Para Inspirar
Como um episódio marcante pode mudar os rumos de sua vida - e de outros tantos? Rodrigo Hübner Mendes explica, no Podcast Plenae
11 de Outubro de 2020
Leia a transcrição completa do episódio abaixo:
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Rodrigo Hübner Mendes: Quando o pessoal do Plenae me convidou pra gravar esse podcast, achei interessante a provocação pra que eu falasse sobre minha relação com meu corpo, com a minha saúde, com meu movimento. Especialmente pra alguém que, aos 18 anos, sentiu na pele o que parecia ser uma eterna perda da mobilidade. [trilha sonora]
Geyze Diniz: Conhecer o Rodrigo é entender o significado da palavra inspiração. Uma assalto, um tiro, uma mudança drástica do percurso. O que seria para muita gente motivo para deprimir e se fechar, foi o motivo com que ele se abrisse para o mundo e criasse caminhos para inclusão de tanta gente que precisa. No final do episódio, você ouvirá reflexões do doutor Victor Stirnimann para te ajudar a se conectar com a história e com você mesmo. Eu sou Geyze Diniz e esse é o Podcast Plenae. Aproveite este momento, ouça e reconecte-se. [trilha sonora]
Rodrigo Hübner Mendes: Durante toda minha infância fui apaixonado por futebol. Comecei jogando bola no quintal de casa e, conforme fui ganhando confiança, pedi pro meu pai me inscrever no campeonato do Clube Pinheiros. Tive a sorte de me destacar logo no primeiro ano. Fui convocado pra a seleção do clube, o que era o máximo pra um garoto naquela idade. Já com 13 anos, levei uma pancada no joelho, o que me afastou completamente do esporte por bastante tempo. Acabei precisando passar por uma cirurgia pra retirada do menisco, que resolveu totalmente o meu problema. Voltei a jogar bola sem nenhuma dor. E, ao mesmo tempo, defini qual seria meu plano de vida. Fiquei tão fascinado com o poder do médico de devolver bem-estar pras pessoas, que decidi que eu seria cirurgião de joelhos de atletas.
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Na época, meu médico tinha fortemente recomendado que eu balanceasse o futebol com algum esporte que não gerasse impacto no joelho e que me desse massa muscular. Lembrei que um primo mais velho tinha experimentado remo recentemente e tinha adorado. E aí fui eu pra raia da USP, onde ficam as instalações de todos os clubes de remo de São Paulo. Logo de cara criei uma enorme curiosidade e motivação por aquele esporte que, no meu imaginário, formava atletas indestrutíveis, incansáveis. Quer dizer, um universo extremamente sedutor para um adolescente em busca de novidades. Comecei remando no Paulistano, que é um clube de elite e tinha a melhor infraestrutura na época. Nosso treinador se chamava Hércules. Acho que nenhum nome pode ser mais apropriado pra descrever um personagem que era um mito na raia. O cara era um armário, alto, muito forte, barba preta. Falava pouco, nunca sorria e fuzilava com os olhos quando alguém se atrevia a fazer um comentário mais descontraído durante o treinamento. Eu achava aquilo tudo muito divertido. Me sentia meio que num filme. Mas levava super a sério. Era bem "caxias" com horários, esforço, etc.
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Saltando no tempo, na época em que eu estava no cursinho pré-vestibular, eu passei por um assalto onde levei um tiro. E isso gerou a imobilidade abaixo dos ombros, chamada de tetraplegia.
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Fui obrigado a abandonar os estudos e canalizar todo o meu tempo pra diversos tipos de fisioterapia. Tive acesso aos melhores médicos e apoio incondicional da minha família e dos meus amigos. Em nenhum momento me faltou ajuda. Me lembro que, toda noite, a sala de espera do hospital ficava abarrotada de gente querendo me ver, querendo ajudar de alguma forma. Além disso, minha história com esporte foi decisiva para que eu conseguisse sobreviver, especialmente pelo remo que trabalha muito resistência e saber não entregar os pontos.
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Teve uma passagem muito marcante com meu pai. No dia do assalto, logo que ele chegou no hospital e me viu na maca, num limite entre vida e morte, muito fragilizado, ele segurou no meu braço e disse: filho, fica tranquilo, faz a sua parte, a gente vai fazer a nossa e a gente vai vencer isso tudo. Isso passou a ser o meu lema diário que me influencia até hoje.
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Quando eu comecei a frequentar clínicas de reabilitação, percebi que eu era uma exceção. A maioria das pessoas que passam por acidentes ou nascem com alguma deficiência, enfrentam também pobreza, miséria. Interessante que outro dia eu estava lendo um livro sobre o navegador Ernest Shackleton. Ele era um aventureiro que, em 1914, organizou uma expedição com o objetivo de realizar a primeira travessia do continente antártico com trenós. E aí o negócio deu errado. Antes de chegar no ponto de desembarque, o mar congelou e eles ficaram presos por 9 meses no navio, até que a pressão do gelo arrebentou com a estrutura do barco e eles tiveram que passar um tempo enorme vivendo em cima de placas de gelo, em condições extremas. Temperaturas muito baixas, ventania, muita umidade. Em várias passagens desse livro, o Shackleton fala sobre a relatividade das adversidades. Dizia, por exemplo, que quando a temperatura subia de -25º para -5º, comparativamente eles se sentiam super confortáveis e felizes. Esse livro fez eu voltar no tempo, porque eu me identifiquei muito com essa sensação. Logo na primeira semana de hospital eu tive esse insight de que estava na minha mão dimensionar qual seria o tamanho do meu problema. Em relação a quem não tinha nenhum suporte, me vi ali como uma pessoa extremamente privilegiada. E aí, mais pra frente, o desejo de retribuir tanta coisa boa que eu tinha recebido, combinado com o sentimento de indignação por ver que muitas famílias não tinham como pagar as despesas do tratamento dos seus filhos, com casos muito complicados, resultou na criação do Instituto Rodrigo Mendes. [trilha sonora]
E o que que o Instituto faz? A gente trabalha pra que nenhuma criança ou adolescente fique de fora da escola por causa de uma deficiência. Pra isso, a gente vem investindo em 3 pilares: identificando o que existe de mais avançado no mundo, oferecendo referências práticas pro professor que tá lá na ponta e se sente inseguro e promovendo formação, cursos pra professores em todo Brasil.
Nos últimos anos a gente produziu documentários sobre casos de sucesso no Brasil, nos Estados Unidos, na França, na Dinamarca e na Argentina. E como resultado dessa nossa exposição internacional, a gente foi contratado pelo Governo de Angola para um projeto de consultoria para a criação de uma Política Nacional de Educação Inclusiva lá. É a nossa primeira intervenção na África e vai beneficiar milhares de crianças e adolescentes. Olhando pro Brasil, a gente conseguiu impactar mais de 100 mil educadores dos 26 estados brasileiros. Essa é uma marca que a gente atingiu esse ano. Estamos super feliz, é o nosso presente de 25 anos.
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Voltando à provocação do Plenae, será que a minha relação com meu corpo mudou nesse tempo todo? Será que quando eu era atleta o meu corpo exercia maior influência sobre a minha identidade? Ou, ainda, será que a minha nova condição me levou a ser mais desprendido do meu corpo?
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Para começar, eu acho que a separação corpo, mente e espírito tem uma função meramente didática. Serve para a gente tratar das diferentes dimensões que nos compõem de uma forma mais organizada. Mas, objetivamente, a nossa existência se dá pelo corpo. É por meio dele que somos percebidos, que a gente deixa nossa marca, mesmo que a gente continue a existir na memória dos outros depois da morte. Isso independe da nossa crença pessoal sobre questões metafísicas e religiosas. Quer dizer, eu continuo intrinsecamente ligado ao meu corpo. E o fato do meu corpo ter mudado não significa que minha essência tenha mudado. Eu sinto que ela foi preservada.
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Há alguns anos fui convidado pra dar uma palestra em Davos. Me chamaram para falar sobre resiliência. Como muita gente sabe, resiliência é um conceito da física que diz que, na natureza, alguns materiais têm a capacidade de retornar ao seu estado original após sofrerem uma deformação ou um impacto. Os americanos gostam de chamar isso de "bouncing back", que é o movimento que uma bola de borracha desempenha quando é arremessada contra uma superfície rígida. A bola se deforma e depois recupera a sua configuração. A plateia em Davos tinha príncipes, princesas e grandes autoridades. Quando subi no palco, o entrevistador me perguntou: Rodrigo, sabendo que a história da humanidade é marcada por crises cíclicas, você acha que é possível aplicar o conceito de resiliência para superação dessas crises? Eu pessoalmente acredito que, diante de uma mudança imposta, indesejada, a tendência humana é querer voltar à situação anterior. Senti isso na pele logo depois do meu acidente. Passei 3 anos fazendo 8 horas por dia de fisioterapia pra voltar a ser quem eu era, ou seja, um jovem fisicamente independente. Hoje eu percebo que a resiliência é uma capacidade fundamental para nossa essência. Seja qual for o impacto, a ruptura que surgir na nossa frente, a gente precisa ser capaz de preservar, de proteger nosso objetivo maior. Agora, quando a gente pensa na nossa ação, na nossa vida prática, eu prefiro usar um conceito que é o oposto da resiliência, que é a plasticidade. Plasticidade é a capacidade de um material se moldar, se transformar e se desprender da forma anterior. Resumindo, eu propus que as lideranças lá presentes buscassem combinar resiliência do propósito com plasticidade da ação. Que deixassem para trás o "bouncing back" e começassem a pensar em "bouncing forward". E esse negócio pegou. A expressão "boucing forward" saiu na frase final do relatório do Fórum Econômico Mundial.
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Voltando para a questão da mudança do meu corpo, de certa forma, acho que é isso que eu venho fazendo nesses anos todos. Me reinventado, mas blindando a minha essência. Os caminhos pra eu atingir meus objetivos vão se modificando com o tempo, mas o meu norte segue sendo o mesmo. Eu gosto muito do poema vitoriano que diz que “somos mestres dos nossos destinos, somos capitães das nossas almas”. Apesar da enorme incerteza que está sempre ao nosso redor, da impossibilidade da gente controlar as coisas, daquilo que os budistas chamam de impermanência, me ajuda muito pensar que a nossa intenção, o nosso objetivo maior está sob nosso controle, não importa quantos tiros, quantos trancos a gente leve.
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Os momentos mais difíceis da minha vida foram, de longe, os primeiros dias no hospital. Eu tinha muita dificuldade pra respirar e precisava enfrentar uma maratona de procedimentos que eu nem sabia que existiam. Toda madrugada, tinha a hora em que todo mundo fazia uma pausa pra descansar e eu ficava, ali, acordado, meio que numa sombra, como que na beira de um precipício, me segurando como eu podia pra não despencar. Nessas horas, eu recorria aos melhores momentos do meu passado, que apareciam como um cinema projetado no céu. Eram sempre momentos marcados por leveza e afeto. E aquilo me reanimava. Eu me sentia com uma força sem fim pra, no dia seguinte, encarar de novo aquele maremoto com meu barquinho a remo.
Me dá muito prazer saber que eu, minha equipe, meus conselheiros, nossos parceiros, quer dizer uma legião de pessoas, trabalham pra melhorar a educação no país, pra que todo mundo esteja no jogo e tenha a chance de marcar um gol ao invés de passar a vida toda no banco de reservas, ou pior, escondido no vestiário.
Uma das estratégias que eu adoto pra manter o meu foco no meu propósito é me lembrar de uma noite, quando eu estava no primeiro ano de faculdade, em que eu perdi o sono e resolvi ligar a TV. E estava sendo transmitida a cobertura de um encontro mundial de grandes cientistas, filósofos e líderes religiosos. O objetivo era discutir o futuro do planeta.
Os argumentos eram hiper sofisticados até que, num dado momento, a palavra foi passada pro Dalai Lama. E aí, com muita simplicidade, ele falou que é uma ilusão discutir sustentabilidade sem que a gente primeiro reconheça que todos os seres humanos são interdependentes. Eu gosto muito dessa visão de que, se o nosso vizinho tá passando por um sofrimento, de alguma forma a gente também vai ser afetado por esse sofrimento, não importa a altura dos muros que separam as nossas casas.
Eu realmente acredito que a gente precisa ser capaz de devolver tanta coisa boa que a vida oferece pra gente todos os dias e trabalhar duro para que as coisas melhorem. Melhorem não só pra gente, mas pra cada vizinho desse bairro planetário chamado Terra. Acho que no fundo eu continuo seguindo o pedido do meu pai, buscando fazer a minha parte.
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Geyze Diniz: As nossas histórias não acabam por aqui. Acompanhe semanalmente nossos episódios e confira nossos conteúdos em plenae.com e no perfil @portalplenae no Instagram. [trilha sonora]
Para Inspirar
Novembro chegou e, com ele, a campanha do novembro azul. Fique de olho nos seus exames e entenda mais sobre o câncer de próstata, muito comum em homens.
1 de Novembro de 2022
Em outubro, mudamos todo nosso site para a cor rosa e te explicamos o que é o câncer de mama, tema da campanha de conscientização do Outubro Rosa. Agora, o mês de novembro chegou, e com ele, a campanha do novembro azul. Seu objetivo é trazer conscientização também, mas dessa vez, o câncer de próstata é o foco.
Esse é um dos males que mais afetam os homens, dentre outros presentes na saúde masculina. No Brasil, estimam-se 65.840 casos novos de câncer de próstata para cada ano do triênio 2020-2022. Esse valor corresponde a um risco estimado de 62,95 casos novos a cada 100 mil homens, segundo o INCA.
“A estimativa é que 17% dos homens têm ou terão essa doença, 1 em cada 6 homens mais ou menos, diz Fernando Korkes, médico urologista do Hospital Israelita Albert Einstein e chefe do grupo de uru-oncologia da faculdade de medicina do ABC. Mas afinal, do que se trata esse câncer? Quais são suas especificidades? Entenda melhor ao longo deste artigo.
O bê à bá
Antes de entender o de próstata, vamos retomar conceitos ainda mais primordiais. O câncer é um termo que abrange mais de 100 diferentes tipos de doenças malignas que têm em comum o crescimento desordenado de células, que podem invadir tecidos adjacentes ou órgãos à distância.
“A próstata é uma glândula que tem um papel importante na fertilidade do homem. O câncer ali representa o surgimento de células anormais nessa glândula, que podem levar a disseminação local ou em outros órgãos”, diz Fernando. Além do fato de ser localizado ali, há outras características que são específicas desse tipo de tumor, como o fato de ser uma doença que surge quase que exclusivamente com o passar da idade. “É raríssimo ver um homem muito jovem com alguma doença na próstata, elas começam a surgir a partir dos 40 anos e fica mais frequente a partir dos 60”, diz.
Sintomas e riscos
O câncer de próstata no início não apresenta nenhum sintoma, portanto, é preciso estar com os exames de rotina em dia. “O maior alerta é uma alteração no exame digital da próstata ou no exame de PSA (que é o exame de sangue que dosa essa proteína)”, diz. “Quando já tem sintomas como alterações urinárias ou dificuldade para urinar, estamos falando de uma doença que está aí já faz algum tempo”.
Além desses alertas, é importante levar em consideração o histórico familiar: pessoas que têm muitos antecedentes de câncer, não só o de próstata, correm mais risco, sobretudo familiares de primeiro grau. Para quem tem adenocarcinomas (um tipo de câncer que afeta as glândulas e o tecido epitelial dos órgãos excretores, como mama, intestino, pâncreas), o risco também é aumentado.
Por fim, pessoas com pele negra também apresentam mais risco. “Isso é um dado epidemiológico, os tumores tendem a ser maiores e mais agressivos, com mais chances de sair da próstata, por condição genética. É uma constatação epidemiológica, não existe uma explicação”, revela o urologista.
Exames
Há uma polêmica em torno do exame de toque, já que a maior parte dos homens não gostam de realizá-lo. Porém, Korkes assegura: ele faz parte da rotina direta. “No exame do PSA, conseguimos detectar ⅔ do resultado. Já no exame de toque, mais ¼. Então é melhor que eles sejam feitos sempre em conjunto”.
A frequência do exame vai variar de acordo com a idade e chances de risco. As diretrizes da Sociedade Brasileira de Urologia mantém a recomendação de que homens a partir de 50 anos e mesmo sem apresentar sintomas devem procurar um profissional especializado para avaliação individualizada.
Os homens que integrarem o grupo de risco (raça negra ou com parentes de primeiro grau com câncer de próstata) devem começar seus exames mais precocemente, a partir dos 45 anos. Após os 75 anos, somente homens com perspectiva de vida maior do que 10 anos poderão fazer essa avaliação, segundo informações do Portal da Urologia.
“De qualquer maneira, acho que faz sentido a partir dos 40 anos fazer uma avaliação de qual é o risco, se tem histórico familiar e fazer o exame de sangue de PSA basal. Indivíduos que têm alguma alteração passam a ter que fazer o exame anualmente. Para quem não tem nenhum risco, a partir dos 45 anos ou 50. Em linhas gerais, a partir dos 40 vale uma avaliação inicial”, comenta o especialista.
Tratamento
A partir do momento em que o tumor foi detectado, começa então o tratamento. Ele vai depender, é claro, do seu tamanho e intensidade. Nessa etapa, o médico irá levar em consideração também a idade do paciente versus a sua expectativa de vida. Se for um tumor pequeno e de crescimento lento em um paciente com 85 anos, por exemplo, a intervenção pode ser até mais prejudicial do que a chamada vigilância ativa, que são exames periódicos para acompanhar o crescimento desse tumor.
"Isso é uma coisa que tem sido cada vez mais feita na última década. É importante ressaltar que isso é um tipo de tratamento, não é um abandono ou negligência, e só acontece quando a gente entende que os riscos de uma intervenção são maiores do que o próprio câncer”, pontua Fernando.
Há ainda outros tipos de cenário. No caso de o tumor estar localizado só na próstata, mas com risco de causar problemas para aquele paciente. Para isso, existem dois tipos de tratamentos com intenção curativa. O primeiro é a prostatectomia, que consiste em remover a próstata e pode ser feita tanto por meio de uma cirurgia convencional, com corte e cicatrizações.
Essa cirurgia ainda pode ser feita por laparoscopia e com auxílio robótico, que é uma técnica cirúrgica minimamente invasiva, na qual pequenas incisões são feitas na região abdominal para introdução do laparoscópio, equipamento com uma micro câmera integrada que permite a visualização direta da cavidade peritoneal, e dos outros instrumentos cirúrgicos, como pinças, tesouras e grampeadores, visando a manipulação do órgão/tecido alvo.
O segundo tratamento possível nessa situação é a radioterapia, que geralmente vem combinada com uso da hormonioterapia. “O uso da hormonioterapia otimiza a radioterapia, aumenta em mais ou menos 10% a eficácia. Trata-se de um medicamento que o paciente recebe para diminuir ou praticamente zerar o nível de testosterona no sangue, a fim de dar uma murchada na próstata”, explica.
Há ainda um terceiro caso, o mais grave, que é quando esse câncer já apresenta metástase, ou seja, migrou para outros órgãos. Nesse tipo de tumor, as metástases mais comuns são nos gânglios, ossos e pulmão. “Se for esse o caso, há algumas dezenas de opções de tratamento, a cada ano surgem novas opções e medicamentos, além de combinações de 2, 3 medicamentos. Pode ser hormonoterapias, imunoterapia, quimioterapia, radioisótopos e eventualmente pode entrar na radioterapia também”, revela.
Riscos
Os riscos da doença em si são semelhantes a todo tipo de câncer, ou seja, progredir localmente ou à distância (a metástase). Se a progressão for local, pode causar obstrução do canal e os problemas provenientes disso, como dores e insuficiência renal.
Se ele for para os ossos, pode causar dor e problemas na coluna, e no caso do pulmão, insuficiência cardíaca. Há ainda os pequenos riscos envolvidos no tratamento. “No caso da hormonioterapia, os sintomas são risco cardiovasculares, sobretudo se já havia problemas pré-existentes, e sintomas parecidos com os da menopausa, como fogacho, alteração na disposição e no sono”, diz Korkes.
Em toda radioterapia e cirurgia, sempre há previsão de alguns riscos também. Fernando explica que no caso desses tratamentos, os médicos têm um objetivo chamado de trifecta, E o que é isso, afinal? É, em primeiro lugar curar esse câncer, em segundo lugar minimizar os riscos que esses tratamentos trazem e que mais prejudicam a qualidade de vida, sobretudo preservando a continência urinária. Por fim, preservar também a potência sexual.
A próstata, como sabemos, está associada à fertilidade, mas ela está muito perto de outras estruturas, como o esfíncter urinário que tem a função de controlar a urina. Portanto, esses tratamentos podem interferir no controle da urina. Outra estrutura que está perto são nervos que provocam a ereção, que também pode ser afetada.
A radiação da radioterapia pode queimar não só o tumor, como outros órgãos como a bexiga, o reto e o intestino, a pele, e podem vir alguns sintomas disso. Mas o urologista garante: hoje os tratamentos têm ficado cada vez melhores, então esses riscos têm diminuído bastante.
“Essas campanhas durante o mês de novembro são extremamente importantes, porque como essa é uma doença curável na maior parte dos casos, Infelizmente, os homens têm pouco o hábito de procurarem exames de rotina e é extremamente importante pegar essa doença no começo. A campanha também conscientiza quem está ao lado deles, um parceiro ou parceira. Existe um dado de que um homem casado vive mais do que um solteiro, e uma das explicações é que tem alguém do lado dele pra levar ele no médico”, conclui Fernando.
Se você leu esse artigo até o final, é hora de se cuidar - ou lembrar alguém de se cuidar também. Faça seus exames de rotina anualmente e esteja atento aos sinais: o seu corpo fala.