Para Inspirar

Desmistificando conceitos: o que é a ayahuasca?

O ritual milenar já trouxe iluminação para diferentes pessoas ao longo dos séculos, mas não deve nunca ser feito sem supervisão

27 de Outubro de 2023


No último episódio da décima terceira temporada do Podcast Plenae, conhecemos a história de Alexandra Loras. Ela, que vivenciou o racismo ainda dentro de casa, e outras situações degradantes ao longo de sua vida, se lançou em uma jornada de autoconhecimento sem volta e com várias etapas e faces.

Em uma dessas etapas, seus caminhos se cruzaram com um ritual dos mais antigos: a ayahuasca. “Foi a noite mais linda da minha vida. Eu já fui seis vezes ao Burning Man, um evento colaborativo que acontece no meio de um deserto dos Estados Unidos. Já participei de mais de 100 retiros de desenvolvimento pessoal. Na Europa, as experiências são muito focadas na racionalidade. Mas a ayahuasca me conectou diretamente com o meu coração”, relembra.

“Nas visões da ayahuasca, eu vi uma mulher negra na frente de um caldeirão com um turbante branco na cabeça. É como se fosse uma entidade minha. Eu enxerguei a força dela. Enxerguei o meu poder de transformar vidas e de poder impactar mulheres. Depois que eu tive essa epifania, o mundo conspirou. Quando você está na sua essência, os portais se abrem. Através das plantas sagradas indígenas eu me encontrei”, conclui.

Vítima de muito tabu, o ritual ainda é mal compreendido por muitos. Hoje, vamos desmistificar esse conceito e te contar um pouco mais sobre a ayahuasca e porque tanta gente procura por esse caminho para se reencontrar.

O DNA do chá: o que é a ayahuasca?

A ayahuasca – também conhecida como chá ou cipó – é uma bebida feita com a mistura das folhas do arbusto Psychotria viridis junto com os caules da videira Banisteriopsis caapi. Em português, elas são chamadas de o cipó mariri e as folhas de chacrona. Mas, outras plantas e ingredientes também possam ser adicionados.

O cipó é limpo e amassado antes de ser fervido para aumentar a extração de seus compostos medicinais. Depois, acrescenta-se água fervendo à essa mistura, preparada tradicionalmente pelo xamã (também conhecido como curandeiro). Essa figura é sempre uma pessoa já experiente no ritual e que lidera as cerimônias de ayahuasca.

Quando a bebida estiver reduzida ao gosto desse xamã, a água é retirada e reservada, desprezando o material vegetal. Este processo é repetido até que um líquido altamente concentrado seja produzido e já coado, pronto para ser consumido ao esfriar

Mas, afinal, por que a escolha desses dois ingredientes? Ambos, tanto a Banisteriopsis caapi quanto a Psychotria viridis, possuem propriedades alucinógenas. No caso da Psychotria viridis, ela é composta por N,N-dimetiltriptamina (DMT), uma substância psicodélica que ocorre naturalmente na planta.

Trata-se de um poderoso produto químico alucinógeno que, no entanto, apresenta baixa biodisponibilidade, pois é rapidamente decomposto por enzimas chamadas monoamina oxidases (MAOs), presentes no nosso fígado e trato gastrointestinal. Por isso esse DMT deve ser combinado com algo que contenha inibidores da MAO, os IMAO. É aí que o Banisteriopsis caapi entra: ele possui IMAOs potentes, chamados β-carbolinas, que também têm seus próprios efeitos psicoativos.

Quando as duas plantas são combinadas, uma poderosa mistura psicodélica que afeta o sistema nervoso central é formada, levando a um estado alterado de consciência que pode incluir alucinações, experiências fora do corpo e euforia.

O uso aplicado da ayahuasca


Esta bebida, ao longo de muitos anos, foi e é usada para fins espirituais e religiosos por antigas tribos amazônicas. Até hoje ela é considerada sagrada por algumas comunidades religiosas no Brasil e na América do Norte, incluindo o Santo Daime.

Para além de rituais religiosos, ela tornou-se popular em todo o mundo entre aqueles que procuram uma forma de abrir as suas mentes, curar-se de traumas passados, ou simplesmente experimentar uma viagem alucinógena que,
como te falamos nesse Tema da Vez, pode oferecer benefícios variados para pacientes com comorbidades variadas.

Mas, é extremamente importante a supervisão de um xamã experiente, já que não se trata de uma experiência leviana: uma viagem de Ayahuasca leva a um estado alterado de consciência intenso, que dura muitas horas. Além disso, antes de participar de uma cerimônia de Ayahuasca, algumas recomendações são feitas aos participantes, a fim de “purificar” seus corpos, como abstinência de cigarros, drogas, álcool, sexo, cafeína e até uma dieta só de vegetais.

Uma dieta leve antes da cerimônia pode ser realmente interessante, já que um dos efeitos da Ayahuasca são os enjoos. Depois de consumir a preparação, a maioria das pessoas começa a sentir seus efeitos dentro de 20 a 60 minutos, que irão depender da dose tomada, e essa viagem pode durar de 2 a 6 horas.

Além dos vômitos e diarreia, sentimentos de euforia e fortes alucinações visuais e auditivas podem ser sentidas, bem como efeitos psicodélicos que alteram a mente e podem trazer uma sensação de medo. Mas, vale lembrar que as pessoas reagem à Ayahuasca de maneira diferente: enquanto uns experimentam euforia e uma sensação de iluminação como Alexandra, outros passam por forte ansiedade e pânico.

Em uma só cerimônia, aliás, a pessoa pode visitar os dois polos de sentimentos, os negativos e positivos, e cada vez que a pessoa tomar, o resultado será diferente. As cerimônias geralmente são realizadas à noite e duram até que os efeitos passem. O xamã e outros com experiência na Ayahuasca oferecem orientação espiritual aos participantes durante toda a experiência e monitoram a segurança dos participantes. Alguns retiros também contam com equipe médica disponível, em caso de emergência.

Para colher os benefícios reais dessa experiência tão intensa, é preciso estar disposto e entregue ao momento. Por isso, confiar no local onde a cerimônia será feito é um passo importantíssimo. Outro ponto é ir com as expectativas controladas, afinal, não se sabe o que virá, não há uma garantia, e alguns participantes optam em voltar algumas vezes para novos mergulhos.

Contraindicações da ayahuasca

Se você faz uso de medicações controladas ou possui algum transtorno psicológico ou neurológico, a prática demanda ainda mais cuidado e observação, correndo o risco de intensificar seus sintomas. Apesar de ter se tornado bem popular por aqui, o consumo é autorizado pelo Conad (Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas) somente em cerimônias religiosas.

Portanto, desconfie se a finalidade for somente recreativa, isso pode indicar que o lugar é despreparado. Pacientes cardiopatas, hipertensos, renais crônicos e diabéticos também podem observar piora em seus quadros durante o uso da substância.

Crianças nunca devem tomar a substância, já que o seu cérebro ainda está em formação – e isso vale para grávidas pelo mesmo motivo (colocar a vida do bebê em risco). Idosos também devem evitar o consumo porque já apresentam uma baixa nos neurotransmissores,
como explica este artigo do UOL.

De qualquer forma, o ritual exige intenção e cautela. Nenhum caminho de autoconhecimento deve ser trilhado de forma leviana, mas especialmente aqueles que envolvem substâncias demandam ainda mais cuidado e, claro, respeito, afinal, trata-se de um ritual religioso. Faça somente aquilo que você se sentir confortável e seguro, pois acredite: a sensação de confiança afetará a sua viagem.

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A religião como experiência de autoconhecimento e meditação

Investigamos a relação entre a espiritualidade e a jornada para dentro de si, e descobrimos algo presente em todas, ainda de maneiras diferentes: a meditação.

2 de Dezembro de 2020


Religião, fé e espiritualidade são conceitos que, apesar de não terem o mesmo significado, são impossíveis de serem completamente dissociados. Isso porque toda religião envolve uma espiritualidade, mas a recíproca não necessariamente é verdadeira.

O espírito é uma dos pilares edificantes do Plenae e, como tal, não podemos deixar de lado a importância deste e de suas manifestações tanto na vida cotidiana quanto na formação de quem somos.

Assim, quando a conversa vai para assuntos de elevação espiritual como meditação e autoconhecimento, nem sempre a religião está envolvida. Mas é possível chegar a esse caminho tendo a religião como guia?

Para Monja Coen, a resposta é simples: com certeza. Com base em seus ensinamentos budistas , a líder espiritual prega a meditação como uma jornada de olhar para si mesmo e resolver os próprios problemas. Em vídeo para seu canal, ela fala sobre como a mente humana é treinada para focar em apenas uma coisa por vez.

A meditação, diz a monja, ampliaria a lente da nossa mente para uma grande angular, ampliando e muito o foco. Com isso, ela cita o exemplo do próprio Buda, que diziam enxergar em 360 graus. Isso nada mais seria do que o autoconhecimento de usar os próprios sentidos para perceber a realidade, além da visão.

Meditar não é só uma expansão da mente, como também do seu olhar para o mundo

Recentemente, Jack Dorsey, CEO da rede social Twitter, aderiu a uma forma de meditação budista chamada Vipassana . Nela, a pessoa é convidada a focar em si mesma e em sua natureza. Famoso por suas práticas heterodoxas de saúde e bem-estar, Dorsey fez isso por 10 dias para comemorar seu aniversário no ano passado, indo até um templo budista em Myanmar, no sudeste asiático

Além disso, o Reiki é prática que conta com cada vez mais adeptos no Brasil, e é completamente sobre autoconhecimento e poder da mente sobre o corpo. Mikao Usui, seu decodificador, era um monge budista. De acordo com ele, o Reiki envolve a canalização da energia pelas mãos, passando pelos chakras. Para isso, o reikiano precisa conhecer a si mesmo e livrar-se de sentimentos e ideias impuros e perigosos.

Outras religiões orientais também são notórias pelo foco nos caminhos do autoconhecimento através da meditação, como o Hindu. O conceito de moksha , um dos pilares entre os dogmas e melhor traduzido como o Nirvana (que, sim, é diferente do conceito budista e também da banda grunge norte-americana), significa a libertação do ciclo de reencarnação, ou seja, a transcendência para algo que é cosmicamente maior do que a vida terrena, e as maneiras para atingi-lo trespassam o autoconhecimento de ponta a ponta.

É do Hindu que vem o jogo milenar chamado de Maha Lilah . Funcionando como uma espécie de jogo de tabuleiro, o jogador precisa conhecer a si mesmo, verbalizando em voz alta as questões que mais lhe afligem e rolando um dado de seis lados até tirar o número 1. Só então é possível avançar para outras casas, passando por obstáculos até a casa final de número 68. É um jogo sobre autoconhecimento no caminho à iluminação.

A meditação no Ocidente

Mas e do lado de cá? De que maneira as religiões ocidentais nos auxiliam nessa eterna caça de nós mesmos, como bem cantou Milton Nascimento? A meditação também é uma prática presente nas religiões monoteístas. Moisés, Maomé, Jesus: todos eles meditavam de acordo com suas crenças. Para esses dogmas, geralmente a prática se dá através da oração.

O ato de rezar envolve a concentração em si mesmo e no Deus de sua crença, utilizando de sentidos que geralmente vão além da visão. Como contamos nesta matéria , a meditação pode ser uma concentração em um som, uma imagem ou um pensamento específico.

Embora o objetivo seja um pouco diferente dos orientais, tendo como principal propósito a elevação da alma e a aproximação com Deus (ou Allah), ela também passa por uma jornada de autoconhecimento através de um ponto importantíssimo que une a religião e a espiritualidade: a fé.

Em um vídeo curto para seu próprio canal , o Padre Paulo Ricardo, sacerdote da Arquidiocese de Cuiabá que possui um canal no YouTube com mais de um milhão de inscritos, diz que meditar é como se colocar na presença de Deus e fazer questionamentos importantes tais como: “quem sou eu? Como estou me apresentando diante de Deus? Para que Ele vem?”.

E é pela nossa fé, tão pessoal, que entramos em contato com as verdades amorosas de Deus. O Padre cita também a fé como uma das virtudes teologais. Através dela e do ato da comunhão, você deve olhar para sua própria alma como “a esposa que vê os dons do esposo”.

Outro padre famoso, Marcelo Rossi, possui vídeos em seu canal que muito se assemelham a formas de meditação guiada. A elevação espiritual consiste em algo próximo a uma elevação ao próprio Deus, sendo o caminho tomado o da meditação, pela consciência de quem se é e de seu próprio lugar como criatura na obra divina do Criador.

O Plenae sempre acreditou que a espiritualidade deve ser desenvolvida de acordo com as suas crenças. Não importa a sua religião, o que importa é que ela pode (e deve!) ser usada como ferramenta no seu autoconhecimento, seja pela meditação ou pela oração.

O importante é buscar o equilíbrio para uma vivência mais saudável. E o espiritual é um pilar fundamental do que entendemos que é ser humano e deve ser fortalecido, cada qual à sua maneira.

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