Para Inspirar

Blue Zones: segredos de uma vida longa

Estudos nos mostram que apenas 20% de nossa longevidade é ditada por genes, 10% é ditada pela tecnologia médica e todo o resto depende de nosso ambiente e estilo de vida.

24 de Abril de 2018


Com muita energia e acompanhado por fotos maravilhosas de sua equipe da National Geographic, Dan encerrou o ciclo de aprendizados de maneira inspiradora, contando para nós sua experiência viajando os cinco lugares do mundo onde as pessoas vivem por mais tempo e são mais saudáveis.

ONDE MORAM AS PESSOAS QUE MAIS VIVEM NO MUNDO?

Estudos nos mostram que apenas 20% de nossa longevidade é ditada por genes, 10% é ditada pela tecnologia médica e todo o resto depende de nosso ambiente e estilo de vida. Em um trabalho que foi muito além do ambiente restrito dos laboratórios e envolveu diversos profissionais de diferentes áreas, Dan Buettner foi até 5 áreas do globo onde as pessoas vivem, estatisticamente, mais. São regiões chamadas de Blue Zones, repletas de idosos centenários que, de geração em geração, vivem mais e vivem bem.

  1. 14 vilarejos na Sardenha, na Itália. Um conjunto de vilarejos isolados na região da Sardenha, na Itália, agrupa um alto número de idosos centenários que adotam uma dieta muito específica: suas refeições quase sempre têm um tipo de pão produzido na região, um queijo probiótico feito do queijo de suas cabras e um vinho caseiro. Em sua sociedade, a família sempre vem antes.

    Tudo o que eles fazem é motivado por ela, que é a prioridade e o centro de tudo. Nestes vilarejos, pessoas idosas são celebradas por sua sabedoria, constantemente solicitadas para aconselhar os mais jovens, inclusive em decisões políticas da região.

  2. Ilha de Okinawa, no Japão. Uma população que come basicamente legumes, seguindo uma dieta de 200 anos que os ensina a parar de comer antes de seu estômago estar cem por cento cheio. Em Okinawa, a solidão não existe.

    Desde os 5 anos de idade, as pessoas ingressam em clusters, pequenas sociedades que se ajudam – e se encontram – durante toda a vida. O propósito dos habitantes de Okinawa é muito arraigado, sendo quase uma mistura de propósito e responsabilidade: dê de volta. Outra curiosidade de Okinawa é que lá, as mulheres são as líderes espirituais.

  3. Loma Linda, Califórnia, nos EUA. Lá vive uma grande comunidade de adventistas, cristãos conservadores que vivem uma década mais que a população média dos Estados Unidos. Isso sem estarem isolados em uma ilha no Japão ou no Mediterrâneo.

    Como isso é possível? Entre outros fatores, porque apesar de não se encontrarem geograficamente isolados, isolaram-se culturalmente. Todas as semanas, os adventistas guardam o sábado, quando param por um dia inteiro para se dedicar a Deus e caminhar na natureza.

    Sua dieta é derivada de uma passagem bíblica que diz que Deus fez as árvores e frutas para a alimentação do homem – por isso, não comem carne. Vivem em uma forte comunidade, que está sempre se encontrando e que valoriza o trabalho braçal e o movimento físico.

  4. Nicoya, Costa Rica. Essa comunidade pobre, mas com as menores taxas de mortalidade na meia-idade no mundo e alta expectativa de vida nos lembra que longevidade não é sinônimo de ser rico. Sua dieta é baseada em ingredientes que reúnem todos os aminoácidos necessários para nosso corpo.

    Sua vida simples, em comunidade, cunhou a expressão “pura vida”, que usam como “bom dia”. Ela traz em sua essência a “sensação de se estar bem, mesmo em meio à mais pura simplicidade”.

  5. Ikaría, Grécia. Esta área muito isolada geograficamente reúne centenários que se alimentam com a dieta mediterrânea, rica em vegetais, feijões e ervas – não só como tempero, mas também como ingredientes de chás extremamente anti-inflamatórios. Os habitantes da região cultivam suas próprias comidas, poucos têm carro e são muito participativos na comunidade.

“NÃO SEI PORQUE VIVI TANTO, ACHO QUE APENAS ME ESQUECIDE MORRER”

Buettner levou 5 anos e 27 viagens até as Blue Zones para descobrir que o segredo da longevidade dessas pessoas não estava apenas em sua dieta ou em algum componente genético. Ouvindo a frase acima de um dos pesquisados, ele percebeu que era sobre muito mais que isso: era sobre simplesmente não se esforçar para chegar lá.

Em todos os pesquisados, Dan percebeu que ninguém se esforçou para alcançar uma velhice plena e saudável. Os habitantes dessas regiões apenas deixaram a longevidade chegar. Não seguiram receitas, não entraram na academia pensando em viver mais ou executaram conscientemente o estado de atenção plena.

Apenas viveram. Porém, viveram em um ambiente que proporcionou tudo de que precisavam sem nem perceberem. Nessas zonas, as pessoas são encorajadas a envelhecer bem como parte de cada hábito, cada pequena tarefa do dia. Elas se exercitam com atividades do dia a dia, fazendo pão, plantando, locomovendo-se nas vilas.

Estão sempre ativas, executando tarefas que estimulam o corpo e a mente. Fazem meditações como parte de sua rotina, ou tiram uma soneca, ou tomam uma boa taça de vinho, diariamente. Comem de forma mais acertada, sem pressa. Colocam a família em primeiro lugar. Praticam uma fé. E, por fim, têm uma rede de amigos selecionada, que reforçam seus hábitos.


Os habitantes dessas Blue Zones têm tanto estresse e preocupações cotidianas quanto nós. A diferença é que aqui, fora delas, no auge do mundo ocidental, nos acostumamos a um estilo de vida pouco saudável, a um mundo de facilidade e abundância.

Nele, não nos mexemos naturalmente (por isso, temos que ir até a academia malhar), não comemos bem como parte normal da rotina (a não ser que decidamos começar uma dieta) e nem sempre somos incentivados pela sociedade e pela nossa rede de amigos a reforçar hábitos positivos (quando foi a última vez que você foi convidado para uma tarde de salada entre amigos?).

Longevidade tem mais a ver com um caminho natural advindo de um estilo de vida do que com um caminho artificial, forçado por nós mesmos. Ao ler este livro completo, ao relembrar todas as palestras, pense nisso: melhor que tentar aplicar uma ou outra técnica para sua vida é procurar uma mudança mais profunda, em seu estilo de vida como um todo.

Antes de mais nada, crie um estilo de vida que facilite uma vida melhor. Se você criar ao seu redor um setup mais saudável e feliz, conseguirá atingir a longevidade. Melhor que isso, conseguirá construir uma vida naturalmente mais feliz enquanto chega lá.

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Ana Claudia Michels em “A perseverança de um sonho”

Confira a história da médica Ana Claudia Michels, que trocou as passarelas pelos corredores do SUS em busca de seus sonhos, no Podcast Plenae

13 de Setembro de 2020


Leia a transcrição completa do episódio abaixo:

[trilha sonora]

Ana Claudia Michels: Eu estava em um ótimo momento, pelo menos aos olhos dos outros, eu era muito bem-sucedida como modelo, uma top model reconhecida no mundo todo. E ainda assim eu sentia que me faltava alguma coisa. 


[trilha sonora]


Geyze Diniz: Ouvir a trajetória da Ana Claudia é ter a certeza de ser embalada por uma doçura ímpar e muita determinação. Trocar passarelas por hospitais é para quem tem um propósito muito bem definido dentro de si mesmo. No final do episódio, você ouvirá reflexões do doutor Victor Stirnimann para te ajudar a se conectar com a história e com você mesmo. Eu sou Geyze Diniz e esse é o Podcast Plenae. Aproveite este momento, ouça e reconecte-se.


[trilha sonora]


Ana Claudia Michels: Eu tinha 14 pra 15 anos quando dei o primeiro passo fora de Joinville pra iniciar minha carreira.  [trilha sonora] Recebi um convite para vir a São Paulo e conhecer uma agência de modelos. Eu era muito nova e, para não vir sozinha, viemos eu e minha mãe, completamente às escuras, sem saber de nada, só para ver o que estavam falando. Eu era super magra, esquisita, mas na época eles gostavam das meninas assim, com esse padrão que era uma beleza não muito óbvia.  

Chegamos na agência e era véspera da primeira São Paulo Fashion Week, em 1996, e estava uma correria, todo mundo louco. Ninguém nem olhou na minha cara, fiquei lá sentada no sofázinho o dia inteiro. Até que veio uma pessoa e falou assim: "É, então, o dono da agência não vai poder te ver hoje, porque ele está muito ocupado. Você vai ter que ficar até amanhã". E aí mandaram a gente para um apartamento de modelo. 
O lugar era bem triste, para dizer o mínimo. Era sujo, tinha um monte de colchão na sala. Era escuro, porque as janelas davam para as paredes de um outro prédio. Então no primeiro dia, a minha experiência tinha sido inteira ruim, desde o momento em que chegamos na rodoviária, e ficamos quatro horas esperando a kombi que nos buscaria até a chegada nesse apartamento.
Lembro que na época a sensação era de que estava muito claro que aquilo não era pra gente. Eu nunca tinha sonhado em ser modelo, é lógico que eu admirava as meninas, eu admirava as misses que era o que eu mais conhecia, mas eu isso não tinha brilhado nos meus olhos. Então, era isso, não estava certo. Vamos voltar para Joinville. 

[trilha sonora] Mas, no final do dia seguinte, o dono da agência veio e falou: "Não, você vai ter que ficar. A gente vai começar o São Paulo Fashion Week daqui uma semana, é a primeira edição e a gente acha que você tem potencial. Você precisa ficar."  [trilha sonora] Eu fiquei, fiz desfiles nessa primeira edição e, a partir desse momento, começaram a aparecer trabalhos mais frequentes: eu voltava pra Joinville, aí recebia uma ligação e vinha para algum trabalho. Era muita ralação, mas a sensação era de que eu nunca seria uma super modelo, uma top model. Mas eu também já tinha envolvido tempo e energia demais para desistir sem ter ido até o fim, pelo menos o fim que me deixasse satisfeita. 
[trilha sonora]
Até que eu fiz um trabalho que mudou a minha carreira: a capa da Vogue Itália, em janeiro de 2000. Naquela época, era assim, se alguém falasse: "Qual o trabalho que uma modelo precisa fazer para mudar a vida dela?", a resposta seria a capa da Vogue ItáliaQuando eu fiz, foi uma grande realização, e de verdade mudou completamente o meu patamar como modelo. [trilha sonora] Eu estava recebendo um retorno do esforço, mas a sensação era também como se fosse sorte.
[trilha sonora]
Não que eu não tivesse ralado, porque eu ralei muito. Suei muito pra conseguir me dedicar a essa profissão, que era muito difícil para o tipo de família que a gente era, todos muito grudados e com um estilo de vida mais tranquilo. Aliás, minha família também teve que se sacrificar bastante. Mas ainda assim, quando cheguei lá, a sensação era de que faltava um fundamento. Não sei explicar. Era incrível ter chegado aqui, mas não tem um alicerce. Era como se já naquela época, finalmente uma grande modelo, eu sentisse falta de alguma coisa.
[trilha sonora]
Dos três filhos lá de casa, eu sempre fui a que tinha tudo resolvido, a que tinha certeza do que queria ser. Eu sempre soube que queria ser médica, e não teve nenhum momento em que eu decidi que não seria mais. Só que eu parei de pensar nisso, eu também parei de me questionar, ninguém falava mais nisso. A verdade é que eu sempre continuei me interessar pelo assunto. 
Lembro que, quando comecei a ter dificuldade pra me manter naqueles padrões absurdos de magreza da moda, ao invés de comprar as revistas que tinham aquelas dietas superficiais, eu comprava livros de nutrição. Eu queria entender como funcionava o metabolismo do corpo humano de uma forma mais profunda até porque essas pessoas que conseguem fazer uma dieta muito restritiva tem uma disciplina com a comida que eu nunca tive. Comer, para mim, sempre foi uma alegria, um carinho.  [trilha sonora]
Quando estava com 22 anos, comecei a ter um problema com depressão e entrei na terapia. Passei por alguns terapeutas e o último foi quando eu estava com 24 anos e voltando a morar no Brasil. Nessa época, eu continuava trabalhando bastante, mas comecei a me questionar sobre o que eu faria depois que terminasse a carreira como modelo.
[trilha sonora]
Não que viesse na minha cabeça a ideia de quando era adolescente, um sentimento de "aí, eu queria mesmo era ser médica". Se eu parava para pensar nisso, eu pensava: "Não, isso ficou para trás, seria uma loucura voltar para essa ideia agora, isso passou". Como que eu vou voltar para escola e estudar? Tinha essa nuvenzinha na minha cabeça, de que aquilo tinha passado, tinha ficado para outra vida, não para essa. 

Foi aí que o meu terapeuta, que sabia que eu gostava de medicina, falou: "Por que você não vai fazer um cursinho e vai fazer a faculdade que você queria fazer?". Aí ele começou a me irritar. Eu achava que esse homem estava doido, ou estava querendo me deixar animada, porque qual seria a chance de eu começar agora uma faculdade? E ele começou a me estimular: "Você se matricula no cursinho e vê o que acha". E, assim, de 29 pra 30 anos, realmente me matriculei em um cursinho. 

Eu lembro bem que liguei para os meus pais e falei: "Olha, eu vou me matricular num cursinho, vou prestar pra medicina no fim do ano. A chance de eu passar é minúscula, mas eu quero aproveitar isso como uma experiência, quero aprender no cursinho o que eu não fiz quando eu era mais nova, eu quero resgatar isso. Sem muitas cobranças". 
Meus pais e meus irmãos, na verdade, só faltou soltarem fogos de artifício. Acho que eles me conheciam de verdade e sempre souberam que era isso que me faltava, me deram um super apoio e até vieram para São Paulo um dia antes de eu entrar no cursinho, como se fosse para me levar no meu primeiro dia de aula na escola.  [trilha sonora]
Eu me lembro até hoje de ir caminhando no primeiro dia, bastante nervosa, pensando que todos os adolescentes do cursinho se juntariam e fariam um grande bullying com a minha pessoa. Mas eu cheguei e ninguém estava nem aí para mim, estava todo mundo completamente preocupado em passar no vestibular, todo mundo focado. Não é aquele

clima de escola, com todo mundo mais relaxado. Todo mundo está ali com um propósito, eu tinha o meu. 

[trilha sonora] Na primeira semana, me encantei com algumas matérias e com a sensação de voltar a estudar. Mas tinha desespero também, achei que nunca conseguiria aprender de novo matemática, química, eu não sabia nem o que anotar na aula. Nos primeiros dias, nem tirei a caneta da bolsa.
[trilha sonora]
Eu tinha me matriculado no intensivão, então era tudo dado muito rápido, como uma revisão. Eu lembro bem de, na segunda semana, pensar: "Olha, a chance de eu aprender isso aqui é minúscula. Eu vou sentar, escutar e aproveitar a aula". Mas na verdade, eu fui me redescobrindo como aluna. 
Tinham algumas aulas que eu não dava muita atenção na escola, como história, geografia, mas depois de ter viajado tanto, era diferente. Tinha morado em Paris, em Milão, então as aulas passaram a ser melhor do que assistir um filme, muito gostoso.
Fiz seis meses deste intensivão e, no final do ano, fiz algumas provas para ver como eu me sairia e realmente fiquei bem longe de passar. Mas eu gostei da experiência, gostei muito do cursinho e me animei. Decidi fazer um ano inteiro, para aprender algumas coisas de verdade. 
Isso era 2012 e as aulas começaram em março. Minha rotina era ficar a manhã toda estudando no cursinho e voltar pra casa à tarde para fazer algumas coisas de trabalho como modelo. Era um projeto meio solitário. Mesmo as minhas amigas não entendiam muito o que eu estava fazendo, porque era um mundo bem diferente do que até então vivia na moda. 
[trilha sonora]
Nessa época, eu morava sozinha e estava solteira, até que em julho conheci o meu marido, o Augusto. Falei pra ele que estava fazendo cursinho e para minha surpresa, ele achou o máximo e resolveu acreditar no meu projeto. 
[trilha sonora]
Aquilo me deu muito gás, porque eu não sentia mais que estava fazendo isso sozinha. Em seguida, eu fiz amizades com algumas colegas do cursinho e que viraram grandes amigas. Elas ficavam a tarde na biblioteca do cursinho estudando e eu passei a ficar lá também.

Chegou o final do ano e fiz as provas novamente. Conferi as primeiras que tinha feito e de novo não tinha ido bem. Foi frustrante, mas lembro que não cheguei a ficar triste, porque era um projeto meu e ninguém sabia, não havia cobrança por parte de ninguém. E eu tinha adorado a oportunidade de estudar mais velha as matérias de segundo grau, sentia como se fosse um presente. 

Continuei fazendo as provas e teve uma que eu achava que tinha ido melhor. Eu tinha a sensação de ter ido bem, mas não tinha nem corrigido mais, porque combinei com uma amiga minha do cursinho de não olhar mais o gabarito, porque só me frustrava. Mas ela insistiu que eu deveria conferir. E eu lembro até hoje desse dia: eu corrigindo essa prova e vendo que tinha acertado 94%. Ela olhou pra mim e falou: "Você passou, 94%, você passou". Eu falei: "Então, essa prova não era das mais difíceis. Eu acho que todo mundo deve ter ido bem". E ela: "Não, não, não, não é assim. Pode ter sido fácil pra você, mas não pra todo mundo. Eu acho que você passou". E aí foi um nervoso da expectativa de esperar o dia em que iria sair a lista. Saiu, e eu passei. Esse foi um dos dias mais felizes da minha vida, até hoje não acredito, fiquei em 37º lugar e foi muito legal. 

Sabe aquela sensação de quando fiz a capa da Vogue Itália, de que eu achava que era sorte? Agora era diferente. Quando passei no vestibular, aquilo tudo dependia de mim, a conquista tinha outro gosto. Me dá até vontade de chorar quando eu lembro desse momento. Eu já tinha conquistado muita coisa, já tinha a minha casa, eu vivia muito bem e acho que isso muda a visão e o jeito como você faz as coisas, tira um pouco a pressão. 
Minha emoção era de realmente ter conseguido fazer o que eu queria lá atrás, um sonho de infância que tinha desistido. E depois de toda essa loucura que foi a minha vida como modelo desde a adolescência, toda a distância da família, eu me emociono de ter voltado ao meu projeto original. Era um propósito de vida que era meu e foi deixado de lado por uma vida que eu gosto, que me trouxe muitas coisas mesmo, mas que era também uma vida com a qual eu não tinha sonhado. Por isso, eu choro quando lembro de passar no vestibular e trago muitos outros momentos emocionantes e transformadores de tudo que vivi desde então.  [trilha sonora]
Um momento fundamental foi quando começou o internato, que é como chamamos os dois últimos anos dos seis da faculdade de medicina, seria o que chamam de estágio

em outros cursos. Eu fiz o meu internato quase todo no Hospital Geral de Carapicuíba, na periferia de São Paulo, onde fiquei por dois anos, até o fim de 2019, quando me formei. 

Eu tive um internato muito legal e conheci o SUS a partir do olhar de médicos nota um milhão, e não vi aquele caos que muitas vezes esperamos. O SUS enfrenta sim dificuldades porque nosso país é grande e com muitas realidades distintas, mas é um projeto em sua essência maravilhoso. 
Nos postos de saúde e nos hospitais, a gente recebe pacientes em uma situação bem difícil, e não é só remédio que eles precisam. Em muitos casos, o simples fato de você ouvir o paciente e explicar pra ele como tomar uma medicação, já significa muito em lugares vulneráveis. Tem pacientes que você atende que não sabem ler, que você tem que mostrar a caixinha, às vezes desenhar, explicar como tomar e escutar. Escutar bastante. Não é só o tratamento, o último livro, o último estudo, a última medicação, é muito mais complexo do que isso e demanda muito o lado humano do médico, não só a capacidade de saber estudar. É preciso estar ali de peito aberto.  [trilha sonora]
Um dia, um paciente chegou de cadeira de rodas, era final de um plantão e estava todo mundo cansado. Ele tinha um ferimento na perna, era diabético. O ferimento estava infeccionado e iria ter que internar. O filho dele, que devia ter uns 20 anos, começou a chorar compulsivamente falando que ele não poderia internar o pai, porque naquela idade seria obrigatório um acompanhante. Ele falou que era só ele e o pai no mundo, não tinham ninguém, nenhum amigo, nenhum familiar, nem nada, e que ele tinha acabado de conseguir um emprego e não poderia faltar porque eles não tinham mais nada em casa, nem para comer, nem para beber. Eu pensei na hora: "Meu Deus do céu, o que a gente faz aqui é nada, o buraco é muito mais embaixo".  [trilha sonora]
Eu sonhava no início com a endocrinologia, tinha a ver com a experiência que tive durante a vida de modelo. Mas, depois de dois anos em Carapicuíba, vi que eu queria mais, não queria cuidar só dessa parte de um paciente, eu queria cuidar de uma maneira mais ampla. 

Duas professoras que eu tive me inspiraram muito e a alegria delas, além de tratar bem o paciente, de serem impecáveis em relação ao tratamento, a técnica, a ciência. Elas falavam com carinho, elas colocavam a mão no ombro pra escutar. Elas viraram as minhas musas e me deram uma referência fundamental da médica que quero ser, do propósito que busco na medicina. Eu conheci elas duas no internato e aquilo que eu imaginava, de um consultório bonito, num lugar bonito, meio que se desmanchou. Isso não é mais prioridade, eu quero ser, pelo menos, um pouco como elas. 

Uma rotina inteira em hospital, eu acho que talvez não seja possível, quero, na medida do possível, acompanhar de perto os meus filhos, um menino e uma menina, que nasceram durante a faculdade. Mas algum tempo em hospital eu quero sempre manter e tem a ver com essas professoras e com o quanto me emociono toda vez que lembro dos pacientes que tive em Carapicuíba. 
E, por eles, sempre vou querer tratar e estar perto de pacientes que precisam não só de medicação e ciência, mas também de um olhar humano. Se não tiver isso na minha rotina, eu não vou estar satisfeita, não vai ter valido a pena.  [trilha sonora]

Eu tive muitos privilégios pra poder realizar meu sonho de ser médica e tenho consciência disso. Então, eu penso muito que esse tanto de privilégio que tive tem que ter algum retorno pra a sociedade, não pode servir só para eu fazer uma foto bonita, contar uma história. Hoje, se alguém me pergunta o que eu faço, eu falo imediatamente que sou médica. Adoro ter sido modelo e a revolução que aconteceu na minha vida. Mas é tão gostoso poder falar, e eu falo: sou médica!
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Victor Stirnimann: O que é o sucesso? Nós todos crescemos ouvindo que sucesso é ter resultados e que resultados são esses? Em nosso tempo, quase tudo gira em torno da fama e da fortuna. Se você construiu o seu patrimônio, se você se tornou popular, se desperta a inveja dos outros, então, dizem, você chegou lá. E como esses são resultados que bem poucos alcançam, a maior parte das pessoas passa a vida imaginando que é isto mesmo. E que este é o destino maravilhoso reservado apenas àqueles que são especiais. Mas, de repente aparece alguém como a Ana Claudia, que experimentou tudo isso bem cedo e que teve a humildade ou maturidade de reconhecer que essas conquistas do mundo nascem de uma mistura bastante misteriosa de esforço e oportunidade, trabalho e estrela. E ela vem nos contar que esse talvez não seja o sucesso definitivo, mas apenas um degrau de uma escada, e que o próximo degrau ainda mais rico e fascinante é aquele onde ela vem aprendendo a servir. Em nosso tempo tão vaidoso parece incrível quando alguém confessa que sua verdadeira paixão é cuidar dos outros e que aprender é uma grande aventura. Felizes os que descobrem que sempre dá tempo de viver os sonhos, e que a escada não tem fim.
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Geyze Diniz: As nossas histórias não acabam por aqui. Acompanhe semanalmente nossos episódios e confira nossos conteúdos em plenae.com e no perfil @portalplenae no Instagram.  [trilha sonora]

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