Para Inspirar

Desmistificando conceitos: qual a diferença entre candomblé e umbanda?

É hora de mergulhar no tema, deixando de lado misticismo, tabus e fake news. Qual a diferença entre as duas religiões afinal?

2 de Março de 2023


Sem rodeios, começaremos esse artigo hoje com uma pergunta: você já ouviu falar em intolerância religiosa? O termo, recentemente levantado em um reality show de grande alcance aqui no Brasil, é considerada uma forma de violência de caráter físico ou simbólico, como explica esse artigo do Jornal da USP.

Trata-se de um ato de discriminação, ofensa e agressão às pessoas por causa de sua crença e prática religiosa. Aqui no nosso país, o ato é considerado crime previsto em lei, de acordo com o Código Penal brasileiro, Decreto-Lei número 2.848, dos crimes contra o sentimento religioso.

Para o Plenae, toda manifestação de fé importa, já que o Espírito é um dos seis pilares que sustentam nosso discurso. Tanto é que já convidamos em nosso podcast não só personagens de diferentes religiões, mas também que tivessem esse mesmo discurso de abraçar a crença alheia, independente de qual seja ela.

É o caso de Fafá de Belém, Ale Edelstein, Fernanda Souza, Paulo Vicelli e até mesmo o monge Satyanatha. E por que estamos falando sobre esse assunto? Explicamos: duas das religiões mais afetadas por essa intolerância religiosa, que vale dizer, é sempre bastante carregada de desinformação, são o candomblé e o umbandismo. 

Mas qual é a diferença entre as duas, que são frequentemente confundidas? É o que vamos entender a seguir!

Por dentro do candomblé

Diretamente da África, mais especificamente da região onde hoje encontra-se os países Nigéria e Benin, como explica o Museu Afro, o candomblé é mais antigo e vem de fora do Brasil - essas já são as duas principais características que o diferenciam do umbandismo. Mas não é só isso. 

O termo candomblé, como explica este artigo, vem da junção das palavras quimbundo candombe (dança com atabaques) + iorubá ilê (casa), que significa casa da dança com atabaques. Decorrida do animismo africano - que é a crença de que entidades não humanas possuem uma essência espiritual - a religião tem por base a alma da Natureza. Em resumo, para seus seguidores, os animais e plantas possuem espiritualidade.

Essa corrente cultua orixás, que são suas entidades e tem idioma, danças e rituais próprios. Atualmente há cerca de 3 milhões de adeptos em todo o mundo, tanto na América quanto na Europa, mas a maior parte deles está justamente aqui, no Brasil. 

Os rituais candomblecistas são realizados em terreiros, que são casas onde os sacerdotes e adeptos se reúnem e encenam uma convivência com forças da natureza e ancestrais. Eles reúnem centenas de pessoas e podem durar horas, no mínimo duas.

Sobre esses rituais, eles podem ser tanto matriarcal – quando somente as mães de santo assumem a liderança (as bablorixá). Ou patriarcal - quando a liderança é assumida apenas por homens, os chamados pais de santo (ou yalorixá). Há ainda a mista, que é quando a liderança do terreiro pode ser assumida tanto por homens quanto por mulheres. 

Eles sempre se iniciam com o despacho do Exu, em ritmo de dança, ao som de batidas de tambores, com oferendas de vegetais, minerais e sacrifício de alguns animais.  Além de homenagear as forças naturais, o candomblé também busca trabalhar questões terrenas.


As danças, roupas e oferendas são também homenagens, mas essas aos orixás. Para os candomblecistas, os orixás são deuses supremos de personalidade e habilidades distintas que possuem preferências ritualísticas e escolhem em quem incorporar. Cada um deles tem um dia específico, roupas com cores específicas e alimentos próprios. É necessário que tudo esteja purificado e à altura do orixá, por isso a higiene, a alimentação e os trajes devem ser adequados - como segue explicando o artigo

Apesar de cultuarem essas entidades múltiplas, o candomblé é uma religião monteísta, pois cada uma de suas três nações cultua um só deus. A nação Ketu cultua Olorum, a nação Bantu, NZambi e a nação Jeje cultua Mawu. Eles ainda acreditam na vida após a morte e na predestinação.

Por fim, o candomblé tem outros nomes ao redor do país. Em Recife, por exemplo, a religião é conhecida como Xangô, mas no Rio de Janeiro recebe o nome de Macumba. No entanto, o termo Macumba tem sido rejeitado pelos seguidores do candomblé por ter uma conotação pejorativa.

Mergulhando na umbanda

Nascida aqui, em terras tupiniquins, a umbanda tem Niterói, no Rio de Janeiro, como seu berço, segundo esse artigo. Ela é jovem e tem um pouco mais do que um século de existência, pois nasceu em 1908, fundada por Zélio Fernandino de Moraes, como conta esse artigo.

Ela é uma mistura de um tanto de coisas, do jeito que a miscigenação brasileira gosta. Elementos espíritas e bantos (uma etnia africana), influências indígenas, católicas, cabalísticas, mescla de português com kimbundo e tupi-guarani: tudo isso é parte da identidade dessa religião que é tão multicultural. E, como não poderia faltar, há influência do candomblé também - e talvez por isso a confusão de muitos. 

Isso porque na umbanda, os orixás também são cultuados, mas além deles há os guias, que ajudam no contato com espíritos desencarnados. São eles: pretos velhos, pombagiras, caboclos, marinheiros, etc. Ela ainda baseia-se em três 3 conceitos fundamentais: Luz, Caridade e Amor. No vocabulário quimbundo, de Angola, umbanda significa “a arte de curar”. 

Para alguns estudiosos, a umbanda seria uma espécie de candomblé sem sacrifícios de animais, um fator que aproximaria a religião da população branca e urbana do começo do século XX. O kardecismo, que é uma corrente espírita, também serviu de inspiração com alguns conceitos, como o de “evolução” e “reencarnação”.

O catolicismo também entra na jogada, já que Jesus é a referência espiritual e é possível encontrar sua imagem em lugar destacado nos altares das casas ou de terreiros de umbanda, também conhecidos como barracão. Nesses locais, são feitas várias celebrações ao ar livre, junto à natureza, em rios, cachoeiras ou na praia.

Novamente, mais uma semelhança com o candomblé: essas cerimônias são presididas por um “pai” ou “mãe”. Aqui nesse caso, trata-se de um sacerdote que comanda os ritos e a casa, além de ensinar a doutrina e os segredos da umbanda aos seus discípulos. Nessas cerimônias, os tradicionais “passes” são concedidos aos fiéis que buscam reorganizar seus campos energéticos. Há também as sessões de descarrego, que buscam aliviar as possíveis energias negativas captadas no ambiente ou em algum indivíduo. As cores brancas são as mais usadas e casamentos ou batizados também são celebrados. Os orixás encontrados na Umbanda são: Oxalá, Xangô, Iemanjá, Ogum e Oxossi, Oxum, Iansã, Omulú e Nanã. Já as principais entidades são Caboclos, Pretos velhos, Baianos, Marinheiros/Marujos, Erês, Malandros, Pomba-gira, Ciganos, entre outros. 

A umbanda também é uma religião monoteísta, onde existe o conceito de um Deus supremo, o “Olorum” ou “Oxalá”. Seus seguidores acreditam na imortalidade da alma, na reencarnação, nas leis kármicas e, como já dito anteriormente, nos orixás, que são personificações de elementos da natureza e de energia, e nos guias espirituais, que podem se incorporar durante certas cerimônias e vir à Terra para ajudar as pessoas que necessitam.

Um pouco de tudo

Agora que você já mergulhou nesses conceitos, percebe que não há nada que ambas as crenças preguem se não o amor e as diferentes formas de crer naquilo que não se vê. Como qualquer religião, a manifestação da fé é uma busca pelo divino que habita em cada um de nós, mas se manifesta de formas diferentes. 

Abrace todas essas possibilidades de espiritualização, pois todas elas são válidas e agregam de alguma forma. Quando não houver identificação, que haja então o respeito e a tolerância pelo que é diferente. Seja luz!

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Para Inspirar

O poder do ócio para sua criatividade

Saiba como aquele tempo livre considerado tedioso para muitos, pode expandir seus conceitos, suas percepções e potencializar sua capacidade criativa

26 de Março de 2020


A palavra ócio tem origem no grego arcaico, scholé que, no latim, se tornou a palavra escola . Isso porque, para os antigos, só era possível dedicar-se a qualquer tipo de estudo os que tivessem tempo livre. E esse tempo deveria ser livre por escolha própria, é claro. Partindo desse princípio, se a escola era exclusiva aos que tinham tempo para divagar e adquirir conhecimento, logo, ter tempo é algo extremamente positivo aos que buscam justamente esse êxito na capacidade de encontrar respostas. E já pensou encontrar essas respostas - sobretudo profissionais - que há muito você procurava enquanto vivencia um momento de lazer? Com a força do surgimento das tecnologias, a carreira e o trabalho estão cada vez mais associados ao nossos dias, preenchendo quase que 100% do nosso tempo e nos deixando sem esse respiro necessário. E foi pensando nesses moldes de trabalho - ainda que não tão modernos na época - que o sociólogo italiano Domenico De Masi criou, nos anos 2000, o conceito do ócio criativo , que consiste em trazer esse equilíbrio entre vida pessoal e vida profissional até para fins de êxito na carreira. E melhor ainda: dedicar-se um tempo a ficar fazendo nada , somente deixando duas ideias fluírem e divagarem. “Mas fazer nada significa nada a fazer?” pergunta o filósofo e educador Mário Sérgio Cortella, em palestra . Negativo. “O ócio é dedicar uma parte da sua existência e uma parte do seu tempo de vida a pensar sobre o sentido de viver” continua. Não por coincidência, a filosofia é fruto do ócio. “A filosofia é um pensamento sistemático e metódico sobre a realidade e seus porquês. Você tem que pegar uma questão e levá-la a densidade do raciocínio. Porque fazemos o que fazemos?” questiona Cortella. E o que isso tudo tem a ver comigo? Simples: o ócio exerce esse mesmo poder de expansão da consciência em todos os seres humanos que estiverem dispostos a encará-lo como algo produtivo. Foi em meio a uma quarentena que Newton , diante de uma tarde ociosa, viu uma maçã cair de uma árvore e chegou a brilhante conclusão que havia uma força maior que a puxava para a terra. Nasceu assim, em uma tarde livre e sem grandes demandas, a Teoria da Gravidade, que mudou o mundo para sempre. Nem todas as tardes dedicadas ao cálculo e experimentos do cientista obtiveram tanto sucesso do que esses simples minutos livres, dedicando-se ao “fazer nada”. Você não precisa fazer uma descoberta dessa magnitude, é claro. Mas o ócio criativo consiste, basicamente, em saber aceitar o seu tempo livre como algo importante para o seu processo da criação. Entender que as ideias podem fluir melhor de maneira mais espontânea quando se está desconectado dos seus afazeres principais. Para De Masi, forçar o cérebro a desempenhar atividades complexas quando ele já está “estafado”, ou seja, sobrecarregado de informações, é ineficiente. Nesse período, o seu cérebro está concentrado apenas em encontrar um meio de repousar, e todas as suas atividades cerebrais estão voltadas a isso. Isso porque o sono é o maior regenerador de ideias e higienizador cerebral, como pontuamos nessa matéria . Quando estamos felizes e vivenciando momentos leves, por sua vez, o cérebro se sente estimulado a visitar velhos conceitos e entrega respostas positivas e inesperadas. É necessário dar tempo mesmo à nossa máquina mais potente para que ela assimile conceitos e os desdobre em soluções. E isso não é achismo ou percepção: a psicóloga Kalina Christoff, do Departamento de Psicologia da Universidade da Columbia Britânica, no Canadá, publicou uma pesquisa na Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), onde por meio de imagens de ressonância magnética e análises clínicas, provou-se que o cérebro está bem mais ativo durante o devaneio do que se imaginava. Posteriormente, ela dedicou um livro inteiro ( O Manual de Oxford de Pensamento Espontâneo ) para tratar do assunto e incentivar a todos que provocassem essa mudança em seus cotidianos. Então, o que eu devo fazer para começar a tentar aproveitar melhor esse ócio criativo?
  • Estabeleça, dentro de sua rotina, horários marcados consigo mesma. Esses horários não precisam estar preenchidos por outras atividades, como um exercício físico ou aula de cerâmica. Eles podem ser simplesmente horas vagas do seu dia para se dedicar ao que vier a sua cabeça.
  • Não se assuste ou se culpe por não estar “fazendo nada”. Lembre-se: fazer nada é também fazer algo pela sua atividade cerebral, que precisa repousar.
  • Aceite que nem todos os seus tempos livres te trarão grandes epifanias ou respostas reveladoras. Trazer esse peso justamente a um tempo que deve ser leve é colocá-lo no mesmo patamar das obrigações.
  • Ouça música e se deixe levar pelo seu som. Ela exerce um poder relaxante, divertido e pode conter em suas letras, palavras que se conectem com a sua preocupação. Isso pode surtir efeito no seu inconsciente.
  • Procure ter caneta e papel por perto, ainda que não em mãos. Assim, você pode correr para anotar assim que uma nova ideia surgir. Importante: prefira esse modo analógico aos blocos de notas de celular. Eles podem te distrair do seu foco inicial e te levar para outro aplicativo. Além disso, estudos comprovam que o processo da escrita é mais eficiente para o processo de memorização e aprendizado.
  • Encaixe esses períodos de relaxamento mesmo durante a sua jornada de trabalho, e não só ao final do seu dia, quando seu foco será somente dormir. A cada volta de uma pausa, você se sentirá renovado para seguir em frente com a cabeça mais fresca.
Que tal começar a colocar em prática essas dicas durante a quarentena? Compartilhe os seus momentos de descontração nos stories do Instagram e não se esqueça de marcar o @portalplenae. Aproveite as boas ideias!

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