Entrevista com

Joel Rennó Júnior

Psiquiatra especializado em saúde da mulher

Quando a TPM se torna clínica: conheça a TDPM

O Transtorno Disfórico Pré-Menstrual afeta uma parcela considerável das mulheres e demanda tratamento. Conheça os seus sintomas!

25 de Abril de 2022



De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a TPM atinge 80% das brasileiras e 90% das mulheres em todo o mundo. No período menstrual a produção hormonal sofre alteração, propiciando os sintomas físicos e/ou emocionais. Por ser tão comum, ela já está no imaginário popular, sendo até motivo de piadas - infelizes, deve-se dizer.

Mas o que poucos conhecem é o Transtorno Disfórico Pré-Menstrual, o TDPM. Conhecido como “TPM piorada”, ele é um caso clínico, previsto no DSM-5, a “bíblia” da psiquiatria, e oferece até mesmo tratamento. Para entender melhor sobre o caso, entrevistamos Joel Rennó Júnior, diretor do programa Saúde Mental da Mulher do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP - onde também é professor - e coordenador da Comissão de Saúde Mental da Mulher da ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria). Confira abaixo! 

De forma geral, o que é o TDPM? 

O Transtorno Disfórico Pré-Menstrual é uma condição clínica crônica e recorrente, que causa grande prejuízo à funcionalidade da mulher e sofrimento grande. Na verdade é uma TPM grave. Cerca de 80% das mulheres têm sintomas pré-menstruais. Felizmente a maioria tem sintomas leves, que muitas vezes com mudanças de estilo de vida, adequação alimentar, atividade física, já identifica uma melhora. Já uma parte das mulheres, 30%, têm sintomas moderados. Eles chegam a causar algum grau de incapacitação funcional dentro de 3 a 10 dias antes da menstruação e eles cessam logicamente com o início do fluxo menstrual. Agora o TDPM é menos comum, tem uma prevalência estimada entre 3 a 8% das mulheres. Essas estatísticas dependem muito do país na qual é feita a questão epidemiológica, mas a média é essa. É pequena a taxa mas não é tão pequena porque, se a gente for analisar, o transtorno afetivo bipolar ocorre em torno de 1,5 a 2% da população. A esquizofrenia ocorre em 1%. O TDPM hoje é considerado pelo DSM-5, a bíblia da psiquiatria, como um subtipo de depressão, é uma depressão cíclica.

Quais são os sintomas?

Tem que saber diferenciar o que é o TDPM, então os sintomas ocorrem cerca de uma semana antes da menstruação, são sintomas muito importantes. Elas se queixam de ansiedade e tensão, irritabilidade, labilidade afetiva, humor deprimido, mas são sintomas exuberantes. É visível a alteração de humor, de irritabilidade, essas mulheres falam que estão no fio da navalha. São mulheres que são extremamente tranquilas e estáveis emocionalmente, mas naqueles dias do ciclo é como se elas mudassem. As pessoas ao redor até estranham e isso pode ser prejudicial no emprego, por exemplo, com os filhos. E depois que esse período cessa elas ficam se sentindo culpadas e sofre muito preconceito. Embora de duração curta, é um quadro clínico grave, essas mulheres podem se tornar mais impulsivas, terem alteração de atenção e concentração. Pensa essa mulher nesse nível de estresse em uma reunião ou no trânsito? E muitas empresas, é claro, acabam não achando que uma TPM - embora seja uma TPM grave - justifique essa mudança tão grave. Então essa classificação veio em primeiro lugar para esclarecer à sociedade que não é frescura, não é uma situação que essa mulher muitas vezes tem capacidade sozinha de controlar esse comportamento e sair sozinha disso. E que tem tratamento, porque quando se tem um diagnóstico, se tem um tratamento eficaz. É importante também que se diferencie um quadro de TDPM de alguns quadros muitas vezes leves de distimia, que é uma depressão crônica de leve intensidade. 

Para você, qual é o profissional mais indicado para se fazer o diagnóstico completo?

O psiquiatra. Porque o TDPM é classificado atualmente como um subtipo de depressão, é um transtorno de humor. Embora ele acompanhe os ciclos menstruais, é um transtorno de humor. E o tratamento de primeira linha é psiquiátrico. O problema é convencer essas mulheres que têm TDPM que é uma doença, que é classificada pela OMS, tem um CID, e também pela Associação Psiquiátrica Americana que rege. Então quando os sintomas têm esse nível de sofrimento, de intensidade e de prejuízo, o primeiro profissional que deve ser procurado é o psiquiatra, e não digo isso porque sou psiquiatra, mas é porque na realidade as pessoas banalizam a TPM e o TDPM é a forma mais grave. Então, na realidade, as pessoas acham que procurar um psiquiatra é procurar um “médico de louco”, tem a psicofobia. Muitas vezes as mulheres podem ir no ginecologista, que vai dar um anticoncepcional, que não é o tratamento de primeira linha, que vai aliviar um pouco mas não vai solucionar tudo. 

Quais são as queixas mais comuns? Qual é o perfil dessa paciente? 

Na realidade você tem no DSM-5 uma lista de 11 sintomas, para fecharmos o diagnóstico de TDPM é preciso apresentar ao menos 5 sintomas dessa lista de 11. Ao menos um dos sintomas precisa ser afetivo, seja lá labilidade afetiva, humor deprimido, irritabilidade ou ansiedade e depressão. Um deles tem que ser em alto grau. Dificuldade e atenção, concentração, perda de prazer ou isolamento, não quer mais fazer as coisas que ela gosta, ela perde também a socialização, isso é sintoma de depressão. Fadiga, sensação de estar sobrecarregada ou fora de controle, perda de apetite, sensibilidade nas mamas, dores articulares ou ganho de peso. Mas o que causa um impacto negativo severo são os sintomas psíquicos. Nesse TDPM predominam eles, mas os sintomas físicos podem estar presentes.

Há algum fator de idade envolvido nessa TDPM? 

Essa é uma pergunta interessante, porque os trabalhos científicos corretamente conduzidos do ponto de vista metodológicos demonstram que há uma piora da TDPM entre 35 e 45 anos de idade. A maturidade faz você ir identificando os gatilhos, isso pode fazer com que os sintomas tenham uma manifestação mais leves. Mas efetivamente quem sofre de TDPM tem uma piora com a idade. Para cravar o diagnóstico, você tem que preencher diários de autoavaliação por 2 ciclos consecutivos, para ver se os sintomas são de intensidade grave e se eles ocorrem exclusivamente no período pré-menstrual. Algumas mulheres pensam e me procuram no consultório dizendo que o ginecologista disse que elas tinham TDPM, daí quando eu investigo e aplicar o questionário, vejo que elas na verdade têm uma exacerbação de alguns sintomas clínicos ou psiquiátricos prévios. Eu faço saúde mental há 25 anos lá no HC, e poucos profissionais, até mesmo psiquiatras, entendem desse assunto. Não é qualquer profissional que tem essa capacitação. 

E algum fator genético?

Então, a gente tem alguns fatores de risco, que podem estar presentes. E tem fatores genéticos, possivelmente o que a gente denomina de um poliformismo do gene transportador de serotonina. Então tem sim relação com genética e quando há essa relação, isso se associa a traços de personalidades relacionados ao neuroticismo em mulheres com TDPM. Neuroticismo é aquela pessoa que é considerada negativa e pessimista, são muitas vezes isoladas, os outros se afastam, e às vezes elas têm um diagnóstico há anos e aquilo é erroneamente atribuído a personalidade delas.  

Há algumas crenças populares que dizem ajudar na melhora da TDPM. Exemplo: não comer chocolate, fazer bastante exercício físico… quais delas são verdadeiras?

Na realidade, se a gente for analisar todas essas situações, a gente sabe que, a atividade física ela ajuda, mas ela não trata a TDPM. Se for um quadro de síndrome pré-menstrual com sintomas leves, pode ser com exercício que por si só zere os sintomas. Mas se essa mulher realmente tiver TDPM, o exercício vai ser bom, mas só complementar, assim como yoga, meditação, tudo que diminui o nível de ansiedade e de sintomas depressivos acaba sendo importante, A psicoterapia, principalmente a comportamental cognitiva. Alimentação, evitar excesso de açúcar refinado, carboidrato não complexo, sal. Comer mais ômega 3, sejam peixes, oleaginosas, o cálcio, a vitamina B6 possui evidências importantes no alívio desses sintomas se hidratar bem. Tudo isso em conjunto tem um efeito positivo, mas não podem ser considerados tratamentos. A mulher pode estar na melhor boa vontade do mundo, mas não vai tratar, a TDPM não se trata só com isso. 

E qual seria o tratamento ideal?

Para a ciência, os melhores tratamentos, os de primeira linha, são os antidepressivos serotoninérgicos, que regulam a serotonina. Então pode ser a fluoxetina, a sertralina, a paroxetina, o escitalopram, etc. A gente tem trabalhos controlados, randomizados, com metodologia adequada, que comprovam a eficácia. O interessante é que se a mulher tiver um ciclo menstrual regular e for mais jovem, ela pode tomar o antidepressivo só na segunda fase do ciclo menstrual, não precisa ser contínuo, pode ser de forma intermitente. Mas aí o ciclo dela tem que ser bem regular. Mas é muito interessante isso, porque apesar da gravidade do TDPM, tem dois fatos que eu quero ressaltar para você que são muito interessantes: o primeiro é que a dosagem utilizada dos antidepressivos é uma dosagem geralmente menor do que a dosagem padrão que se utiliza em outros tipos de depressão. E dois: o tempo de início de ação, porque quando você tem um quadro de depressão clássica, você toma um medicamento que vai começar a agir só em 2 a 3 semanas. Se fosse isso pro quadro de TDPM, como eu ia falar pra você que pode tomar em uso intermitente? Não teria lógica. 

Há ainda muito tabu em torno do assunto. O que falta para que isso acabe?

Eu acho que em primeiro lugar, matérias como essas. Muitas vezes, depoimentos de pessoas influentes que passam por essas situações vão romper barreiras do preconceito, da desinformação, isso é muito importante. Não basta o médico passar o conhecimento, a experiência clínica, se as pessoas não se sensibilizam. Essas pessoas acabam tendo um papel social muito importante no combate aos preconceitos, ao estigma que a doença mental gera. E ninguém quer patologizar a mulher com TPM, tratar como louca. Muito pelo contrário, a gente quer evitar que ela sofra, a gente quer que ela tenha melhor qualidade de vida, que mesmo nesse momento difícil ela consiga trabalhar, cuidar dos afazeres, que ela não deixe por falta de atenção, concentração e motivação, que ela não deixe de fazer com competência o seu trabalho. E também educar os homens, não adianta os parceiros continuarem ignorantes, machistas, dizendo que deixam a mulher de lado nesse período, sabendo que é da fisiologia do organismo dela. E mesmo na classe médica, tem que ter uma divulgação massiva desses conhecimentos. Eu conheço muitas pacientes que fizeram o próprio diagnóstico, porque foram pesquisar, falaram com o ginecologista e eles não ligaram. Isso é muito ruim. 

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Entrevista com

Maria Lygia Molineiro e Mariana Nastri

Psicólogas e fundadoras da Voc Talentos

Orientação vocacional: quando procurar essa ajuda?

Conversamos com as fundadoras da Voc Talentos, Maria Lygia Molineiro e Mariana Nastri, sobre essa área mais complexa e completa do que se imagina.

21 de Maio de 2024



Ao longo da sua vida, sobretudo em sua época de vestibular, você deve ter ouvido falar em orientação vocacional. A área responsável por ajudar as pessoas a encontrarem suas vocações com base em suas habilidades e áreas de interesse ainda gera dúvidas e até um certo estigma. 

Buscando tornar esse assunto mais próximo do nosso público, fizemos um Plenae Entrevista especial e em dose dupla: entrevistamos Maria Lygia Molineiro e Mariana Nastri, psicólogas e fundadoras da Voc Talentos, uma consultoria focada em conectar as pessoas com seu futuro por meio de programas de recrutamento e seleção e programas de orientação. O resultado você confere a seguir!

É curioso quando você decide fazer da sua carreira um trampolim para a carreira dos outros. Então como foram os caminhos de vocês até chegarem em orientação vocacional?


Maria Lygia: Meu processo teve um início interessante, porque eu pessoalmente passei por um processo de orientação vocacional em 1970. Eu fui levada pela minha avó, que era uma pessoa muito visionária, vim do interior para São Paulo e me encantei por essa abordagem, pelo autoconhecimento, e descobri a psicologia. Depois disso, eu trabalhei em diferentes áreas, incluindo uma empresa de desenvolvimento de pessoal que focava em busca de desenvolvimento, de talentos, de adequação, de perceber que nem todo mundo pode fazer qualquer coisa, mas que tem coisas onde o fluxo. Na clínica, atendi adolescentes. Tudo isso culminou para onde estou hoje. 

Mariana: Eu também sou psicóloga e trabalho já há 15 anos com recrutamento de seleção. Sempre trabalhei nessa área prestando consultorias e assessorando várias empresas. Com isso eu fui entendendo um pouco de como que funcionam os mercados, as áreas e que perfil é mais aderente com cada tipo de negócio, além das profissões que estão surgindo no mercado. E aí as pessoas naturalmente sempre me procuraram para entender também e para fazer mentoria de carreira. Aos poucos eu fui atendendo bastante gente, cada vez mais. E aí a gente resolveu criar a nossa própria metodologia, em um processo que auxilia muito as pessoas a realmente encontrarem a sua verdadeira vocação.


E quando o caminho de vocês duas se cruzaram?


Maria Lygia: Eu conheci a Mariana muito jovem, no início da carreira dela, e ela estava começando a fazer orientação vocacional. Por coincidência, ela veio para Sorocaba, a cidade onde eu morava. Aí nós começamos a trocar, eu dava uma supervisão nos casos que ela atendia e fomos criando uma relação profissional durante a pandemia. Nós fomos meio que instigadas a desenvolver uma forma nova de olhar para a orientação e tivemos que trabalhar no mundo digital. Foi essa nossa relação inicial, de supervisão e depois nos tornamos associadas.


Qual é o trabalho exato de um psicólogo que faz orientação vocacional? O que difere das outras abordagens terapêuticas?


Maria Lygia: Olha, eu acho que talvez o ponto que nos diferencie é que tanto o adolescente como um jovem ou um adulto que estão em busca de discutir e poder refletir sobre o seu encaminhamento profissional, todos eles têm uma questão em comum: como é que eu vou desenhar minha carreira, meu caminho? 

Porque se trata de um caminho, né, que ele vai percorrer e essa escolha inicial é muito importante. Então acho que a diferença é esse enfoque, essa ênfase que a gente dá para o autoconhecimento, trazendo essa reflexão através de algumas provocações e ferramentas, com uma metodologia para que isso se consolide dentro de um processo. 

Então nosso trabalho é um processo que tem começo, meio e fim, mas ele tem uma intensidade e um aprofundamento importantes, com ganhos a longo e médio prazo. O objetivo é ajudar a pessoa a conhecer mais sobre ela mesma, ter nossos insights, uma nova percepção e sobre o caminho também que ela vai escolher e traçar e vamos sendo facilitadores desse processo.

Durante essa consulta, perguntas familiares e mais pessoais também surgem, como em outras abordagens terapêuticas?


Mariana: Existe também, tanto que quando são jovens, os pais vêm no primeiro encontro e no último encontro também. Então a gente entende a história familiar, desenvolvimento motor, intelectual e interesses. Desde criança a gente investiga toda a história familiar, momentos importantes da trajetória dessa pessoa, o que a família já percebia desde criança. 

E a gente investiga esse tripé que é interesse, habilidade e aspectos de personalidade. Com a ajuda das ferramentas digitais que desenvolvemos e que dialogam muito bem com os jovens e com as pessoas que estão no mercado, dá pra escalar e consegue atingir nível Brasil.

Maria Lygia: É muito importante essa pergunta, porque o contexto que esse jovem vivia é muito importante, as influências, essas expectativas. É muito grande o número de jovens que muitas vezes vão para uma faculdade e percebem não terem afinidade com o curso. Então a gente pergunta “o que será que te trouxe até aqui?”. 

E muitas vezes foi uma influência da família e às vezes coisas que não são assim explicitadas. Não é que alguém falou “vá fazer tal curso”, mas são os valores da família que influenciaram. Poder dialogar sobre isso, poder entender também esse contexto e quem são esses pais, quais são as expectativas, isso tudo é muito importante. 

O que os colégios fazem é uma mostra de profissões, uma feira de profissões. Só que aí o jovem fica encantado pelas faculdades, mas essa etapa que é olhar para dentro, não é feita. Então acho que o nosso trabalho tem 2 pés: um de dentro, que é o trabalho de autoconhecimento e entender todas essas influências; e um pé de fora, que é esse olhar que se abre para o mundo a partir desse entendimento.


Indo para a prática, o que vocês fazem para criar essa ponte entre o paciente e sua área de interesse?


Mariana: A gente busca conexão com o mercado, marcamos conversar com profissionais das áreas que têm a ver com o perfil do orientando, marcamos visitas em universidades ou em escritórios da área. A gente vai conhecer as profissões a fundo pra não ficar somente no contexto clínico mesmo, sabe?

Vocês acreditam que esse problema de identificação profissional está mais difícil nos dias de hoje? 


Maria Lygia: Existe uma questão que me preocupa bastante. Os jovens de escolas particulares geralmente são os que têm acesso a esse trabalho que fazemos, que é mais individualizado e propõe um nível de discussão mais aprofundado. Mas, nas escolas públicas, cujo encaminhamento muitas vezes é só para as escolas técnicas, acaba deixando uma lacuna tremenda. 

Eu e Mariana nos preocupamos muito com isso, eu fico pesquisando sobre evasão escolar e outras questões de por que os jovens estão fora do ensino. É uma lacuna que tem um impacto até no PIB, porque é que nós não conseguimos formar mais jovens? O percentual de alunos que começam e terminam o ensino médio é muito pequeno, é menor que o do Chile, por exemplo, se comparado com alguns dos nossos vizinhos.

Então porque é que o jovem não fica? Claro que existem dificuldades sociais, mas também uma falta de conexão e de sentido, especialmente no colégio técnico, que poderia ser uma alavanca para o encaixe profissional, porque nós temos muitos colégios técnicos bons. Só que existe uma lacuna entre o que ele está oferecendo e a verdadeira vocação do jovem. A procura pela área de tecnologia é imensa, por ser a área do momento, mas todos se sairão bem nisso e isso gera uma frustração. É determinante a identificação para que haja menos evasão. 

Mariana: Segundo estudos, no Brasil  há 11,5 milhões de jovens na faixa etária de 15 a 29 anos que são “nem nem”, ou seja, nem trabalham nem estudam. E se esse público tivesse mais noções de autoconhecimento e de interesses de produção, talvez eles estariam produzindo para nossa economia, né? E tem um outro dado interessante, que saiu também no Inep em 2019, que é um senso de educação do ensino superior. Segundo ele, 59% dos universitários desistem ou mudam de curso. É um dado gigante sobre evasão que não dá para ignorar e que diz algo.

Qual é o público alvo específico dessa área? Na experiência que vocês têm, o perfil desse paciente é sempre adolescente ou está mudando um pouco e tem vindo mais adultos?


Maria Lygia: nós temos recebido muitos jovens e adultos mesmo, na faixa entre 40 e 50 anos, na faixa de 30 a 40. E olha que interessante, não é porque eles não estão conseguindo trabalho. Muitas dessas pessoas que nos procuram têm um trabalho, têm às vezes uma estabilidade financeira, mas sentem uma falta de conexão. Então fica aquela angústia, né, que acaba se expressando numa desmotivação.

Não por acaso a gente vê tanta gente reclamando de depressão em relação ao trabalho de burnout, porque é difícil você fazer uma coisa que não inspire você, que não faça seu olho brilhar. Isso não significa que quando você encontra uma carreira, você não vai ter problemas ou dificuldades, mas você estará mais fortalecido para lidar com elas. Por isso a gente prefere usar o termo orientação de carreira, porque já não é aquela primeira orientação vocacional para a primeira escolha.

Mariana: É verdade, de fato tem aumentado bastante esse público já formado que está em busca de transição de carreira ou de fazer uma segunda universidade. Isso é também porque as pessoas estão se permitindo a fazer novas escolhas, revisitar aquilo que ela decidiu há 15, 20 anos e que não faz sentido. Ela percebe isso e percebe que gostaria de contribuir mais com o seu conhecimento, interesses, habilidades. O mercado está mais aberto também para essas pessoas que querem se reconectar e começar do zero. 

E você acha que o mundo em si está mais aberto a essa mudança também?


Maria Lygia: Sim, eu acho que o mundo está menos cartesiano nesse sentido. Tem um conceito que a gente trabalha que chama “múltiplos interesses”. Antigamente, a gente tinha perfis muito rígidos, como “um engenheiro tem que gostar disso”. Hoje não, essa multiplicidade de interesse é que traz riqueza para uma organização. 

É interessante que as pessoas gostem de muitas coisas e sejam diferentes entre si, a diversidade é bem-vinda. Muitas vezes a pessoa não se encaixa mais naquele padrão que ela mesmo tinha desenhado, e aí ela precisa se redescobrir para redescobrir formas de se encaixar no mundo do trabalho. É muito legal essa possibilidade, né? De um mundo mais aberto, acolhedor nesse sentido que se enriquece com isso. 

Quais são as principais queixas que vocês recebem atualmente?


Maria Lygia: Primeiro que eu acho que tem um conceito que o jovem tem que lidar, que é um conceito de sucesso, de eficiência. E isso cria uma hierarquia de profissões e alguns mitos. Então, por exemplo, a área de T.I, que é uma área super importante e valorizada, é muito bom poder encaminhar um jovem para as engenharias, tecnologias, entre outros. 

Mas nem todo jovem precisa ir para essa área, e não é porque ele não vai para a tecnologia que ele tem um valor menor. Então talvez essa seja a primeira angústia: se eu quero escolher uma área de humanas, eu já acho que ela é menos valorizada. Então acho que poder resgatar o valor intrínseco de cada carreira, de cada participação, de cada pessoa no mundo todo mundo, é importante. 

Mariana: E para complementar, tem uma questão do jovem que está muito difícil e distante de si mesmo, né? Existe esse padrão de abordagens com remédio, é um jovem que já chega com depressão e muito perdido para nós, e a gente percebe que ele está completamente distante de si e de noções de autoconhecimento.

Ele já não mais se pergunta: o que que me deixa interessado? O que que eu faço que eu não vejo a hora passar? O que que eu faço que eu recebo? Qual foi o feedback positivo que recebi do meu professor, da minha mãe e dos meus amigos? O que é uma habilidade minha e não de uma outra pessoa?

Então, às vezes tem um lógico por conta da maturidade, mas também por conta da gente não ter esse olhar e as escolas às vezes serem muito conteudistas e olharem um pouco para o ser humano na sua individualidade. Isso caba contribuindo para que a geração que já está no mercado de trabalho não abraçar suas múltiplas inteligências, incluindo a emocional. Mas eu acho que com essas discussões todas contribuem para a próxima geração, que vai vir mais com autoconhecimento.

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