Para Inspirar

Como série expõe a falta de cultura de doação no Brasil

Ocupando a 54º posição em ranking sobre filantropia, a série “Meu, Seu, Nosso” evidencia o quanto nosso país precisa caminhar quando o assunto é doação.

18 de Setembro de 2024


Trabalho voluntário não é um tema novo no Plenae. Por aqui, já falamos sobre como ajudar o próximo pode ser benéfico para você, trouxemos os tipos e benefícios da prática, explicamos porque os voluntários vivem mais e de que forma o voluntariado aumenta a satisfação e a longevidade. Por fim, ainda homenageamos os voluntários da copa e te contamos como ser um, além de ter dedicado um Tema da Vez inteiro ao assunto. 

Pelo nosso podcast, nomes envolvidos com diferentes causas também falaram sobre o trabalho voluntário de alguma forma, indireta ou diretamente: Drauzio Varella, David Hertz, Eduardo Foz, Eduardo Lyra, Maha Mamo, Leo Farah, Daniela Lerario, Henri Zylberstajn, Geraldo Rufino, Celso Athayde, Flores para refugiados, Rodrigo Hubner Mendes, Simone Mozzilli, Luciane Zamoiski, Thiago MochileiroFernando Korkes e mais recentemente, Rene Silva.

Dessa vez, fomos conversar com os envolvidos na série “Meu, Seu, Nosso”, que acompanha sete diferentes histórias sobre voluntariado no Brasil, da base ao topo da pirâmide, e por meio delas expõe a ferida aberta que é a cultura de doação no nosso país, que ainda está muito atrás do que deveria - e do que necessita enquanto povo.

A cultura de doação


O Brasil está entre os 20 países mais solidários do mundo. É o que diz o relatório anual World Giving Index 2022, produzido pela organização Charities Aid Foundation (CAF), representada no país pelo Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (Idis), e como traz artigo no GIFE (Grupo de Institutos, Fundações e Empresas).

Isso deveria ser uma boa notícia, certo? Em partes. É ótimo que sejamos solidários, característica conhecida do brasileiro no imaginário popular mundo afora - e no nosso também. Mas a doação enquanto cultura estabelecida e organizada, de forma a criar uma conexão profunda com a causa, ainda tem muito o que caminhar. 

De acordo com a pesquisa Percepção e Prática da Doação no Brasil, conduzida pelo Datafolha em 2023, cerca de 31% dos brasileiros fizeram, pelo menos, uma doação em dinheiro ao longo de 2022, seja para instituições, coletivos, ações beneficentes de igrejas e campanhas de captação de recursos para projetos sociais.

Acontece que, na maioria das vezes, essa doação não é recorrente, ou seja, é feita de forma pontual e isolada, sem que a pessoa que doou de fato acompanhe o desdobrar daquele ato ou reflita profundamente sobre o tema. A mudança necessária era a de que a doação deixasse de ser uma ação assistencialista e passasse a ser uma ação cidadã comum, que busca impulsionar mudanças positivas na sociedade, como reforça o GIFE.

“O Brasil ocupa o 54º lugar no mundo em doação, estamos muito atrasados e isso se deve a diversos fatores. O primeiro é que as pessoas não têm muita confiança para onde o dinheiro delas iria. Claro que, quando a gente fala de filantropia, a gente tá falando também de doação de tempo, de conhecimento, mas de dinheiro também. E é sobre esse último que elas sentem receio: para qual organização essa verba vai, como confiar e acreditar que essa instituição vai ser idônea e aplicar que doei de uma forma correta?”, traz Marcos Prado, produtor e diretor de cinema e da série “Meu, Seu, Nosso”.

Ele ainda destaca outros obstáculos, como as entraves burocráticas, o alto custo do imposto estadual sobre doação, que varia de 4% a 8% e a dificuldade que as pessoas encontram para encontrarem as instituições certas para doarem seu tempo ou seu dinheiro, apesar de quererem. “Ainda há muito preconceito com ONGs e projetos em si e uma falta de incentivo fiscal. É um longo caminho a se percorrer, mas quanto mais se discutir, mais rápido a gente sai desse ranking vergonhoso”, pontua Prado.

“A filantropia, do meu ponto de vista, não somente precisa ser mais falada, mas colocada em prática. Eu acredito profundamente que quando a gente desenvolve o amor pelo outro, consegue enxergar o outro como indivíduo da criação maior e entende que somos todos a mesma coisa e que todos precisamos estar bem, a gente começa a cuidar”, diz Ana Paula Mucunã, assentada da reforma agrária, agricultura familiar, fundadora e gestora do Instituto Família Criativa do Campo e participante da série. 

A série


Idealizada por Ana Maria Diniz, filha mais velha de Abilio Diniz, a série “Meu, Seu, Nosso” traz, em dez episódios, a história de sete iniciativas diferentes que mudam o seu entorno de alguma forma, além de especialistas importantes que discutem em três episódios sobre a cultura de doação no Brasil.

Dirigida por Marcos Prado e João Jardim e disponível no streaming Aquarius, plataforma da Amazon Prime que reúne títulos com foco em qualidade de vida e bem-estar, a série é uma verdadeira “jornada sobre a cultura da doação no Brasil, seus atores, práticas, efeitos e consequências”, como explica sua sinopse. 

“Quando as pessoas vão para o Nordeste, elas vão sempre para o litoral, onde tem as nossas praias lindas, a cultura ali também da gastronomia, do artesanato, mas sempre só no litoral. Muito dificilmente as pessoas vão conhecer a caatinga, o semiárido, onde há uma grande potência que precisa ser desenvolvida, vista, mostrada, para que aquelas pessoas possam, a partir de todo seu potencial, conseguirem um meio de se desenvolver, se preparar, se capacitar e caminhar para um futuro melhor”, diz Ana Paula. 

Para ela, a obra do audiovisual vai conseguir encurtar esse caminho de alguma forma, já que se trata de uma “ferramenta de projeção”, segundo ela, para que a população conheça esse Nordeste pouco visto. “Foi muito emocionante a chegada da equipe de gravação, com todos aqueles equipamentos, drones, câmeras. Eu ainda nem sabia o tamanho desse trabalho que estava sendo feito, mas já tinha uma expectativa muito positiva. E depois quando eu vi a equipe se emocionando várias vezes nos momentos de gravação”, relembra. 

“Quando fomos na Serra do Tigre, no Quilombo de Gameleira, na escola abandonada, eu pude evidenciar com tanta clareza o quanto as pessoas não sabem o que de fato as nossas famílias que vivem na caatinga, no sertão, nesse semiárido, nos assentamentos. Teve até uma pessoa da equipe que disse para mim ‘realmente Aninha, a maioria das pessoas lá fora não têm noção que hoje, em pleno século XXI, com tanta tecnologia, ainda existem famílias que vivem nessa situação. Pra mim esse daqui era simplesmente o cenário do filme Auto da Compadecida’”, conta. 

O projeto de Ana Paula foi um dos escolhidos depois de um longo e desafiador processo, segundo Marcos Prado, que participou diretamente na seleção de tantos projetos que chegaram até ele. “Depois de selecionar 50 projetos sociais e mais de 30 especialistas, a gente fez a curadoria juntos: eu, Ana Diniz, a equipe dela e o João Jardim que é outro documentarista super importante e amigo meu que convidei para participar. (...) Foi muito difícil a curadoria pra gente chegar nos 7 personagens que iriam representar a nossa série. Cada um com a sua motivação, história… Procuramos trazer histórias de pessoas que estão na base da pirâmide e também no topo e no meio, cada um com a sua motivação”, relembra. 

O que Prado percebeu ao longo do processo é que em todos os selecionados há um mesmo fator em comum: eles acabam descobrindo que o propósito da vida deles está no outro e não neles próprios. “Eu sempre me perguntava se o ser humano era naturalmente altruísta ou não, empático ou não, se isso era uma coisa que aprendemos pelo meio e ensinada pelos pais ou se na natureza realmente havia esse tempo de altruísmo. E aí eu acabei descobrindo que sim, que existem diversos exemplos na natureza, em amebas, em pássaros, em plantas, bactérias… Isso me impressionou muito”, diz.

E se você quer se inspirar e se impressionar com essas histórias, basta procurar a série “Meu, seu, nosso”, disponível no streaming Aquarius, da Amazon Prime. É o primeiro passo para quem busca entender um pouco mais sobre a cultura de doação do Brasil e, quem sabe, somar nesse movimento que é urgente e que quer fazer a diferença na trajetória dos seus semelhantes. Acredite na força da sua doação, seja ela de dinheiro, de tempo ou de força de trabalho. Cada passo importa nessa caminhada.

Compartilhar:


Para Inspirar

O que acontece com o nosso cérebro quando estamos apaixonados?

O meteoro da paixão deixa rastros psíquicos bastante relevantes quando está operando, e também quando vai embora.

24 de Agosto de 2020


Borboletas no estômago, sorriso constante e pensamentos distantes, sempre endereçados na pessoa amada. Bom seria se a paixão fosse sempre esse conto de fadas correspondido e leve que as histórias gostam de contar.

Mas o que verdadeiramente acontece com nosso cérebro quando estamos apaixonados? Segundo a explicação neste vídeo do neurocientista e professor Pedro Calabrez, os efeitos no nosso metabolismo podem ser maiores do que você imagina. “A paixão, do ponto de vista do cérebro, se assemelha a uma espécie de demência temporária, hipermotivacional, com características de estresse, obsessão e compulsão” explica.


A boa notícia é que do ponto de vista científico, ela é sempre passageira e tende a durar no máximo de 12 a 18 meses. Isso porque os efeitos que ela causa - e que você conhecerá a seguir - são de uma intensidade cujo nosso corpo não sustentaria por muito tempo sem entrar em colapso.

A paixão me pegou! Tentei escapar, não consegui

Você resistiu bravamente àquele rostinho e, ainda assim, foi acometido por uma paixão derradeira. O que acontecerá agora?

O amor é provavelmente o tema que mais instigou a mente humana ao longo dos séculos. E ele nada mais é do que o fruto de alterações do funcionamento do cérebro, se dividindo em fases específicas.

A primeira é justamente a paixão. Ela é marcada por uma grande intensidade e curta duração. Como todas as nossas outras emoções, é regulada pela ação de hormônios e neurotransmissores - que são substâncias químicas que exercem efeitos gerais no corpo e no cérebro.

Os estados que surgem na paixão, como a saudade ou a alta motivação, são frutos de certas alterações na circuitaria cerebral, como explica o neurologista. Nesse estágio, é comum a presença de dois hormônios: ocitocina e vasopressina, que possuem uma função muito específica quando estamos apaixonados: ao sentimento de apego.


Está rolando uma química entre nós

Prepare-se para o turbilhão de emoções que essa química irá gerar

Substâncias que provocam sintomas intensos e avassaladores em todo o corpo, como aumento da pressão arterial, frequência respiratória e dos batimentos cardíacos, ou a dilatação das pupilas e rubores da pele começam a surgir.

A oxitocina e vasopressina mencionadas lá atrás, também afetam um outro circuito muito importante do nosso cérebro: o de recompensa . Nele, estão envolvidos elementos de motivação e prazer, semelhantes ao que sentimos quando realizamos uma tarefa difícil, ou comemos algo que gostamos muito.

Esse sistema todo envolve a ação de um neurotransmissor muito famoso, a dopamina - que também possui ações diversas no nosso corpo, mas durante a paixão está intimamente associada ao prazer e a motivação que citamos, e portanto, levando à recompensa.

Outro hormônio envolvido nos sintomas da paixão é o cortisol , tipicamente envolvido em episódios de estresse. Eles se elevam e, por isso, há a euforia, ansiedade e insegurança durante a paixão.

O coração bate com mais força e intensidade, você sente menos sono e até mesmo o sistema digestório se altera. Os níveis de serotonina, por sua vez, caem em até 40% .Justamente ela, que é a responsável por nos acalmar e trazer a velha e boa sensação de bem-estar. O apaixonado ainda apresenta um grau de obsessão, sobretudo por meio de pensamentos invasivos e repentinos sobre a pessoa.


“Há uma inibição de atividade nas estruturas pré-frontais, que se localizam  imediatamente atrás da sua testa.” crava o neurologista Pedro Calabrez. E para que vale a atividade do córtex pré-frontal? 

Há diferentes funções envolvidas nele, mas a mais importante para o nosso contexto é a de frear nossos impulsos, antecipar consequências das nossas ações e trazer lucidez na tomada das decisões. Ela também pode afetar a sua capacidade de concentração - mas a memorização vai muito bem, obrigada. Por isso é tão comum lembrar de cada detalhe da pessoa amada.


O que restou de nós?

A paixão, como afirmou o neurologista, acaba. Irremediavelmente, ela vai embora e cabe ao casal ver o que vai fazer com o que restou

Em razão ao estrondoso sucesso do primeiro vídeo, Pedro Calabrez lançou a continuação dele, intitulado “O Cérebro Pós-Paixão”. Para ele, caso a sua paixão se torne amor e não se evapore no tempo, ela entra então na segunda fase conhecida como “amor companheiro”.

O primeiro sintoma dessa mudança de estágio é a diminuição de todos aqueles hormônios atrelados à paixão. Por isso mesmo o amor companheiro é menos intenso e mais brando. A ação da dopamina, por exemplo, retorna aos seus níveis normais e, por consequência, nossa motivação também.

O aspecto obsessivo também desaparece, graças ao retorno dos valores basais do nosso nível de serotonina. O cortisol reduz e, com ele, o nível de estresse também. A inibição do córtex pré-frontal finalmente acaba e ele volta a operar normalmente, trazendo de volta o poder da tomada de decisões mais “sóbrias”.

Porém, o hormônio ocitocina permanece em níveis elevados durante o amor companheiro. O que é super positivo, já que ele está relacionado ao afeto, ao apego, à conexão humana construída entre duas pessoas.

Estamos agora menos emocionais e mais reflexivos. Os efeitos da paixão podem dar lugar ao desinteresse e o arrependimento. Tudo também deixa de ser automático, ou seja, a fixação gratuita pela pessoa, o pensamento exclusivo e o desejo de agradar podem demandar mais trabalho.



“O amor companheiro é marcado por uma forte conexão, que no começo não é intensa no começo, mas com o passar do tempo ela se torna tão forte que ocorre uma espécie de interdependência entre as pessoas” comenta o neurologista.

Justamente por atingir um nível tão profundo de conexão, casais que estão juntos há muito tempo podem sentir de forma muito mais traumática as brigas, decepções e rompimento, e levam mais tempo para superações também.

Quando a paixão acaba, o investimento de energia para que aquela relação dure pode diminuir drasticamente. Portanto, para que ela obtenha sucesso, dois elementos são determinantes: a consistência e o esforço . “A dedicação durante o paixão não é mérito, justamente devido à essa orquestra fisiológica que está acontecendo, que está te inclinando fortemente tudo isso” diz Pedro.

E você, está pronto para enfrentar o vendaval de emoções que a paixão proporciona? Mais do que isso: está pronto para o comprometimento sério que o amor companheiro demanda? Lembre-se: a qualidade das nossas relações é um fator de suma importância para nossa saúde, como dissemos nessa matéria. Escolha seus parceiros com sabedoria e tranquilidade.

Compartilhar:


Inscreva-se na nossa Newsletter!

Inscreva-se na nossa Newsletter!


Seu encontro marcado todo mês com muito bem-estar e qualidade de vida!

Grau Plenae

Para empresas
Utilizamos cookies com base em nossos interesses legítimos, para melhorar o desempenho do site, analisar como você interage com ele, personalizar o conteúdo que você recebe e medir a eficácia de nossos anúncios. Caso queira saber mais sobre os cookies que utilizamos, por favor acesse nossa Política de Privacidade.
Quero Saber Mais