Para Inspirar
Na décima primeira temporada do Podcast Plenae, ouça o relato de fé e gratidão do publicitário Nizan Guanaes.
10 de Abril de 2023
Leia a transcrição completa do episódio abaixo:
[trilha sonora]
Precisava tomar remédio pra dormir e obviamente não fazia um pingo de exercício físico. Enquanto eu perseguia o sucesso, eu fui esquecendo do meu corpo, das minhas relações e do meu espírito. Quando você se perde, a casa cai. [trilha sonora] Eu engordei imensamente, de maneira mórbida. O Nizan de 150 quilos era um vendaval de emoções. Uma pessoa mercurial, explosiva. Com pouco autocontrole no garfo e na vida. [trilha sonora] O meu pai morreu de infarto aos 45 anos e eu não podia continuar com aquele peso. Eu fiz uma bariátrica de uma maneira muito atabalhoada, como tudo que eu estava fazendo naquele momento. Tomei a medida certa, da maneira errada, sem o menor planejamento antes, sem os cuidados que eu deveria ter depois, como apoio psicológico, um programa de esporte e acompanhamento de um nutricionista. E aí eu tive um problema muito comum entre as pessoas que fazem essa cirurgia. Eu só não virei alcoólatra, porque eu não gosto de beber. [trilha sonora] Com a bariátrica, o efeito do álcool era elevado à décima potência. No início, é um porrezinho numa festa. Aí depois começa a ser um porre num jantar de negócios na quarta-feira. Um ano depois da operação, aquilo começa a afetar o casamento, a família, a empresa. Às vezes a gente tem que tomar um chacoalhão pra corrigir a rota. O meu cardiologista, Roberto Kalil, me falou: “Nizan, você tá fumando demais, bebendo demais, comendo demais, trabalhando demais. Com o seu histórico familiar, isso não vai dar certo. Você vai morrer”. Foi ele que me apresentou pro Arthur Guerra, psiquiatra que me ajudou a mudar o estilo de vida. [trilha sonora]
Quando conheci o Arthur, ele me disse na lata uma frase demolidora: “Nizan, você é tão bem sucedido e tem uma vida tão pobre”. Durante muitos anos, eu vesti o personagem do sucesso e o que é pior: acreditei demais nele. Era um sujeito arrogante, de coração bom, mas desagradável. O Arthur me ajudou a desconstruir essa criatura que eu inventei. Me ajudou a perceber que eu tinha deixado de ser uma pessoa física pra me tornar uma pessoa jurídica. O Arthur tem uma abordagem holística, muito parecida com os pilares do Plenae. Ele transformou a minha rotina me entupindo de esportes e tirando os remédios que eu tomava. Com ele, eu converso sobre o corpo. E com uma analista da clínica dele, sobre a alma. O esporte cuida muito bem do corpo. O corpo cuida muito bem da alma. É um ciclo. O Arthur me botou pra fazer triatlo e maratona. Ele me fez descobrir um mundo que acorda às 5h da manhã e dorme, exausto e feliz, às 10h da noite. Como diz o maravilhoso escritor japonês Haruki Murakami, que é também maratonista, toda alma doente precisa de um corpo são. Com a psicanálise e a psiquiatria, eu fui me organizando, juntando meus pedaços e abrindo espaço para resgatar a minha religiosidade. Aos poucos, fui voltando a ser uma pessoa mais próxima do Nizan que nasceu em Salvador. [trilha sonora] Por ser baiano, eu tenho uma ligação com o candomblé, que não é uma religião, é um culto à natureza. [trilha sonora] Se você perguntasse à Mãe Menininha do Gantois qual era a religião dela, ela ia dizer católica. Essa mistura faz parte da Bahia. Não é muito racional, mas eu gosto dela. Eu sou filho de Xangô, um orixá gordo, festeiro, que gosta de dançar, que é mais estourado e compra brigas. Hoje eu sou um Xangô domado. [trilha sonora] As pessoas têm muito preconceito com o candomblé, por ser o culto de uma raça, entre aspas, vencida. Mas ele é belo, ele é ecológico, ele é diverso. Ele aceita todo mundo. Nesse sentido, o candomblé sempre foi muito mais avançado que a própria igreja católica. Não a igreja que Jesus construiu. A igreja de Jesus aceitava cobrador de imposto, Maria Madalena, e era aberta a qualquer um. Eu faço vários questionamentos à igreja. Não ao cerne dela, a Jesus, ao evangelho e à Bíblia, mas à maneira como a instituição se comunica. Eu tenho muito orgulho da minha ligação com o terreiro do Gantois, embora hoje o que me guia seja a religião católica. Nós vivemos num mundo negativamente fluido. Uma sociedade onde todo mundo é tudo. Quem diz que segue todas as religiões, na realidade, não segue nenhuma. [trilha sonora] Eu cuido cada vez mais do meu lado espiritual, mas ainda menos do que preciso. Voltei a frequentar a missa, voltei a rezar, voltei a ler a Bíblia. Sou um católico que estuda como um evangélico. Porque tem católico que não vai à missa, não lê nada. É como um corintiano que não sabe o hino do Corinthians, nem acompanha os jogos do time. Esse ano, eu me fiz uma promessa de frequentar a missa duas vezes por semana. A cerimônia me organiza internamente. Assim como o exercício, a alimentação, o trabalho e o sono, a espiritualidade entrou na minha rotina. Eu sou de uma geração que desprezava a rotina, só que a rotina liberta. Nessa minha redescoberta da religião, eu aprendi que a Bíblia não é só um texto. Ela é uma palavra viva. Você lê uma passagem num dia e ela não te diz nada. De repente, você lê o mesmo trecho em outro dia e… abracadabra! Parece que a cabeça se expande. A Bíblia é quase um metaverso. Nessas leituras, eu me identifico muito com o apóstolo Pedro, porque tem horas que eu nego três vezes. Eu tenho crises de acreditar se Jesus é de fato Deus. Embora, quanto mais eu leio a Bíblia, mais eu acredito nela e Nele. Se o texto é mentiroso, a mentira foi orquestrada no detalhe. Às vezes, eu abro a minha Bíblia aleatoriamente. Recentemente, em três dias consecutivos apareceu uma passagem de quando Jesus entrou em Jerusalém. Ele fala assim pros discípulos: “Vocês vão encontrar um jumentinho na entrada de Jerusalém. Soltem o jumentinho e tragam aqui pra mim. Se alguém perguntar por que vocês estão fazendo isso, respondam que o Senhor precisa dele e em breve devolverá”. Os discípulos vão e acontece exatamente o que Jesus falou. Aí eu fico pensando o seguinte: “É muito, muito, muito detalhe pra ser mentira”. São quatro evangelistas contando as mesmas histórias por ângulos diferentes. Toda equipe de cinema tem um profissional chamado continuísta, a pessoa responsável pela coerência da narrativa. Os caras que escreveram a Bíblia deviam trabalhar com o Spielberg, porque tem muita continuidade. Tudo tem nexo. [trilha sonora] Com essa minha busca por Deus, eu não pretendo ser o que eu não sou. Não vou me transformar em Dalai Lama. Eu não quero virar nuvem. Eu continuo gostando de dinheiro, continuo gostando de trabalhar e me desafiar. Eu só quero ser uma pessoa melhor. [trilha sonora] O Dalai Lama, a propósito, diz em um livro que 20% das pessoas já nascem felizes, com o sol na cabeça. A Donata, minha mulher, é uma delas. Ela é equilibrada, moderada de fábrica. Nós, que fazemos parte dos outros 80%, só seremos felizes por mérito, correndo atrás. Eu fui um gordinho feliz na infância, já prenunciando um neurótico na adolescência e, depois, completamente desfocado e descuidado na vida adulta.
Com a ajuda do Arthur Guerra e de sua equipe, e com obstinação, disciplina e mérito meu, hoje eu desfruto mais da vida. Foram as minhas pernas que me levaram ao consultório do Arthur e foi o meu arbítrio de seguir suas recomendações pra valer, meu arbítrio.
É preciso ter disciplina pra vencer todo dia a si mesmo. A felicidade é uma conquista diária. Ela é feita de estabelecer prioridades, tem método e inclui dizer não. Portanto, bom dia, boa tarde, boa noite e boa vida. Todo santo dia. E aí, deixo aqui uma pergunta: na sua agenda sobra tempo pra ser feliz? [trilha sonora] Geyze Diniz: Nossas histórias não acabam por aqui. Confira mais dos nossos conteúdos em plenae.com e em nosso perfil no Instagram @portalplenae. [trilha sonora]
Para Inspirar
Quase tão antiga quanto a humanidade, a religião teve papel importante ao longo dos séculos e ainda exerce efeitos positivos e negativos na nossa sociedade
14 de Abril de 2023
O último episódio da décima primeira temporada do Podcast Plenae fica por conta do publicitário Nizan Guananes, representando o pilar Espírito. Em sua narrativa, pudemos perceber que a religião, ainda que nunca incentivada dentro do seu lar, foi algo que brotou nele espontaneamente - como devem ser os sentimentos relacionados à fé. Ela também foi sua poderosa aliada em momentos difíceis.
“Nessa minha redescoberta da religião, eu aprendi que a Bíblia não é só um texto. Ela é uma palavra viva. Você lê uma passagem num dia e ela não te diz nada. De repente, você lê o mesmo trecho em outro dia e… abracadabra! Parece que a cabeça se expande. A Bíblia é quase um metaverso”, reflete ele, que conta ter ligação com a Igreja Católica mas também com o Candomblé, crença que explicamos melhor neste artigo.
A origem da palavra
A palavra religião existe no dicionário da língua portuguesa aproximadamente desde o século XIII, mas sua origem ainda é cercada por dúvidas. Há algumas hipóteses. A primeira delas - e provavelmente a mais aceita -, é a de que a palavra vem do latim religio, que significa “louvor e reverência aos deuses”, segundo o Dicionário Etimológico.
Porém, outros estudiosos acreditam que a palavra tenha surgido a partir da junção do prefixo re. Ele funciona como uma espécie de intensificador da palavra que o sucede, ou seja, neste caso ligare, que significa “unir” ou “atar”. Dessa forma, religare teria o sentido de “ligar novamente”, “voltar a ligar” ou “religar” o humano com o que era considerado divino.
Uma terceira teoria ainda diz que foi a partir do verbo latino relegere que se deu a origem da palavra religião. Relegere significa “reler” ou “revisitar” e foi associado ao ato da constante releitura e interpretação dos textos bíblicos e sagrados para que os religiosos pudessem seguir os desejos das divindades que veneram da forma mais fiel possível.
Independente de sua origem, o fato é que hoje a religião é o conceito que define “um conjunto de crenças relacionadas com aquilo que a humanidade considera como sobrenatural, divino, sagrado e transcendental, bem como o conjunto de rituais e códigos morais que derivam dessas crenças”, ainda segundo o mesmo dicionário. E são muitas crenças espalhadas pelo mundo!
Mergulhando mais fundo
Gordon Melton, fundador do Instituto para o Estudo da Religião Americana e editor da "Enciclopédia das Religiões Americanas", calcula que a cada ano surgem de 3000 a 4000 novas religiões no mundo - ou seja, por volta de dez por dia. Em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, ele diz acreditar que dessas novas que surgem, de 1000 a 2000 desaparecem anualmente.
"As pessoas fazem releases dizendo que fundaram uma nova religião, mas não fazem releases para contar que elas morreram. Quando usamos o termo religião, o usamos como o equivalente de denominações cristãs. Há entre cerca de 40 mil e 60 mil religiões diferentes no mundo. Pode-se dizer cerca de 50 mil, a grosso modo", afirma Melton ao jornal.
Segundo Christopher Partridge, da Universidade de Chester (Reino Unido) e editor do "Dicionário de Religiões Contemporâneas no Mundo Ocidental", mais da metade dessas religiões seriam variações do cristianismo. "Há 33.830 diferentes denominações cristãs, por exemplo: catolicismo romano, assembleias de Deus, metodismo. Também deve ser observado que algumas religiões são confinadas a áreas geográficas específicas e, às vezes, a grupos étnicos únicos”, diz ele à Folha.
Mas esses são números estimados, pois há uma dificuldade intensa em fazer um levantamento real sobre isso. São vários os motivos para essa dificuldade, mas principalmente porque é difícil cravar o que é uma religião em si. “Se estabelecemos o critério do que constitui uma ‘grande religião mundial’ como a presença em mais de um único país, há talvez apenas 22 grandes religiões mundiais, incluindo, é claro, cristianismo, islamismo, judaísmo, budismo e hinduísmo", diz Christopher.
As novas religiões, continua o artigo, costumam refletir a época em que surgem. Se nos anos 50, houve um "boom" de religiões em que deuses e anjos eram seres de outros planetas, hoje há uma tendência em várias religiões de vincular a proteção ao ambiente à espiritualidade. Como o Panteísmo, que te contamos neste artigo.
Apesar de serem várias as religiões, das mais conhecidas e outras menos - como essas que desmembramos por aqui -, o fato é que os jovens atuais são mais “sem religião” do que antigamente - sejam ateus ou agnósticos - e já superam o número de católicos e evangélicos no Rio de Janeiro e em São Paulo, por exemplo, como conta o jornal BBC.
No Censo de 2010, os sem religião eram 8% da população brasileira, ou mais de 15 milhões de pessoas. Esse percentual vem crescendo década após década: os sem religião eram 0,5% da população brasileira em 1960, 1,6% em 1980, 4,8% em 1991 e 7,3% em 2000. Dados mais recentes, do Datafolha de 2022, trazem que, entre os jovens de 16 a 24, o percentual dos sem religião chega a 25% em âmbito nacional.
O impacto na sociedade
Esses números são importantes porque trazem o que parece ser o início de uma decadência na força que a religião sempre teve através dos séculos. Em “Sapiens: uma breve história da humanidade”, o historiador Yuval Noah Harari menciona ainda nos primeiros capítulos como a capacidade de crer é uma espécie de “superpoder” humano que nos impulsionou a conquistar territórios e estreitarmos laços.
Quando começamos a constituir sociedades mais elaboradas, ali estava ela: a religião. Dos Egípcios antigos, passando pelo Império Romano. Da Idade Média, feudalismo e até os dias de hoje, quando ainda infelizmente testemunhamos guerras em nomes de Deus, sejam elas por território ou outros motivos.
Ela já ditou leis, hierarquizou papéis, uniu e afastou. Em nome dela, templos foram erguidos e ajudam a contar um pouco da história do mundo. Em seus escritos, também observamos uma parcela do que já fomos e, com isso, conseguimos entender o que somos hoje em dia.
Sua importância pode ir desde fazer com que um indivíduo específico se sinta bem ao realizar sua “fézinha” - como nos esportes, que te contamos aqui -, até mesmo trazer força e esperança para toda uma comunidade. Ela pode acolher em centros sociais e servir de casa para quem não tem uma e também pode oferecer uma visão de mundo mais unido e pacífico.
Independente de qual o propósito por trás de uma religião específica - e comentamos aqui sobre esse tema -, até mesmo a ciência, antagonista milenar desse tema, estuda de perto alguns efeitos da fé, como seus efeitos no cérebro que te contamos aqui, ou os efeitos da Antroposofia, que também te trouxemos em artigo.
Como mencionamos anteriormente, a religião fala muito sobre o momento atual em que aquela sociedade se encontra, e ela também vai se modificando com o tempo para se adequar às novas normas. É o caso do Papa Francisco, conhecido por suas declarações “modernas” em comparação aos discursos da Igreja Católica.
Apesar de julgado por uma parte mais conservadora e tradicional da instituição, ele é aclamado por outra parte que acredita que seu posicionamento mais “pop” pode aproximar justamente os jovens que vêm se distanciando cada vez mais. As redes sociais também têm seu papel, sobretudo no que diz respeito a desmistificar antigos preconceitos em torno de algumas crenças historicamente perseguidas, como islamismo, judaísmo e ou umbandismo.
Ela também parece ter popularizado mais correntes como o budismo, que dentre suas práticas incentivadas, está a meditação. A atividade meditativa é um assunto à parte, exaustivamente trabalhado aqui no Plenae e que vem ganhando muitos adeptos nas últimas décadas.
Seja você deísta ou agnóstico, monoteísta ou politeísta. O importante não é o nome de sua religião ou seus ensinamentos, mas sim, a fé que te move a fazer coisas boas e buscar ser sua melhor versão. A força de sua fé não pode funcionar como um julgamento para a atitude alheia. É preciso que ela seja como um fogo que não queima, mas sim, aquece quem se aproxima.