ele: 

  • reduz o estresse porque reduz os níveis do hormônio cortisol; 

  • te dá prazer e te traz felicidade inundando o seu cérebro com dopamina; 

  • é um excelente modo de trabalhar a memória, seja criando novas recordações com uma música ou relembrando antigas; 

  • expressa suas emoções mais profundas e te ajuda com autoconhecimento e formação de identidade;

  • é um atalho para o mindfulness, para a contemplação e até para a meditação; 

  • melhora a sua saúde mental pela junção de todos os fatores mencionados anteriormente;


“Não é só puramente relaxar porque há muito acontecendo ao mesmo tempo, e a palavra relaxamento traz uma ideia de passividade, enquanto ouvir é uma atividade muito ativa e criativa”, diz ele. 

O fato de imitarmos sons trabalha o nosso neurônio espelho. Esse mesmo neurônio é trabalhado quando ouvimos uma canção, seja ela feliz ou triste, e ela ativa automaticamente esses sentimentos. E, sentimentos, como já apontava Darwin, não são levianos, mas estão relacionados aos objetivos que nos fizeram sobreviver. 

Ficamos felizes quando alcançamos uma meta, com medo quando estamos em perigo, irritados quando algo foge ao nosso controle, tristes quando perdemos alguém: tudo isso, um dia, estava intimamente ligado à nossa sobrevivência. A música é muito parecida com tudo isso e mexe também com nossos sentimentos. 

É por isso que somos tão conectados a ela, pois ela suscita nossas mais profundas e complexas emoções sem nos deixar em perigo e ainda nos trazendo benefícios. E essa é, enfim, a resposta da pergunta que fizemos no começo deste artigo. É por isso que o ser humano é tão musical. 

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