Para Inspirar

Os novos termos do mercado de trabalho

Great resignation, quiet quitting, quiet hiring, lay off, resenteeism: a lista é longa e reflete uma série de insatisfações dos trabalhadores atuais.

7 de Fevereiro de 2023


Como anda seu trabalho? Se você está insatisfeito, saiba que não está sozinho. Um levantamento feito pelo portal de recolocação profissional Empregos.com.br, realizado com 517 pessoas, mostrou que cerca de 77% dos profissionais no mercado de trabalho brasileiro — ou três a cada quatro pessoas — pretendem mudar de emprego em 2023, reflexo da insatisfação que atinge 81,1% deles.

Ainda de acordo com o estudo, a principal queixa é a busca por melhores salários segundo 70% dos profissionais entrevistados. Para 22,4%, os benefícios oferecidos pelo futuro empregador são decisivos. “Esse resultado se alinha com movimentos globais como o “great resignation” (grande demissão) e o “quiet quitting” (mínimo esforço no trabalho), nos quais os profissionais não aceitam mais estarem insatisfeitos em seus empregos, gerando ondas de demissão em massa”, afirma Tábata Silva, gerente do Empregos.com.br, ao portal CNN. 

“Os dados acendem um alerta importante para as áreas de recursos humanos das empresas. Hoje, os colaboradores têm a expectativa de serem valorizados e se não encontram esse tipo de reconhecimento estão propensos a buscar outras oportunidades. Quem não aprender que as pessoas são o pilar central de organizações sustentáveis, perderá seus talentos”, conclui.

Os novos termos

Você deve ter percebido que a especialista menciona alguns termos que, para muitos, pode ser inédito. É sobre eles que falaremos hoje. Assim como o salário emocional, que te contamos aqui, ou a Síndrome do Impostor que também te explicamos e a Síndrome de Domingo, essas expressões buscam sintetizar queixas e sentimentos a respeito do trabalho e que atingem não só um indivíduo, mas um grupo, a ponto de se tornarem uma “tendência”. 

Se o trabalho dignifica o homem, o seu excesso pode o deprimir. É nessa chuva de microestresses que o profissional pode vir a se tornar parte dos números cada dia mais altos da Síndrome de Burnout, também conhecida como sobrecarga emocional causada pelo trabalho.

A onda de demissão 

Por conta disso, os Estados Unidos foram os primeiros a registrarem um movimento que tomou conta do mundo depois: the Great Resignation, ou “a grande desistência" ou "grande demissão”, se deu, por incrível que pareça, ainda durante a pandemia, com trabalhadores pedindo demissão num ritmo acima da média. 

Aqui, usamos o “por incrível que pareça” pois trata-se de uma surpresa, quase que algo contraintuitivo, já que durante a pandemia, um dos grandes vilões para além do vírus era o desemprego gerado pelo necessário isolamento social. Mas não houve só demissões forçadas, houve também quem se demitisse por conta própria. 

Não há, é claro, uma resposta exata que explique o porquê dessa movimentação, mas especialistas acreditam que esse é um reflexo direto da insatisfação que mencionamos ainda no início deste artigo. Mas vale dizer que os números atingiram seus maiores patamares depois de pelo menos um ano de pandemia, ou seja, as pessoas esperaram para se estabelecerem e reconhecerem a situação e, então, se sentirem seguras. Um movimento bem parecido com o divórcio, inclusive, que também aumentou. 

Segundo Alexandre Pellaes, consultor de gestão da HSM e mestre em Psicologia Social e do Trabalho pela USP, para o jornal Infomoney, há 4 motivos principais que explicam essa tendência: a cultura tóxica das companhias; insegurança dentro da organização; excesso de pressão; e falta de reconhecimento profissional. 

“A pandemia mudou a forma como nos relacionamos com o trabalho. Para muitos profissionais foi um momento de epifania, de pensar ‘eu estou perdendo tempo da minha vida aqui”, afirma Pellaes. Ainda de acordo com ele, durante a pandemia, o mercado mudou. Mas nem todas as companhias acompanharam as mudanças. “Com isso, existe uma insegurança dos profissionais sobre os rumos da própria companhia. E isso pode ser muito desmotivador”, afirma.

Tá desmotivado?

Se a sua resposta for sim para essa pergunta, mas você não pode pedir demissão como os adeptos da “great resignition”, pode ser que você se enquadre em outro perfil: o quiet quitting. A “demissão silenciosa” atinge sobretudo a geração Z e trata-se da ideia de permanecer no mesmo emprego, mas fazendo o mínimo possível, ou seja, somente aquilo que está no seu escopo de trabalho mesmo. 

Há quem defenda o movimento com o discurso de que o mercado estava muito acostumado com trabalhadores se esforçando muito mais do que deveriam, sem receber nada em troca, e portanto estão dispostos a só fazer aquilo para o que foram contratados agora - e não haveria mal nenhum nisso. 

O caso do “resenteeism” vai ainda além. Conhecido como “sucessor” do quiet quitting, o novo termo também tem a geração mais nova à sua frente e, a única diferença do anterior é que aqui, a sua infelicidade não é segredo para ninguém. Ou seja, o resenteeism fala sobre estar insatisfeito e estar sendo claro sobre isso para todos - e fica a critério do seu chefe fazer o que quiser com isso. 

Traga sua carteira de trabalho

Por fim, há ainda o “quiet hiring”, que são as contratações silenciosas. Se você pensa que isso é um bom sinal, está enganado. Esse é o velho e bom acúmulo de tarefas pois, com as grandes demissões ou com os funcionários desmotivados, a chefia resolveu então dar mais responsabilidade a sua equipe, sem necessariamente consultá-los ou aumentar os seus salários. 

Isso pode tornar o ambiente ainda mais tóxico - e te ensinamos aqui como reconhecer um - e só aumentar a bola de neve da insatisfação crônica. E, como uma coisa chama a outra, chegam por fim os lay offs, que são as grandes demissões em massa, mas desta vez, partindo da empresa. Nessa, vai embora até quem queria ficar, mas não pode pois a empresa precisou reduzir custos. O movimento começou ano passado nas startups, mas já atinge agora as big techs. 

Segundo artigo da revista Vox, o mercado do trabalho sempre gostou de eufemismos (chamar demissões em massa de “redução de custos”, por exemplo), mas especialistas dizem que buscar novos nomes para fenômenos que chamam atenção (mesmo que eles não sejam exatamente novidade) pode ser útil. “A natureza do trabalho está mudando, e esses termos nos ajudam a encaixar essas mudanças na nossa visão de mundo.

Recomeçar

Aproveite o novo ano para recomeçar se você estiver infeliz. Não deixe a situação atingir níveis críticos, que podem acabar te prejudicando no final. Entenda sua relação com felicidade e sucesso e coloque em prática essas cinco dicas para priorizar o seu bem-estar em um novo emprego

Aprenda a falar melhor de si mesmo e busque vagas que te tragam, acima de tudo, um propósito maior, que te faça ficar - como os negócios sociais são. Ainda dentro do seu emprego, procure melhorar as suas relações de trabalho ainda mais e acredite: isso pode fazer toda a diferença. 

Se você estiver no cargo de liderança, não se esqueça de que trazer a brincadeira e o lúdico para o dia a dia é um caminho de muito valor para melhorar as coisas e até a produtividade dos seus funcionários. Envolvê-los também em um trabalho voluntário em equipe pode aumentar o senso de pertencimento, propósito e comunidade. 

Trabalhar é importante para manter a mente e o corpo são, e claro, as contas em dia. Estimula a criatividade, a independência e a relações, além de seu próprio intelecto. Mas é preciso que haja ganhos significativos para que ele faça sentido e não se torne parte de um problema maior, que é a sua saúde.

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O que a ciência tem a dizer sobre a gratidão

Mais do que um simples sentimento, a gratidão é objeto de estudo para cientistas que buscam desvendar os seus múltiplos benefícios.

11 de Novembro de 2022


Nessa semana, embarcamos no relato do empresário Felipe Dib, que diante das adversidades que o acometeram, entendeu que a gratidão era o segredo do sucesso. Mas gratidão é mais do que um sentimento, segundo ele, e sim, um ato. É preciso colocá-la em prática, e não só dizê-la por aí. 

A ciência concorda. Sonja Lyubomirsky, professora de psicologia da Universidade da Califórnia e autora do livro The How of Happiness (“O Como da felicidade”, sem tradução para o português), explica que a expressão é uma estratégia para alcançar a felicidade, como te contamos e que pessoas gratas mostram maiores níveis de felicidade, energia, esperança e otimismo, declarando sentir mais emoções positivas do que negativas. 

Essas mesmas pessoas costumam ser mais empáticas, altruístas, espiritualizadas e religiosas, perdoam com mais facilidade e são menos materialistas. É também menos provável que essa pessoa mais agradecida se sinta deprimida ou ansiosa.

O cérebro grato

Para Fabiano Moulin, neurologista que dedica sua carreira ao estudo do envelhecimento do cérebro, em entrevista ao Plenae, “gratidão é, na verdade, a sensação de agradecer oralmente, independente se esse agradecimento tem destino pessoal ou religioso. É simplesmente a percepção e a capacidade de conseguir direcionar sua felicidade a um objeto presente, seja ele fisicamente, ou um pensamento futuro ou uma lembrança”.

Segundo ele, há uma clara relação entre nutrir esse sentimento e o bom envelhecimento. Isso porque, dentre as várias atuações da gratidão no nosso corpo, uma delas é reduzir os níveis de cortisol, o já conhecido hormônio do estresse. E, simultaneamente, atua aumentando a liberação de hormônios relacionados ao bem-estar. Isso, a longo prazo, é ótimo para nossa cognição e até para a saúde cardíaca.

“Nossa saúde mental atinge diretamente nossa saúde vascular, então cuidar dela é também ter um envelhecimento com qualidade de vida maior, ter menos problemas cardíacos, mais proatividade”, explica ele. É preciso buscar a reorganização de dentro para fora, e agradecer pelo que está posto, e não se lançar em buscas incessantes e estressantes pelo que não está garantido.

Estudos comprovam que a área do córtex pré-frontal medial, uma área relacionada a comportamentos sociais e a empatia, é ativada e potencializa a formação de laços afetivos - o que pode ser ótimo para suas relações. Essa área também está ligada a sentimentos de calma e tranquilidade e a regulação emocional.

Aliado a essa estrutura, outro local no cérebro que é ativado durante experiências de gratidão é o hipotálamo - relacionado a regulação de processos biológicos básicos, como a saciedade, a temperatura corporal, a frequência cardíaca, as emoções e o sono. 

Outros benefícios

E falando em relações, a gratidão pode ser uma forte aliada no seu relacionamento. Um estudo entre casais mostrou que a expressão da gratitude a dois traz inúmeros benefícios, alterando de forma positiva a percepção da qualidade da relação tanto em quem a expressa como em quem a recebe, colocando a relação em um círculo virtuoso. 

Ao expressá-la, a pessoa toma consciência e acolhe a gentileza do outro, confirmando a si mesmo que está em uma troca mútua, onde um se importa com o outro e aprecia seus atos. Para quem recebe, mostra que sua ação foi apropriada, desejada e apreciada, motivando que volte a agir de forma afetuosa.

A gratidão ainda pode atuar na sua memória, ajudando a retê-las e/ou recuperá-las. Isso irá ajudar a diminuir sentimentos como a inveja, o materialismo, o narcisismo e a comparação social. Mas, para colher esses benefícios, é preciso ensinar o cérebro a reconhecer pequenos momentos como fatos a serem apreciados, utilizando da gratidão intencional.

Em outro estudo, pacientes que sofrem de uma série de doenças neuromusculares foram estimulados a escrever cinco coisas pelas quais eram gratos todos os dias, durante três semanas. Aqueles que contaram suas bênçãos relataram significativamente menos dor, bem como um sono melhor do que o grupo de controle.

 

"Você pode pensar na gratidão como algo contínuo. Há momentos específicos em que nos sentimos gratos, mas com o tempo, podemos desenvolver uma mentalidade mais disposta à gratidão", diz a pesquisadora Fuschia Sirois, da Universidade de Sheffield, na Inglaterra. Ou seja, ao praticar gratidão, você pode 

desenvolver uma perspectiva mais fixa de maior gratidão diante da vida.

Ela ainda pontua, em artigo, que ser grato pode beneficiar o seu sono, já que isso nos coloca em um estado mais positivo, e também no nosso sistema imunológico. “Regular nossa resposta ao estresse também tem um impacto positivo em nosso corpo - um deles sendo a inflamação, que é um marcador importante para o risco de desenvolvimento de uma série de doenças crônicas."

Por fim, a gratidão pode te levar a manter hábitos mais saudáveis. Estudos mostram que as áreas do cérebro que são ativadas quando as pessoas experimentam gratidão são as mesmas que controlam nossa capacidade de pensar sobre o resultado de nossas ações, ou seja, se planejar e, assim, conseguir desenvolver novos hábitos. "Descobrimos que a ligação entre ser grato e ter melhores práticas de comportamentos de saúde foi explicada em parte por esse maior pensamento sobre o futuro.” 

Já te contamos aqui que a gratidão melhora a sua qualidade de vida e te ensinamos a fazer um diário com base no método proposto pelo livro Milagre da Gratidão, no Plenae Aprova, que pode ser um bom começo para quem busca ser mais ativo. Segundo o monge e estudioso ecumênico David Steindl-Rast, em seu Ted Talks que exibimos aqui, ela é o caminho claro para ser feliz. 

O segredo é observar mesmo os momentos mais difíceis com o olhar clínico das oportunidades: o que é possível de ser aprendido aqui, nessa situação? Como posso lutar e manter o meu posicionamento? Fazer uma visualização negativa, como os estóicos nos ensinam, também ajuda a colocar as coisas em perspectiva e te faz perceber que nem tudo é tão ruim quanto parece.

Busque sentir gratidão mas, mais do que isso, busque colocá-la em prática e propagá-la por aí não só com palavras, mas com ações. Isso fará toda a diferença pra você e para o mundo.

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