Para Inspirar

Qual a diferença entre o cérebro masculino e o feminino?

Fomos investigar quais são as diferenças deste órgão tão complexo que é o cérebro e como isso pode refletir em nossos comportamentos e habilidades

18 de Julho de 2023


Recentemente, a participação de atletas trans em competições olímpicas gerou debates e polêmicas ao redor do mundo. Sobretudo quando se trata de uma mulher transsexual que está competindo na categoria feminina e que, frequentemente, é acusada de ter mais aptidão ou vantagens física do que outras por já ter sido homem antes. 

É fato que há diferenças entre os corpos, mas o debate é legítimo e todos os lados possuem um ponto. Mas nós fomos além: será que há uma diferença entre o cérebro de uma mulher e de um homem? A resposta é: sim. Isso não quer dizer que um seja melhor do que o outro. São apenas diferenças pontuais que te contaremos a seguir!

Rosa ou azul: tudo coisa do passado!

Vamos começar pelo começo. Primeiro, é preciso distinguir a ideia de sexo biológico e morfológico versus a ideia de gênero. Enquanto o primeiro está relacionado a uma combinação de genes e órgãos respectivos a homens ou mulheres, o segundo é uma identidade construída socialmente. 

Sendo assim, gênero está relacionado à ideias antiquadas, como as de que homens gostam de azul e meninas gostam de rosa, por exemplo. Isso nada tem a ver com ciência de fato e muito menos com os nossos cérebros, já que são estímulos somente sociais e que não só podem, como devem ser desconstruídos. 

A ideia de gênero nos atravessa tanto, desde que somos crianças, que isso pode gerar uma não-identificação por parte de algumas pessoas que, apesar de terem nascido com um determinado sexo biológico, se identificam mais com os papéis atribuídos ao seu oposto. 

São as pessoas transsexuais, ou seja, que optam por se transformarem em outro sexo para assim, se reconhecerem mais. Mencionamos elas logo no começo desse artigo, por serem alvos de críticas relacionadas ao esporte, mas não para por aí: são vários os mitos e verdades acerca do tema, como trouxemos neste artigo aqui, e que continuam violentando essa população.  

O cérebro de cada um

Separados os conceitos, vamos entender agora a diferença entre o cérebro masculino e feminino segundo seu sexo biológico. Essas disparidades, vale dizer, não tornam um melhor do que o outro, apenas com mais aptidões específicas em frentes diferentes. 

A primeira diferença é referente a memorização e capacidade motora. Neurocientistas da Universidade da Pensilvânia fizeram uma pesquisa analisando cerca de mil jovens para concluir que a conectividade entre diferentes partes do cérebro se desenvolve de forma distinta entre os dois. 

Nas mulheres predominam as conexões entre os dois hemisférios do cérebro, e nos homens prevalecem as conexões interiores de cada hemisfério. Isso resulta em algumas características mais predominantes em um e em outro. Essa dinâmica parece ficar mais evidente após os 14 anos, o que leva os pesquisadores a acreditarem que há influência dos hormônios da puberdade envolvidos nesse processo. 

Mas, o que tudo isso significa? Que as mulheres exibem melhor pontuação no conhecimento social, na memória, na inteligência linguística e até na compreensão dos sinais. Já os homens têm, em média, mais habilidades motoras, capacidade de trabalhar focado em um tema só e uma maior percepção espacial. 

Segundo Fabiano de Abreu Rodrigues, neurocientista e neuropsicólogo com extenso currículo, para o jornal Estadão, apesar do cérebro feminino ser ligeiramente menor que o do homem - até pela sua estrutura corporal -, o fluxo sanguíneo e a proporção de substância cinzenta delas são mais avantajados.

Ainda segundo ele, quando a mulher fala, os dois lados dos lobos frontais são ativados e no deles apenas o lado esquerdo. O hipocampo (região relacionada à memória) delas é maior, quando a amígdala (reguladora das emoções e memórias relacionadas a emoção, comportamentos sociais e excitação sexual) é menor.

O sistema dos neurotransmissores serotonina, dopamina e GABA das mulheres é mais robusto, com maior concentração na própria corrente sanguínea. Por isso, elas podem sentir mais as variações de humores, por exemplo, que também está relacionado, claro, às questões hormonais inerentes do sexo feminino.

Há quem discorde

Como tudo na ciência, há controvérsias. Afinal, se não houvesse quem provocasse o pensamento contrário ou instigasse a revisitação de certos dados, não seria a ciência. É o caso da neurocientista e escritora Gina Rippon. Sua principal bandeira é refutar uma teoria que, inclusive, já caiu por terra há tempos e nem foi trazida aqui nesse artigo: a de que homens possuem mais massa cinzenta e, por isso, são cognitivamente superiores às mulheres.

Para ela, as diferenças psicológicas ou sociais que elas veem entre homens e mulheres não podem ser explicadas em termos de diferenças biológicas. “Não estou negando eventuais diferenças. Um cérebro nunca é exatamente igual ao outro! O que eu quero dizer é que, no que diz respeito às habilidades cognitivas, por exemplo, o sexo biológico do indivíduo terá pouca influência sobre a estrutura ou o funcionamento de seu cérebro”, diz ela à Veja Saúde. 

Rippon sustenta que a criação às quais nós expomos homens e mulheres é o que acaba por fim a diferenciá-los de maneira imposta - mais ou menos o que falamos no começo deste artigo sobre gênero e identificação. 

“Há tantas construções sociais que acabam por estabelecer uma diferença inevitável entre meninos e meninas. Qual é o problema disso? Significa que devemos tratá-los de maneira diferente. Que eles devem se comportar de maneira diferente. Que terão habilidades e temperamentos diferentes. E, como o cérebro em desenvolvimento é muito flexível e impressionável, marchamos para o reino das profecias autorrealizáveis”, complementa. 

Lisa Mosconi, outra neurocientista muito respeitada na área, também refuta alguns velhos pré-conceitos. "Posso garantir que não existe um cérebro de gênero. Rosa e azul, Barbie e Lego. São invenções que nada têm a ver com a forma como nossos cérebros estão formados", assegura em reportagem à BBC.

O que Mosconi defende, na realidade, é que há sim diferenças entre o processo de envelhecimento das mulheres e dos homens, principalmente, mas isso está mais atrelado às situações que as mulheres vivenciam ao longo da vida do que ao órgão em si. 

Além disso, ela denuncia a falta de estudos mais aprofundados que foquem somente em mulheres pois, segundo elas, há particularidades femininas em todo o corpo e comportamento que refletem ou que dão indicativos importantes sobre o nosso cérebro.

Os cérebros das mulheres passam por mudanças significativas em pontos críticos específicos, aos quais me refiro como os "3 Ps": puberdade, gravidez (pregnancy, em inglês) e perimenopausa”, diz. Se há um encolhimento aparente no cérebro da mulher nessas situações, é para que ele se torne, na verdade, mais eficiente. 

O estrogênio, hormônio feminino importantíssimo para uma série de funções do corpo da mulher, também acaba afetando o cérebro em sua falta - que, no caso, se dá na perimenopausa. A alta incidência de Alzheimer em mulheres, por exemplo, pode ser um reflexo da falta do estradiol que, outrora, protegia o cérebro. E se o assunto é memória, o fato de as mulheres serem mais afiadas pode ser prejudicial na hora do diagnóstico de algumas demências, que ficam mascaradas.

Afinal, quem é quem?

A conclusão é que não há um melhor nem um pior, mas há ainda um traço machista predominante na ciência que acaba não só por invalidar muitas mulheres cientistas e suas teorias, como também parece ter se aprofundado, ao longo da história, muito mais nos homens do que nas mulheres. 

O que sabemos hoje é que há algumas questões nem tanto da ordem anatômica, mas do funcionamento do cérebro, que pode privilegiar algumas capacidades para eles e outras para elas. Mas, também sabemos que o nosso cérebro é um órgão plástico - a neuroplasticidade que te contamos aqui - e que, se for devidamente estimulado, é capaz de feitos incríveis. 

Portanto, todo comportamento social engajado e incentivado a uns, devem ser a outros também, para que haja a equidade entre homens e mulheres e para que ambos sejam devidamente celebrados. Nenhum cérebro é exatamente igual ao outro, e isso é o que há de mais belo dentro de nós. 

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Água alcalina não cura nada e nem devolve a juventude

Pagar mais para beber esse líquido é jogar dinheiro fora, diz médica da USP

12 de Julho de 2019


Há anos, circulam pela internet textos e vídeos sugerindo que beber água alcalina pode curar ou prevenir praticamente qualquer doença, e também evitar o envelhecimento . Há inclusive um médico que afirma categoricamente que idosos são “ácidos”, enquanto crianças são “básicas”. Segundo esse mesmo médico, o pesquisador francês Alexis Carrel pôde manter um coração de galinha batendo – fora do corpo do animal – por 27 anos, ao trocar diariamente o líquido em que o coração era mantido, provando que a idade é determinada pelo meio-ambiente, e não pelo passar do tempo. Parece estranho demais para ser verdade? É porque não é! Se fosse, rejuvenescer seria tão simples quanto beber um pouco de água sanitária, produto doméstico bastante alcalino (e, por favor, não faça isso!). Se bases rejuvenescessem, você perderia anos toda vez que tomasse leite de magnésia, outro produto alcalino. Lamento dizer que leite de magnésia funciona pra azia, mas infelizmente não nos devolve anos de vida... A verdade é que o pH sanguíneo nas artérias de um recém-nascido é exatamente igual ao de uma pessoa idosa (entre 7,35 e 7,45), e se mantém muito bem controlado, nessa mesma faixa, durante toda a vida, a não ser que a pessoa fique seriamente doente. E nem preciso dizer que Alex Carrel não fez um coração de galinha bater fora do corpo do animal por 27 anos. Isso é simplesmente ridículo: a coisa mais próxima disso, de alguma forma associada a Carrel, foi uma cultura de células de coração de galinha – não um órgão vivo inteiro! – que realmente parece ter durado bastante tempo, em condições de laboratório muito específicas. E mesmo esse resultado foi posto em questão por outros cientistas. O pesquisador francês merece mais ser lembrado por desenvolver técnicas cirúrgicas muito importantes, motivo pelo qual foi laureado com o Nobel em 1912. Mas afinal, o que é pH? É uma medida da acidez de uma solução (“solução” é um tipo de mistura em que uma ou mais substâncias, os solutos, se dissolvem em outra, o solvente; o solvente mais comum, no planeta Terra, é água). Não precisamos entrar em muitos detalhes aqui. De modo simplificado, quanto mais baixo o pH, maior a acidez da solução. Uma solução ácida é aquela que tem uma predominância de íons de hidrogênio (H+), e tem pH menor que 7. Soluções com pH maior que 7 possuem predominância de íons hidróxido (OH-). Deste modo, saber que o sangue humano tem pH entre 7,35 e 7,45 significa saber que o nosso sangue tem uma ligeira predominância alcalina. Se o pH do sangue é ligeiramente alcalino, não deveríamos beber água com o mesmo pH, para manter tudo igual? Essa ideia não faz o menor sentido, porque o sangue arterial é apenas um dos muitos componentes do nosso corpo, e cada componente tem um pH próprio, em pessoas saudáveis. O pH dos nossos intestinos é normalmente em torno de 6 (ácido), do estômago é entre 1,5 e 3,5 (muito ácido), e a água que bebemos passa por ambos, antes de ser absorvida e ir ao sangue. A maior fonte de acidificação dos nossos corpos é, de fato, o metabolismo. Todos precisamos de metabolismo – é o processo que degrada a comida (ou as nossas gordurinhas) para gerar a energia necessária para nossos corpos funcionarem. Degradar comida ou gorduras armazenadas significa quebrar moléculas grandes, com sequências longas de átomos de carbono encadeados, em moléculas de gás carbônico (CO2), cada uma com apenas um carbono. Geramos energia continuamente deste modo. Acontece que o CO2, quando se dissolve na água (que temos em todas as nossas células) se combina com uma molécula de água (H2O), gerando uma molécula de ácido carbônico (CO2+ H2O → H2CO3), que, como bem diz o nome, é um ácido. Deste modo, viver, gerando energia através de metabolismo, acidifica nossos corpos. Isso acontece a vida toda, independentemente de sermos jovens ou adultos. É natural, saudável, e necessário gerar ácidos em nossas células através do metabolismo. Um ser humano adulto gera, em média, cerca de 900 gramas de CO2, todos os dias, a partir da metabolização da comida que consome. Para efeitos de comparação, uma lata típica de refrigerante contém cerca de 0,7 gramas de gás carbônico (o gás dos refrigerantes também é CO2). Ou seja, uma lata de refrigerante tem menos de um milésimo de todo o CO2 que produzimos por dia. Vamos deixar claro que não há nada de saudável em beber refrigerante: eles contêm muito açúcar e nenhum nutriente útil. Porém, o pH dessas bebidas não é seu problema – se fosse, beber suco de limão ou colocar vinagre na salada (ambos têm pH semelhante ao de refrigerantes) seria perigoso. Produtos ácidos como esses podem causar alterações locais (afetando, por exemplo, os dentes e o estômago), se consumidos em excesso, mas não têm como alterar o pH do corpo inteiro. Muito menos do sangue. Na verdade, o que comemos ou bebemos de produtos ácidos no dia a dia é insignificante perto do ácido que produzimos metabolicamente. Pra se ter uma ideia, se fôssemos beber água alcalina para neutralizar todo o ácido derivado daqueles 900 gramas de CO2 que produzimos a cada dia, teríamos que beber 205 mil litros de água com pH de 10 (um bocado alcalina). É isso mesmo! São precisos 205.000 litros de água alcalina para ter OH- suficiente para se combinar com o H+ liberado a partir do ácido carbônico gerado pelo seu metabolismo todos os dias. Isso é mais água do que um ser humano bebe na vida inteira, até porque beber água demais é tóxico. A partir desses dados, já dá pra perceber por que pagar mais para beber água alcalina é besteira, algo como colocar uma gota de água alcalina num oceano. Mas como, então, estamos vivos se produzimos tanto ácido assim? Estamos vivos porque temos mecanismos fisiológicos excelentes para manter o pH do corpo humano exatamente como deve ser. Isso inclui principalmente os pulmões, que eliminam gás carbônico continuamente do sangue, portanto eliminando o ácido carbônico dele. São cerca de 450 litros de gás carbônico eliminados todos os dias pela respiração, sem que você precise nem pensar nisso! Seus rins também ajudam a manter seu pH estável, eliminando ácidos e bases em excesso, conforme a necessidade, e automaticamente. Portanto, esqueça esse modismo da água alcalina, economize dinheiro e invista em beber água normal, confiando aos seus pulmões e rins a tarefa que eles vêm cumprindo muito bem, de manter seu organismo saudável. Fonte: Alicia Kowaltowski, médica e professora de Bioquímica do Instituto de Química da Universidade de São Paulo, para a revista Questão de Ciência Leia o artigo original aqui .

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