Parada obrigatória
Nascido no interior de Goiás, o produtor rural leva a vida de forma leve, mas sem deixar de lado uma saudável intensidade
8 de Outubro de 2020
Riso fácil e leveza na fala, olhar e movimentos. Essa é possivelmente a descrição mais fidedigna de Benedicto Gonçalves, que conversou com o Plenae diretamente do seu jardim. “Cuido dele todos os dias às 17:30h. É o meu compromisso e isso me mantém vivo” conta.
A natureza é mais do que sua distração, mas foi também o seu ganha pão ao longo da vida. Filho de judeus que fugiram de Portugal, Benedicto formou-se em advocacia e chegou a passar no concurso de juiz, mas nunca exerceu. Preferiu dar continuidade aos negócios rurais que os seus antepassados já tocavam.
Ainda hoje, aos 82 anos de idade, ele se diz “empresário rural”, e toca praticamente sozinho 5 propriedades diferentes de cria e engorda, 2 em Tocantins e 3 na sua terra, em Goiás. “Como eu nasci no interior de Goiás, acho que se enganaram e colocaram uma data diferente na certidão. Tenho certeza que sou mais jovem” brinca Benedicto.
Além de magistério e produtor rural, ele também já foi engraxate, comerciante e teve contato com a política. Benedicto conta que ter trabalho com o General Meira Mattos - militar responsável pela intervenção no estado de Goiás - o marcou muito.
“Ele tinha uma personalidade forte, me deu muita responsabilidade e eu me sentia até acanhado, mas cresci bastante naquela época. Outra pessoa que me marcou muito foi o Assis Chateaubriand, que tive contato e na época era um empresário. Também fui responsável por acompanhar um herói de guerra que veio pro Brasil da Tchecoslováquia e acompanhá-lo em sua visita por Goiânia.”
Para ele, longevidade é uma dádiva de Deus, cujo ele próprio não pensava em atingir. “Minha mãe perdeu 5 filhos pequenos morando na roça, e eu to aqui até hoje. Já operei 10 vezes, mas como sou positivo, eu acho que vou sair bem e saí. E eu credito isso à Graça de Deus e também ao fato de eu levar uma vida que eu gosto muito de viver. Só procuro aquilo que faz bem pra mim, não fumo, não janto, bebo só um pouco de vinho, faço exercícios diariamente e acordo bem cedo, sempre em contato com a natureza.”
Benedicto faz parte dos 12,7% de idosos que compõem a população do Centro Oeste. Só em Goiás, o número já vai para 20% da população total, e a projeção é a de que , em 2050, esse número vá para a casa dos 22%. Pesquisas indicam que, em uma comparação de 2010 a 2030, a população de idosos do estado irá dobrar. Somente hoje em dia, são mais de 102 mil pessoas que ultrapassam os 80 anos - como é o caso de nosso entrevistado.
Para ele, isso é notícia boa. “Eu amo viver e não tenho vergonha de falar e nem de ser feliz. E eu amo muito meus filhos, tenho 3 filhas mulher e 1 homem. E amo muito minha mulher, isso também é outra coisa muito importante: amar e ser amado. Isso é fundamental para seguirmos em frente” conta.
E viver mais especificamente em sua terra Goiás também foi de suma importância para essa trajetória tão positiva. “Ela me deu a oportunidade de eu trabalhar e desenvolver o trabalho que meu avô começou, meu pai tocou e eu estou dando continuidade. A região hoje pra mim é uma das que têm mais potencial. E é a que menos recebe ajuda pública. A maioria, quase todos, é fruto da iniciativa particular e capital privado. E a gente prospera como dá” explica.
Por essas e outras, Benedicto não pensa em parar. Apesar de já levar uma vida confortável e ter diminuído o ritmo, ele enxerga muito valor no que faz e acredita que é justamente esse um dos principais combustíveis para mantê-lo sempre em movimento. Mas seria ele o principal?
“O trabalho foi muito importante pra mim, mas a família é a minha base. Se eu vivesse mal aqui em casa eu já tinha morrido há muito tempo. Basicamente, é minha satisfação pessoal estar rodeado com as minhas filhas. Estou com elas aqui, quer benção maior do que essa?” pergunta.
Um grande fã da sétima arte, Benedicto conta que gosta dos filmes americanos clássicos. A sua leveza, tão mencionada pelo próprio ao longo da conversa, se reflete até mesmo na sua escolha de filmes. “Não gosto de ver filme de guerra, não gosto de tiro, quero passar pela vida sem ter dado nenhum tiro, detesto arma, violência não é comigo. Às vezes, se alguém se altera comigo, eu baixo a cabeça e não falo, vou embora. Não gosto nem de assistir” conta.
Justamente por ter tamanha lucidez em suas escolhas, Benedicto revela não se arrepender de nada. Quando perguntado sobre o que diria para o seu eu de 30 anos, ele responde: “diria para fazer o que fiz. Fui solteiro até os 45 anos. Quando eu namorei minha mulher, vi que ela realmente gostava de mim, pedi ela em casamento e vivi muito bem. A vida é muito simples, é feita de coisas simples e eu me tornei cada dia mais leve.”
Então, qual dica ele daria aos mais jovens? “Acrescente alguma coisa a alguém, como você também me acrescentou ao longo dessa conversa. Encare a vida com mais leveza, mas viva com toda a sua intensidade e seja positivo. Valorize a educação e o seu país. Leia, ouça músicas e frequente peças e igreja, tudo isso acrescenta muito na gente. Não faça nada que possa te fazer mal, viva a realidade como ela é e sinta essa imensa satisfação em fazer as coisas simples, como chupar uma fruta do seu quintal. Eu danço conforme a música e aproveito o que tenho. Vivo a realidade como ela é” conclui.
Na décima quarta temporada do Podcast Plenae, conhecemos como a persistência move montanhas e desvia caminhos em Contexto.
18 de Dezembro de 2023
Quantas vezes é
possível se reerguer depois de cair? Isso vai depender das condições impostas e
da sua resiliência. Esse último fator está intimamente ligado às experiências que
você foi exposto e como elas constituíram que você é hoje. No caso de Emar
Batalha, o seu sobrenome dá o tom: por trás da vida de sucesso que hoje ela alcançou,
há uma história de luta que faz parte do seu DNA para sempre.
Ela é parte das estatísticas de quem cresceu com pai ausente. Mais do que isso,
um pai ausente que, quando ela tinha apenas 11 anos, assassinou sua mãe por
ciúmes, mais um crime de feminicídio para a conta de um país que acumula esses
tristes números, cada dia mais.
“Meu pai foi preso, mas ficou menos de um ano na cadeia. Quando ele saiu,
vendeu tudo que tinha no Espírito Santo e na Bahia e foi embora pro Pará. A
gente ficou abandonado à própria sorte e passou a viver de favores dos amigos.
A única refeição garantida era na escola. Em casa, a gente comia muito macarrão
com farinha, quando tinha”, relembra.
Em meio a esse luto intenso e precoce, Emar conheceu ainda a face feia da fome
e logo começou a trabalhar, assim como todos em sua família, mesmo os mais
jovens. Mas, havia nela uma chama que faria a diferença no futuro: a seriedade com
que ela levava os estudos.
“Um diferencial meu em relação à minha família era que eu entendia o valor da
educação. Eu fiz um curso técnico de contabilidade e passei no vestibular de
ciências contábeis. Meus irmãos de Vitória me ajudaram a pagar as primeiras
parcelas da faculdade, e eu consegui um emprego numa indústria de celulose. Para
conciliar o trabalho com os estudos, eu viajava quase 400 quilômetros toda
semana. Eu ia de ônibus ou pegava carona na estrada, para economizar”, conta.
Emar era movida por um ideal: viver bem como os dias em que viveu com a mãe dos
seus irmãos por parte de pai. Dias em que ela conheceu elevador, shopping e
comida na mesa. A convite de uma amiga, começou a vender bijuteria e logo viu que
essa podia ser uma empreitada rentável. Largou o seu então emprego e se dedicou
a esse nicho.
Tudo ia bem, não fosse a tendência psicológica de todo ser humano em reproduzir
situações traumáticas vividas na infância. Mesmo atingindo sucesso e se
tornando design de joias, Emar vivia presa a um relacionamento tóxico e com
tendências violentas, um drama bem familiar a ela.
“Aos 29 anos, eu não aguentei mais tanta violência, e me separei. Eu já tinha
loja em Colatina, e decidi refazer a minha vida em Vitória. Na capital, eu
comecei a entender que eu poderia ser mais do que uma vendedora. Eu poderia ser
uma designer de joias. Eu já sabia muito sobre o mercado e conhecia as fábricas
e os ourives. Eu fiz alguns cursos técnicos de desenho e passei a comprar um
monte de revistas importadas. As minhas peças bombaram”, revela.
Ela se aproximou de figuras famosas, como a Preta Gil, e seus negócios
decolaram – não sem muito sacrifício, afinal, ela foi assaltada pelo menos três
vezes. Foi quando chegou 2020 e, com ele, a pandemia de covid-19. Emar e seu
marido foram um dos 100 primeiros contaminados e, durante sua recuperação, ela
se isolou em sua casa no Guarujá.
Foi aí que ela conheceu o seu verdadeiro propósito: ajudar outras pessoas, mais
especificamente, outras mulheres. O que começou com a produção de marmitas para
aqueles que mais precisavam virou um Instituto sólido que leva capacitação e
empodera àquelas que mais precisam desse empurrão.
O resto da história você confere no episódio completo, que representa o pilar
Contexto e fecha com chave de ouro a décima quarta temporada do Podcast Plenae.
Aperte o play e inspire-se!
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