Quem é você na fila do aeroporto?

O verão está chegando e, com ele, as férias escolares e o acúmulo de um ano inteiro de muito trabalho. Quem não quer sair de viagem para recarregar as baterias e descansar, não é mesmo?

17 de Novembro de 2022



Quem é você na fila do aeroporto?
O que você vai encontrar por aqui: 
  • O que é overtourism
  • Os 7 princípios do turismo responsável
  • O que é o turismo regenerativo
  • Destinos realmente sustentáveis
  • Dicas de viagem consciente
Boa leitura! 
O verão está chegando e, com ele, as férias escolares e o acúmulo de um ano inteiro de muito trabalho. Quem não quer sair de viagem para recarregar as baterias e descansar, não é mesmo? Viajar é sempre bom, tanto que tem gente que opta por viver assim, com o pé na estrada, os chamados nômades que te contamos aqui

Viajar de férias não é só divertido, mas faz um bem danado para nossa saúde mental, afastando o estresse e a ansiedade. Ainda, entrar em contato com outras culturas, outras realidades, é uma experiência que amplia nossa consciência, estimula nossa criatividade e pode, inclusive, trazer muito autoconhecimento. Isso sem falar no contato com a natureza e todos os benefícios para a saúde que isso nos traz. Já falamos bastante sobre estas e outras benesses do viajar em nosso portal

Ao mesmo tempo, o turismo por vezes gera impactos negativos no meio ambiente, na economia e na cultura local que não podemos negligenciar. Os seres humanos deixam rastros e, dentre os impactos mais óbvios, está a poluição e degradação de áreas naturais (você já viu uma foto do acampamento base do Monte Everest?), a falta de estrutura e saneamento frente o excesso de visitantes em uma vila, ou mesmo o desmatamento de áreas nativas para construção de hotéis e complexos de lazer. 
Há também impactos não tão visíveis em culturas locais, como o aumento do consumo de drogas devido às influências das festas estrangeiras, choque cultural diante de comportamentos inadequados de turistas ou a “expulsão” de moradores locais pelos altos preços de moradia por temporada e do aumento do custo de vida em locais turísticos. 

Na busca por minimizar estes impactos, diversos modelos de turismo responsável vêm sendo discutido entre especialistas, empreendedores e governos locais. O mais atual é o turismo regenerativo, que defende que depois de tanta destruição causada pela humanidade, já não basta mais só preservar, precisamos recuperar, resgatar e regenerar ecossistemas e comunidades locais. O turismo aqui é visto como uma ferramenta para melhorar a qualidade de vida dos moradores e a saúde do meio ambiente que visitamos.

Acreditamos que vale a pena entender um pouco mais sobre a indústria do turismo e como podemos contribuir para que nossas viagens sejam uma fonte de bem-estar não só para nós, mas para todo o contexto ao nosso redor. Queremos, com este Tema da Vez, te inspirar a escolher destinos que te farão muito bem não só pelas belezas naturais e culturais que você entrará em contato, mas também por se sentir parte de um movimento de cura e regeneração deste nosso Planeta Lar por meio de um turismo responsável e cheio de propósito. Bora fazer as malas?
Fundo no assunto
Responsabilidade turística


Muita gente tem uma dificuldade enorme de associar turismo com responsabilidade, afinal, saímos de férias justamente para “não nos preocupar com nada”, e só de trazer este termo à tona, já é possível ouvir sussurros de “lá vem a palestra”. Caso você sinta um leve ruído interno quando ouve palavras como sustentável, verde, responsável, saiba que não está só: infelizmente nossa cultura está muito acostumada (podemos dizer mal-acostumada) a usar e descartar, explorar, consumir e acreditar que tudo vai dar certo no final, pois o planeta é imenso e consegue se regenerar sozinho. 


De fato, é correto afirmar que a Terra tem uma imensa capacidade de auto-regeneração, capaz de absorver impactos e se recuperar. Porém, o que ambientalistas têm gritado aos quatro ventos é que essa capacidade tem limites e já ultrapassamos vários deles. Quando falamos de impactos negativos do turismo, a prática mais prejudicial está ligada exatamente a ele em excesso, que extrapola limites físicos, ecológicos, sociais e econômicos de determinado destino, conhecido como overtourism


Essa é uma das perguntas que o curta-documental Crowded out: the story of overtourism (“Lotado: a história do turismo em massa”, em tradução livre), produzido pela Responsible Travel, busca responder e alertar. Overtourism é o que ocorre quando o número de visitantes ultrapassa, e MUITO, a capacidade de um determinado destino, prejudicando a vida local e modificando as características do lugar. Ambientes naturais frágeis se tornam degradados, animais selvagens têm seu comportamento gravemente alterado e pontos turísticos ficam tão cheios em tempo integral que ninguém consegue realmente aproveitá-los.

Estima-se que em 1950 havia uma média de 25 milhões de viajantes internacionais. Em 2018, esse número saltou para 1.4 bilhões e contando. Para Megan Epler Wood, diretora de pesquisas da Harvard, em entrevista no curta-documental citado anteriormente, vivemos uma emergência global e, se não aprendermos a gerenciar de forma mais estratégica o turismo e seus destinos, “vamos realmente destruir um número cada vez maior dos bens naturais e culturais mais valiosos do mundo”. 


O turismo por muito tempo foi visto como uma indústria 100% benéfica, em que todos ganhavam com isso. Em 2017, uma onda de protestos mostrou o lado não tão glamuroso do que hoje é considerado uma das maiores indústrias do mundo. Cidades como Barcelona, Veneza e Dubrovnik são alguns exemplos das consequências da massificação do turismo e manifestações têm se espalhado, não só na Europa, mas pelo mundo, pedindo providências frente ao crescimento exagerado e sem controle no fluxo de visitantes. 

Muitos alegam que as cidades estão se transformando em verdadeiros “parques de diversões” para favorecer os turistas e não seus moradores, perdendo sua identidade e expulsando seus habitantes. Se queixam do comportamento desrespeitoso de turistas, que deixam a impressão de que viajam para poder fazer tudo o que não é permitido em suas próprias casas, ganhando até um apelido na Espanha: “turismo de borrachera” ou turismo de bebedeira. Lixo por todo canto, barulho 24 horas por dia, filas intermináveis para tudo, fechamento do pequeno comércio local, degradação ambiental e diminuição de oferta de moradia permanente são só alguns dos problemas que têm deixado anfitriões extremamente descontentes com seus visitantes. 


É verdade que muitos desses destinos dependem economicamente do turismo e a solução não é simplesmente banir os turistas no local. Para que esta atividade de fato estabeleça uma relação de ganha-ganha, surgiu em 2002 o conceito de turismo responsável, com diferentes diretrizes e práticas a serem adotadas tanto por quem viaja, mas, principalmente, por quem recebe os viajantes. Em resumo, significa “criar lugares melhores para as pessoas viverem e lugares melhores para as pessoas visitarem”, nas palavras do Dr. Harold Goodwin, hoje uma das principais referências no assunto. 

Ele diferencia o turismo responsável do turismo sustentável, afirmando que esse último se tornou apenas uma aspiração vaga e sem grandes realizações. O turismo responsável, por outro lado, se refere às ações positivas que irão beneficiar a todos os envolvidos, incluindo visitantes, a comunidade local, a vida silvestre e os bens naturais do lugar. Harold elenca sete princípios que um destino , seja ele uma cidade, um hotel, um parque ou restaurante, deve praticar para ser considerado responsável. São eles:
  1. Minimizar os impactos econômicos, ambientais e sociais negativos do turismo;
  2. Gerar maiores benefícios econômicos para a população local e aumentar o bem-estar das comunidades anfitriãs;
  3. Fazer contribuições positivas para a conservação do patrimônio natural e cultural do lugar e para a manutenção da biodiversidade do mundo;
  4. Assegurar a participação da comunidade local nas tomadas de decisões;
  5. Proporcionar experiências memoráveis para os turistas através de conexões mais significativas com a população local e uma maior compreensão das questões culturais, sociais e ambientais locais;
  6. Ser culturalmente sensível, gerando respeito entre turistas e anfitriões, construindo orgulho e confiança locais;
  7. Tornar o turismo mais justo por meio do acesso às pessoas com deficiência e aos desfavorecidos.
Costurando os sete princípios do turismo responsável está a transparência. Segundo Harold, se um local declara fazer turismo responsável, ele deve deixar claro pelo o que está assumindo responsabilidade, como e qual o impacto gerado. Como visitantes, devemos sempre perguntar de que forma o hotel, o restaurante, a agência de turismo, as atrações que visitamos estão contribuindo para a saúde do lugar. Só utilizar palavras como sustentável ou responsável sem informar claramente o porquê e o como isso se dá, na prática, é somente o velho e conhecido “greenwashing”
O que dizem por aí
Já não basta ser sustentável, precisamos regenerar 


         
É nesse guarda-chuva do turismo responsável que surge um termo mais recente: o turismo regenerativo. Buscando deixar ainda mais claro que vivemos um momento em que preservar e minimizar impactos já não é mais suficiente, precisamos agir em prol de restaurar o que foi destruído. Ele tem suas origens no chamado desenvolvimento regenerativo, que vem sendo discutido há décadas e se relaciona, em maior ou menor medida, a outros conceitos como economia circularpermaculturaagricultura regenerativa e rewilding

Nessa nova retomada do turismo pós-pandemia, as viagens regenerativas parecem ser o mais novo burburinho. Seis organizações sem fins lucrativos e de peso internacional se juntaram na coalizão Future of Tourism, compartilhando uma missão global: colocar as necessidades do destino no centro do novo turismo. Eles criaram uma lista de 13 princípios orientadores para que o turismo se torne realmente uma força do bem. De lá pra cá, já se juntaram ao movimento agências governamentais e organizações não-governamentais, empreendimentos, universidades, mídia, doadores e investidores, somando mais de 700 entidades ao redor do mundo. 


E, na busca por um turismo mais consciente, surgem diversas iniciativas, entre agências de viagem, hotéis, resorts e programas de governo que mostram o caminho do turismo do amanhã. Regenerative travel é um exemplo: trata-se de uma comunidade de hotéis independentes com a missão de gerar impactos positivos ao seu redor. Ainda, a marca Beyond Green promete manter em seu portfólio somente hotéis, resorts e lodges que contribuam ativamente para melhorar o bem-estar social, econômico e ambiental de seus destinos. A plataforma The RegenLab busca facilitar a transição para um turismo regenerativo oferecendo consultoria e serviços a organizações turísticas. 

rede de hotéis Soneva, nas Maldivas, é um incrível exemplo de hotelaria comprometida com a regeneração há mais de 25 anos. A cada dois anos, eles lançam relatórios completos de suas práticas sustentáveis, disponíveis em seu website. Eles ainda possuem umas das maiores fazendas de corais do mundo, com a intenção de replantar 2 hectares por ano nos recifes; neutralizam sua pegada de carbono desde 2012 (incluindo vôos aéreos de hóspedes); baniram plástico e conseguem reciclar 82% dos seus resíduos; e possuem fazendas orgânicas, que em 2021 produziram mais de 45 mil quilos de frutas e verduras. Ainda, possuem projetos de reflorestamento em Moçambique e na Tailândia; de reintrodução das aves calau, importantes agentes da biodiversidade, em reservas na Tailândia e parcerias em projetos para mitigação da fome em Bangladesh. 

Alguns países também estão se engajando e a revista Condé Nast Traveller lançou sua lista de destinos sustentáveis em 2022. Entre eles estão Escócia, que foi o primeiro país a assinar a iniciativa Tourism Declares a Climate Emergency; Butão, o único país do mundo com pegada de carbono negativa e que há tempos vem regulando o fluxo de turistas na região; Slovenia, que conta com um projeto nacional da Diretoria do Turismo chamado Green Scheme of Slovenian Tourism; Costa Rica, um dos primeiros países a promover ecoturismo responsável, com três parques nacionais de conservação protegidos pela UNESCO; entre outros. 


Aqui no Brasil, ainda estamos engatinhando, mas já surgem pioneiros no turismo regenerativo, como a Comuna de Ibitipoca, localizada em Minas Gerais e que abrange não só vários conceitos de hospedagem e experiências, mas conta com diversos projetos de regeneração do ecossistema e de cuidado com os moradores locais. Entre seus projetos está o reflorestamento e a reintrodução de espécies da fauna nativa, assim como a restauração da vila Mogol, quase totalmente abandonada pelo êxodo rural e que hoje está se transformando em uma comunidade modelo. 
Pé na estrada

Como viajantes, precisamos estar cientes de que cada uma de nossas escolhas é um voto importante de nossos princípios e valores. Quando você decide gastar seus recursos em um determinado negócio ou atividade, você está afirmando que é este modelo de mundo que você quer ver prosperar. Assim, ao tornar-nos conscientes de que deixamos marcas por onde vamos, podemos escolher que nossos passos sejam positivos e benéficos, agregando valor ambiental e social em cada parada. Até porque gostaríamos de voltar, não é mesmo? 

Assim, deixamos mais sete dicas de viagem para te ajudar a fazer parte deste movimento global por um turismo responsável e regenerativo, sendo o viajante consciente na fila do aeroporto. Esperamos, com isso, contribuir para que suas viagens sejam não só uma fonte de inspiração e bem-estar, mas que deixe sementes para um mundo melhor por onde você passar. 

    
Quer saber mais? Separamos alguns conteúdos que podem te ajudar
a fazer um mergulho ainda mais profundo, não deixe de conferir!

Livro: Overbooked: the exploding business of travel and tourism -  Elizabeth Becker


Ted Talk: How to fix travel
 

Podcast: Qualquer viagem fica melhor quando se buscam novos pontos de vista - Gama



Podcast: Nossa casa é o mundo - Plenae
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Para Inspirar

Desmistificando conceitos: o que é o Canabidiol e quais são seus benefícios?

Matéria-prima natural, ela é benéfica para diferentes fins - como é o caso da Olívia, filha do chef Henrique Fogaça -, mas segue enfrentando preconceitos culturais

3 de Junho de 2022


No terceiro episódio da oitava temporada do Podcast Plenae, conhecemos o lado paterno do renomado chef Henrique Fogaça. Representando o pilar Relações, ele contou a história de sua filha, Olívia, que aos 14 anos segue sem ter sua síndrome diagnosticada.


Sua condição a inibe de levar uma vida típica, como andar ou até mesmo falar. A adolescente, filha de um cozinheiro premiado, se alimenta por sonda e passa grande parte dos seus dias em uma cadeira de rodas. 


O que ela não poderia imaginar é que seu pai, Fogaça, seria incansável em busca de melhorar sua qualidade de vida. E em uma dessas buscas, ele se deparou com o canabidiol, substância natural amplamente estudada, mas que ainda enfrenta grande preconceito cultural no Brasil e no mundo.


 “A conhecida maconha e haxixe são todos produtos feitos a partir da planta cannabis sativa. Essa planta contém mais de 500 produtos químicos. Desses, mais de 100 apresentam uma estrutura similar, chamadas de canabinoides. O canabidiol é um desses canabinóides, mas ele não é o responsável pelos efeitos conhecidos da maconha, não produz barato ou dependência química. Isso quem produz é o THC, outra substância e que pode ser isolada”, explica Francisco Silveira Guimarães, médico e professor de farmacologia na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, que pertence à USP.


Seus caminhos foram levados aos estudos da cannabis há mais de 30 anos. “Foi basicamente devido ao meu orientador de doutorado, Antonio Zuardi, um dos grandes pesquisadores dessa área e hoje já premiado. Ele que implementou essa linha de pesquisa aqui e criou um grupo de outros psiquiatras no Hospital das Clínicas. Quem o incentivou foi Elisardo Carlini, falecido recentemente, e que foi o grande pioneiro dessa área de pesquisa em canabinóides aqui no Brasil”, resume. 


O Brasil é referência na pesquisa da substância. A USP ocupa o primeiro lugar como a instituição que mais publicou artigos sobre o canabidiol no mundo de 1940 até 2019, segundo o estudo Global Trends in Cannabis and Cannabidiol Research, publicado em 2020 na revista Current Pharmaceutical Biotechnology.


"Existem no momento, em várias partes no mundo, várias preparações contendo canabidiol, em alguns países são vendidos até como suplementos alimentares. As quantidades são bastante variadas, isso é até um pouco preocupante porque os estudos mostram que em mais de 30% dos casos aquelas quantidades que estão descritas nos rótulos não são reais. Por outro lado, ele também é muito usado como medicamento, inclusive aqui no Brasil. Aí é muito melhor classificado, você pode comprar ele puro, ou em spray, e em formatos que contém metade canabidiol e metade THC.


Para quê usar? 


Antes de definir essa pergunta, é preciso entender o processo de um estudo e os níveis de evidência. O primeiro estágio é chamado de cultura de célula, seguido pelo estágio pré-clínicas, quando ainda não começou a ser testado em seres humanos. Depois, há os primeiros estudos nos seres humanos (inicialmente chamado de estudos abertos, onde não tem um controle), e depois finalmente os ensaios clínicos, que são estudos grandes, com controle.


Nessa última etapa, os participantes não recebem a substância, chamado de “duplo cego”, ou seja, a pessoa pode receber a substância estudada ou um placebo - qualquer substância ou tratamento inerte (ou seja, que não apresenta interação com o organismo) empregado como se fosse ativo. Nem a pessoa e nem o avaliador, no caso um médico, sabem. Esse último estágio é chamado padrão ouro, que vai realmente cravar se aquele tratamento ou substância possuem efetividade.


“No momento, esse padrão ouro só foi atingido para o tratamento de crianças com epilepsia de difícil controle, em síndromes mais raras, ou então combinado com o THC no tratamento sintomático da Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA). Agora, do ponto de vista pré-clínico, o canabidiol tem um potencial enorme, principalmente do ponto de vista psiquiátrico e neurológico e até para câncer. Já temos evidências de muitos outros usos, por exemplo, para ansiedade e Síndrome de Burnout. Até mesmo Parkinson, insônia e dores crônicas também já apresentaram evidências”, conta o pesquisador.


É o caso de Olívia, filha de Henrique Fogaça, mencionado no começo deste artigo. Graças às pesquisas do pai e da luta para conseguir informação e acesso, ele passou a medicá-la e viu efeitos incríveis. Hoje, ela já consegue sorrir, olhar nos olhos, dar seus primeiros passos com a ajuda de uma prótese e, para a alegria do chefe, comer papinhas eventuais feitas, claro, por ele. 


“Nas primeiras pesquisas feitas com a substância em ratos, observou-se que ele oferecia o mesmo efeito que ansiolíticos já conhecidos no mercado, como o Diazepam, ou Valium no nome comercial. A diferença principal é que ele não produz tanta sedação quanto esses remédios tarjados”, explicou o mesmo pesquisador, mas ao podcast da Revista Gama. 


Assim como qualquer outro fármaco, ele oferece algum efeito adverso, que no caso, ainda vem sendo estudado. Novamente: isso vale para qualquer remédio. O que intriga os pesquisadores é justamente a baixa quantidade de efeitos adversos em comparação com o grande poder terapêutico do canabidiol. “A pessoa usar ao seu bel prazer não é uma coisa que seja recomendado pra nada”, pontua.


Em termos de inovação e modernidade, as áreas que estão mais avançadas em termos terapêuticos e caminhando para se tornarem padrão ouro, segundo Francisco, são no tratamento do estresse e da dor crônica. “E sabemos que o canabidiol oferece um efeito neuroprotetor que talvez possa ser útil em transtornos neurodegenerativos a longo prazo, como Alzheimer, Parkinson e até autismo, que não é neurodegenerativo, mas pode se beneficiar. Isso traz esperança, nós conseguimos entender que talvez seja possível desenvolver outros medicamentos a partir dele”. 


A cannabis e a sociedade


Para que seja possível avançar nos estudos, é preciso investimento e autorizações. Segundo a revista Exame, que trouxe dados da consultoria especializada BDSA, o mercado global de cannabis legal atingiu o patamar de vendas de 21,3 bilhões de dólares em 2020, o que representa um crescimento de 48% em relação ao ano anterior. A estimativa agora é de um aumento de cerca de 17% ao ano até 2026, levando o faturamento a 55,9 bilhões de dólares em cinco anos.


A reportagem ainda conta que, em um relatório recém-lançado, Gabriel Casonato, analista do BTG Pactual digital, explica que se considerarmos que o avanço na regulação e legalização da cannabis para fins medicinais ou recreativos deve avançar em países como Israel e Alemanha, a cifra prevista para os próximos anos beira os 100 bilhões de dólares. O montante é superior ao movimentado pela indústria de refrigerantes nos Estados Unidos ou de cervejas no Canadá.


Economicamente falando, o destaque vai para o uso terapêutico, mas a cannabis ainda pode ser usada na indústria têxtil, alimentar, recreativa e até automotiva. 

Por aqui, demos um passo importante em 2019 com a liberação pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) da venda de produtos à base de cannabis em farmácias. 


Porém, os preços ainda são altos, o cultivo e a manipulação da substância no país seguem proibidos, e a compra dos fármacos só pode ser feita com a apresentação de uma prescrição médica. Um dos grandes entraves que o tema encontra não só aqui no Brasil, como em muitos lugares do mundo, é o preconceito. 


“Isso é uma ignorância geral sobre o que é a maconha, ela foi muitas vezes vendida como uma droga do inferno pela sociedade. Por outro lado, a juventude a enxerga como uma droga leve que não produz efeitos adversos, e isso também é ruim, pois ignora seus efeitos adversos. Mas já está muito melhor do que era há uns anos”, comenta Francisco.


Para sanar esse problema, é preciso esclarecimento à população. Campanhas potentes, como a do antifumo no começo dos anos 2000, pode ser uma solução importante na visão de Francisco. Mas, para que isso aconteça, é preciso que as entidades governamentais estejam comprometidas e determinadas a olhar para o tema com a seriedade que ele demanda. Muitas coisas boas podem vir a partir disso. 

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