Para Inspirar

Tiago Mochileiro em "​A educação salvou a minha vida"

Foi com a ajuda dos livros na infância que ele se encontrou e mudou de realidade - e agora busca fazer o mesmo para outras crianças.

28 de Novembro de 2022



Leia a transcrição completa do episódio abaixo:

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Tiago Silva: Se eu tivesse seguido o caminho normal para uma pessoa com a minha origem, eu não estaria aqui contando essa história para você. Para minha sorte, a minha mãe, que é semianalfabeta, dizia: “Você tem que estudar”. Desde cedo, eu percebi que a educação era o único caminho para contrariar a trajetória de pobreza e subverter a realidade a minha volta.

 

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Geyze Diniz: Foi na biblioteca que Tiago Silva descobriu o poder dos livros. Através da leitura, ele ganhou confiança para defender suas ideias e ter suas próprias convicções. Hoje, ele é empreendedor social e através de seu projeto "Mochileiro pela Educação" procura contribuir para que mais jovens possam ter acesso à educação, mudando o próprio destino. Conheça a trajetória de Tiago, que já distribuiu mais de 11 mil livros em 83 cidades do Brasil.

 

Ouça no final do episódio as reflexões do historiador Leandro Karnal para te ajudar a se conectar com a história e com você mesmo. Eu sou Geyze Diniz e esse é o Podcast Plenae. Ouça e reconecte-se.

 

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Tiago Silva: Eu nasci numa cidade chamada Junqueiro, no interior de Alagoas. É uma cidadezinha de 20 mil habitantes, a 130 quilômetros da capital, Maceió. Cresci ouvindo que meu estado tinha alguns dos piores índices do país em relação a analfabetismo, desigualdade social, IDH e mortalidade infantil. 

 

Junqueiro é rodeada por canaviais. No período da queimada da safra, a cana vira um pó, que se dissipa no ar e entra nas residências. A gente colocava uma lona entre o telhado e as vigas de madeira do teto pra barrar essa fuligem. Mas não adiantava muito. O chão de cimento queimado ficava imundo e eu acordava cheio de pó. Aí eu tomava banho de cuia no quintal, porque a gente não tinha chuveiro.

 

Em casa também não tinha televisão. Em 1994, quando eu completei 5 anos, a prefeitura instalou uma TV na rua vizinha. Foi o ano em que o Ayrton Senna morreu, ano também em que o Brasil ganhou o tetra na Copa do Mundo de futebol. Eu me lembro do pessoal assistindo aos jogos e gritando. Tudo isso tá guardado na minha memória, porque foto da minha infância eu só tenho uma. Sou eu neném, sentado numa cadeirinha. A minha mãe diz que ou a gente tirava uma foto ou comia, então ela preferia gastar com comida.

 

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A minha mãe criou os 4 filhos com a ajuda da minha avó. Eu e meus irmãos temos pais diferentes. Eles conheceram os pais e foram registrados por eles. Eu nem isso. A nossa infância foi marcada pelo julgamento alheio por essa característica familiar. As pessoas me perguntavam: “De quem você é filho?”. E eu respondia: “Da dona Quitéria”. “Mas quem é seu pai?”. Essa pergunta me deixava sem jeito, porque ela não tinha resposta. 

 

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Durante muito tempo, a minha mãe trabalhou como gari, varrendo as ruas. Ela conta que muitas pessoas perguntaram se ela não queria dar os filhos pra outras famílias com mais condição de criar. Era uma coisa comum na minha região. Mas, apesar das dificuldades, ela nunca cogitou fazer isso.

 

Em casa, a comida era contada. Todo dia, no café da manhã, a minha avó abria um pacote de biscoito de água e sal. Em cada embalagem vinham 28 biscoitos. Dava sete pra cada criança. A mensagem da minha avó era: “Coma bastante na escola”. Eu fazia isso. Forrava o estômago com merenda, para aguentar o rojão do dia. Quando tocava o sino do intervalo, eu saía em alta velocidade para ser o primeiro da fila e, depois, repetir o prato. A comida era boa demais, com coisas que a gente gosta aqui no nordeste, tipo cuscuz com ovo, macaxeira e inhame.

 

A minha avó era analfabeta e mais voltada pro trabalho. Ela dizia: “Vocês têm que trabalhar, porque filho de pobre não estuda, filho de pobre trabalha”. Não é que ela não acreditasse no nosso potencial. Ela ouviu isso durante muito tempo e foi repassando a crença. Mas a minha mãe pensava de outro jeito. Apesar de também não ter tido acesso aos estudos, ela acreditava que a educação poderia mudar o nosso destino. E insistia pra gente estudar.

 

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Eu ia bem na escola, só tirava 9 e 10. Era o melhor aluno da classe em matemática. Só que eu conversava demais na aula e, por isso, era convidado a me retirar da classe com frequência. Um dia, quando eu tinha 13 anos, um professor me viu no corredor e disse: “A partir de hoje, você vai ser monitor da biblioteca”. E eu: “Biblioteca, professor? Nada a ver isso! Nem combina comigo, porque eu nem gosto de ler”. Ele retrucou: “Você vai ser monitor da biblioteca, vai catalogar e limpar livro. Você vai ler um livro por mês e me entregar um relatório”.

 

Eu não tinha como dizer não, porque não era um pedido, era uma ordem. Então eu fui para biblioteca, com uma sensação de “meu Deus, que que eu tô fazendo aqui?”. Mas aos poucos aquele universo foi me cativando. O primeiro livro que me chamou atenção foi Os Miseráveis. Quando eu li o título, pensei: “É, tudo a ver comigo, vou ler esse livro”. Mal sabia eu que tava pegando na obra mais clássica do escritor Victor Hugo. Era uma versão resumida, adaptada pelo Walcyr Carrasco, com 130 páginas e uma capa vermelha. Quando eu comecei a ler, eu me identifiquei com as personagens, com o contexto, com a estética literária. E fiquei imaginando como seria viver na época da Revolução Francesa, como seria viver em outro país. 

 

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Eu me interessei por literatura clássica e nunca mais parei de ler. O livro foi um ponto de virada da minha trajetória. Por causa da leitura, o meu vocabulário foi melhorando. Eu fui ganhando confiança e comecei a defender as minhas ideias em público. Eu, que antes me sentia uma criança invisível pros outros e até para mim mesmo, comecei a me tornar uma pessoa com convicções próprias.

 

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Quando eu cheguei no Ensino Médio, os meus amigos da rua já não estavam mais interessados em estudar. Eles queriam se casar, ter filhos e conseguir um emprego para sustentar a família. Muitos deles já cortavam cana-de-açúcar. No período da entressafra, eles iam pro Paraná ou pra São Paulo cortar cana, e voltavam 6 meses depois. 

 

Mas eu tinha um outro grupo de amigos com mais grana. Eles moravam no centro da cidade e eram filhos de comerciantes, tipo o dono da sorveteria, o dono do mercadinho. Essa turma tinha um discurso diferente, queria fazer faculdade. E foi assim que eu soube que existia outra possibilidade de futuro.

 

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A essa altura, as minhas irmãs mais velhas tinham engravidado na adolescência e só completaram o ensino médio. Era a repetição da história familiar. Mas eu queria outra vida pra mim. A minha mãe, que nem sabia o que era universidade, apoiou a minha decisão de continuar estudando.

 

No período pré-vestibular, eu trabalhava de manhã como garçom, estudava à tarde e à noite fazia cursinho numa cidade vizinha. Chegava em casa à meia-noite e, no outro dia, acordava às 5 da manhã, pra começar tudo de novo. 

 

[trilha sonora]

 

Eu passei numa universidade pública e mudei de cidade pra estudar Medicina Veterinária. Consegui me manter com bolsa de estudo, mas percebi que a minha vocação era outra. Prestei vestibular de novo e entrei num curso tecnológico de Recursos Humanos, em Maceió.

 

Eu fui a primeira pessoa da minha família a fazer faculdade. Eu sabia que ter um diploma seria um divisor de águas e romperia o ciclo da pobreza. Por isso, ainda durante o curso, o meu plano era devolver a educação o que ela fez pela minha vida. E assim nasceu um projeto chamado Conversando sobre Carreira. Eu convidava profissionais de várias áreas pra falar com os jovens de escolas públicas, pra contar como a educação transformou suas vidas. O meu objetivo era dar pra esses adolescentes o que eu não tive: a oportunidade de conversar sobre o futuro. E nada melhor melhor do que o exemplo de pessoas com histórias reais e inspiradoras. 

 

Os jovens ficavam encantados nas palestras. Muitos deles nunca tinham visto um médico fora do hospital. Nunca tinham conversado com um engenheiro, um bombeiro, um veterinário. Carreira e ensino superior eram sonhos distantes para os mais pobres.

 

Durante 2 ou 3 anos, eu consegui levar os convidados, todos voluntários, para lugares próximos a Maceió. Mas a minha ideia era atingir lugares mais longínquos, comunidades mais carentes, chegar a quilombos e aldeias indígenas. E aí eu não encontrava quem quisesse ir, porque a pessoa não queria perder um dia de trabalho. Eu pensei: “Meu Deus, como esse projeto vai andar agora?”. Aí eu me lembrei: o livro! As personagens estão lá, as histórias estão lá. Eu posso dar uma palestra e distribuir livros. 

 

Então eu fui num alfarrábio, num sebo, e comprei 10 livros. Dois exemplares d’A Menina que Roubava Livros, dois O Pequeno Príncipe, dois Alice no País das Maravilhas, dois O Caçador de Pipas e dois O Menino do Pijama Listrado. Não foram escolhas aleatórias. Com essas obras, eu poderia trabalhar competências sócio-emocionais e valores, como amizade, coragem e amor. 

 

E aí eu comecei a colocar livros na mochila e levar para as escolas, mesmo que eu fosse sozinho. Eu postava essas fotos no Facebook e um amigo comentou assim: “Tiago, você é um mochileiro pela educação”. E não é que o nome pegou?

 

Já são 10 anos de trabalho, 83 cidades visitadas em 13 estados brasileiros e 11 mil livros distribuídos. O Mochileiro pela Educação se consolidou como um negócio de impacto social, balizado em três grandes frentes, que são: construir um mundo onde os mais jovens leem, construir um mundo onde mais jovens inspiram e construir um mundo onde mais jovens empreendem. 

 

Quando eu chego numa escola, eu começo contando a minha história. A minha palestra se chama “O fracasso não suporta jovens que sonham”. Os estudantes veem que eu sou uma pessoa igual a eles, com uma origem parecida com a deles, e começam a alimentar a esperança. Tipo: se esse cara consegue, eu também consigo. No fim da palestra, eu digo: “Mas não é uma história isolada. Também tem a história do Pequeno Príncipe”. E dessa maneira eu introduzo o livro. Cada aluno ganha um exemplar e a tarefa de ler a obra, pra gente discutir depois.

 

Com essa estratégia, eu sinto que eu consigo mostrar pros jovens que a educação salva vidas. E educação não é só português, matemática e outras competências técnicas. É também o olhar sensível de um professor, como aquele que me mandou pra biblioteca. É conhecer novos mundos através do livro. E, claro, é a chance de ter um diploma universitário. Porque uma coisa é você ir pra faculdade, entender que aquilo não é para você e escolher outro rumo. Você teve a oportunidade. Outra coisa é nem sequer sonhar com essa possibilidade, por não acreditar no seu potencial ou porque alguém disse que não é pra você. A universidade é para todos, desde que a pessoa queira, acredite e conheça os caminhos pra chegar lá.

 

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A educação transformou não só a mim, mas a minha família também. A minha mãe sentia vergonha de andar com a gente, porque ela era xingada por ter um filho de cada pai. Hoje, as pessoas pedem para tirar foto com ela, por ser a mãe do Mochileiro pela Educação. Ela é tímida e fica sem jeito, mas no fundo ela adora. De tudo que a gente conseguiu, o que me deixa mais feliz é a felicidade da mãe. É ver o orgulho que ela sente por ter acreditado na educação como ferramenta pra mudar as nossas vidas.

 

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Leandro Karnal: Tiago Silva tem uma história muito bonita. Vindo de uma realidade de muito desafio, de pobreza, em meio a cultura do corte de cana, em meio a falta de perspectiva e de esperança. Pessoas honestas, trabalhadoras, mas que dada a formação e a sua realidade imaginavam que o grande destino era formar família, casar e trabalhar na lavoura. O Tiago foi tocado por alguém que o obrigou a ler e leu uma adaptação do Walcyr sobre a grande obra do Victor Hugo, Os Miseráveis. E a partir dali o livro acendeu nele a vontade de crescer, a vontade de ser mais. E ele foi enfrentando os desafios, fez a faculdade, tornou-se a primeira pessoa da família a fazer faculdade e criou um projeto, primeiro, Conversando sobre a Carreira, levando pessoas formadas para conversar com jovens de escolas públicas onde eles podiam ver que, sim, era possível ser médico, veterinário, era possível ser engenheiro, era possível sonhar. Porque se é verdade que toda função é digna, todo trabalho honesto é digno, como é bom oferecer um horizonte, uma esperança. E ele quis repetir a experiência que os livros representaram para ele, de transformação. Então ele passa a distribuir e passa a visitar escolas e vira o Mochileiro pela Educação, transformando a realidade dele, a realidade de outras pessoas. Ele consegue com isso, não apenas deixar claro para os outros que é possível, mas ressignificar sua própria história. Ele transforma dificuldade em oportunidade, de fato em todos os sentidos o Tiago é um vencedor, é um modelo, é uma história muito inspirada pra gente refletir. 


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Geyze Diniz: Nossas histórias não acabam por aqui. Confira mais dos nossos conteúdos em plenae.com e em nosso perfil no Instagram @portalplenae.


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Candomblé: mitos e verdades que você precisa saber

Uma das religiões mais antigas que existe é também vítima de antigos preconceitos e mitos. Neste artigo, te contamos mais sobre o assunto!

22 de Setembro de 2023


No primeiro episódio da décima terceira temporada do Podcast Plenae, conhecemos a história de fé de Carmem Virginia, candomblecista, desde quando ela era sequer capaz de entender o que era isso direito. O chamado veio assim, bem cedo: em uma visita a um terreiro perto de sua casa, por mera curiosidade infantil, veio o encanto sem volta e, posteriormente, a “convocação” espiritual para se tornar cozinheira do terreiro, um papel com bastante significado para a religião. 

De lá para cá, a conexão só aumentou e os laços se estreitaram. O que era para ser um ofício espiritual se tornou ofício de vida, e a cozinha ganhou novos espaços em sua rotina, assim como a religião também. Porém, infelizmente o candomblé, dogma escolhido por Carmem por pura identificação, ainda é vítima de muito preconceito e inverdades por conta da intolerância religiosa.

Hoje, falaremos um pouco sobre o que é mito e o que é verdade em relação ao candomblé, uma das religiões mais antigas, e tão legítima e bonita quanto todas as outras. Leia mais a seguir!

Candomblé é diferente de umbanda

Verdade! Nesta matéria, te explicamos mais profundamente a história de origem de cada um. Mas, basicamente, o candomblé vem de fora do Brasil - suas origens são africanas -, enquanto a umbanda foi criada por aqui, se baseando no Candomblé, mas com outras referências também (inclusive do cristianismo). 

Além disso, o candomblé é mais antigo e cultua orixás, enquanto a umbanda é mais nova e também cultua orixás, mas além deles, há os guias, e um contato importante com o natural.

O candomblé não é para família ou para criança

Falso. A religião, como qualquer outra, prega união, paz e amor. Ela é um lugar para todos e a nossa personagem, Carmem Virgínia, é a prova disso, já que começou a sua iniciação ainda bem nova. Mas, é importante ressaltar que, apesar do seu primeiro contato com a religião ter sido ainda aos 7, foi somente aos 14 que ela ingressou de forma mais séria e comprometida.


Isso porque é preciso responsabilidade e maturidade para iniciar uma jornada espiritual que demande dessa criança, e é preciso ainda que os pais e líderes religiosos estejam atentos aos sinais de maturidade desse praticante. Mas as crianças são, sim, bem-vindas, inclusive, um dos três valores mais importantes dessa religião são os filhos e trazê-los para perto, incluindo nos rituais, é bem-vindo, mas não é obrigatório.

Os candomblecistas não acreditam em Deus

Falso - e essa é ainda mais delicada, já que o conceito de Deus varia muito. Para os panteístas, por exemplo, Deus é tudo aquilo que nos cerca: eu, você, uma simples cachoeira, como te contamos neste artigo. Eles são, inclusive, monoteístas: o deus único para a Nação Ketu é Olorum, para a Nação Bantu é Zambi e para a Nação Jeje é Mawu, como explica este artigo. “São nações independentes na prática diária e, em virtude do sincretismo existente no Brasil, a maioria dos participantes considera como sendo o mesmo Deus da Igreja Católica”, explicam os autores. 


O candomblé é intrinsecamente ligado à natureza

Verdade. Os rituais candomblecistas são realizados em terreiros, que são casas onde os sacerdotes e adeptos se reúnem e encenam uma convivência com forças da natureza e ancestrais. Eles reúnem centenas de pessoas e podem durar horas, no mínimo duas. 

“(...) A natureza é o princípio de existência de culto, os Orixás são as representações ou até mesmo a materialização dessas, seja na forma de possessão (transe mítico) de algum iniciado, ou nas formas de representações simbólicas de bens materiais. (...) Nesse sentido, deve-se ressaltar que, o culto prestado aos Orixás nos terreiros de candomblé, em um determinado momento, ultrapassa os limites de um culto à ancestralidade de um grupo, remetendo-se ao culto à natureza, pois, os membros que compõem as comunidades de santo, ou melhor, os terreiros, acreditam que os homens sejam o resultado da somatória de todas as partes ou elementos que compõem a natureza”, explica este artigo


Animais são judiados e torturados em cerimônias candomblecistas

Falso. “O candomblé possui um ‘Modo Tradicional de Alimentação’, alimentamo-nos da mesma proteína animal comprada no açougue e comida fartamente nas churrascarias, mas somos contra a dor, a tensão da ‘imolação’ e contra o modo como a sociedade em geral consome carne”, explica o professor Dr. Sidnei Barreto Nogueira a este artigo.

“Comemos bodes, galinhas, galos e aves, escolhidos ou criados por nós, tratados, lavados, honrados ritualmente e, depois, essa carne sagrada se junta à comunidade e une a comunidade. O princípio é do repasto e do comer em família e isso começa desde a escolha ou criação do animal que servirá de alimento. O rito não inclui barbárie e faz o animal sofrer, como é comum em abatedouros, não faz parte do rito ancestral”, conclui. 


O candomblé cultua os mortos e pede mal a eles 

Sim e não. “Sim para cultuamos os ‘mortos’ – temos aqui o sentido ocidental e assustador da palavra. Cultuamos os mortos, mas não como a nossa coirmã Umbanda, que também não prega o “MAL”. Somos a religião da memória ancestral, da continuidade, o culto àqueles que estiveram conosco é um museu historiográfico”, explica o professor ao mesmo artigo. 

“Honramos a “morte” que nos toca quando chega a hora e honramos igualmente os nossos entes queridos e isso se dá por meio de um complexo conjunto de ritos e saberes ancestrais”, explica. O candomblé, portanto, cultua os mortos, mas de forma alguma os deseja mal. 


O Exu é a representação do demônio

Não exatamente. Essa representação "maligna", como conta a historiadora e educadora Lisandra PIngo ao jornal da USP, foi feita pela igreja católica e, posteriormente, pelas igrejas evangélicas. “Aconteceu uma espécie de 'reapropriação' dessa atitude, principalmente pelas igrejas neopentecostais”, conta. 

Ela ainda levanta aspectos históricos da questão e relembra que a representação do “demônio brasileiro” (Exu) era diferente do “demônio europeu” (Diabo), e isso estaria muito relacionado a um processo de racismo. 

“O Exu é personagem controverso, talvez a mais controversa de todas as divindades do panteão iorubá. Alguns o consideram exclusivamente mau, outros o consideram capaz de atos benéficos e maléficos e outros, ainda, enfatizam seus traços de benevolência”, diz ela. 

“As muitas faces da natureza de Exu acham-se apresentadas nos odus e em outras formas de narrativa oral iorubá: sua competência como estrategista, sua inclinação para o lúdico, sua fidelidade à palavra e à verdade, seu bom senso e ponderação, que propiciam sensatez e discernimento para julgar com justiça e sabedoria. Essas qualidades o tornam interessante e atraente para alguns e indesejável para outros”, conclui. 

Portanto, colocá-lo somente como uma entidade do mal é também simplificar um pouco do que essa figura tão complexa e cheia de faces representa e que, recentemente, virou até mesmo tema para samba enredo em escolas de samba. O que a religião propõe é que se veja além dessa dualidade de bem X mal, já que ambas as forças habitam todos nós.


O candomblé possui outros nomes ao redor do país

Verdadeiro. Em Recife, a religião é conhecida como Xangô, no Rio de Janeiro recebe o nome de Macumba (que tem sido rejeitado por ter uma conotação pejorativa), tambor de mina no Maranhão e batuque no Rio Grande do Sul. “Até por conta dessas variações, algumas pessoas preferem simplesmente denominar esse conjunto de cultos com o nome de religião dos orixás, deixando de lado as diferenças entre eles”, como explica artigo do Museu Afro. 

Pronto! Agora você mergulhou de vez nesse assunto e conhece um pouco mais sobre a riqueza que o candomblé pode oferecer. Lembre-se sempre: é importante combater a intolerância religiosa, as fake news e pregar o amor que todos os dogmas podem oferecer à sua maneira.

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