Para Inspirar

Desmistificando conceitos: existe cérebro criativo X racional?

Ideia propagada há mais de um século é discutida pela neurocientista Claudia Feitosa-Santana, dentre outros especialistas

24 de Janeiro de 2023


Você provavelmente já ouviu falar em lado esquerdo e lado direito do cérebro, bem como suas separações por atividade. Teorias como “para ser mais criativo, é preciso exercitar mais o lado direito do cérebro e para ser um líder mais racional, o lado esquerdo” não são raras e é possível encontrar até mesmo cursos na internet ensinando como fazê-los. 

Mas, segundo a neurocientista Claudia Feitosa-Santana, isso não passa de uma falácia. A condutora das reflexões da nona temporada do Podcast Plenae, explica em um vídeo para a escola Casa do Saber, um pouco de como esse mito surgiu, foi propagado, e o que podemos aprender com tudo isso. Ela ainda fala sobre esse tema também em seu livro, Eu Controlo como me Sinto”, da editora Planeta. A seguir, separamos os trechos e pensamentos principais! 

A divisão cerebral

Antes de entender a ciência por trás desse pensamento, é necessário primeiro afirmar que sim, há uma divisão entre lado esquerdo e direito do nosso cérebro. Mas isso a nível anatômico, ou seja, se você olhar uma imagem do órgão em si, verá que há sim uma espécie de linha que traça os devidos lados. 

Mas isso não reflete necessariamente em suas respectivas funções e tampouco delimita que um lado é o único responsável por um ato e assim por diante. “Foi mais ou menos em 1870 que alguns cientistas verificaram que o lado esquerdo era muito importante para a linguagem. Mas hoje a gente sabe que em muitas pessoas isso não funciona do lado esquerdo, mas sim do lado direito”, explica Claudia. 

O que já se sabe é que esses lados são responsáveis pela movimentação do corpo, ou seja, o lado direito controla as movimentações da parte direita do corpo e vice-versa. Mas isso também não é uma regra, pois há exceções. Exemplo: nossa visão. “O meu lado direito processa a informação de ambos os olhos e o meu lado esquerdo idem. E o olho dominante não tem nada a ver com ser mais lado direito ou esquerdo do cérebro”, diz.

A popularização

Essa ideia de que é possível “treinar” um dos lados começou há muitos anos, mais especificamente com o lançamento do livro “O médio e o monstro”, escrito por Robert Louis Stevensone, em 1941, como afirma Claudia. Essa obra, que virou filme posteriormente e alcançou o mesmo nível de sucesso, tornando-se um clássico do terror, pregava essa ideia de que nosso sistema nervoso era dividido de forma tão exata. 

Por causa disso, de lá para cá, diversos cientistas se debruçaram sobre a causa, mas a ciência com o tempo foi sendo deixada de lado em nome de uma cultura pop que abraçou a teoria. Workshops para fortalecer um só lado ganharam espaço e as pessoas começaram a realmente buscar essas aptidões.

Piora o fato de que o Nobel de Medicina da época, Roger Sperry, estudava funções que eram mais de um lado do que de outro. Em um dos seus estudos, ele descobriu que ao cortar o “corpo caloso” - um conjunto de fibras que liga os dois lados do cérebro - ele verificava que os pacientes com epilepsia passavam a ter uma vida aparentemente normal, mas de perto, eles tinham um comportamento atípico.

“Mas ele nunca defendeu essa simplificação, e naquela época ele já tinha percebido que tanto para ser criativo como para ser lógico, a gente usa os dois lados do cérebro”, comenta a especialista.

O corpo caloso

Hoje já se sabe que essa espécie de ponte entre os dois lados do cérebro processa mais de 200 milhões de conexões neurais. Estudos mostram que a estimulação do córtex parietal posterior, que fica localizado à esquerda, no início da resolução de um problema, ajuda que a gente tenha aquele momento resolutivo, o “eureka!”. 

“Ou seja, é uma atividade do lado esquerdo que é bastante importante para um ato criativo, o que não corrobora com a ideia de que o lado direito é o responsável pela criatividade”, pontua. Inspirados por essa conclusão, um grupo de neurocientista utilizou uma base de dados com mais de mil indivíduos entre 7 e 29 anos para analisar justamente essa dinâmica e observaram que não só não existe uma dominância de algum dos lados, como não há distinção de sexo também. 

Isso vale para desmistificar mais um senso comum - e preconceituoso - de que homens ou mulheres possuem diferenças em suas capacidades cognitivas. Mulheres não são mais lado direito e homens não são mais lado esquerdo: isso é um mito e um mito simplista e segregador, vale dizer.

A união faz a força

Uma meta-análise, ou seja, uma análise de vários estudos juntos (mais de 20, para sermos mais exatos), observou que tanto mapeamentos de atividade cerebral quanto mapeamento de ondas cerebrais, apresentam um aumento de atividade do córtex pré-frontal, que fica do lado direito na hora da criação.

Mas para essa atividade funcionar, é preciso que haja estímulo também do lado esquerdo, que se mostrava ativo no momento das análises. Ou seja, os dois precisam funcionar para que haja resultado. E esse não é o único estudo que concluiu isso. “Outros cinco estudos sobre criatividade verificaram diferentes áreas cerebrais, mas distribuídas em ambos os lados do cérebro”, traz Claudia. 

O perfil lógico

Se a criatividade já demonstrou precisar de ambos os lados para perfomar, resta investigarmos o perfil lógico. E, no mesmo vídeo, Feitosa-Santana menciona também esse lado. “Quando fazemos qualquer cálculo matemático, a gente usa ambos os lados do cérebro. O ideal é que sejamos ambos lógicos e criativos. A gente percebe isso nos artistas ou nos escritores, que são todos criativos e extremamente lógicos e organizados”. 

Grandes líderes, para serem verdadeiramente grandes, precisam buscar serem assim também, um tanto lógicos, mas sem deixar a liberdade criativa de lado. E não há problema em querer otimizar ou melhorar uma das suas competências, mas há caminhos mais assertivos para isso, que não está relacionado a nenhum lado mais ativo ou mais desenvolvido de um dos nossos órgãos mais importantes.

“Vale lembrar que nós usamos ambos os lados do cérebro para criar, organizar, raciocinar, dormir, descansar. Todo tempo, usamos os dois lados do cérebro”, conclui a especialista. Então, talvez o melhor caminho seja pensar em fortificá-lo de maneira uniforme, e não só focar em um de seus lados. 

Para isso, te demos dicas por aqui de como melhorar a memória e a concentração, alimentos que podem ser bons para essa mesma finalidade e até as fases do descanso e como elas reverberam em você de forma integral. Cuide da sua mente! Ela é parte indissociável do seu corpo. 

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Thaís Bastos em "Depressão pós-parto não é frescura"

A médica conta como as questões emocionais

14 de Novembro de 2022



Leia a transcrição completa do episódio abaixo: 

[trilha sonora]


Thaís Bastos: Eu sou médica, tenho acesso a muitas informações e, mesmo assim, senti vergonha quando tive depressão pós-parto. Eu não queria que ninguém soubesse. Tinha preconceito, pensava que era frescura de gente privilegiada. Mas não é. No meu trabalho no SUS, eu descobri que o transtorno não escolhe classe social. Ele é comum e pode afetar qualquer mãe.


[trilha sonora]


Geyze Diniz: Thaís Bastos, assim como muitas mães, tinha vergonha em dividir o turbilhão de emoções que sentiu depois de dar a luz aos seus filhos. Enquanto tentava corresponder aos padrões da sociedade para ser uma mãe perfeita e viver a alegria da maternidade, ela enfrentava o paradoxo de uma tristeza profunda. Após passar por duas depressões pós-parto, conseguiu se libertar das cobranças, se reconectar com sua família e voltar a se dedicar ao seu trabalho. Conheça como Thaís atravessou este período e voltou a encontrar o equilíbrio pessoal e profissional.

 

Ouça no final do episódio as reflexões do historiador Leandro Karnal para te ajudar a se conectar com a história e com você mesmo. Eu sou Geyze Diniz e esse é o Podcast Plenae. Ouça e reconecte-se.

 

[trilha sonora]


Thaís Bastos: A minha primeira filha foi uma criança que eu e meu marido desejamos muito. Mas, quando ela nasceu, eu não senti só alegria. Senti bastante tristeza também. Eu sorria por fora, mas por dentro pensava “cadê aquele amor materno imediato e incondicional que tanto me disseram?”. E isso me dava muita culpa. Foram dois meses de bastante instabilidade emocional. Eu sou uma pessoa alegre, pra cima. Aquela angústia e tristeza não combinavam comigo. Mais tarde, eu fui entender que eu tive o que os médicos chamam de “baby blues”. É um quadro que atinge a maioria das mulheres no puerpério e que está associado às oscilações hormonais da gravidez. O “baby blues” não chega a ser uma doença. Não precisa de tratamento e passa sozinho. Foi assim comigo.


[trilha sonora]


Eu voltei a ser uma pessoa solar. Só que eu virei uma mãe neurótica. Eu não tinha interesse em quase nada que não fosse a minha filha. Eu sou oftalmologista e organizei a minha agenda em função dos horários dela. A minha meta era trabalhar o mínimo possível, pra poder estar presente pra ela em qualquer ocasião. Se ela espirrasse, eu tinha que estar do lado. Se ela saísse da escola às 11h30, às 11h eu já tinha que estar de plantão, soltando foguete.


O meu marido percebia que aquela dedicação estava exagerada. Ele achava que eu devia tirar um momento do dia só para mim. Ele dizia: “Você chega do trabalho às 4 da tarde. Por que você não vai pra uma academia? Você gosta de malhar”. Eu virava para ele e falava: “Você tá louco? Eu tenho uma filha, eu vou ficar com ela”.
Ser a mãe “perfeita”, sempre presente e disponível, virou uma coisa obsessiva. 


[trilha sonora]

 

Logo engravidei de novo. Quando minha outra filha nasceu, eu entrei em parafuso, pensando: “E agora? Como eu vou me dedicar à filha mais velha?”. Se eu dava de mamar para a pequena, me culpava por não estar dando atenção para a maior. Aí eu decidi não amamentar mais. E me culpava por não amamentar. Uns dois meses depois que ela nasceu, eu comecei a ficar muito mal e fui pro extremo oposto. Eu perdi o interesse pelas minhas filhas. Só queria ficar na cama, não tinha apetite e chorava muito. Por insistência do meu marido e da minha mãe, procurei uma psicóloga. 


A psicóloga disse que eu estava com depressão pós-parto, mas leve. Se eu fizesse um compromisso com o tratamento, ela achava que daria pra resolver o problema sem precisar ir ao psiquiatra. Eu nunca tinha feito terapia, nem me interessava por autoconhecimento. Era uma pessoa extremamente fechada, com muita dificuldade pra falar de sentimentos. Mas eu topei. Quando eu me culpava por trabalhar, a psicóloga me acalmava: “Toda mulher trabalha. As suas filhas estão bem”. Aquelas conversas foram me ajudando e a depressão passou. Eu larguei a terapia, mas voltei pro esquema da maternidade neurótica.


[trilha sonora]


Quando a mais velha estava com 7 anos e a menor, com 5 anos, eu engravidei novamente. Dessa vez sem planejar. Já no primeiro ultrassom, o médico disse: são gêmeos. Eu fiquei em choque, mas confesso que procurei nem refletir sobre o impacto daquele anúncio. Tive uma gravidez super tranquila, como as outras duas também foram. Trabalhei até quase 9 meses, porque os bebês nasceram com quase 40 semanas.

E aí, depois do parto, ainda no hospital, começou a me bater o desespero. Eu olhava praquelas quatro crianças e não queria ir pra casa. Eu não tinha nenhuma preocupação financeira. A minha rede de apoio era ótima. Mas, mesmo assim, eu fui entrando numa paranoia que só aumentou nos 5 meses seguintes. 


Se os bebês estivessem dormindo, eu queria dar atenção pras mais velhas. Se estava todo mundo dormindo, eu queria estudar para o meu trabalho. Eu não me sentia no direito de descansar. Chorava muito, sentia muita culpa o tempo todo. Não conseguia dormir, não tinha fome. Emagreci bastante. A minha mente foi entrando em curto-circuito. Eu tinha vergonha de ser mãe de 4 crianças. Achava que nenhuma pessoa bem-sucedida podia ter tantos filhos. 


Perdi totalmente o prazer em coisas que eu amava como ler, viajar, tomar um banho de mar. Não queria ver ninguém, nem o celular ou o zap respondia. Basicamente, eu não queria que ninguém chegasse perto de mim. Só queria ficar deitada, isolada.


[trilha sonora]

Como se não bastasse, eu comecei a me sentir uma péssima oftalmologista por não me dedicar tanto como antes e quis parar de trabalhar. Tudo era "catastrofizante", tudo era desesperador. É como se eu estivesse num transe, não escutava ninguém. Eu queria acreditar que conseguiria cuidar de quatro crianças, trabalhar e ter uma minha vida normal, mas não tinha esperança disso acontecer. 


[trilha sonora]


Meu marido, que já tinha visto aquele filme, insistiu para eu ir ao psiquiatra. Eu não queria, porque não acreditava que eu pudesse sair do fundo do poço. Mas o meu estado de apatia era tão profundo que eu não tinha reação. Ele marcou a consulta com o médico, foi comigo e falou muito mais do que eu. O psiquiatra não demorou pra dar o diagnóstico. Ele disse: “Isso é depressão pós-parto. Não é frescura e é muito comum. Algumas mulheres têm predisposição genética à depressão, e o pós-parto funciona como um gatilho. Isso é tão simples de tratar… Eu tenho a receita do bolo. Você quer ficar boa?”. Eu nem respondi. O médico prescreveu o remédio e o meu marido já foi logo comprando na farmácia.

Eu passei um tempo me boicotando. Falava que tinha tomado a medicação, mas não tinha. Até que um dia, numa crise de tristeza e desespero, eu percebi que eu estava afetando todos a minha volta, eu estava jogando pro alto uma linda história de amor que gerou uma família tão grande e tão linda. Eu entendi que eu estava destruindo não só a mim. E eu até queria me destruir. Mas eu estava destruindo a vida das crianças. E aí eu decidi dar uma chance. 


[trilha sonora]


Por 15 dias, eu tomei o remédio certinho. A primeira semana foi desesperadora, porque eu não via melhora. O psiquiatra insistiu pra eu continuar tentando. E aí, duas semanas depois… parece mágica. Eu acordei um dia sem sentir aquele desespero que me dominava todas as manhãs. Eu fui ganhando força pra lidar com a rotina. Viver foi deixando de ser tão difícil. 


[trilha sonora]


Um mês depois que eu comecei a tomar o medicamento, eu voltei para a terapia. Dessa vez, eu decidi mergulhar no autoconhecimento pra valer. Com a ajuda do psicólogo, eu fui conhecendo os meus traumas de infância. Eu nasci no dia da missa do sétimo dia de meu pai. Ele morreu de acidente de carro. Minha mãe sofreu muito e também ficou sem amparo financeiro. Ela teve que trabalhar muito para conseguir sustentar a mim e a minha irmã, e acabou se fechando para o lado afetivo.


Inconscientemente, eu fui pro extremo oposto, para uma maternidade excessiva. Hoje eu sei que nenhum filho precisa de uma mãe perfeita, aliás nada pior para uma criança do que ter uma mãe perfeita. Criança também precisa da ausência e de frustração para amadurecer. 


[trilha sonora] 


Por indicação do psicólogo, eu comecei a participar de um grupo sobre maternidade. Era uma turma de 15 mulheres que não se conheciam, mediadas por um terapeuta. Naquele espaço, a gente podia desabafar sobre, digamos assim, o lado B da maternidade. A cobrança, o cansaço, a culpa, o impacto no casamento e na vida profissional. Cada uma podia expor as suas vulnerabilidades e encontrar escuta e acolhimento, sem julgamento. 


Quando eu mudei o meu olhar sobre a maternidade, a minha vida profissional também mudou. Eu lembro que, lá no começo da terapia, o psicólogo perguntou quais eram os meus planos no trabalho. Eu achei aquela pergunta tão idiota e pensei: trabalho só serve para ganhar dinheiro, ninguém se realiza com isso.


Aí, um dia, li por acaso numa revista uma reportagem sobre ikigai, uma teoria japonesa sobre propósito de vida. Cada pessoa pode encontrar o seu propósito unindo paixão, missão, vocação e profissão. Aquilo ali me tocou profundamente, e me fez refletir sobre a oftalmopediatria que eu havia abandonado … Decidi que iria complementar a minha pós-graduação em oftalmopediatria, fazendo uma nova especialização. Eu sempre amei e tive um ímã com criança. Hoje eu amo meu trabalho e não sinto a menor culpa de passar tempo longe dos meus filhos por causa da profissão. 


[trilha sonora]


Como oftalmopediatra, eu tenho contato com mães e bebês, e vejo muito o tal do baby blues. 


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Eu observo que as mães que conseguem falar sobre os sentimentos passam por esse período com mais facilidade. E isso vale pra pessoas de qualquer classe social e econômica. Falar ajuda muito.


Os profissionais de saúde precisam ter um olhar pra condição psicológica das pacientes. Quando os meus filhos gêmeos nasceram, eu tive vergonha de expor a minha frustração pro meu marido, pra minha mãe ou pra qualquer pessoa. Aí, eu mandei uma mensagem pra pediatra dos gêmeos, porque eu não tinha coragem de falar ao vivo. Ela só respondeu assim: “Ah, acontece. Se você tiver muito mal, vai no psicólogo”. Faltou muita sensibilidade à ela.


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A minha motivação para contar essa história foi ter recebido a doação das córneas de uma mãe que se suicidou. Eu trabalho num banco de olhos e tive que ler o prontuário dessa doadora. Era uma mulher com depressão e um bebê de oito meses. O psiquiatra me contou que a depressão pós-parto pode aparecer até o primeiro ano de vida da criança. Ele me falou sobre a importância do pré-natal psicológico, um acompanhamento durante a gravidez pra proteger a saúde mental da mãe.


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Eu aproveitei a gravação desse podcast para conversar com a minha família sobre o que a gente viveu. Esse assunto era um tabu. A minha segunda filha ficou surpresa. “Mãe, você teve depressão!?”. Eu confirmei. Aí ela falou: “Que bom que agora eu sei disso. Você ficou muito estranha naquela época. Eu tinha medo de você”. Outra filha, hoje com 4 anos, recentemente pegou no meu seio e falou: “Esse peito não tinha leite, né, mãe? Só tinha amor. Minha irmã me explicou que, quando a mamãe tá muito triste e preocupada, não tem leite”. Conversar com as crianças abertamente sobre o que aconteceu comigo, aumentou ainda mais a nossa conexão. 


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Até o nascimento dos gêmeos, eu achava que ser mãe era se anular em nome dos filhos. Eu achava que tinha que corresponder aos padrões inalcançáveis que a sociedade impõe sobre a maternidade. Tem que ter parto normal na floresta, tem que amamentar por 5 anos… Tá cruel demais! A depressão, no fundo, me salvou, porque eu me libertei dessas cobranças. Hoje, eu vejo a maternidade como um portal de cura. Eu sou grata por ter tido apoio e acesso ao tratamento. Eu sou grata por poder viver a benção de ter o meu trevo de quatro filhos por inteiro. 


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Leandro Karnal: O depoimento da Thaís é muito interessante. Ela é médica, ela tem informações, ela é preparada pra enfrentar as questões biológicas e psíquicas da maternidade e, mesmo assim, ela se viu envolvida em processos com reações que ela desconhecia nela mesma. Por um lado, uma excessiva dedicação à maternidade, uma quase obsessão em ser uma mãe perfeita. E depois a experiência da depressão pós-parto.


Isso mostra que não depende muito da formação da pessoa, não são as pessoas ignorantes que vão ter depressão pós-parto, qualquer ser-humano, qualquer mulher está submetida a esse risco. Uma das coisas que pode ajudar a superar essa expectativa excessiva é não comprar aquele modelo de que ser mãe é tudo, você vai ser feliz o tempo todo e se você não for perfeita isso vai ser o caos. É preciso incorporar a imperfeição, saber que você vai amar seu filho, vai ser um ser especialíssimo na sua vida, mas você continuará sendo uma mulher, uma profissional, e tem direitos a ter alguns momentos em que você não queira estar 100% do tempo com seu filho.


Isso é saudável, é saudável querer de vez em quando algum afastamento. Cumprir suas funções de cuidado, de alimentação, de defesa de uma criança, mas também saber que a criança precisa de um espaço e você precisa de um espaço. Não há problema em, de vez em quando, não ser uma mãe perfeita e não incorporar essa ideia falsa de que a maternidade é um mar de rosas, uma felicidade total e a negação de um ser-humano, a mulher, pra que ela seja a mãe ideal, a mãe dos sonhos. Isso é falso, e pode ajudar a provocar uma depressão muito grande. 

 

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Geyze Diniz: Nossas histórias não acabam por aqui. Confira mais dos nossos conteúdos em plenae.com e em nosso perfil no Instagram @portalplenae.


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