Entrevista com
Jornalista e palestrante
Conversamos com a jornalista Denise Ribeiro, que depois de tantos anos engajada na causa do combate ao etarismo, decidiu se lançar na política e colocar a mão na massa
16 de Setembro de 2024
Longevidade é o tema que inspirou a criação deste portal, o Plenae. Pensar a longo prazo e atingir idades cada vez maiores e mais distantes era a verdadeira bandeira do nosso fundador, Abilio Diniz. Para isso, ele e sua esposa, Geyze Diniz, promoveram eventos focados no tema e enfim a plataforma de conteúdo que pudesse amplificar essa voz e difundir mais conhecimento.
Com o tempo, a causa foi guinando para o caminho da qualidade de vida. Afinal, do que adianta chegar mais longe se não for com saúde? Se você se cuidar hoje, o amanhã é consequência. Mas algo não mudou nesses últimos anos: a defesa do direito de envelhecer sem preconceitos.
Por aqui, já trouxemos o tema algumas vezes, seja diretamente como neste artigo com as falas do filósofo Pondé, ou simplesmente trazendo exemplos positivos de pessoas inspiradoras que não se encaixaram na caixinha que esperam que os idosos se encaixem. É o caso da Rosângela Carvalho Marcondes e Miréia Borges, as convidadas de um dos nossos Plenae Entrevistas.
Hoje, traremos mais uma figura inspiradora que de tão envolvida com a causa, decidiu se lançar aos mares da política para ver a diferença sendo feita de fato, na prática e com as suas mãos sovando a massa. É a jornalista Denise Ribeiro, candidata a vereadora em São Paulo e uma pessoa cujas falas valem a pena serem reconhecidas!
Olha, foi praticamente o jornalismo. Na verdade, no jornalismo eu nunca escrevi sobre a minha própria trajetória de vida, mas foi a falta de oportunidades profissionais dentro do jornalismo depois dos 50 que fez eu me interessar por esse tema. Existem pesquisas que mostram que, a partir dos 45, sua batata começa a assar.
Uma dessas pesquisas, por exemplo, mostra que apenas 2% dos funcionários de grandes empresas têm mais de 50 anos. Você junta isso ao fato de que não vai ter mais emprego para ninguém, nem para jovem, nem para velho, mas o segundo público fica com a situação ainda mais complicada.
O etarismo se torna mais grave num país como o Brasil, que tem problemas estruturais de educação. Não pode se dar ao luxo, né? De jogar no lixo as nossas competências só porque a gente completou 60. Então esse é um tema que me motiva desde os meus 50 anos. Eu fui sócia de um portal onde, para lançar, fizemos um manifesto muito legal dizendo que não estávamos interessados em pular de paraquedas ou mostrar as nossas tatuagens.
A gente queria inclusive evitar esses clichês da publicidade e até alguns equívocos que as pessoas cometem achando que estão agradando. Como quando me falam “Nossa, você não parece que tem 68”. Isso, pra mim, é só mais um reforço da sociedade que supervaloriza a juventude, porque senão não seria visto como elogio.
Já me envolvi com alguns projetos relacionados ao tema, inclusive com o Mórris Litvak, contato com o Walter Feldman, que é o responsável pelo fórum da longevidade, evento que também estarei. Tenho ido a muitos seminários sobre isso, há muitos eventos, e aí eu acho que passou da hora de ter alguém na câmara municipal que defenda o direito do idoso ao trabalho depois da aposentadoria, porque essa é minha falta e essa é a dor que eu detecto na maioria dos idosos.
A gente tem um grupo em Higienópolis [bairro em São Paulo] que se reúne toda quarta-feira, seja online ou presencial, e temos diversas parcerias com as empresas da região e até com o Mackenzie, com o IED (Instituto Europeu de Design), que é onde a gente faz as reuniões na quarta. inclusive. Neste semestre, por exemplo, os alunos do curso de moda do IED vão usar a gente de modelo de estudo e vão desenvolver uma coleção voltada para o público 60+, por vezes esquecidos pelas indústrias dos mais diferentes segmentos.
Para além do exemplo do mercado de trabalho que eu citei anteriormente, tenho muitos outros exemplos, nós ficaríamos um tempão aqui. O desrespeito com o idoso é diário, ele é visto até mesmo em situações muito cotidianas como brigas no trânsito, episódio que passei recentemente, e que envolvem outras nuances - nesse caso, fui vítima de machismo junto ao etarismo. É complexo.
Eu acho que a bandeira mais urgente, que é a dor mais profunda, é a falta de oportunidade de trabalho. E quando eu digo isso, eu penso que tem tanta coisa que a gente pode fazer na economia criativa, na economia colaborativa, envolvendo a troca entre gerações. Eu posso dar oficinas, mentoria, palestras em escolas públicas, posso trocar com os jovens fragilizados das periferias.
E eu não preciso ser jornalista, advogado para dar uma oficina. Eu posso ser confeiteira. Eu vou lá ensinar, mostrar a fazer um bolo, eu posso ser carpinteiro Ensinar os meninos a fazerem um banquinho, sei lá. Entendeu? Então essa troca tem milhões de coisas que dá para a gente fazer sem precisar se sentir inútil, invisível, descartável, nada disso - mas para que isso aconteça, é preciso dinheiro.
Para que tenha dinheiro, precisa fazer parte do orçamento do município. Para fazer parte do orçamento do município, tem que ter um projeto de lei determinando isso e que seja aprovado, claro. E quem faz o projeto de lei é o vereador. Então o plano ficou muito claro que não adianta ficar brigando, reclamando, discutindo. Você tem que ir lá e colocar a mão na massa mesmo.
Acho que nós mulheres temos esse olhar mais carinhoso, mais acolhedor, mais do cuidado, seja com a cidade ou com as pessoas. Sempre me interessei por política, apesar de nunca ter estado diretamente envolvida. Tenho feito minha campanha com quase nada de recurso porque acredito que faço parte dessas pessoas que realmente representam essa geração, porque o Brasil está envelhecendo.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, em 2030 o Brasil vai se tornar a quinta população mais idosa do mundo. Estamos vendo a inversão da pirâmide etária, a expectativa de vida do brasileiro cresceu 40% nos últimos 60 anos. Fora que os idosos também representam uma parcela importante do poder aquisitivo.
Um estudo diz que cerca de 86% das pessoas com mais de 55 anos têm fonte de renda e esse percentual aumenta para 93% quando são pessoas 75+. Quer dizer, as pessoas com mais de 75 anos ainda concentram mais renda do que as de 55. E 63% das pessoas 60+ são provedoras da família, tanto que durante a pandemia de COVID 19, teve família que ficou completamente sem renda depois de perder o idoso.
Eu ainda acho que é muito incipiente para o tamanho do desafio que nos espera. Olha, para você ter uma ideia do descompasso entre a oferta de serviços: 63% do serviço tem os millennials como alvo. Há uma falta de serviços e produtos voltados para os idosos que é generalizada - e isso vai desde coisas mais básicas até serviços com foco em diversão ou relacionamento, por exemplo.
A sociedade quer que a gente fique sentado com controle remoto, na frente da televisão. E nós somos a primeira geração de idosos que vamos envelhecer do jeito que a gente quiser. Inclusive eu tenho uma crítica feroz a fazer contra essa biopolítica que tenta controlar os nossos corpos.
Desde o final do do século 20 existe essa narrativa sobre o envelhecimento que vem ganhando força, cujo foco é o cuidado preventivo. O idoso é levado a acreditar que ele tem que ser o gestor de si mesmo, quase como se nós fossemos uma empresa. O que é que isso quer dizer? Que somos forçados a alcançar o modelo oferecido pelo marketing da velhice ativa, saudável e participativa, e que quase sempre é voltado para a classe média alta, que é quem tem esse tipo de acesso.
E tudo bem, essa biopolítica fez com que a gente alcançasse uma longevidade, né, em teoria. Mas aí, de repente, viramos um problema político do ponto de vista da economia política e dos dispositivos de seguridade social. E nessas, a população dos idosos é dividida entre os ativos, que são aqueles aplaudidos, disponíveis para o consumo de bens, e os usuários chamados de dispendiosos, que são os os descartáveis, que viram constantemente alvos de serviços de política pública e banidos de alguns privilégios.
Eles são responsabilizados pela má gestão de si mesmo e eu mesma já senti isso na pele, dentro da minha família. Somos privados de vários prazeres alimentares, nosso estilo de vida é sempre colocado em questão, até mesmo a sua vida sexual, todos os seus hábitos, se não forem considerados saudáveis o suficiente, são usados contra você.
Eu acho que os jovens que têm visão de mercado, que se consideram empreendedores, precisavam estudar melhor esse mercado prateado, oferecer serviços e produtos voltados para as pessoas 60+, que é garantia de sucesso absoluta. E eu gostaria de falar também sobre o nosso direito à sexualidade, que é a minha outra pauta.
Porque a Organização Mundial de Saúde coloca práticas sexuais como um dos pilares do conceito que eles chamam de saúde integral. E você vê, por exemplo, as mulheres com problemas sexuais, sexuais depois da menopausa e sem coragem de falar pro médico, que também fica constrangido de perguntar.
E aí esse assunto acaba passando em “brancas nuvens" e a gente precisa tratar disso, precisa falar disso porque tesão é alegria. Por isso que o meu slogan é “sem tesão não há solução”, que é o título de um livro de um grande psicanalista chamado Roberto Frei e que eu peguei emprestado. Porque sem tesão a gente não levanta nem da cama, né? Precisamos de tesão para tudo na vida.
Na oitava temporada do Podcast Plenae, navegaremos junto com Tamara Klink, representando o pilar Mente
23 de Maio de 2022
Atravessar o Oceano Atlântico em um pequeno veleiro aos 24 anos e completamente sozinha. Parece loucura, mas não para Tamara Klink, que não só encarou o desafio como inspirou incontáveis pessoas com a sua própria bravura. É impossível não relacioná-la ao seu pai, Amyr Klink, que também tem feitos impressionantes no mar em sua conta.
Mas a história de Tamara é única porque é só sua. Partiu de um desejo próprio e custou muita, muita coragem - e isso, vale dizer, é pessoal, e não genético. O primeiro passo foi buscar patrocínio, mas a ideia ainda era só uma ideia, sem planos realmente concretos.
O segundo foi então traçar esse planejamento mais concreto, que contou com a ajuda de pessoas inusitadas e a compra de um veleiro que demandaria muita reforma, mas seria o seu parceiro dali adiante. E então, novamente, buscar quem acreditasse nela. O patrocínio veio de ninguém menos que Luiza Trajano, que a ajudou não só financeiramente, mas com empoderamento.
“A Luiza disse que gostou da ideia justamente porque eu mostrava que é possível fazer uma travessia com pouco e que a viagem podia inspirar as mulheres jovens. Aí eu fiquei: ‘Meu Deus do céu, será que eu tenho legitimidade para inspirar alguém? Me parece um objetivo tão abstrato que não é nem legítimo. Mas, se ela falou, eu vou acreditar’”, relembra.
E então, ela e Sardinha - nome de seu barco - se lançaram ao mar e a todos os desafios que ele reserva. Mais do que as dificuldades marítimas comuns ou as inesperadas, o grande desafio de Tamara foi lidar com a solidão, a carência e suas próprias questões.
E é por isso que hoje, na oitava temporada, ela representa o pilar Mente nessa linda e inspiradora história. Afinal, é preciso uma dose de autoconhecimento gigantesca e muito equilíbrio emocional para lidar com a imensidão azul e a imensidão interna, desafiadoras na mesma medida, cada uma à sua maneira.
“Sonhei grande, mas me permiti começar pequeno. Todos nós temos alguma coisa que nos orienta e que às vezes parece tão louca que a gente nem dá atenção pra ela. Eu acho que sonho não é o que a gente quer ter. Ele tá lá, a gente só precisa desvendar qual ele é e começar de algum jeito pra ele se tornar realidade”, conclui.
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