Coloque em prática
Polêmico e complexo na mesma medida, mentiras e verdades são pilares das relações humanas - e na infância não seria diferente
12 de Outubro de 2022
Quem nunca foi censurado por mentir ou exagerar nos fatos quando criança, que atire a primeira pedra. Esses primeiros anos de idade marcam o período onde estamos sendo educados, ou seja, aprendendo tudo que nossos tutores consideram como necessário para a formação de um ser.
Mas a honestidade, tema tão delicado mesmo na vida adulta, mostra-se um desafio ainda maior quando estamos ensinando crianças, sempre tão criativas. A psicóloga Ana Suy, autora de “A gente mira no amor e acerta na solidão” (Patuá, 2022), comenta em seu livro que a mentira pode ter seu lado positivo nessa fase da vida: quando uma criança mente, é sinal de que ela passa a ser dona de sua própria história e narrativa, que está trilhando seu próprio caminho rumo à independência.
Aceitar esse conceito e acolher mesmo as mentiras pode parecer um desafio, e é. Isso implica em ressignificar tudo, inclusive nossos próprios atos. “Honestidade é ter a vontade e poder falar de forma aberta aquilo que você sente, as razões porque você se comporta de determinada forma, ou o que você pensa sobre determinado assunto. É sobre assumir seus erros e poder se comunicar e se comportar de uma forma transparente”, diz Adriana Drulla, mestre em Psicologia Positiva pela Universidade da Pensilvânia e pesquisadora focada em autocompaixão e terapia focada em compaixão.
O contrário disso, então, seria a desonestidade, que nada mais é do que maquiar a realidade, seja aquilo que você pensa, fez ou aconteceu, sua perspectiva sobre as coisas, para ter algum ganho objetivo ou subjetivo. É aí que mora a dificuldade: muitas vezes, podemos ensinar a criança a mentir sem nem perceber que estamos o fazendo.
“Os pais costumam pegar pesado com as crianças que mentem, pois a honestidade é importante. E ainda assim, muitas vezes, eles não ensinam a honestidade, mas sim a desonestidade. Exemplo: se uma criança te conta algo e você não gostou do que ouviu, no lugar de ouvir como parceiro, você acaba penalizando ela. É Importante a gente entender o que estava por trás do comportamento, quais eram os sentimentos, validar as emoções dessa criança, para depois pensarmos juntos sobre formas de se comportar na próxima vez”, explica.
Quando um filho erra, muitas vezes achamos até que esse erro é o reflexo de uma educação ruim ou culpa da mãe, a famosa culpa materna que te explicamos neste artigo. E quando penalizamos essa criança, censuramos suas emoções e comportamentos de forma que ela não queira mais passar por isso e então, nas próximas vezes, irá mentir ou modificar a história.
Mentira X fantasia
“Eu acho que muitas vezes o que a gente chama de mentira é qualquer coisa que seja diferente da realidade. Às vezes a mentira vem com uma conotação muito negativa, que é o caso da desonestidade, mas existe a mentira inocente, que revela um pouco da criatividade da criança. Ela gostaria de me contar uma história incrível que aconteceu na escola, por exemplo, mas não aconteceu nada, então ela inventa”, pontua Adriana.
Nesse sentido, quando não há uma desonestidade, mas sim uma revelação do universo psíquico dessa criança - que é por natureza mais fantasioso - "desmascarar" essa mentira é também censurar sua capacidade imaginativa, contribuir para que ela seja menos espontânea, comunicar menos aquilo que ela está pensando ou fantasiando e se questionar “será que devo falar isso pros meus pais?”.
“Ela está querendo manipular a realidade para que ela seja mais parecida com aquilo que ela gostaria que fosse, refletindo até uma certa autonomia. O intuito dela é ter uma interação positiva com os pais e, para isso, ela vai fabricar algo onde ela seja a protagonista daquela relação, mesmo que ela esteja inventando uma mentira”, diz a psicóloga.
Na infância, é comum também usar e abusar da super honestidade. Chega a ser engraçado o modo como crianças falam “na lata” o que adultos não conseguem dizer. É claro que, aqui, cabe o ensinamento se ela tiver dito algo ofensivo, por exemplo. Ensiná-la outras formas de comunicar essa mesma coisa, ou lugares melhores - como, por exemplo, ensiná-la que certas verdades só são ditas no privado - pode ser um bom caminho.
“Isso é uma coisa que a socialização também ensina, não faz mal a gente rir disso ou levar isso tão a sério porque ela vai ficando mais velha e naturalmente vai aprendendo a se colocar. A criança pequena não consegue pensar sobre o pensamento do outro ou como o outro vai receber essa informação, isso é uma capacidade cerebral mais sofisticada, que se desenvolve mais no final da infância e início da adolescência. Então essa super honestidade vai sendo naturalmente substituída à medida que ela consegue racionalizar sobre as emoções do outro”, diz a psicóloga.
Como dizer verdades difíceis para as crianças em nome da honestidade
“Eu acho que a gente tem que entender que nem toda comunicação com nossos filhos vai ser fácil, tem que começar por esse lugar, tem conversas que vão ser difíceis para todo mundo, até pros adultos e idosos. Então acho que poupar as crianças de verdades difíceis, primeiro não contribui para honestidade e segundo não contribui para confiança”, diz a psicóloga.
Se tem algo na realidade que é difícil e eu escondo para essa criança, algumas coisas estão sendo comunicadas. Ela pode entender que não tem capacidade para tolerar o desconforto, o que pode gerar problemas até a sua vida adulta. E ela pode entender ainda que, se a informação é desconfortável, então ela está autorizada a alterar a realidade para evitar esse desconforto - um problema que também pode acompanhá-la por anos.
“Agora tendo dito isso, é importante a gente falar sobre o que é difícil de uma forma que a criança consiga entender. Então eu não preciso trazer detalhes muito complicados, não preciso explicar demais, talvez deixar a criança fazer perguntas no lugar de já sair falando várias coisas que ela nem quer e nem consegue entender. O cuidado é mais com a linguagem, mas ainda assim, não poupá-la do que é difícil”, acrescenta a especialista.
Relação em casa
Ao falar em honestidade com os seus filhos, lembre-se de fazer uma autocrítica: o quanto eu exijo que essa criança minta para mim? Isso está dentro do que é permitido ou não nessa dinâmica pais X filhos. Uma educação positiva e acolhedora e uma escuta ativa e sem pré-julgamentos, é o passo um para que ele se sinta à vontade de dizer mesmo as verdades mais cabeludas.
Atente-se também ao seu próprio comportamento: você recorre a pequenas mentirinhas no dia a dia, que caem por terra e revelam-se falaciosas posteriormente? Não se esqueça de que você é o grande exemplo para essa criança, que irá se espelhar em você nos seus próprios atos.
“Se o seu filho olhar pra você e dizer: não gostei disso que você falou, você não foi legal, me senti atacado. Como é pra você escutar isso? Acho que isso é um grande ponto. Quando a criança fala algo que nos deixa desconfortáveis, a gente a penaliza, então da próxima vez, ela será mais desonesta. Quando falamos sobre honestidade, falamos sobre tolerar o desconforto, tanto ensinar pra criança tolerar o desconforto, quanto a gente aprender a tolerar o nosso”, conclui Adriana.
Coloque em prática
Para além de seus já conhecidos benefícios, o contato com a natureza é capaz de nos ensinar mais do que imaginamos
4 de Março de 2022
Na sétima temporada do Podcast Plenae, mergulhamos no propósito de Eduardo Foz junto a ele e sua narrativa. É possível transformar um amor de infância em seu ofício? Para ele, sim. O que poderia aparentemente ser um amor inofensivo por animais acabou se tornando sua fuga de uma rotina que já não lhe fazia mais sentido e tornou sua missão de vida.
Já nos emocionamos anteriormente com uma relação de amor entre homem e animal, quando Rafael Mantesso dividiu em seu episódio para a quarta temporada do Podcast Plenae de quantas formas diferentes o seu cachorro foi fundamental para sua saúde mental e até mesmo física.
Sua participação, aliás, nos levou a investigar os benefícios que essa relação tão potente entre o indivíduo e seu pet pode trazer. De te obrigar a caminhar até liberar hormônios importantes para seu bem-estar, a troca é tão rica e intensa que já se tornou uma ferramenta dos profissionais de saúde em busca de cura dos seus pacientes: a zooterapia.
Mas sabemos que a natureza não se restringe somente aos nossos animais de estimação. Até porque, nem mesmo os animais de estimação se restringem somente aos cachorros: há quem tenha gato, coelhos, hamsters e por aí vai. Se essa interação se provou tão benéfica, como analisar isso sob uma ótica maior, tratando-se do meio ambiente como um todo?
A natureza como professora
Para começar, é preciso olhar não só para os ganhos de uma relação no sentido de benefícios para o corpo. Isso porque além de a natureza fazer bem, sim, para a nossa saúde física e mental - além de ser fonte de calma e alegria, como contamos aqui - ela também é professora.
Há até mesmo uma área dedicada a isso: ela se chama biomimética, ciência dedicada a observar processos naturais e, a partir disso, utilizar seus mecanismos para inspirar soluções que beneficiem o cotidiano das pessoas. O que podemos aprender, afinal, com a mãe Terra?
Que somos parte dela, e não algo à parte, como nos explicou Maria Claudia Pontes, diretora regional da Weleda Latim América. “Justamente por termos essa consciência de que somos apenas parte de um todo, é inaceitável destruir a natureza, porque de alguma maneira eu estou me destruindo ao mesmo tempo. Se eu agredir um solo, eu estou me agredindo”, diz ela.
Que sua presença em ambientes resgata até mesmo um pouco de nossa ancestralidade, como prega a Biofilia e também como estudos arquitetônicos mais recentes apontam.
Que a evolução leva tempo e não se dá de um dia para o outro, como o crescimento de uma flor que não tenta encurtar sua jornada, mas respeita os processos.
Que se regenerar é possível, mesmo quando somos feridos, afinal, é possível observar o nascimento de fungos, flores e matos em locais inusitados, como em um meio fio de uma avenida ou em um lixão.
Tudo está em sintonia e tudo que há no mundo co-depende de outros acontecimentos - todos temos nosso valor e nossa função. É a velha teoria do efeito borboleta: um simples bater de asas desse inseto aqui no Brasil pode ocasionar um tornado no Texas. “Pequenas modificações em um sistema podem ocasionar resultados significativos se este apresenta dependência sensível”, como explica o blog de Física na Unicentro.
O valor do trabalho em cooperação, como a obra “A Vida Secreta das Árvores – o que elas Sentem e Como se Comunicam” do escritor e pesquisador alemão Peter Wohlleben explica. As árvores, ao contrário do que se pensa, se comunicam entre si e cooperam mutuamente para que até mesmo a menor delas consiga sobreviver e, assim, tornar a mata sempre mais densa e protegida.
O valor das pequenas coisas, seja a alegria genuína que o canto de um pássaro pode nos trazer, ou como contamos neste artigo, os benefícios que uma prática miúda e cotidiana como a jardinagem pode trazer.
E agora, já está mais convencido a se conectar de verdade com o verde que te cerca? Espírito e Contexto são os dois pilares Plenae dedicados a pensar sobre contemplação, o elo natural das coisas e o meio ambiente enquanto um sistema. Mas o poder que a natureza exerce é tanto que afeta positivamente todos os nossos outros pilares, bem como seus ensinamentos. Respire fundo e busque esse contato!
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