Para Inspirar
Um câncer de estômago colocou em perspectiva toda sua vida e uma mudança de rota posterior foi necessária.
21 de Novembro de 2022
Leia a transcrição completa do episódio abaixo:
[trilha sonora]
Regina Ramos:
Durante uma fase da minha vida, eu entrei numa pilha de ter sucesso
profissional, trabalhar demais e só correr atrás de dinheiro. Eu buscava a
felicidade fora de mim e, sem perceber, fui me afastando da minha essência. Eu
precisei adoecer gravemente para me reencontrar. Eu coloquei a vida nos trilhos
novamente e, hoje, ajudo as pessoas a encontrarem a felicidade dentro de si
mesmas.
Ouça no final do
episódio as reflexões do historiador Leandro Karnal para te ajudar a se
conectar com a história e com você mesmo. Eu sou Geyze Diniz e esse é o Podcast
Plenae. Ouça e reconecte-se.
O câncer é uma doença
multifatorial, ele é ligado à genética, ao ambiente e aos hábitos, por exemplo.
Mas eu acredito que a doença também pode estar relacionada a dificuldades em
você lidar com o estresse e com as emoções. Eu observava isso no HC. Todos os
meus pacientes, ao sentirem a iminência da morte, refletiam sobre as suas
vidas. Eram pessoas em estado de muito sofrimento psíquico e com histórias de
vida pelas quais eu tinha muito carinho, cuidado e respeito.
Quando eu fiz a minha
retrospectiva biográfica, eu estava com 42 anos. A partir dessa idade, segundo
a teoria da biografia humana, o plano espiritual começa a se tornar mais
importante que o físico. E aí eu percebi que tinha alguma coisa fora do eixo.
Eu estava mais materialista do que nunca. No fundo, eu sabia que eu precisava
corrigir a rota. Mesmo assim, eu liguei o piloto automático e segui na minha
rotina de executiva de RH. Continuei depositando a minha felicidade no sucesso
profissional e financeiro.
No dia seguinte à
consulta, fui à igreja Nossa Senhora de Fátima, sentei no primeiro banco e
supliquei: “Nossa Senhora de Fátima, eu preciso da sua ajuda. Eu entrego a minha
vida nas suas mãos”. Na véspera da operação, eu tive uma sessão com a minha
psicóloga e perguntei pra ela: “Márcia, e se não der certo?”. Tipo assim: se eu
morrer amanhã? Ela, muito carinhosamente, com o olhar fixo me respondeu: “Tem
coisas na nossa vida que estão acima de nós!”.
Eu entendi a minha
limitação e aí, eu fui aprendendo o meu lugar em relação a Deus. Na véspera da
cirurgia, eu rezei com os meus filhos, de 9 e 6 anos, antes de dormir. A gente
fazia aquele ritual sempre, mas aquela oração foi muito forte e especial para mim
porque, ao final, eles disseram: “Papai do céu proteja a nossa mamãe amanhã”.
Neste mesmo dia, ao
final da tarde, eu estava preocupada com o André, pois sabia que me operaria e
que seria um desafio por eu ser sua amiga. Queria falar alguma coisa para ele e
não sabia o quê. Foi então que fui a uma papelaria comprar uns cartões pois eu
queria escrever alguma coisa pra minha família, pros meus filhos e pros meus
amigos.
Quando cheguei no
caixa para pagar, tinha um livrinho desses pequenos, e ao abrir estava escrito
um diálogo entre um médico e Deus. O médico perguntava: “Deus, o que eu faço
para salvar minha paciente?”. E Deus respondeu: “Você faz a parte do médico e
eu faço a parte de Deus”. Foi isso que eu falei para ele no centro cirúrgico e
pra minha felicidade, todo mundo fez a sua parte.
Em nenhum momento eu
me vitimizei. A minha grande pergunta interna não era “por que” isso aconteceu
comigo, mas sim “para que” estou passando por isso. Qual aprendizado que eu
devo tirar dessa experiência? Afinal, sem querer, eu tinha mudado de lado: eu
passei de psicóloga a paciente. Comecei a perceber que, quanto mais eu buscava
meu autoconhecimento, mais eu tinha clareza nas respostas. As explicações
estavam dentro de mim e não fora. Eu me dei conta que tudo isto que estava
acontecendo era para me ajudar a colocar em ordem tudo aquilo que estava em
desordem. O que parecia o fim, foi só o começo.
Eu diminuí o ritmo de
trabalho e me tornei pesquisadora junto a uma equipe de médicos antroposóficos
na Escola Paulista de Medicina. Há 13 anos, eu estudo a teoria da Salutogênese.
“Salus” quer dizer saúde, e gênese origem, ou seja, como encontrar dentro de
nós as forças que nos blindam diante do estresse para que não cheguemos a
adoecer.
Essa abordagem foi
criada por um sociólogo chamado Aaron Antonovsky. Ele pesquisou o que havia em
comum entre os sobreviventes do Holocausto que se adaptaram às mudanças, reconstruíram as suas vidas e não adoeceram.
Ele constatou que essas pessoas não se colocavam na posição de vítima e tinham
um olhar positivo para a vida, mesmo passando por adversidades. Elas tinham
também internamente o que ele denominou “senso de coerência”: um equilíbrio
psíquico entre o que pensavam, sentiam e como agiam. Mas, o mais importante,
ele ressaltou, é que elas sempre encontravam um sentido maior no sofrimento, um
significado para poder continuar adiante.
[trilha sonora]
O segredo é a gente
ter flexibilidade e não ficar nos extremos, nem ser totalmente vulnerável nem
se achar a Mulher Maravilha ou o Super-Homem, que enfrenta tudo que aparece.
Com o autoconhecimento, a gente conhece os nossos limites e sabe até onde
podemos ir. O conceito de resiliência que eu acho legal é passar pela situação
difícil e sair mais fortalecido dela. É como um músculo que você trabalha na
academia, só que um músculo emocional, que você sempre pode fortalecê-lo.
Quando eu dou uma
aula, palestra ou um treinamento, eu compartilho o meu exemplo. O pessoal se
espanta de saber que eu vivo bem sem um estômago. Eu sempre digo para eles uma
frase de uma meditação: “Nada terá valor se a coragem nos faltar”.
Com o trabalho
biográfico, eu ajudo as pessoas a encontrarem a resiliência na sua própria
história de vida e a entenderem que essa força interna aparece nos momentos
mais difíceis. Quando a gente se apropria dela, temos mais habilidades para
enfrentar os problemas que possam surgir. Descobrir essa força interna que cada
um de nós tem e muitas vezes não percebe é o caminho para viver com saúde.
Ela precisou ter um
grave caso de câncer de estômago, fazer uma cirurgia delicadíssima que obriga a
uma reeducação absoluta depois da cirurgia pra que ela pudesse acordar para
outros valores que ela já tinha, mas que agora terá um outro olhar, e vai parar
de pensar que a vida é feita exclusivamente do sucesso e da aplicação do
sucesso profissional.
A Regina foi
descobrindo como paciente o que talvez ela dissesse para seus outros pacientes:
que ela de fato tinha que reinventar propósitos, tinha que reinventar na mente seus valores, tinha que redefinir metas, que
não podia ficar apenas focada em um campo. E foi redescobrir-se
profissionalmente, foi revalorizar coisas da família, passou a desenvolver
muito esse conceito de resiliência e conseguiu redefinir as coisas a partir de
uma experiência impactante que é o câncer no estômago. Muitas vezes, a
dificuldade tem esse poder de epifania, de revelação de quem nós somos de
verdade, que é o que aconteceu com a Regina.
Geyze Diniz:
Nossas histórias não acabam por aqui. Confira mais dos nossos conteúdos em
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Para Inspirar
Da alimentação às punições, os pais hoje olham para a educação que tiveram e não perpetuam para seus filhos em vários pontos.
26 de Julho de 2022
Hoje é o Dia Nacional dos Avós! Quem teve a sorte de poder contar com essas figuras tão especiais na vida, sabe o privilégio que é na maioria das vezes. Não por coincidência, o bordão “na casa de avó, tudo pode” é tão difundido no nosso país, e essa figura é associada em filmes e livros a uma figura amorosa e generosa.
Mas o que muitas vezes esquecemos é que nossas avós já foram mães um dia, e nossos avôs, pais. E com isso, tiveram que assumir uma posição mais ativa na educação de nossos próprios pais, sem espaços para os mimos que hoje eles podem dar aos netos. Até porque é comum ouvir histórias de que nossos avós passaram por alguma dificuldade financeira ou foram privados de estudo.
Sendo assim, o que mudou da educação que eles pregavam para a que os seus filhos, hoje tutores, pregam atualmente? São várias! Mas vamos trazer alguns exemplos práticos. Será que você se identifica com algum deles?
Alimentação
Talvez o tema mais polêmico dentro dessas divergências. Quem nunca comeu um pacote inteiro de bolacha recheada ou tomou suco em pós? Graças ao avanço da ciência - e essa frase será constante ao longo deste artigo - hoje sabemos que comidas ultraprocessadas trazem muitos malefícios em comparação ao seu benefício único, que é sua praticidade. Outro fator que contou pontos contra esse modelo alimentar foi o boom de obesidade que hoje enfrentamos.
Estudos avançam e revelam a ação danosa a longo prazo da gordura trans, do açúcar e de tantos outros componentes presentes em alimentos que foram comuns na infância de tanta gente. O doce, inclusive, era símbolo de afeto e recompensa, e opções como nuggets e salsicha traziam a rapidez necessária para pais que trabalhavam o dia inteiro, por exemplo, e não contavam com nenhuma ajuda.
Outro alimento que ganhou ainda mais foco foi o aleitamento materno. Apesar de ser milenar e ter sua importância validada em qualquer fase da história do mundo, hoje ele recebe ainda mais apelo, também graças às pesquisas. Além disso, as mulheres lactantes contam com mais informações e ajuda de profissionais nesse período do aleitamento, tornando o processo menos doloroso e mais efetivo.
Privacidade
Se antes o conselho dos avós e até a intromissão direta era vista com bons olhos, como uma ajuda dos mais experientes, hoje há um conflito intenso nesse aspecto. Isso porque, como aponta artigo na Folha de São Paulo, os pais estão tendo filhos mais tarde e com mais independência financeira do que antes e, em contrapartida, esses avós estão sedentos por netos há muitos anos.
É aí que gera o ruído na comunicação: quem tem um filho hoje, tem muita informação a seu dispor e é mais independente do que era antigamente, quando era comum ter filho mais jovem e toda e qualquer ajuda era bem-vinda. Até mesmo morar junto dos avós era mais comum, por uma questão financeira mesmo.
Portanto, o bom e velho conselho de avó pode não ser sempre bem-vindo, primeiro porque ele chegará carregado de conceitos que podem estar ultrapassados, e segundo porque ele será dado a uma pessoa que esperou bastante para ter filho, criou sua independência e estudou um pouco mais o tema, e pode não receber isso com bons olhos.
“Naquela época toda ajuda era bem-vinda. Fui mãe jovem e não tive tempo de ler, de me preparar. Criei meus filhos no padrão da família antiga, em que os avós opinavam e isso era considerado ajuda, e não invasão de privacidade. Quando meu neto mais velho nasceu, percebi que tudo tinha mudado e ninguém tinha me avisado", conta Elisabete Junqueira, que criou o site Avosidade, à Folha.
"Os pais precisam deixar claro suas regras, com sinceridade e com afeto, e ver os avós como aliados. E os avós precisam respeitar as decisões dos pais, para que possam curtir muito seus netos sem tirar o protagonismo deles como principais cuidadores. Assim todo mundo ganha, especialmente a criança", afirma.
Educação
A palavra educação é bastante ampla e pode abranger uma série de coisas. Vamos começar falando sobre escolas, que assim como a ciência, também avançou em seus métodos pedagógicos. Hoje, busca-se cada vez mais um ensino acolhedor, onde o professor sai do lugar de autoridade máxima que ocupava antes para se tornar um parceiro do ensino.
Métodos construtivistas, que tem como principal função estimular o aprendizado dos estudantes e incentivar a participação ativa dos mesmos - seja por meio de intervenções ou exposição de suas respectivas opiniões sobre determinado tema - são cada vez mais procurados.
Entende-se por educação também métodos mais positivistas, que em uma pesquisa rápida no Google, aparecem 26.600.000 resultados, dentre eles, uma série de livros a respeito do tema e muitas pesquisas. Por aqui no Plenae, convidamos a Telma Abraão, especialista no assunto, para participar de um Plenae Drops.
E esse modelo educacional não se restringe somente às mães: os pais estão cada vez mais envolvidos com o dia a dia da criança, o que já demonstra uma mudança significativa também de antigamente para a atualidade. Contamos aqui um pouco sobre a paternidade afetiva e como ela pode ser benéfica para seus filhos.
Punições
Um dos ruídos possíveis na relação que podem acontecer diante desses novos moldes são os avós acharem os pais muito permissivos e pouco “pulso firme”, como era “no meu tempo”, diriam eles. Mas isso porque atitudes como palmadas ou intimidações físicas, longos castigos e embates verbais hoje em dia são menos tolerados, até mesmo diante da lei.
E há ainda o outro lado: avós que deixam tudo na ausência dos pais e que, quando devolvem essa criança aos seus tutores, deixam junto esse horizonte amplo de possibilidades, dificultando a reintrodução dessa criança em sua rotina onde há mais regras e mais tarefas.
Isso entra, novamente, no problema de comunicação entre as duas partes, que precisam estar alinhados quanto ao que se considera certo e errado naquele contexto familiar, lembrando sempre que o pai e a mãe terão a palavra final, a menos que não tenham a capacidade de cuidar daquela criança por alguma limitação física ou emocional.
É possível que as duas partes convivam em plena harmonia, mas é preciso ceder, dos dois lados. Lembre-se que o ambiente precisa ser, acima de tudo, acolhedor para aquela criança, que não deve temer ou preferir nenhum dos dois lados, mas sim, respeitar e amar de maneira igual.
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