Para Inspirar

Irmãos Filpi em “De dentro pra fora”

Ouça e leia o episódio da nona temporada do Podcast Plenae, conheça a história dos irmãos Filpi e como foi para sua família a transição de gênero de Miguel.

21 de Agosto de 2022



Leia a transcrição completa do episódio abaixo:

Miguel: Minha mãe me contou que, quando eu tinha 5 anos, eu falei pra ela: “Eu sou um garoto e eu gosto de menina”. Assim, na lata, com essas palavras. E ela respondeu: “Ah, é uma fase, vai passar.” Eu interpretei aquilo como uma rejeição. Várias situações desse tipo fizeram de mim uma pessoa muito revoltada. Eu nasci num corpo de mulher, mas sempre me encaixei melhor no mundo entendido como masculino. Aos 24 anos, eu decidi fazer a transição de gênero, e a minha vida mudou.

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Geyze Diniz: Miguel e Natália são gêmeos idênticos, pelo menos de acordo com a ciência, mas sempre se enxergaram completamente diferentes. Desde brigas na infância à estranhezas durante a adolescência, os gêmeos nunca se viram tão distantes e afastados por conta da maioria querer que eles fossem iguais. Mas a proximidade entre os dois só veio quando as diferenças começaram a ser reconhecidas. Miguel passou por uma transição de gênero e hoje é um homem trans que mostra que o respeito pode ser o maior elo de amor e união em qualquer relação. Conheça a história de mudanças, respeito e amor dos Irmãos Filpi.

Ouça no final do episódio as reflexões da Neurocientista Claudia Feitosa-Santana para te ajudar a se conectar com a história e com você mesmo. Eu sou Geyze Diniz e esse é  o Podcast Plenae. Ouça e reconecte-se.


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Miguel: “Existe uma visão romantizada de que a relação entre gêmeos é a mais bonita que existe. As pessoas acham que, porque os irmãos nasceram juntos, eles vão se identificar muito e até sentir o que o outro sente. Comigo não foi bem assim. Eu não cresci sendo o melhor amigo da minha irmã, e nem ela a minha melhor amiga. Na verdade, eu tenho poucas memórias de uma boa convivência entre nós. Eu lembro mais das brigas.

Eu sempre me comparei muito com a Natália. A gente é muito parecido fisicamente e, pra mim, ela é uma referência do que tava certo. Desde pequena, ela seguia aquele modelo feminino estabelecido pela sociedade. Gostava de maquiagem, adorava arrumar o cabelo, fazia a unha. Já eu jogava bola e não gostava de roupa apertada. Eu detestava ter o cabelo comprido, mas não cortava, porque morria de medo da minha mãe ficar triste. Meus pais nunca me falaram nada, mas eu sentia que eles queriam que eu fosse um pouco mais parecido com a Natália. A presença da minha irmã era um constante lembrete  de que tinha alguma coisa errada comigo, só que eu não sabia o que que era.

Natália: Eu tive uma infância tranquila, sem grandes preocupações comigo mesma. Mas o meu irmão, não. Desde pequenininho, ele era bravo, agressivo com todo mundo, principalmente comigo, seu saco de pancadas. Eu lembro que a gente tinha uns 10 anos e alguém chamou ele de “moleca”. Ele ficou transtornado de um jeito, que eu não entendi o tamanho da revolta.

O Miguel explodia por causa de coisas que eu considerava muito pequenas, tipo se arrumar para uma festa. Teve o casamento de um primo que ele fez um escândalo porque ele não queria colocar um vestido. Ele chorava e falava: “Eu não quero arrumar o cabelo, eu não quero pôr essa roupa”. Ele tava muito incomodado, mas não sabia se comunicar direito e não sabia comunicar o que tava sentindo. Depois de muita insistência nossa, ele finalmente se vestiu e a gente acabou indo pro casamento. Mas, dava pra ver que ele estava muito triste.

Em casa, o Miguel era naturalmente o centro das atenções, porque ele peitava os meus pais em relação a tudo. Questionava, literalmente, qualquer ordem. Hoje eu vejo com clareza que a minha mãe e meu pai sentiam que precisavam dar mais atenção pra ele. Mas, quando eu era menor, interpretava essa preocupação como preferência. Eu achava que o Miguel era o filho mais amado e eu acabava me sentia meio sozinha, sabe? Escanteada. Pra não criar mais problemas na família, eu engolia os sapos e obedecia tudo o que meus pais mandavam, mesmo sem concordar. Eu falava sim pra todo mundo, menos pra mim.

Miguel: Quando a gente tinha 16 anos, a Natália e eu fizemos intercâmbio pros Estados Unidos, cada um pra um lugar. 

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Eu já tinha entendido que eu me sentia atraído por mulheres. Mas, mesmo assim, eu queria desesperadamente me encaixar na sociedade normativa. No Brasil, eu tentava esconder o óbvio e levava uma dupla vida. Na escola e na família, eu tentava disfarçar que gostava de meninos. Cheguei até a ter dois namoradinhos, por livre espontânea pressão social. Foi horrível, horrível. Era um sacrifício beijar na boca deles, era um sacrifício falar que eu tava namorando um cara.

Aí, quando eu cheguei na escola americana, eu ouvi dos amigos: “Mas por que você tá mentindo pra gente? Não tem problema nenhum você gostar de mulher”. Aquele acolhimento foi libertador. Eu me senti muito à vontade e decidi que eu não ia mais mentir. Ainda nos Estados Unidos, eu telefonei pra Natália e falei: “Ná, preciso te contar uma coisa. Eu sou lésbica”. Ela reagiu com naturalidade, porque na verdade ela já tinha percebido.

Assim que eu cheguei no Brasil, dei a notícia pro resto da família. O meu pai foi bem de boa, falou que pra ele o importante era eu ser feliz. Minha mãe começou a chorar e disse que tinha expectativas pra mim. Eu respondi: “Mãe, a sua expectativa é casamento? É filho? Eu também quero casar e ter filhos”. Até que ela aceitou rápido, assim. Em pouco tempo eu já tava apresentando a minha namorada pra família. Tirei um “pesaço” das costas.

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Eu passei no vestibular de engenharia, mudei de cidade, cortei o cabelo e aí comecei a comprar roupas na sessão masculina. Aí eu pensei: “Beleza, resolvi meu problema. Sou lésbica, e é isso”. Só que não foi o que aconteceu. Eu ainda não me sentia nada bem, continuava me sentindo deslocado. E eu odiava me olhar no espelho, odiava meu corpo, odiava não ter barba. Os seios, então, eu não suportava. Pra esconder, eu apertava tanto o top, que me machucava. Eu não gostava de entrar no banheiro feminino, e não gostava de ter voz fina. Bom, enfim, eu não era mulher.

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Lá pelos meus 22 anos, eu mergulhei numa depressão. Passei uns dois anos pra baixo, assim, sem ver graça em nada ao meu redor. Eu já tava conformado em levar uma vida inteira infeliz, até que um telefonema em 2019 mudou a minha vida. Uma amiga me convidou pra ir a um bar com mais gente, e aí entre elas um boy que eu não tinha ideia de quem era. Eu detestei saber que um cara ia junto. Eu tinha completo horror a homem, odiava, assim, gratuitamente. Acho que Freud explica, né? Hoje eu entendo que eu sentia inveja deles.

Eu não tinha vontade nenhuma de sair de casa, mas acabei indo ao bar. Quando eu cheguei no rolê, a minha amiga falou: “Oh, só pra você saber, tá, ele é um cara trans”. Nossa, a minha cabeça bugou na hora. Eu falei: “O quê??”. Eu botei esse cara na parede e disse: “Pode me explicar tudo!”. Depois que eu fui saber que era o Luca Scarpelli, ele era um dos poucos youtubers que produzia vídeos sobre o universo trans.

O Luca me falou sobre o trabalho, sobre a família, sobre os sentimentos dele. E eu me identificava com cada frase que ele falava. Ele parecia um clone meu que tava feliz e bem resolvido. Eu fiquei tão alucinado, que fui embora do bar e passei 3 dias trancado em casa, pesquisando sobre transição de gênero e chorando horrores. Eu sabia que isso existia, só que até então era uma coisa muito distante do meu universo, e eu não conhecia ninguém que tivesse feito. Bom, procurei ajuda psicológica e médica e, aos 24 anos, comecei o meu processo de transição.

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Natália: Eu fui a primeira pessoa da família pra quem o Miguel falou a novidade. Eu não fui pega de surpresa quando ele contou que era lésbica. Mas, a transição de gênero confesso que eu não tava esperando. Eu não sabia nada sobre desse assunto e talvez eu nunca vá entender completamente o que é. Mas eu sabia que não precisava entender, eu só precisava respeitar. Então, quando o Miguel me falou, eu respondi: “Olha Mi, eu não sei o que você tá falando, não tenho ideia, mas vambora. Se é o que vai te fazer feliz, pra mim é a única coisa que importa. Então, conta comigo pro que você precisar”. Pros meus pais o anúncio foi um choque…

Miguel: Quando uma pessoa faz uma transição de gênero, quem tá ao redor dela transiciona junto. Eu sabia que eu podia perder os meus pais pra sempre, que talvez eles não fossem aceitar a minha decisão. Só que eu tava tão feliz, eu tinha tanta certeza de que era a coisa certa, que nada, nenhum obstáculo ia me impedir de concretizar o meu plano. Eu passei 24 anos sendo triste e solitário. Não tinha sentido eu passar o resto da vida me sentindo miserável em função do que outras pessoas queriam pra mim.

A minha terapeuta resolveu chamar os meus pais e a minha irmã no consultório, pra uma sessão em família. A minha mãe só chorava, se lamentava que eu ia me mutilar. Quando a psicóloga perguntou o que o meu pai pensava sobre mim, ele respondeu que sentia decepção, que era um desperdício eu não poder engravidar. Ele disse que nunca me enxergaria como um filho. Foi difícil ouvir essas palavras, só que ao mesmo tempo eu pensava: “Meu pai e minha mãe nunca me aceitaram mesmo. Que se dane, eu vou em frente de qualquer jeito”.

Natália: Meus pais não disseram exatamente o que Miguel queria ouvir. A palavra “decepção” foi muito forte, mas eu interpretei que o que meu pai tava falando era como médico, um médico que tava preocupado acima de tudo com a saúde do filho. Ele tava inconformado que o meu irmão tomaria hormônio e acabaria com o corpo dele. Eu lembro que o meu pai falou: “Mas ele tem uma saúde perfeita e quer jogar fora por causa de um pensamento temporário, de uma preocupação estética?”. Então, eu acho que meu pai usou a palavra “decepção” nesse sentido, não que ele tava decepcionado com o Miguel enquanto pessoa.

Meu pai perguntava pro meu irmão: “Você não tá satisfeito em saber quem você é por dentro? Precisa mudar por fora também?”. Acho que o medo dos meus pais era que o Miguel se arrependesse e não pudesse mais voltar atrás da decisão. Mas, eles acabaram aceitando que o meu irmão já tinha idade suficiente pra tomar as suas próprias decisões.

Miguel: Depois dessa sessão, eu passei mais ou menos 1 ano falando bem pouco com os meus pais. Eles nunca me abandonaram, mas ficaram super tristes. A gente meio que entrou num acordo de que eu precisava de apoio, inclusive financeiro, e eles precisavam de um tempo pra processar o que tava acontecendo. Eu comecei a fazer terapia hormonal com testosterona e o meu corpo foi mudando. Depois de um ano, eu fiz a mastectomia para remover os seios. E foi aí que meus pais compreenderam que não se tratava de uma fase, mas sim um caminho sem volta.

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A minha mudança não foi só externa. Foi inclusive, principalmente, interna. Eu era muito arisco, eu tinha pavor de crítica, assim. Qualquer pessoa que tentasse estragar o pouco de felicidade que eu sentia, levava uma patada. Hoje é raro você me ver de cara fechada, de mau humor. Eu sou muito confortável na minha pele, e muito mais tranquilo, mais feliz, mais calmo. O relacionamento com a Natália melhorou muito. A gente descobriu, no caso, que a conversa é um método bem melhor de comunicação do que o grito e a porrada. Eu não conseguia ter uma boa relação com ela e com os meus pais, porque eu achava que parte da minha tristeza era o fato de que eles não acolhiam como eu era. 

Coitados, pai e mãe não têm manual de instrução. E mudança de gênero não é exatamente uma coisa simples de se entender. Meus pais não tinham informação sobre esse assunto e só queriam me proteger.

Natália: Eu errei muitas vezes o pronome masculino depois que o Miguel fez a transição. Ele ficava bravo e achava que eu tava querendo boicotar o processo dele. Mas, na verdade, era só uma questão de hábito. Depois que ele deixou crescer a barba, sua voz engrossou e ele ganhou uma feição masculina, aí ficou fácil chamar ele de Miguel. Eu comecei a enxergar ele como um homem mesmo e hoje é impossível usar o pronome feminino. Agora só tenho que aguentar minhas amigas falando: “Ai, como o seu irmão é lindo! Ele ficou mais bonito como homem do que como mulher”.

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No segundo que o Miguel decidiu fazer a transição de gênero, eu, imediatamente, consegui ver que a impaciência, a intolerância e a agressividade dele ficaram pra trás. Eu também comecei a fazer terapia e aprendi a me posicionar, aprendi a parar de me anular só pra agradar os outros, inclusive o Miguel. A gente teve uns períodos afastados, com pouca conversa, mas hoje graças a Deus a nossa relação é bem melhor. No fim das contas, a gente sempre tá ajudando um ao outro.

Miguel: Quando a minha família começou a respeitar o pronome masculino, eu pensei: “Quer saber? Tá bom, não preciso de mais que isso.” Uma coisa é chamar pelo nome que eu escolhi, outra é de fato acreditar que eu sou um homem. Mas tudo bem, já tá ótimo que eles me respeitem.

Se tem duas pessoas no mundo que viraram militantes da transição de gênero foram os meus avós. Eu tenho certeza que o meu avô sente no fundo do coração dele que eu nasci homem e nunca fui mulher. Mesmo ele sendo de uma geração passada, eu sinto que ele não força nada a barra quando me chama de Miguel. A minha avó, então, ameaça bater em quem erra o pronome comigo. Eu tinha muito medo, muito medo de como eles iam reagir quando eu mudei de gênero. Mas eles aceitaram com mais facilidade do que todo mundo. No fim das contas, o acolhimento que mais me importa é o da minha família.

A mensagem que eu tenho pra passar, tanto pras pessoas cis quanto pras pessoas trans, é que a vida é uma só. Na hora da morte, o que vai importar de fato é o quanto você conseguiu ser feliz, o quanto conseguiu amar, o quanto se sentiu confortável na própria pele. Eu não vou falar que a transição de gênero é um processo fácil. Só que nada, nada, foi mais difícil pra mim do que passar 24 anos sendo quem eu não era, tentando interpretar o personagem que a sociedade esperava de mim. Pessoas bem resolvidas com elas mesmas são melhores pra sociedade. A gente propaga felicidade quando a gente é feliz.

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Claudia Feitosa-Santana: Os gêmeos idênticos Miguel e Natália compartilham conosco a transição de gênero dele e como as relações familiares transacionaram junto.

Como ele, quando descobrimos que o que parecia intransponível, além de insuportável, era apenas uma pedra no meio do caminho, precisamos de apoio para retirá-la, pois somos seres sociais e é extremamente importante vivermos juntos - em família, entre amigos e, inclusive, no meio da multidão. Por isso, pessoas podem ser sentidas como se fossem obstáculos. Mas podem também ser acolhimento. O que precisamos é ter a consciência da relacionalidade, o fato de que estamos inter-relacionados uns com os outros, logo: intersomos. 

E, assim, no meio do caminho havia um outro... um outro que nos ama, um outro que você empatiza, um outro que eu respeito, e por aí vai. Pedras que se transformam em companhias, com as quais nos sentimos confortáveis em nossa própria pele.

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Geyze Diniz: Nossas histórias não acabam por aqui. Confira mais dos nossos conteúdos em plenae.com e em nosso perfil no Instagram @portalplenae.


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6 curiosidades sobre a maternidade, segundo a ciência

O “maior amor do mundo” envolve processos complexos do corpo humano e transcende qualquer outro tipo de sentimento

7 de Abril de 2023


O dia das mães é só em maio, mas agora, ainda em abril, fomos investigar um pouco mais sobre o “maior amor do mundo”, também conhecido como o amor materno. Inspirados pelo quinto episódio da décima primeira temporada do Podcast Plenae, onde mergulhamos na linda história de Adriana e Giovanna.

“As mães são muito mistificadas, como se a maternidade fosse um momento sagrado, santificado. (...) Expor a nossa história tem também a função de mostrar que a perfeição não existe. A trajetória de todas as mães e filhos, de todos os pais e filhos terá os seus desafios, independentemente de ter ou não uma condição de saúde”, desabafa Adriana, ao final do episódio. 

De fato, a romantização da maternidade é um problema que muitas mulheres vêm se opondo nos últimos tempos. Com o avanço das mídias sociais, mães de todos os cantos do mundo começaram a compartilhar seus relatos reais e, com isso, criaram uma rede onde todas possam se sentir acolhidas em seus medos e angústias. 

Em uma pesquisa rápida na rede social Instagram, a hashtag #maternidadereal conta com mais de 10 milhões de adeptos e, ao clicar nela e começar a navegar pelos posts, é comum se deparar com verdadeiros desabafos de mães cansadas ou sentindo culpa. E, como te contamos por aqui, a culpa materna é nociva não só para a mãe, mas também para o filho. 

Além da culpa, já falamos sobre quando a maternidade solo é uma opção para algumas mulheres - o que é bem diferente daquelas que são abandonadas pelo pai da criança, sobre parto humanizado, sobre a gestação em idades avançadas, a depressão pós-parto, os aprendizados do “ser mãe”, dentre outros assuntos tão importantes dentro do tema.

Já sabemos que o amor materno é benéfico para o cérebro das duas partes, e também que o ato de maternar libera ocitocina. Nada como a ciência, certo? Pensando nela, fomos atrás de ainda mais fatos sobre essa atividade trabalhosa que deve ser sempre reconhecida, mas não romantizada. Acompanhe a seguir!

O poder do toque

O poder do leite materno é amplamente conhecido, até mesmo por órgãos como o Ministério da Saúde, que o define como uma verdadeira vacina, já que ele ajuda o sistema imunológico e pode até proteger contra o HIV. Mas o que poucos sabem é que um simples toque materno já guarda consigo muitos benefícios. 

Pesquisadores da Escola de Enfermagem Dalhousie descobriram que tocar o seu próprio bebê prematuro ou o filho doente pode ajudá-lo a lidar melhor com a dor. De acordo com a pesquisa, essas crianças sentiram 30% menos dor nas injeções, por exemplo, depois de ganharem esse carinho.

Esse abraço de mãe melhora a saúde de um prematuro. A prática apelidada de canguru, que se dá quando a mãe segura o seu filho prematuro perto do seu peito por algumas horas por dia, traz benefícios para a saúde do recém-nascido. Novos estudos, publicados no jornal Pediatrics ou feitos pela Universidade McGill, no Canadá, comprovaram isso. 

Os estudos mostram que esse “simples” abraço já ajuda o neném a ganhar peso mais rápido, ser mais resistente a infecções e hipotermia e sentir menos dor durante procedimentos desconfortáveis. Porém, ainda não se sabe como se dá esse mecanismo do contato versus seus benefícios, só se sabe que eles ocorrem quando o bebê está nu e fica diretamente contra a pele nua da mãe (ou do pai).

Professoras de linguagem

Você sabia que aprendeu a falar ainda durante a gestação? E, para isso, bastou ouvir a voz da sua mãe - que não necessariamente precisa ser formada em letras ou nenhum curso do tipo. De acordo com um estudo da Universidade de Washington, os bebês recém-nascidos já sabem diferenciar os sons de sua língua nativa dos ruídos de uma língua estrangeira. 

Para chegar a tal conclusão, foram analisados 40 bebês com 30 horas de idade. A partir dessa análise, os cientistas perceberam que os recém-nascidos sugavam suas chupetas com mais força quando ouviam palavras de uma língua diferente da que sua mãe falava quando estavam no útero.

Segundo este artigo, é importante lembrar que um feto começa a ouvir entre a 20º e 24ª semana de gestação, quando os neurônios vão formando o córtex auditivo, a região responsável por processar o som. Então, é a partir desse momento que os bebês podem ouvir os órgãos internos da mãe, assim como sua fala.

Uma outra pesquisa, publicada pela PNAS em 2015, mostrou que os primeiros sons fornecidos pela mãe aos recém-nascidos são os responsáveis pela formação da aptidão auditiva necessária. É ela que molda o cérebro para a audição e desenvolvimento da linguagem desenvolvida no bebê posteriormente.

Há ainda pesquisas comprovando que o bebê se move mais dentro do útero quando a mãe conversa com sua barriga ou apenas a acaricia. Isso sem falar em todo o mecanismo da memória, que também começa a ser desenvolvido ali dentro.

Desde sempre e para sempre

E se o assunto é linguagem, segura essa curiosidade! A figura materna é de tamanha importância que até mesmo os homens da caverna já clamavam pela sua. De acordo com essa pesquisa, da Academia Nacional de Ciências, nossos ancestrais possuíam um vocabulário decente, que incluía palavras do dia a dia e também a palavra “mãe”. 

Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores usaram um modelo de estatísticas para criar uma árvore genealógica de palavras, disponível neste link para lá de interessante.

You better work!

Na tradução livre, “é melhor você trabalhar”. E é a ciência que está dizendo. Segundo estudos da Universidade de Akron e da Universidade de Penn State, mães que trabalham são mais saudáveis. Os cientistas descobriram que as mulheres que regressam ao trabalho após parirem apresentam mais energia e mobilidade. Além disso, elas também têm menos chance de desenvolverem depressão aos 40 anos. 

De dentro para fora

Não se surpreenda com o fato a seguir: um artigo do jornal Pediatrics recomenda que as mães limpem as chupetas de seus filhos colocando o objeto na própria boca. Pode parecer estranho, mas o fato é que  essa saliva materna pode proteger os filhos de desenvolverem certas doenças com suas próprias bactérias. No estudo, foi comprovado que os filhos que tiveram sua chupeta limpada pela boca de sua mãe tiveram menores chances de desenvolver eczemas, asma e algumas alergias.

Células por toda a parte

Ainda na linha do “dentro para fora”, a mãe pode ter células do filho no seu próprio cérebro. Isso porque, durante a gestação, a placenta que liga a mãe ao feto e permite que os nutrientes sejam transmitidos ao bebê, é um órgão construído “à quatro mãos”. Nessa placenta, é possível encontrar células de ambos, e elas, é claro, podem migrar através dele, acabando por se multiplicar por anos no corpo do outro. 

Por isso, acredita-se que 50% das mães tenham células de seus filhos dentro delas - na maioria das vezes inseridas em sua pele ou em órgãos como pulmões, fígado e rins. O contrário também é verdadeiro: as células de uma mãe também podem acabar em seu filho, mas isso é menos comum. Um estudo publicado no periódico PLOS descobriu ainda que as células de uma criança podem migrar até o cérebro da mãe, e aquelas com mais dessas células têm taxas mais baixas de Alzheimer.

Não é preciso romantizar a maternidade para assumir a sua potência e importância. Nenhum de nós, afinal, chegou aqui nesse plano sem uma mãe como ponte.

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