Para Inspirar
Relembramos matérias que podem ajudar a enfrentar esse tempo de quietude e solitude e, principalmente, podem te aproximar de si mesmo.
13 de Maio de 2021
De repente, o mundo se calou. Diante de um vírus que ainda não conseguimos vencer - apesar de estarmos já um pouco mais perto - e de tantas perdas, que gerou uma espécie de luto coletivo. Com as medidas de distanciamento social, há uma parcela da população que se viu sozinha, pois não dividem a casa com mais ninguém e estão impossibilitadas de receberem visitas.
E então, o silêncio. Por mais que músicas, vídeos e televisão possam preencher esse espaço vazio que a socialização deixou, falar parece ter feito falta para muitos. Isso porque somos seres sociáveis, portanto, estarmos distante e sem nos relacionar, traz consequências até mesmo físicas, como aumento do nível de cortisol, da pressão arterial, declínio da performance do sistema cognitivo, imunológico e da produtividade, além de claro, problemas de ordem emocional.
Mas é possível buscar reverter esse cenário? Isso é claro, uma questão individual, mas há alguns caminhos que podem ser seguidos. O primeiro deles é, sobretudo, cuidar da saúde mental em tempos de pandemia, que como explicamos nesta matéria , é imprescindível.
Procurar escuta capacitada e profissionais de saúde que estão prontos para receber as suas angústias e trabalhar ativamente sobre elas é o principal caminho. Exercícios físicos , como já sabemos, são grandes aliados da manutenção de nossa mente e corpo, liberando uma série de hormônios que trazem essa sensação de bem-estar tão almejada em tempos difíceis.
Criar uma rotina que sistematize o seu dia pode ajudar o seu cérebro a manter-se em ação, além de te ajudar a distrair-se de possíveis aspectos negativos exteriores. É importante incluir nessa rotina um lazer ativo, desses que te obrigam a movimentar-se fisicamente, ou que realmente geram uma sensação de imersão naquela atividade específica.
Estar atento às suas relações é também de suma importância. Relacionamento, seja ele qual for, demanda investimento de tempo e de sentimentos. É preciso cultivar, como se fosse um organismo vivo, e para isso, é preciso selecionar muito bem com quem você irá realizar essa troca.
Manter essas relações ativas não é necessariamente mergulhar no mundo das redes sociais, que podem gerar uma sensação de FOMO - o medo de estar perdendo algo - e de falta de pertencimento. Mas é sim conversar verdadeiramente com um velho amigo, seja por telefone, vídeo chamada ou até em um encontro seguro.
Há também uma outra via, mais complexa e longa, mas muito valiosa: procurar fazer as pazes com a sua própria companhia, onde a solidão pode dar espaço para a sensação de solitude e atenuar a sensação de abandono e tristeza. Isso porque, apesar de estarmos distantes por motivos maiores, ser sozinho também pode ser uma escolha pessoal que traz bastante satisfação para quem assim o faz.
A palavra solitude inclusive possui origem no latim, e significa “a glória em se estar sozinho”. Ela é quase como um estado meditativo e pode ser um poderoso caminho que possui o fortalecimento de sua espiritualidade como destino final. Se tratando de meditação , há uma em específico que chama a atenção para o silêncio: a Vipassana.
A técnica, dentro da literatura budista , tem como característica uma busca por concentração e tranquilidade, mas também uma investigação profunda sobre si mesmo. Como toda prática, ela inclui o silêncio como principal meio para se atingir os objetivos.
A diferença aqui é que ela não é como uma meditação cotidiana, dessas possíveis de serem feitas em alguns minutos - e que também possuem inúmeros benefícios. O Vipassana consiste em um silenciamento longo e profundo feito por dias, tendo até mesmo retiros dedicados a isso por todo o mundo, inclusive no Brasil.
Seus benefícios, assim como os benefícios já conhecidos do silêncio , são vários. A sensação de tranquilidade é uma das principais e mais imediatas. Mas também há um aumento na percepção de si, uma expansão de sua consciência e até aumento no hipocampo, que ajuda em tarefas como concentração e memorização.
Mas, o principal benefício é a libertação da ideia de que nos falta algo, de que precisamos estar em outro lugar que não aqui dentro para encontrar a felicidade, ou que necessitamos da companhia de algo - como um ruído - ou alguém para sermos completos.
É semelhante ao que os peregrinos sentem em suas longas caminhadas, por vezes bastante silenciosas e repletas de solitude , essa sensação pacífica em bastar-se e estar bem consigo mesmo.
Um artigo do jornal New York Times revelou que eremitas contemporâneos estão alcançando as pessoas que lutam contra o isolamento. Um casal em específico, Paul Fredette e Karen Karper Fredette, fundaram até mesmo uma espécie de escola que ensina fundamentos do seu modo de viver, por serem praticantes desse silêncio e isolamento desde antes da pandemia.
A mensagem principal deles é simples: vá para dentro de si e passeie por lá. Como anda a sua relação consigo mesmo? Lembre-se que em tempos de tormenta ou não, somos eternamente nossa maior companhia.
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