Rejuvenescimento Biotecnológico - A idade desassociada do envelhecimento
O envelhecimento deve ser tratado como doença?
23 de Abril de 2018
Aubrey De Grey é um pesquisador que trabalha em uma área inovadora nos estudos sobre a longevidade. Com uma visão de mundo bastante curiosa, e até mesmo polêmica, colocou muita gente para pensar. Ele trouxe a seguinte questão: o envelhecimento deve ser tratado como doença?
O PLANETA ESTÁ ENVELHECENDO. O QUE ESTAMOS FAZENDO A RESPEITO?
Em 2015, último ano em que este tipo de estatística foi divulgado até o momento da palestra, não havia um só país no mundo cuja expectativa de vida estava abaixo dos 50 anos. E mais: não havia um só país além das regiões subsaarianas da África com expectativa abaixo dos 60.
O que isso quer dizer? Que envelhecer não é mais um problema de primeiro mundo. O envelhecimento é uma realidade comum a todos, ricos e pobres, e deve ser encarada de frente.
Aubrey De Grey levanta a bandeira de que o envelhecimento (e o sofrimento causado pelas doenças que vêm junto com ele) é um dos maiores problemas do mundo de hoje.
Ele chama a atenção para a necessidade dos líderes mundiais, sejam eles nos campos do pensamento, da política ou da ciência se posicionarem a respeito deste tema, dividindo a responsabilidade de levar a humanidade adiante neste mundo que envelhece constantemente.
Temos progredido enormemente no combate a doenças infecciosas, tornando-nos mais saudáveis e melhorando a qualidade de vida de grande parte das populações do mundo. Porém, quando falamos em descobertas sobre doenças relacionadas diretamente à idade, o progresso é muito lento.
VELHICE: UM MAL NECESSÁRIO?
Isso se deve, em parte, a atitude que nós, como sociedade, escolhemos tomar diante da velhice: “ela é inevitável, natural e não há nada que se possa fazer a respeito”. É esse pensamento que Aubrey rebate. Em seu trabalho, ele defende que as doenças do envelhecimento, ou seja, aquelas causadas pelo desgaste natural do corpo são processos que devem ser combatidos de maneira diferente da que a ciência vem fazendo até agora.
Imagine o corpo humano como uma máquina: ela sai da fábrica limpa, funcionando perfeitamente bem, com tudo encaixado no lugar certo. Porém, com o tempo de uso, a repetição de funções, o acúmulo de sujeira e a idade das peças esta máquina vai desgastando e falhando.
Quanto mais o tempo passa, mais esses danos vão se acumulando e mais prejudicam o equipamento, até que ele quebra ou para de funcionar de vez.
Com nosso corpo é igual. Ao longo da vida, nossos processos metabólicos vão acumulando pequenos danos, pequenas sobras aqui, uma anomalia celular ali.
Esses “danos” começam quando nascemos e se acumulam no nosso organismo ao longo dos anos. E, é claro, esse acúmulo se manifesta de maneira mais intensa quanto mais velhos estamos.
De Grey listou as três maneiras como as doenças do envelhecimento são tratadas hoje: via medicina geriátrica: esta linha de estudo procura curar eliminando os problemas do corpo, atacando o que não “está certo” até que os danos sejam extinguidos do organismo.
Porém, para o pesquisador, esta abordagem tem um problema: segundo ele, perdemos tempo se tentarmos eliminar os danos do organismo – afinal, eles são apenas efeitos colaterais de se estar vivo. Se conseguirem ser extirpados, logo voltam, já que são causados pelo próprio corpo, são acúmulos de anos de vida.
Via gerontologia: a gerontologia – ou a biologia do envelhecimento – procura trabalhar de maneira preventiva, protegendo a cadeia de danos logo no início. Mas este, para Aubrey, também não é o modelo ideal de tratamento. Afinal, o metabolismo humano é extremamente complexo e não compreendemos cem por cento o seu funcionamento.
Trabalhar dessa maneira apenas preventiva, com base em previsões, não é certeza de que os danos acumulados ao longo da vida serão realmente evitados – na realidade, eles vêm sendo apenas adiados.
Via manutenção periódica: o caminho favorito de Aubrey De Grey não propõe diminuir o ritmo de criação dos danos e nem arrancá-los fora. Ele propõe assumir que esses danos existem e vão existir, mas que podem ser reparados de tempos em tempos.
Como a manutenção de uma máquina, mesmo. O pesquisador traz essa abordagem como uma conclusão simples e possível – afinal, fazemos isso com nossas casas e carros há anos, por exemplo. Se queremos conservá-los novos, precisamos fazer ajustes.
Colecionadores de carros antigos conseguem mantê-los funcionando por vezes durante mais de 50 anos não porque sua máquina foi feita para durar tanto tempo, mas porque ela passou por muita manutenção preventiva. Porém, a manutenção proposta por Aubrey De Grey é um pouco mais complexa e convida a medicina a fazer mais pesquisas sobre o assunto.
É muito mais que tomar um suco detox de tempos em tempos: ela passa pelo reparo, limpeza e mesmo substituição artificial de células. Você está pronto para essa revolução?
É HORA DE FALAR SOBRE O ENVELHECIMENTO
A proposta pode ser polêmica, mas traz à tona um assunto muito importante: todos nós sabemos que a velhice existe e pode dar trabalho. Mas por que não se fala tanto nisso? Porque somos resistentes ao assunto. É natural, queremos adiar os temas complexos. Ninguém gosta de falar de coisas pesadas e incertas como a realidade de uma possível doença em nossos dias futuros.
Mas pensar nesse assunto de maneira realista, encarando a verdade de cada idade com coragem e leveza se faz necessário. E pode ser muito mais simples e libertador do que parece.
Envelhecer é um processo que inevitavelmente vai acontecer – e está acontecendo – com todos nós que sobrevivemos a juventude. Se começarmos a dar a atenção necessária para essa fase, coisas maravilhosas podem surgir daí.
Quanto mais falarmos sobre a realidade da velhice, mais uniremos vontades, ciências e experiências para aliviar o sofrimento do envelhecimento, seja via natureza, seja via tecnologia, da maneira que for melhor para cada um. Depende apenas de nós.
Porque as empresas devem contratar trabalhadores mais velhos
A maioria das companhias considera, erroneamente, a idade avançada uma desvantagem competitiva
25 de Novembro de 2019
Há muito anos, por meio de uma pesquisa para a Deloitte, perguntamos a cerca de 10 mil empresas: “A idade é uma vantagem ou desvantagem competitiva na sua organização?” É provável que a resposta não lhe surpreenda. Mais de 2/3 das companhias consideram a idade avançada uma desvantagem competitiva.
Se você tiver mais idade, é provável que irão considerá-lo menos capaz, com menos condições de adaptação, ou com menos disposição para arregaçar as mangas e realizar algo novo, contrariamente a seus colegas mais jovens.
O mito alastrado pela indústria das aposentadorias é que as pessoas com mais de 65 anos de idade devem se aposentar. Apesar dos bilhões de dólares gastos para tentar nos convencer de que nossos “anos dourados” devam incluir viagens, golfe e sentar-se à beira da piscina, as pesquisas, na verdade, mostram que as pessoas que param de trabalhar e se aposentam normalmente sofrem de depressão, ataques cardíacos, e um mal-estar geral por não terem muitos propósitos na vida.
Muitas pessoas, especialmente aquelas que tiveram uma carreira significativa por muito tempo, gostam, de fato, de trabalhar. Pelas sábias palavras de Stephen Hawking: “O trabalho concede um significado e um propósito, e a vida se torna vazia sem ele.” É a oportunidade de valorizar o próximo e a comunidade; ele proporciona uma rede de amigos e colegas com quem passar o tempo, como também concede algo para fazer com a sua energia física e intelectual. Por que queremos nos aposentar se gostamos do nosso trabalho?
Inúmeras pessoas entre 60 e 70 anos de idade estão ativamente engajadas na carreira, e não pensam na aposentadoria. Aos 89 anos de idade, Warren Buffett ainda é lembrado como uma das mentes mais brilhantes no mundo financeiro, e Charlie Munger, seu braço direito, tem 95 anos. Aos 61, Madonna ainda é a incontestável rainha do pop. Aos 81, Jane Fonda está mais prolífica do que nunca na sua carreira como atriz e ativista.
Tudo isso sugere que a idade coincide com o conhecimento do ambiente de trabalho, e as pesquisas provam isso. Contrariamente ao que se acredita, as pessoas mais antigas e com mais tempo de casa são as que têm mais êxito como empreendedoras. Aquelas com mais de 40 anos têm três vezes mais chances de criar uma empresa promissora como resultado da natureza paciente e colaborativa, e a ausência de uma atitude de “autoafirmação”, que normalmente acompanha os mais jovens.
O que as empresas ganham com funcionários mais velhos?
Os nossos sistemas de carreira, salários, recrutamento e avaliação não contemplam a contratação de pessoas mais velhas. Muitas empresas acreditam que elas “ganham muito” e podem ser “substituídas por trabalhadores mais jovens” que sabem realizar o trabalho da mesma maneira. Pessoas como Mark Zuckerberg – e outras – afirmam abertamente que “os mais jovens são mais espertos.” Temos uma indústria de mídia e de propaganda que glorifica os jovens.
As evidências científicas que tratam tal assunto mostram dados diferentes. Para a maioria das pessoas, o poder mental natural diminui depois dos 30 anos, mas o conhecimento e a experiência – os maiores indicadores de desempenho no trabalho – continuam aumentando até mesmo depois dos 80 anos. Há também evidências suficientes que presumem que características como a perseverança e a curiosidade são catalisadores para a aquisição de novas habilidades, mesmo durante a idade mais avançada. Com relação ao aprendizado de coisas novas, simplesmente não há limite de idade, e quanto mais engajadas intelectualmente as pessoas ficam quando mais velhas, mais contribuirão para o mercado de trabalho.
Além do valor e da competência que os trabalhadores mais velhos podem trazer para a força de trabalho, há também a questão da diversidade cognitiva. Pouco se tem alcançado em termos de valor quando as pessoas trabalham sozinhas. A grande maioria de nossos avanços – seja em ciências, nos negócios, na arte ou nos esportes – é o resultado da atividade humana coordenada – ou seja, pessoas trabalhando juntas como uma unidade coesa. A melhor forma de maximizar os resultados da equipe é aumentar a diversidade cognitiva, que tem maior probabilidade de acontecer se for possível agrupar pessoas de idades (e experiências) diferentes para trabalharem juntas.
Fonte: Josh Bersin e Tomas Chamorro-Premuzic, para
Harvard Business Review
Síntese: Equipe Plenae
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Josh Bersin é fundador da Bersin by Deloitte, e da Josh Bersin Academy, escola de pesquisa e desenvolvimento profissional para o RH e líderes de empresas.
Tomas Chamorro-Premuzic é o Chief Talent Scientist na ManpowerGroup, professor de psicologia de negócios na University College London e na Columbia University, e professor adjunto no Harvard’s Entrepreneurial Finance Lab.
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