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Desmistificando conceitos: o que é doomscrolling?

O termo diz respeito a um hábito de grande parte da população que ocorre de maneira involuntária e afeta muito nossa qualidade de vida.

9 de Agosto de 2021


Você com certeza já deitou para dormir e passou alguns minutos olhando num estado quase semiconsciente para a tela do celular. O corpo e o cérebro já parecem estar dormindo, só o dedo permanece acordado, insistindo em rolar a timeline de alguma rede social ou página inicial de portal para baixo, mesmo precisando muito descansar.

 

Mas, por algum motivo, não consegue. De vez em quando, você clica em alguma notícia ou postagem que te chama a atenção, geralmente por todos os motivos errados: raiva, repugnância, vergonha. Tudo isso parece ser tão viciante, e talvez seja mesmo: é o que alguns médicos e estudiosos da área estão chamando de “doomscrolling”, ou, em tradução livre, o nosso hábito infeliz de ficar rolando uma tela infinitamente em busca de notícias ruins.


O termo, que já está sendo até observado pelo dicionário Merriam-Webster antes de se tornar oficialmente um verbete, não apresenta nenhuma grande novidade. No final da década de 1960, o professor de comunicação George Gerbner criou o que ele batizou como Síndrome do Mundo Cruel: quando expostas às notícias ruins (na época, primariamente pela televisão, hoje, pela internet), as pessoas alteram sua visão de mundo, percebendo-o como um lugar muito mais violento, cruel e assustador do que ele de fato é.



Essa ideia de que é muito pior lá fora pode fazer com que a gente se sinta melhor aqui dentro, trazendo uma sensação de conforto com a própria vida e segurança e isso pode ser viciante. Há, também, o aspecto evolutivo. O cérebro é programado para ver o lado negativo das coisas porque isso ajuda na sobrevivência: se você identifica as ameaças, sabe como evitá-las. Nós, enquanto seres humanos racionais, o topo da cadeia alimentar, às vezes nos esquecemos que também estamos suscetíveis aos instintos mais primitivos e volta e meia eles aparecem para nos pregar peças.


Parece ser o caso do doomscrolling. A praticidade, a constância, a infinidade de conteúdo e todas essas qualidades geralmente tão condecoradas da internet tornam-se uma maneira de nos bombardear de coisa ruim o tempo todo e, com isso, os efeitos na nossa psique são visíveis: ansiedade, pânico, depressão. Os tão falados algoritmos são feitos especialmente para se adequar à nossa visão de mundo, criando bolhas claustrofóbicas que visam deturpar a realidade para se encaixar nas nossas narrativas.


Como fugir desse hábito

Com isso, a mesma ferramenta que torna o mundo tão pequeno que cabe na palma de nossas mãos cria abismos intransponíveis entre as pessoas, e o doomscrolling é uma pequena parte disso. Mas nem tudo está perdido, é possível fugir sem se tornar um eremita que não tem celulares ou computadores.


O primeiro passo é reconhecer a prática. Geralmente tal admissão vem na forma da pergunta “por que eu estou fazendo isso?” ao passar o dedo pela tela. Só quando percebemos nossa cela podemos nos libertar dela, no caso a falta de sentido de estar como um zumbi buscando por cérebros em links caça-cliques. 


Deixar o celular de lado pode ser uma tarefa mais difícil do que parece, ainda mais em tempos de solidão e isolamento como nessa pandemia. O truque é distrair o cérebro com coisas mais saudáveis, construtivas ou simplesmente não-prejudicantes. Um movimento crescente tem sido o do calm-tainment, ou “entretenimento calmo”, que contamos um pouco aqui.


Exercícios físicos são sempre uma boa pedida para uma melhora na saúde e no bem-estar, e também podem ser ótimos passatempos. A meditação pode ajudar a desacelerar, bem como traz uma melhora no autoconhecimento e no relaxamento. Fazer cursos, qualquer tipo de arte e atividades que não te pressionem e sejam apenas para somar.


É importante também não cair no medo de estar perdendo algo por não estar vendo as últimas notícias ou postagens do seu influencer favorito. A sigla em inglês FOMO, como explicamos aqui, é “o medo de estar perdendo algo”, e designa esse sentimento cada vez mais comum numa era quando ficar offline é impossível. Isso muitas vezes nos leva a pegar o celular só pra dar uma olhadinha, por mais que faça apenas segundos desde a última conferida.


A tecnologia é algo que veio para facilitar as nossas vidas, não controlá-las. O doomscrolling, no fim, nada mais é do que isso: a tecnologia, por meio de artifícios psicológicos, tentando controlar a nossa vida. Mas é possível identificar e evitar essa situação mantendo uma vida saudável e, mesmo no tempo que passamos na internet e nas redes sociais, podemos evitar tais armadilhas até mesmo selecionando melhor os conteúdos que consumimos. Afinal, nos filmes todo mundo quer se salvar do apocalipse, não virar zumbi.


Por mais que estejamos vivendo tempos difíceis em que por vezes as telas pareçam ser nossa única companhia, ainda é possível manter uma boa relação com nosso próprio corpo e mente. Assim como não devemos fechar os olhos e fingir que o mundo é um lugar ideal onde nada de ruim acontece, o outro extremo também não é bom. Viciar em notícias ruins só deturpa a visão de mundo e traz mal-estar tanto mental quanto físico. Como sempre, é preciso manter um equilíbrio entre se informar e não se destruir, um limite que só você pode traçar.

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Brasileiros são os mais ansiosos do mundo, diz OMS

Apesar dos altos índices de ansiedade, pacientes mostram resistência aos remédios

6 de Junho de 2019


O Brasil sofre uma epidemia de ansiedade . Segundo um estudo da Organização Mundial da Saúde ( OMS ), o país tem o maior número de pessoas ansiosas do mundo: 18,6 milhões de brasileiros (9,3% da população) convivem com o transtorno. O tabu em relação ao uso de medicamentos, entretanto, ainda permanece. Daniel Martins de Barros, psiquiatra do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, confirma. “As duas frases que eu mais ouço na clínica são ‘eu não queria tomar remédio’, na primeira consulta, e ‘eu não queria parar de tomar os remédios’, na consulta seguinte. A gente tem muita resistência porque existem muitos mitos: ficar viciado, bobo, impotente, engordar”. Barros explica que todo remédio pode ter efeitos colaterais e eles serão receitados quando existir uma relação de custo-benefício a favor do paciente. “Tudo é assim na medicina e na vida”, diz. Tratamento. Neury Botega, psiquiatra da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), afirma que há 30 anos os médicos dispunham de recursos inadequados para tratar a ansiedade. “Ou usávamos drogas bem pesadas, como barbitúricos, ou as que existem até hoje, como as faixas pretas, os benzodiazepínicos. Por isso, nós vimos várias tias, avós, viciadas em remédios e essa é uma das imagens gravadas quando pensamos em tratamentos psiquiátricos”. A partir de 1990, a fluoxetina, mais conhecida comercialmente como Prozac, torna-se popular. Para Botega, isso muda totalmente o paradigma do tratamento da ansiedade. “Hoje, para tratá-la, na maioria das vezes usamos medicamentos que aumentam a atividade de um neurotransmissor chamado serotonina. É o nosso Bombril: mil e uma utilidades”. Em relação ao tempo de duração do tratamento, não há protocolos claros para a ansiedade, como existem para a depressão. “Ele pode durar um tempo ou ser necessário pela vida inteira. Ansiedade é como pressão alta: quando descontrola, às vezes é para sempre. Você pode controlar com atividade física, meditação, terapia, mas ela vai estar sempre ali te ameaçando”, diz Martins de Barros. De acordo com ele, os casos variam bastante: há desde indivíduos que terão alta e nunca mais precisarão de remédios até outros que dependerão de medicamentos para o resto da vida. Fonte: Raul Galhardi, para o Estado de S.Paulo Síntese: Equipe Plenae Leia o artigo completo aqui .

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