Para Inspirar

A criatividade está em crise?

Investigamos um pouco mais sobre o conceito tão instigante que é a criatividade para chegar a uma resposta para a questão.

24 de Setembro de 2021


Você já conferiu o episódio da palestrante e empresária Sandra Chemin, disponível na sexta temporada do Podcast Plenae? Se a sua resposta for sim, você já deve saber que ao longo de sua trajetória, ela se destacou por conseguir enxergar tendências à frente de seu tempo, padrão que se repetiu por toda a sua carreira e a fez alçar voos ainda mais altos antes que ela decidisse mudar de rota. 


Mas a criatividade, essa dádiva tão preciosa e tão presente em Sandra, parece estar em escassez nos tempos atuais. Será que já foi tudo criado? Será que estamos tão sufocados pela nossa rotina que não há espaço para pensar no novo? Será que as novas mídias limitaram a plasticidade de nosso cérebro, e há pouco espaço para se criar? Difícil de cravar - praticamente impossível. 


Um breve exemplo: com o avanço da vacinação contra o coronavírus, esperamos que, muito em breve, atividades como ir ao cinema voltem a fazer parte do cotidiano das pessoas. Quando pudermos retornar ao conforto de uma sala escura com cheiro de pipoca, o que assistiremos? Uma criação original ou um dos inúmeros remakes, reboots ou adaptações que se tornaram também epidêmicos e pecam no quesito originalidade?


Para quem aposta na crise da criatividade, saiba que essa questão já existe há algum tempo. E se dá por inúmeros e variados motivos. Em obra póstuma, o filósofo polonês Zygmunt Bauman falou sobre a “retrotopia”: uma epidemia de nostalgia que acomete a nossa sociedade. Com origens socioeconômicas e cruzando com questões geracionais, estamos, hoje, com os pés plantados na ideia de que “antigamente é que era bom”.


A arte e a educação


A arte não é uma ilha, ela está imersa e cercada pelas condições, tensões e realidades sociais do tempo e espaço onde é produzida - além de tocar de forma individual em quem a consome, como explicamos aqui. Assim, é natural que, se olhamos com saudade para o passado, façamos o mesmo com a arte, e que isso reflita no que é produzido hoje. Daí o forte apelo nostálgico de tantos remakes e reboots.


Ainda sobre o passado, a ideia de que perdemos nossa criatividade ao longo do caminho também não é, por si só, exatamente inédita. Em meados da década de 1950, o psicólogo norte-americano Ellis Torrance determinou o que ele considerava como um dos fatores principais nessa crise: a escola. Uma instituição com objetivos industriais, a escola prioriza o raciocínio lógico e características como a diligência, obediência, foco e atenção.


O problema, para Torrance, é que isso poderia vir a inibir a criatividade dos estudantes, que deveriam se adequar aos padrões escolares de notas e disciplina. Para avaliar como isso é prejudicial, ele criou o chamado teste de Torrance, onde quem o faz deve criar desenhos a partir de formas geométricas simples.


O experimento de Torrance avaliou quem participou desde aquela época até os dias de hoje (sendo continuado pela equipe do psicólogo após a morte dele, em 2003) e concluiu que quem apresentou maior criatividade nos desenhos, geralmente alcançou mais e melhores objetivos ao longo da vida.


Contexto atual


Hoje, vemos que o problema não é apenas esse. A escola pode, sim, enquadrar nossas crianças para que virem robôs, mas não é a única responsável pela avalanche de adaptações cada vez menos originais. A tecnologia que tanto nos auxilia é, muitas vezes, considerada vilã. A constante exposição a telas, aplicativos, jogos, passatempos impede que nossa mente se sinta entediada e entre em modo de divagação, um estado que estimula a criatividade. É o chamado ócio criativo, que te contamos nesta matéria.


Para o psicólogo Rafael Freire, porém, não é assim tão simples. “É um tema muito recorrente, polêmico e muito novo, portanto, ainda não tem uma resposta concreta”, diz. “Contudo, sabemos que o cérebro humano tem a capacidade de se adaptar por conta de uma característica chamada neuroplasticidade. Isso quer dizer que ele está em constante mutação a partir das nossas experiências de vida”, explica. Sendo assim, o tempo do ser humano em telas não necessariamente pode indicar redução da criatividade, mas sim, implicar em maneiras diferentes de exercê-la.


O que nos leva ao contraponto: a criatividade não está em crise, simplesmente porque isso seria impossível. De acordo com Freire, “a criatividade envolve eventos neurais complexos, que permeiam sistemas cerebrais distintos e que estão por toda a área cerebral. De modo geral, a pessoa criativa é aquela que faz com que esses sistemas consigam trabalhar juntos de maneira dinâmica, envolvendo resolução de problemas, avaliações emocionais, sensoriais, executivas, cognitivas”, explica. Ou seja, até mesmo o raciocínio lógico, geralmente considerado algo frio, pode ser criativo. 


E o que acontece se as telinhas de fato nos tornam dormentes? Simples, nós criamos nelas. E é isso que temos visto, com cada vez mais artes das mais variadas formas sendo criadas e povoando os meios digitais e tecnológicos. Para Freire, a dosagem do tempo gasto nas telas é algo a se investigar e entender seu impacto. “Não se pode perder de vista a importância do desenvolvimento criativo em meios não-digitais, que é cientificamente inegável. Mas a evolução criativa pode ser apenas um pouco diferente do que imaginávamos a partir das novas tecnologias”, reflete.


Mesmo a arte no que o psicólogo chama de meio não-digital não é o ápice da criatividade que a nossa nostalgia coletiva pinta. No offline, desde que o mundo é mundo, houve também muita cópia. Inúmeras histórias seguem o mesmo molde desde a antiguidade clássica, algo que Joseph Campbell já dizia em seu livro O Herói de Mil Faces, onde ele analisa a estrutura das histórias contadas ao longo da humanidade e percebe que, de Aquiles a Harry Potter, a grande maioria segue o roteiro da jornada do herói.


Isso quer dizer que nenhuma história é criativa? Claro que não. Toda originalidade é criativa, mas o contrário não é necessariamente verdade. É possível seguir a receita de bolo da sua própria forma, adicionando seus próprios toques e ingredientes. Por isso, dizer que a criatividade está em crise é algo nebuloso: o que temos são novas visões sobre velhas obras, problemas, dinâmicas - e todo o processo que a criação de tais visões acarretam.


Assim, original ou não, o que importa é exercitar os músculos criativos da maneira que mais te apetecer. Os benefícios das atividades criativas são muitos e são, também, importantes para manter o cérebro sadio. É difícil pontuar se existe uma crise generalizada, mas, muitas vezes, existe uma crise interna, comumente chamada de bloqueio criativo. Então, aqui vão três dicas para facilitar a expansão do lado criativo do cérebro:


  1. É impossível agradar todas as pessoas do mundo, então faça aquilo que te agrade sem se importar com as opiniões e comentários alheios

  2. Termine seus projetos. Não importa quão difícil pareça ou quão ruim você ache que está ficando, ir até o fim é parte importante do processo

  3. Faça muito e muitas vezes a atividade de sua escolha. Desenhe, pinte, escreva, dance… O único jeito de melhorar em algo é praticando.


Que tal colocá-las em prática? Lembre-se de que mente e corpo caminham juntos, e manter-se pensante é um dos muitos hábitos que podem te levar longe!

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Semelhanças e curiosidades entre a páscoa Judaica e Católica

Apesar de serem comemoradas simultaneamente esse ano, as duas celebrações possuem diferenças em suas origens e semelhanças em suas morais

12 de Abril de 2020


Hoje comemora-se mundialmente a páscoa católica do ano de 2020. A festa celebra a ressurreição de Cristo, crucificado dois dias antes, na chamada sexta-feira santa. Ela possui data móvel, ou seja, muda todo ano conforme a regra vigente. E qual é ela? Simples, mas nem tanto: a páscoa deve ser marcada sempre no primeiro domingo após a primeira lua cheia do equinócio, ou seja, da primavera/outono dependendo do hemisfério onde você se encontra.

Apesar de um pouco complexo, essa regra restringe e faz com que caia sempre entre 22 de março e 25 de abril. Esse feriado é tão importante para toda a religião católica que acaba definindo uma série de outras datas, que são contadas a partir dele.
Aos fiéis mais praticantes, há a privação da carne 40 dias antes da data oficial, em respeito ao sacrifício de Cristo.

Ainda no dia oficial, costuma-se servir peixe ou outra especiaria e, somente no dia seguinte volta-se a comer então a carne. Até mesmo o ovo era proibido durante esse período, então os povos antigos costumavam decorá-lo para presentear as crianças e entes queridos logo depois da celebração. Esse costume, aliás, foi o precursor dos nossos já conhecidos ovos de chocolate, que surgiram por volta do século 19, na França e na Alemanha - e aperfeiçoado desde então.

Mas e quanto a páscoa judaica? Essa é, por sua vez, é ainda mais antiga do que a cristã, mas igualmente baseada sobre os dizeres de um livro religioso, no caso do judaísmo, a Tora. Seu nome original é Pessach, que na tradução para o português significa passagem. O nome é, na verdade, simbólico e bastante explicativo. Isso porque a festa comemora a libertação do povo hebreu, antes escravos no Egito, ou seja, sua “passagem” para a liberdade.

Ela também significa a passagem do anjo da morte. A páscoa judaica é celebrada momentos antes da execução da décima praga sobre os egípcios por esse anjo. Afinal, foi graças às dez pragas de Moisés que este povo pôde então migrar para outras terras, segundo narrativa bíblica hebraica. Só foi libertado quem seguiu as ordens de Javé e sacrificou um cordeiro, passando seu sangue em suas próprias portas.
Isso aconteceu em uma data específica, é claro.

O Êxodo 12 da Tora define que “desde a tarde do dia catorze do primeiro mês até a tarde do dia vinte e um do mesmo mês, o pão que vocês comerem será feito sem fermento”. O primeiro mês do calendário judeu é chamado de
nissan, ou seja, do décimo quarto dia ao vigésimo primeiro dia desse mês, por uma semana, é fixada então a páscoa judaica. Por ser um calendário lunissolar, os judeus construíram seus dias e meses em torno dos ciclos solares e lunares.

Tanto o judaísmo quanto o catolicismo são religiões milenares, nascidas em uma era onde o tempo era contado de forma diferente como a qual estamos hoje acostumados. O então chamado nissan acaba coincidindo com o que conhecemos como fim de março e início de abril.
Ainda segundo o Êxodo 12, a alimentação dos judeus durante esse período é restrita, e não pode conter nenhum alimento fermentado.

Durante o Sêder , como é chamado o jantar que abre as comemorações, há muito vinho, pão sem fermento (conhecido como Matsá), ovo cozido (chamado de Betsá)  além de outras comidas específicas que representam cada uma um diferente simbolismo da festa.
Em alguns anos, tanto a páscoa católica quando a judaica podem coincidir - como é o caso de 2020.

Porém, enquanto o cristianismo comemora a virada da morte de Cristo para a vida, o judaísmo celebra a passagem da vida para a morte, mais especificamente, a morte de quem os escravizou.
Porém, há muitas semelhanças entre as duas. Ambas tiveram origem há séculos atrás e pautam suas datas conforme fenômenos naturais. Além disso, há restrições alimentares presentes tanto em uma quanto em outra.

E, por fim, a essência das duas comemorações é estar com seus entes queridos, celebrando a união familiar - e essa talvez seja a principal mensagem e evidência de que, não importa sua fé, somos todos iguais e feitos de amor. Não deixe de praticar sua espiritualidade , ela pode te trazer mais benefícios do que você imagina.

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